R E S E N H A
Cantora: CÉU
CD: “TROPIX”
Selo: SLAP
A cantora paulistana Céu faz parte daquele grupo de mulheres que prefere se debruçar sobre suas próprias composições. Tem sido assim desde o começo da carreira, iniciada em 2005, quando pôs no mercado o seu primeiro homônimo disco, o qual se fez influenciado pelo samba e pela música urbana. Aclamada pela crítica desde a sua estreia, ela vem colecionando bons trabalhos, como os seguintes “Vagarosa” (de 2009), inspirado na música jamaicana, e “Caravana Sereia Bloom” (de 2012), com o qual percorreu, em turnê, vinte países.
Dona de voz doce e pequena, totalmente adequada ao seu universo e dentro de uma corrente que ganha cada vez mais adeptos na nossa música brasileira, Céu acaba de fazer chegar às lojas, através do selo Slap (um berço da gravadora Som Livre), o seu quinto álbum. Trata-se de “Tropix”, produzido a quatro mãos pelo baterista Pupillo (do Nação Zumbi) e pelo tecladista francês Hervé Salters (da General Elektriks).
Apresentado como “um disco sintético, noturno e reluzente”, na verdade resulta em seu melhor título, o quarto gravado em estúdio (houve, anteriormente, um registro ao vivo de caráter revisionista), uma vez que a artista, enquanto criadora, se aproxima cada vez mais do formato tradicional da canção popular. São doze faixas, dez delas autorais (três compostas com colaboradores), que revelam uma artista cada dia mais segura.
Céu, que possui trânsito livre entre os colegas de sua geração, desta vez convidou a cultuada Tulipa Ruiz para participar dos vocalises de “Interlúdio”, tema que surge coladinho a “Etílica”, um dos bons momentos de um coeso repertório que vem sendo apropriadamente puxado, como música inicial de trabalho, pela gostosa “Perfume do Invisível”.
Embora mergulhando em universo de texturas artificiais que atravessam diferentes experimentos sônicos da segunda metade do século passado, tais como o trip hop dos anos 90, a discoteca do final dos anos 70 e o R&B dos anos 80, a sonoridade final soa atual com a predominância de programações eletrônicas (aqui inteligentemente utilizadas, pois servem para adequar as canções às suas sensações, nunca as descaracterizando).
O recém-lançado CD denota, assim, o amadurecimento artístico de Céu, já explicitado na capa em que, corajosa, pela primeira vez aparece bastante maquiada e encarando a câmera de forma direta.
As passagens por searas alheias ficam por conta da regravação de “Chico Buarque Songs” (de Ricardo Salvagni, Carlos Adão Volpato, Jair Marcos Vieira e Thomas Kurt Georg Pappon, pinçada do grupo Fellini e com letra em inglês) e da ótima inédita “A Nave Vai” (de Jorge Du Peixe, também do Nação Zumbi), mas há outros interessantes momentos autorais, a exemplo do tango-bolero “Sangria” (feita com o cantor e compositor pernambucano José Paes Lira, o Lirinha), da quase caribenha “Varanda Suspensa” (parceria com o citado Hervé e que traz a filha Rosa Morena nos vocais), da supostamente nordestina “Minhas Bics” e da pseudo afro “Arrastar-te-ei”.
Vale a pena conhecer, para bem curtir e divulgar, esse novo e bem-vindo projeto musical de Céu!
