R E S E N H A
Cantores: ALAÍDE COSTA e GONZAGA LEAL
CD: “PORCELANA”
Gravadora: INDEPENDENTE
Alaíde Costa, uma das grandes cantoras brasileiras, ainda na ativa e em plena forma vocal no auge de mais de oito décadas de vida, juntou-se a Gonzaga Leal e, como fruto de um elogiado show anteriormente realizado, gravaram em estúdio o CD intitulado “Porcelana”, o qual chegou recentemente ao mercado de maneira independente.
Alaíde, carioca dona de canto suave e sussurrado, é considerada uma das mais perfeitas vozes do país. É também uma das referências musicais do famoso movimento surgido em 1957, a Bossa Nova, tendo alcançado o seu maior sucesso sete anos depois com a canção “Onde Está Você" (de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini). Em 1972, tornou antológica o registro de "Me Deixa em Paz" (de Monsueto) feito em dueto com Milton Nascimento no disco "Clube da Esquina" e, de lá para cá, ela vem lançando discos com invejável regularidade.
Gonzaga, por seu turno, é intérprete e produtor musical nascido em Serra Talhada (PE) e possui mais de trinta anos de carreira artística. Estudou canto lírico e popular com diversos profissionais e é dono de uma coerente discografia, a qual prima pela qualidade quanto ao repertório, sempre mesclando obras de compositores consagrados com autores da nova geração.
O álbum ora em tela tem a produção musical assinada por Cláudio Moura, também o responsável pela direção musical e pela regência dos arranjos. Como o próprio título já entrega, prima pela delicadeza e apresenta uma seleção de músicas pinçadas a dedo para transportar os ouvintes até um tempo próprio, característico dos dois artistas. São quatorze canções apresentadas em treze faixas que denotam o entrosamento de Alaíde e Gonzaga, os quais se reuniram por três meses do ano passado em um estúdio pernambucano visando a eternizar esse encontro especial para a carreira de ambos.
Como se faz comum em projetos desse tipo, embora logicamente haja momentos em que os dois se encontrem em uma mesma faixa, há outros solados ora por um, ora pelo outro. Alaíde passeia com sua costumeira galhardia por belo tema lusitano (“Meu Amor Abre a Janela”, de Armando Machado e Tiago Torres da Silva) e por tristonho frevo-canção (“Quando se Vai um Amor”, de Capiba). Gonzaga, sozinho, entrega-se aos inspirados versos de “Em Tempo” (de João Cavalcanti) e da pouco conhecida “Divinamente Nua, a Lua” (parceria de Orlando Morais e Caetano Veloso), resgatando oportunamente “Solidão” (de Alceu Valença). Juntos, eles entrelaçam as vozes em bons momentos como “Delicado” (de Socorro Lira) e “Bem-me-quer” (de Consuelo de Paula, Rubens Nogueira e Luiz Salgado).
Um CD construído com tintas suaves, mas que vale a pena ser conhecido por sua elegância e beleza. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
* Não é tão comum que um compositor, hoje em dia, se destaque logo em seu primeiro CD. Movido a ritmos oportunistas, o Brasil vem, infelizmente e cada vez mais, condicionando os seus verdadeiros talentos a um rasteiro pano de fundo. Assim, torna-se alvissareiro conhecer o trabalho de João Biano, cantor, compositor e percussionista paulista, ainda pouco conhecido pelo público em geral. Ele, que ora reside no Rio de Janeiro e foi vocalista de alguns shows do grupo carioca Monobloco, lançou, no final do ano passado, o álbum “Caos & Beleza”, o qual chegou às lojas de maneira independente. Grande artífice na escolha de repertório, Biano entremeou canções de sua autoria com releituras de músicas alheias menos conhecidas. Eclético, ele construiu um CD bem bacana que, especialmente em sua metade inicial, faz merecer com que seu nome, doravante, seja acompanhado com atenção. A quase vinheta “O Mal e o Bem” abre com chave-de-ouro o disco que revela (salutares) influências musicais de outros artistas contemporâneos em ótimas faixas como “Leve Alma”, “Escambo” e “Bobeira”. Entre as participações especiais de Pedro Luís e do grupo A Parede (nas também inspiradas “Nem” e “Pão e Circo”, respectivamente, compostas em parceria com André Fonseca e Léo Zé), Biano mostra o seu lado intérprete no ótimo samba “Happy End” (de Tom Zé e Antonio Pádua), na mediana “Ninguém Faz Ideia” (de Lenine e Ivan Santos) e no belo tema romântico “Esperança ao Pé da Porta” (de Manu Saggioro). Altamente recomendável!
