MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: IVAN LINS

CD: “ACARIOCANDO”

Gravadora: EMI

 

Indiscutivelmente, a voz já não é a mesma. Resultado de anos cantando em tons acima de sua tessitura normal, Ivan Lins já há algum tempo apresenta problemas de emissão vocal. O lado compositor, todavia, vem mostrando que ele não pretende se acomodar deitando nos louros colhidos durante décadas de carreira. Um dos autores brasileiros mais respeitados e gravados no exterior, Ivan vem diversificando o seu leque de parceiros e tem produzido bastante ultimamente, o que já tinha ficado claro através do repertório constante do último CD de estúdio da cantora Simone (o ótimo “Baiana da Gema”, de 2004), totalmente voltado para a obra atual de Ivan.

No início de sua carreira, suas canções eram divididas com Ronaldo Monteiro de Souza (“O Amor é o Meu País” e “Madalena”, esta gravada de maneira definitiva por Elis Regina são dessa época). Em seguida e durante muito tempo, quase todas as melodias de Ivan recebiam letras de Vítor Martins (inexplicavelmente ausente no novo álbum). São deles, por exemplo, as inesquecíveis “Começar de Novo”, “Bilhete” e “Cartomante”. De um certo tempo para cá, o parceiro mais constante passou a ser Celso Viáfora, o qual, inclusive, este ano lançou um CD totalmente dedicado às canções compostas pelos dois.

No trabalho recém-lançado pela EMI, um Ivan remoçado mostra suas mais recentes criações: há desde a bela “Renata Maria” (com Chico Buarque) até uma inusitada parceria com o filho (ator e também cantor e compositor) Cláudio Lins em “Antídotos”. Mas “Acariocando” é um disco dominado por ritmos e sons do Rio de Janeiro. Assim, é cantado em tons baixos e de forma suave, em sintonia com o espírito bossa-novista de uma das faces mais requintadas da cidade. A faixa-título (com Aldir Blanc, um samba-choro) e “A Gente Merece Ser Feliz” (com Paulo César Pinheiro) são bons momentos, embora os maiores destaques sejam mesmo a obra-prima “Prece ao Samba” (com Nei Lopes) e o partido alto “Lar, Doce Lar” (a única que Ivan assina sozinho). Há ainda as participações especiais de Lenine (no xote “Se Acontecer”), de Moska (no funk “Ela é a Própria Vida”) e de Dona Ivone Lara (no samba de terreiro “Deus é Mais”).

Um bom disco que mostra um Ivan Lins perfeitamente antenado com o momento presente. Vale a pena conhecer!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: CIBELLE

CD: “THE SHINE OF DRIED ELECTRIC LEAVES

Gravadora: CRAMMED DISCS


A
cantora Cibelle faz sucesso já há algum tempo em terras estrangeiras, porém ainda é muito pouco conhecida aqui no seu país. Dona de uma voz com timbre agradavelmente delicado, a artista acaba de lançar pela Crammed Discs (gravadora que detém também o passe de Bebel Gilberto no exterior) o seu segundo CD intitulado “The Shine of Dried Electric Leaves”.

Trata-se de um trabalho que visa nitidamente ao mercado externo e cuja gravação (a cabo do moderninho Apollo Nove) primou por conciliar arranjos eletrônicos com múltiplos efeitos sonoros que permeiam, incessantes, as quatorze faixas, cantadas (meio e meio) entre os idiomas inglês e português.

É incontestável ainda a existência de várias influências presentes no canto de Cibelle (que também se arrisca razoavelmente na arte de compor), como por exemplo: Marisa Monte (no belo samba “Esplendor”, de autoria de Moraes Moreira e Ari Moraes), Adriana Calcanhotto (em “Instante de Dois”) e Vanessa da Mata (em “Minha Neguinha”, a melhor faixa do disco).

Há também boas releituras de dois clássicos de Caetano Veloso (“Cajuína” e “London, London”) e de uma obra-prima de Tom Jobim (“Por Toda a Minha Vida”), além da participação especial de Seu Jorge na faixa “Arrête lá, Menina”.