N O V I D A D E S
* A fim de comemorar os sessenta anos do cantor e compositor Zé Renato completados em abril próximo passado, o pesquisador musical Marcelo Fróes, responsável pelo selo Discobertas, compilou quatro CDs e os reuniu numa caixa intitulada “Zé Renato – Anos 80”, a qual recentemente chegou ao mercado. Os dois primeiros são os discos solo de estreia do artista: “Fonte da Vida” e “Luz e Mistério”, originalmente lançados em 1982 e 1984. Naquele, Zé deu voz e vez a canções como “A Mó do Tempo” (feita com Juca Filho e que foi gravada por Nana Caymmi) e “A Saudade Mata a Gente” (de João de Barro e Antônio de Almeida). Neste, além de regravar “Coração Civil” (de Milton Nascimento e Fernando Brant), ele mostrou parcerias com Ronaldo Bastos (“Maior Prazer”), Xico Chaves (“Fica Melhor Assim”) e Abel Silva (“Ponta do Fio”). Os outros são CDs com gravações raras colecionadas ao longo do período. No “Raridades – Vol. 1”, há as quatro gravações feitas pelo artista com o grupo vocal Cantares em compacto editado pela Funarte em 1978, além de “O Encontro”, música gravada em dueto com Fátima Guedes. Já no “Raridades – Vol. 2”, o ouvinte se deparará com o encontro do artista com o grupo MPB-4 na gravação de “Papo de Passarim”. Efetivamente projetado, à época, em nível nacional por conta de sua participação no grupo vocal Boca Livre, Zé Renato, dono de privilegiada voz, revela – para os que porventura ainda não sabiam – um talento inato, o qual, desde o início, se mostra inatacável. Corra e ouça!
* Chegará ainda este mês às lojas o novo e aguardado CD do cantor João Fênix. O pernambucano, há muito radicado em terras cariocas, está prestes a lançar “De Volta ao Começo”, um trabalho em que ele retorna aos primórdios de sua carreira quando era somente intérprete. Esse quinto álbum aporta no mercado através da gravadora Biscoito Fino e tem a produção assinada por Jaime Alem e JR Tostoi. São onze faixas, dentre as quais “Minha Casa” (de Zeca Baleiro), “Motriz” (de Caetano Veloso), “A Feminina Voz do Cantor” (de Milton Nascimento e Fernando Brant) e “Último Desejo” (de Noel Rosa).
* Dois registros seminais do lendário grupo Os Novos Baianos (quando ainda se grafavam Os Novos Bahianos) acabam de ser relançados no formato CD, após devidamente remasterizados, ambos através da gravadora Som Livre. O primeiro é o disco intitulado “É Ferro na Boneca!” que apresentava ao Brasil os talentos de Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil) e Moraes Moreira. Entre as treze faixas, todas assinadas por Galvão e Moraes, estão canções como “Eu de Adjetivos”, “Outro Mambo, Outro Mundo”, “Colégio de Aplicação” e “O Samba me Traiu”, já esboçando ali o caldeirão sonoro que viria a caracterizar o trabalho do grupo nos anos seguintes. Já o segundo é fruto de um compacto duplo originalmente lançado naquele mesmo ano, logo após o álbum acima citado, mas sem a presença de Baby e mostrando uma sonoridade calcada em elementos do rock psicodélico. Fazem parte do trabalho as canções “Psiu”, “29 Beijos”, “Globo da Morte” e “Mini Planeta Íris”. Um presentaço para os admiradores e também para os colecionadores de plantão!
* O DJ Zé Pedro, proprietário da gravadora Joia Moderna, planeja pôr no mercado, ainda este ano, um projeto que reunirá gravações dispersas captadas ao vivo durante alguns shows da cantora Cida Moreira. Os fãs dessa grande intérprete torcem para que, de fato, isso venha a se concretizar (e logo)!
* O veterano cantor e compositor Vicente Barreto se une à nova turma paulista e está a lançar, de maneira independente, o CD intitulado “Cambaco”. Baiano e apaixonado pela música desde a adolescência, possui canções gravadas por Alceu Valença, Rosa Maria, Ney Matogrosso e pelo Quinteto Violado, entre outros, e é parceiro de nomes como Tom Zé, Elton Medeiros, Vinicius de Moraes, Gonzaguinha, Paulo César Pinheiro e Celso Viáfora. No novo trabalho, ele apresenta onze canções autorais e inéditas (aí incluída a solitária instrumental “Boró”), compostas com Manu Maltez, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Romulo Fróes e Rafa Barreto. Arranjos modernosos descontroem bons temas como “É Tipo de Conversa”, “Tataravô”, “Sabiás” e “Batendo Sabão”. Com a presença dos músicos Thiago França (saxofone), Marcelo Cabral (baixo) e Sergio Machado (bateria) na banda base, o disco ainda conta com a participação de Juçara Marçal em três faixas.