* Após um hiato de onze anos, está chegando às lojas o novo CD de inéditas do cantor e compositor carioca Lobão. Trata-se de “O Rigor e a Misericórdia”, o 17º álbum de sua discografia, o qual apresenta quatorze músicas compostas, gravadas, tocadas e cantadas solitariamente pelo artista. A conferir!
* Para marcar as oito décadas de vida do compositor e pesquisador musical Hermínio Bello de Carvalho, a gravadora Biscoito Fino reuniu dezesseis fonogramas gravados por grandes nomes da nossa música popular brasileira, o que resultou no CD “Isso É que É Viver – Hermínio, 80 Anos”. Trata-se de um excelente painel da obra autoral do artista, parceiro de nomes como Chico Buarque, Cartola, Paulinho da Viola, Jacob do Bandolim, Sueli Costa, Capiba, Pixinguinha e Martinho da Vila, entre outros. O repertório selecionado inclui belas canções, tais como “Alvorada”, “A Estrada do Sertão”, “Doce de Coco”, “Pressentimento”, “Cobras e Lagartos” e “Amigo É Casa” (esta em registro caseiro) nas vozes de Maria Bethânia, Elba Ramalho, Ney Matogrosso, Alcione, Alaíde Costa, Simone e Zélia Duncan.
* Chegará às lojas ainda neste primeiro semestre, através da gravadora Biscoito Fino, o CD que reunirá os talentos do violinista francês Nicolas Krassik (há anos radicado no Rio de Janeiro) e do sanfoneiro sergipano Mestrinho, revelação no toque do acordeão. O repertório incluirá composições autorais dos dois, além de releituras de temas criados por Dominguinhos (“Napolitano”), Sivuca (“João e Maria”, feito com Chico Buarque) e Garoto (“Desvairada”).
* “Rio de Choro” é o título do novo CD do grupo vocal Ordinarius (formado por seis componentes: três homens e três mulheres), gravado sob a produção musical de Augusto Ordine. São nove faixas, entre cantadas com letras e soladas com vocalises, as quais compõem um repertório que alinha Carlinhos Brown (“Vide Gal”) a Jacob do Bandolim (“Santa Morena”), abrindo também espaço para Noel Rosa (“Tipo Zero”), Heitor Villa Lobos (“Choros 1”) e Luiz Tatit (“Baião de Quatro Toques”, parceria com José Miguel Wisnik), entre outros. Vale a pena conhecer!
* A atriz global Sophia Abrahão, também cantora, está lançando o seu primeiro CD solo. Produzido por Fernando Zor, o disco contém onze músicas, dentre as quais “Náufrago”, cujo clipe foi gravado em várias cidades do Brasil e já se encontra disponível para visualização em várias plataformas digitais.
* A cantora paraibana Lucy Alves foi revelada para o país quando se colocou entre os primeiros colocados da segunda edição nacional do The Voice, programa da Rede Globo que tem por objetivo encontrar novos talentos. Depois de um equivocado CD solo inaugural e prestes a estrear como atriz em horário nobre (está confirmada para o elenco de “Velho Chico”, telenovela que sucederá em breve “A Regra do Jogo”), ela está lançando, ao lado do Clã Brasil (grupo formado por familiares), o álbum “No Forró do Seu Rosil”, o qual chegou há pouco ao mercado através da gravadora Biscoito Fino. Trata-se de uma mais que merecida homenagem ao compositor Rosil Cavalcanti, pernambucano que se mudou cedo para a Paraíba onde consolidou sua carreira, associando-se à trajetória de Jackson do Pandeiro. Produzido pela própria Lucy (que, instrumentista de mão cheia, está cantando cada vez melhor a cargo de seu portentoso acordeão, denotando maior segurança e desenvoltura), o disco se faz composto por onze faixas e traz como curiosidade o fato de que três delas são inéditas (“Coco x Baião”, “Gibão” e “Tambaú”), uma vez que resultaram de letras escritas por Rosil e recentemente musicadas pelo violonista Badu. Entre os melhores momentos encontram-se as faixas “Aquarela Nordestina”, “Forró na Gafieira” e “Coco do Norte”, além da conhecidíssima “Sebastiana”.
* O cantor e compositor cearense Daniel Groove lançou há pouco tempo “Romance Pra Depois”, o seu segundo álbum solo. Gravado como se fosse ao vivo em um estúdio paulista sob a direção musical de Saulo Duarte, o disco chegou ao mercado através do selo Sete Sóis e traz, no seu repertório autoral, as participações especiais de Hélio Flanders, Rafael Castro e Juliano Gauche (em “Eu Lembro do Vento”, “Brincadeira de Amor” e “Pasto”, respectivamente).
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
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