R E S E N H A
Cantora: JÚLIA VARGAS
CD: “AO VIVO EM NITERÓI”
Gravadora: COQUEIRO VERDE RECORDS
Já há quatro anos que o nome da cantora carioca Júlia Vargas vem sendo comentado, cada vez com mais constância, junto aos formadores de opinião relacionados ao meio musical. Também bailarina e percussionista, a cabo-friense que atualmente reside em Niterói fez parte do ballet do Teatro Municipal, frequentou a escola de dança contemporânea de Deborah Colker, atuou na Cia Mulungo e participou de duas bandas, a Giras Gerais e o Nó Cego. Filha de músicos (Evandro Terra, o pai, é cantor e compositor, e sua mãe, Selemar Vargas, é maestrina e regente de coral), Júlia vem sendo apontada como uma das maiores promessas da MPB.
Depois de um primeiro CD solo que foi lançado somente em formato digital pela gravadora Sony, ela fez chegar recentemente às lojas, desta feita através da gravadora Coqueiro Verde Records, o seu novo projeto musical, um box que acondiciona DVD e CD no qual ela se faz acompanhada pela banda denominada Os Barnabés e é fruto de registro ao vivo de show realizado no Teatro Municipal de Niterói.
E se já no primeiro trabalho, Júlia se fez avalizada pelo veterano Ivan Lins (que lhe deu, na oportunidade, a inédita “Cabelos Molhados”, uma parceria com Marly de Oliveira), no atual ela conta com a bênção de dois dos mais representativos nomes da atual cena musical, quais sejam, Rodrigo Maranhão e João Cavalcanti, os quais se fazem presentes, em participações especiais, nas faixas “Sonho”, do próprio Maranhão (o ponto mais alto do repertório), e “Os Grilos”, de Cátia de França.
Aliás, a originalíssima e agreste obra de Cátia domina o repertório do novo projeto: além da supracitada canção, Júlia também dá voz a outros três ótimos temas da compositora paraibana: “Coito das Araras”, “Minha Vida É uma Rede” e “Geração”. E se faz interessante observar como a artista tem a capacidade inata para saber garimpar ótimas canções tanto entre músicas bastante batidas, como as duas de Milton Nascimento (“Cravo e Canela” e “Caxangá”, compostas com Ronaldo Bastos e Fernando Brant, respectivamente), quanto no que diz respeito a boas canções pouco conhecidas, caso das de Gilberto Gil (“Onde o Xaxado Tá?”, parceria com Rodolfo Stroeter) e de Luhli (“As Horas”, assinada com Alexandre Lemos).
Também merece nota o fato de uma cantora jovem e carioca se voltar, em vários momentos e com tanto entusiasmo e ciência de causa, para terreno eminentemente nordestino. Se bem que ela não fica só aí. Plural, sabe que uma intérprete completa precisa se aventurar por várias praias e, assim, termina também cantando canção folclórica africana (“The Click Song”) e famoso tema romântico (“Quizás, Quizás, Quizás”, de Oswaldo Farres).
Dona de voz privilegiada (grave e de inquestionável potência que traz, em sua essência, ecos de duas intérpretes tão ótimas quanto díspares: Wanderléa e Margareth Menezes), Júlia vem se apresentando frequentemente com Chico Chico, filho de Cássia Eller (ela participou ativamente do CD inaugural da banda da qual ele é o vocalista, a 2×0 Vargem Alta), o que já fez com que as línguas de plantão tentassem lhes insuflar um inexistente romance.
Na real, há muito a se prestar atenção em Júlia Vargas daqui pra frente. Seu talento já se denota incontestável e sua destreza permite com que faça de canções tão diferentes como o blues “Uirapuru Blues” (de Claos Mózi) e o delicioso forrozinho “Desabafo” (de Cecéu) dois dos melhores momentos desse interessante registro que serve como carta de apresentação para uma cantora que se mostra consistente e surpreendente nas medidas certas. Vale super a pena conhecer!