Um trabalho que (é verdade) não conquista logo de prima, mas que ganha em credibilidade a cada nova audição quando passam a se descobrir a delicadeza e as sutilezas ali presentes.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Em muito boa hora, a gravadora EMI põe no mercado a compilação “Duetos” na qual o cantor Roberto Ribeiro, precocemente falecido, divide uma dúzia de canções com vários colegas de profissão. Uma das melhores vozes masculinas já surgidas em terras brasilis, Roberto Ribeiro alcançou o sucesso nacional com as músicas “Todo Menino é um Rei” e “Vazio (Está Faltando uma Coisa em Mim)” e popularizou-se ao mergulhar no mundo do samba. No disco recém-lançado, o artista canta com intérpretes de peso, tais como Chico Buarque, Simone, Clara Nunes, Alcione, Ivan Lins, Clementina de Jesus e Elza Soares. Dentre os melhores momentos estão as faixas “Mel pra Minha Dor”, “Artifício” e “Me Engana Que Eu Gosto”.

 

·               A excelente cantora carioca Anna Luísa está lançando um belíssimo CD. Intitulado “Do Zero” (canção de autoria de Pedro Luís e Seu Jorge), o álbum traz ainda entre os seus destaques as faixas “Um Par” (de Rodrigo Amarante) e “Pra Tocar no Rádio” (de Rodrigo Maranhão).

 

·               Ainda este mês estará chegando às lojas o mais novo CD de Fábio Jr. Desta vez, o cantor mostra um trabalho voltado apenas para regravações de grandes sucessos do nosso cancioneiro nacional. Com o título de “Minhas Canções”, o álbum traz músicas que se tornaram hits nas vozes de Ana Carolina, Cazuza, Ivete Sangalo e Luiz Melodia.

 

·               O primeiro trabalho da cantora Fernanda Porto para a gravadora EMI saiu nos formatos de CD e DVD. O trabalho (que foi gravado ao vivo) já está nas lojas e traz várias canções inéditas, além das participações de Daniela Mercury, de Edgard Scandurra e do DJ Zé Pedro.

 

·               Em 1987, Tom Jobim realizou um concerto no Wiltern Theatre, nos Estados Unidos. Pois é este show que está saindo agora em DVD. São quinze belas canções do maestro soberano e em cinco delas há a participação especialíssima de Gal Costa.

 

·               Em Belo Horizonte, a banda Skank finaliza o seu novo CD, atualmente em fase de mixagem. Previsto para chegar ao mercado em setembro próximo, o disco (que tem a produção dividida entre Chico Neves e Carlos Eduardo Miranda) vem recheado de canções inéditas, entre elas “Seus Passos” (de Samuel Rosa e César Maurício), “Eu e a Felicidade” (de Samuel e Nando Reis) e “Trancoso” (de Samuel e Arnaldo Antunes).

 

·               Este ano completa-se uma década que um trágico acidente aéreo ceifou a vida dos cinco componentes da banda Mamonas Assassinas. Para marcar a data, a gravadora EMI decidiu lançar um registro ao vivo da banda, o qual estará chegando ao mercado no comecinho do mês de agosto.

 

·               O grupo instrumental Choro da Feira surgiu no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, no coração da feira livre que movimenta as manhãs de sábado na Rua General Glicério e já dura seis anos. Durante esse período, tornou-se um patrimônio cultural daquela comunidade. Formado pelos excelentes músicos Marcelo Bernardes (clarinete e sax tenor), Flanklin da Flauta (flauta), Ignez Perdigão (cavaquinho), Bilinho Teixeira (violão de seis e sete cordas), Clarice Magalhães (percussão) e Matias Correa (contrabaixo), o grupo termina de lançar, de maneira independente, o magistral CD intitulado “Maxixes, Pitombas e Afins”. Trata-se de um trabalho sensacional, condensando um repertório bonito e variado no qual se avistam vários gêneros musicais, tais como: valsa, choro, frevo, maxixe e baião. Dentre as treze faixas merecem destaque: “Oitavo Gole”, “Pitombeira”, “Rebola, Luna!”, “Lembrei do Ceará” e “Vassoura Nele”. Imperdível!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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