* A cantora Alcione anuncia que seu próximo CD terá o repertório inteiramente composto por boleros. Em fase de gravação, o álbum deverá contar com as participações especiais de Alexandre Pires e Nana Caymmi. Quem viver ouvirá!
* Sonho acalentado há muito tempo por Isabella Taviani, chegou recentemente às lojas através da gravadora Coqueiro Verde Records, o CD “Carpenters Avenue” no qual a ótima cantora carioca homenageia a dupla norte-americana The Carpenters (formada pelos irmãos Karen Carpenter e Richard Carpenter). Produzido pela própria artista ao lado de Marco Brito, Rodrigo Rios e Clemente Magalhães, levou seis anos para ficar pronto e traz, no repertório, quatorze músicas originalmente gravadas entre 1970 e 1977. O projeto conta com as participações especiais da cantora norte-americana Dionne Warwick e de Monica Mancini nas faixas “(They Long To Be) Close To You” e “Sometimes”, respectivamente, e traz como outros destaques as canções “Only Yesterday”, “Superstar” e “Solitarie”.
* Está chegando às lojas “Artefireaccua”, o novo álbum de músicas inéditas do cantor e compositor baiano Carlinhos Brown. Já disponível em plataformas digitais desde março, o disco vem sendo promovido através de “Dois Grudados”, autoral e inédita faixa que conta com a participação especial de Arnaldo Antunes recitando o poema “Repertório de Felicidades”. Essa música, aliás, já está confirmada como um dos temas que integrarão a trilha sonora de “Haja Coração”, a próxima novela das 19 horas da Rede Globo que estreará este mês.
* Lançado com pouco estardalhaço pela gravadora Warner, “Na Veia”, o CD que reúne os talentos de Rogê e Arlindo Cruz é um verdadeiro resumo daquilo que de melhor está sendo feito atualmente no que tange ao samba e suas derivações. Produzido pelos próprios dois artistas, traz, no repertório de quatorze faixas, pérolas bem conhecidas, a exemplo de “Maneiras”, “Coração em Desalinho” e “Enredo do meu Samba”, mas joga luzes também sobre outras canções menos conhecidas, porém bastante interessantes, como é o caso de “Neguinho Poeta”, “Não Dá” e “Alma de Guerreiro”. Há também versões temperadas para temas assinados por Luiz Melodia (“Congênito” e “Estácio, Holly Estácio”) e Sérgio Sampaio (“Cruel”). Gravado em estúdio, o projeto eterniza alguns dos encontros ocorridos no programa de rádio “Música na Veia”, o qual foi transmitido por uma emissora carioca no primeiro semestre do ano passado. Estão lá, em participações especiais e afetivas, Zeca Pagodinho, Marcelo D2, Bebeto, Maria Rita, Wilson das Neves, Seu Jorge, Jorge Aragão e Xande de Pilares, além do já citado Melodia. Vale a pena conferir!
* Fez-se recentemente lançado “Eu Sou Outro”, o terceiro álbum solo do cantor, compositor e violonista paulistano Tó Brandileone. Ele, que também integra o grupo 5 a Seco, contou, no álbum, com a produção do competente Alê Siqueira. A cantora e compositora paulistana Maria Gadú surge como convidada na faixa “Pensando Bem” (de Brandileone e Pedro Altério). O repertório contempla onze músicas, as quais foram compostas pelo artista com diferentes parceiros, tais como Vinicius Calderoni, Caê Rolfsen, Leo Bianchini, Luísa Sobral, Pedro Viáfora e Ricardo Teté. Primordialmente autoral, o CD abre espaço também às alheias “Desafio” (de Danilo Moraes) e “Xi, de Pirituba a Santo André” (de Rafael Altério e Kléber Albuquerque).
RUBENS LISBOA é compositor e cantor.
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