N O V I D A D E S
* Nas lojas, o sexto CD da cantora mineira Glaucia Nasser, o primeiro em que ela faz uma viagem pelo cancioneiro de sua terra natal. Intitulado “Em Casa”, o independente álbum foi produzido por ela própria e possui os arranjos assinados por Alexandre Lemos e Sandro Prêmmero. A ideia inicial era fazer um trabalho mais acústico e basicamente regional, mas isso foi sendo alterado durante as gravações e, assim, as influências urbanas adquiridas pela artista ao longo de sua trajetória também se incorporaram ao resultado. Glaucia não é intérprete de arroubos. Ao contrário, dona de voz pequena de timbre bonito e macio, ela se entrega corretamente às canções escolhidas sem, contudo, se apropriar delas. Aliás, seria – reconheçamos – tarefa hercúlea superar os registros definitivos de, por exemplo, “Beijo Partido” (de Toninho Horta), “Cruzada” (de Tavinho Moura e Márcio Borges) e “O Medo de Amar É o Medo de Ser Livre” (de Beto Guedes e Fernando Brant), já feitos por Nana Caymmi, Zizi Possi e Elis Regina. O repertório se baseia em temas criados por compositores mineiros ou ligados a Minas Gerais e vai da antiga “Laranja Madura” (de Ataulfo Alves) até a mais recente “Dois Rios” (de Lô Borges, Samuel Rosa e Nando Reis). Entre as dezessete músicas escolhidas se destacam “Fazenda” (de Nelson Angelo), “Nós Dois” (de Celso Adolfo) e “O Trem Tá Feio” (de Tavinho Moura e Murilo Antunes).
* O Quarteto em Cy está entrando em estúdio para gravar as canções que farão parte de um novo CD, o qual será lançado ainda este ano e quebrará o jejum fonográfico de dez anos. É o primeiro álbum que irá contar com duas novas integrantes, Keyla Fogaça e Corina (esta egressa do grupo vocal BeBossa ), na formação desse importante grupo vocal surgido em Ibirataia (BA) no início da década de 1960. O repertório vai contar com músicas inéditas de Dori Caymmi, João Donato, Marcos Valle, Paulo César Pinheiro e Roberto Menescal. O esperado projeto trará as participações especiais de Carlos Lyra e de Zélia Duncan.
* Embora seja paulista, a cantora, compositora e atriz Renata Rosa tem sua obra eminentemente calcada no Nordeste, decerto pelo tempo considerável que reside em Pernambuco. Dona de voz aguda, rascante e poderosa, faz identificar seu canto em qualquer primeira audição e encontra agora mais uma grande chance de ver seu talento projetado nacionalmente posto que tem a autoral canção “Me Leva” (que fez parte de seu primeiro álbum, “Zunido da Mata”, lançado em 2002) fazendo parte da trilha sonora de “Velho Chico”, a recém estreada telenovela global das 21 horas. Mas o seu mais recente CD é “Encantações”, colocado no mercado em 2012 (antes dele saiu “Manto de Sonhos”, em 2008), o qual merece ser conhecido pelos amantes da boa música. Composto por nove faixas (oito delas assinadas pela própria artista, algumas ao lado de parceiros – a exceção é a romântica “Amei Demais”, de Aldacir Louro, Edu Rocha e Gilberto Martins), o disco mostra um trabalho rico em pesquisa, resultado muito agradável de ouvir. Há três bons momentos instrumentais (em que brilha o vocalise de Renata), porém os melhores momentos ficam por conta de “Saudade do Futuro”, “Cantar Ciranda” e “Imbarabaô”.
* E por falar na trilha de “Velho Chico”, ela será disponibilizada em dois volumes. O primeiro deles chegará em breve às lojas e trará, entre os fonogramas selecionados, “Gemedeira”, “Flor de Tangerina”, “Enquanto Engomo a Calça”, “Como 2 e 2” e “Senhor Cidadão”, nas vozes de Amelinha, Alceu Valença, Ednardo, Gal Costa e Tom Zé, respectivamente. Caetano Veloso regravou especialmente para o projeto a sua “Tropicália”, assim como Marcelo Jeneci pôs uma nova roupagem em “Veja (Margarida)”, de Vital Farias, tema que ficou associado à antológica gravação de Elba Ramalho. A paraibana, inclusive, se fará presente no volume 2 com a inédita “Encarnação” (de Tim Rescala), bem como também Maria Bethânia que mergulhou de cabeça nos poderosos versos de “Mortal Loucura” (de Zé Miguel Wisnik e Gregório de Matos).
* No próximo mês, chegará ao mercado o aguardado primeiro DVD da cantora Alice Caymmi. Em tempo: a agora disputada artista gravou recentemente sua participação no novo CD que a banda carioca Blitz já prepara desde o ano passado, recheado de canções inéditas, o qual chegará às lojas até o final deste ano.
* O cantor e compositor Qinho (brasiliense criado no Rio de Janeiro), que inaugurou carreira solo em 2009 com o lançamento do CD “Canduras”, pôs no mercado, no ano passado, o álbum “Ímpar”, produzido por ele próprio. Lançado de maneira independente, esse terceiro disco (sucessor de “O Tempo Soa”, de 2012) se faz composto por uma dúzia de faixas, aí computadas duas vinhetas (“Era Bem Misterioso” e “Um Romance” e a instrumental “Do Além”). Qinho é o autor de oito delas, algumas compostas ao lado de parceiros como Omar Salomão e Rafael Inácio. Não é uma obra facilmente palatável já que o artista se esmera em jorro de ideias experimentais. Entre canções compostas em inglês e francês (“Sweet Trouble” e “La Rue”), os destaques do repertório terminam recaindo sobre “Pode Querer” e “Sem Errada”.
* Depois de um disco em que se voltou para o samba (e que foi mornamente recebido pelo público e pela crítica), a cantora Paula Lima disponibilizou recentemente na web um EP contendo quatro faixas inéditas. Intitulado “Samba Soul”, foi produzido pelo percussionista Pretinho da Serrinha e traz como destaque a canção “Fiu Fiu”, parceria dele com Gabriel Moura e Leandro Fab.
* O jovem cearense Marcos Lessa surgiu para o grande público quando de sua participação na segunda edição do programa “The Voice Brasil”, muito embora ainda haja muito chão pela frente para chegar, de fato, ao reconhecimento nacional. Na expectativa de conquistar espaço, ele fez chegar às lojas, no final do ano passado e de maneira independente, o seu segundo CD solo. Trata-se de “Estradas – Um Tributo a Gonzaguinha” através do qual o artista homenageia Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior através de quatorze de suas composições. Pérolas atemporais já gravadas por Elis Regina (“Redescobrir”, em novo registro que conta com as presenças de Fernanda Gonzaga e Amora Pêra, duas filhas de Gonzaguinha) e Maria Bethânia (“Explode Coração”) fazem parte do repertório selecionado com a ajuda de Daniel Gonzaga (outro filho do homenageado que assina tanto a direção artística quanto a produção executiva do projeto e também divide os vocais da faixa “Eu Apenas Queria que Você Soubesse”). Lessa é intérprete correto de timbre bonito e incontestável afinação e se mostra seguro ainda que ancorado tão somente pelos precisos violões de Cainã Cavalcante e Eduardo Holanda. As curiosidades ficam por conta da pequena mudança de letra feita em “Festa” e da alteração do tempo dos compassos originais em “O Que É o Que É”. Alguns dos melhores momentos ficam com as oportunas releituras das menos conhecidas “Estradas”, “Mergulho” e “Infinito Desejo”.
* A cantora e compositora Jozi Lucka lançou recentemente um novo álbum. Intitulado “Brinquei de Inventar o Mundo”, foi produzido por Moreno Veloso e apresenta doze composições inéditas e autorais, algumas delas compostas ao lado do compositor gaúcho Nenung.
* E como já está virando praxe, também “Eta Mundo Bom!”, a telenovela global das 18 horas, ganhará (ainda este mês) um segundo volume para compor sua trilha original. Entre gravações inéditas de Ivete Sangalo (“O Melhor pra Mim”), Sérgio Reis (“Meu Policarpo”), Ana Carolina (“Se Manca”), Maria Rita (“Dengosa”), Zizi Possi (“Tenha Pena de Mim”) e Moska (“Tudo que Acontece de Ruim É para Melhorar”), o disco traz registros de Rita Lee, Lenine, Maria Bethânia, Jussara Silveira e Ray Conniff para “Felicidade”, “O Impossível Vem pra Ficar”, “Casinha Branca”, “O Amor Não Precisa Razão” e “Aquarela do Brasil”, respectivamente.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
Quaisquer críticas e/ou sugestões a este blog serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br