MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantora: FERNANDA ABREU

CD: “MTV AO VIVO”

Gravadora: UNIVERSAL

 

Pode-se até não gostar do tipo de música que a cantora Fernanda Abreu faz, mas ninguém vai poder deixar de reconhecer que, dentro do seu estilo, ela é a melhor. E isso fica claro através do novo CD que acaba de chegar ao mercado e que foi (supostamente) gravado ao vivo no tradicional Teatro Carlos Gomes, coração do centro do Rio de Janeiro, antigo endereço dos melhores bailes de carnaval de rua.

Fernanda foi a cantora que primeiro mostrou a linguagem contemporânea dos morros para as classes altas e tem ainda como mérito saber misturar, com doses peculiares de inteligência e criatividade, samba e funk. É uma artista que, além de pedir, promover e torcer pela paz, passeia com desenvoltura por canções que têm o suingue como mola-mestra e as batidas e programações eletrônicas como base, transformando tudo em um grande baile funk.

No álbum recém-lançado (que leva a assinatura do competente Rodrigo Campello na direção), a cantora empresta o seu sotaque carioquíssimo a releituras de hits de sua vitoriosa carreira. Assim, estão presentes no repertório do disco criações que foram por ela lançadas em trabalhos anteriores, como as conhecidas “Brasil é o País do Suingue”, “Garota Sangue Bom”, “Kátia Flávia, Godiva do Irajá”, “Veneno da Lata” e “Rio 40 Graus”, além de algumas originalmente gravadas por outros artistas, mas que ganharam tintas definitivas com a interpretação de Fernanda, como é o caso de “Jorge da Capadócia” (de Jorge Ben) e do samba-enredo “É Hoje” (de Didi e Mestrinho).

Fernanda surgiu no meio artístico quando do boom que trouxe o rock nacional, nos anos oitenta, ao topo das paradas. Ela era uma das vocalistas da banda Blitz, capitaneada por Evandro Mesquita. O curioso é que um dos melhores momentos do novo CD é justamente uma regravação de um dos maiores sucessos do grupo, a canção “A Dois Passos do Paraíso”, a qual ganhou uma versão desacelerada e contemplativa, perdendo em humor, mas se revelando uma bonita balada romântica.

Dentre as quatro canções inéditas apresentadas, a melhor delas é “Baile Funk” (de Rodrigo Maranhão) que certamente se transformará rapidinho em sucesso. E para não perder o trem do momento atual, Fernanda incluiu ainda homenagens aos novos funkeiros (“Bloco Funk”) e aos nomes mais importantes da chamada black music tupiniquim (“Bloco Rap Rio 2006”).

Um CD dançante que, pela qualidade técnica e de concepção, vai além dos bate-estacas comuns e sedimenta Fernanda Abreu como um importante nome do nosso cenário musical.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: ZÉ ALEXANDRE

CD: “OLHAR DIFERENTE”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

Zé Alexandre ficou conhecido quando, ao lado de Oswaldo Montenegro, dividiu, em um antigo festival de música da extinta Rede Tupi, os vocais da até hoje mega conhecida música “Bandolins”. De lá para cá, embora tenha participado de diversos discos de Oswaldo, o artista não engatou nenhum outro grande sucesso. As gerações mais novas certamente muito pouco ouviram falar dele. E é uma pena porque o cara canta bem pra caramba e – agradável surpresa! – mostra-se um melodista bastante inspirado, conforme se constata através das treze canções que compõem o repertório do CD intitulado “Olhar Diferente”, o qual acaba de chegar ao mercado.

Originado de um projeto de Luciano Delarth, um professor de história e geografia, radialista, autor de diversos projetos culturais e amante da boa música, o disco passeia por vários ritmos e mergulha em temas que vão do social ao romântico.Os arranjos, assinados pelo próprio Zé, são muito bem elaborados e têm o peso certo para cada canção apresentada.

Doze das treze letras são assinadas pelo já citado Luciano (que se mostra inteligente e inspirado), sendo apenas uma, a da bela canção “Canto de Folia” (que participou do Festival da TV Cultura, levado ao ar no ano passado), escrita por Paulo Delfino.

Outros grandes momentos do álbum ficam por conta da ótima faixa-título, do interessante blues “Trem” e da belíssima “Cara ou Coroa”, esta contando com a participação especial de Oswaldo Montenegro. Os músicos Lui Coimbra (violoncelo) e Madalena Salles (flauta) também estão presentes no disco. Ecos do som de João Bosco são ouvidos em faixas como “Ciranda do Tempo” e “O Mundo é a Tela”, mas o talento de Zé Alexandre mostra-se inquestionável.

 

N O V I D A D E S

 

·               A gravadora Warner está pondo no mercado a série “Warner 30 Anos” que apresenta coletâneas de inúmeros artistas que fazem ou já fizeram parte de seu cast. Dentre os mais expressivos títulos, dá para destacar os relacionados a Ângela Maria, Baby Consuelo, Belchior, Candeia, Clemilda, Dominguinhos, Dóris Monteiro, Elis Regina, Emilinha Borba, Gilberto Gil, Guilherme Arantes, Isaurinha Garcia, Jamelão, Luiz Melodia, Nando Reis, Rosemary, Sandra de Sá, Secos & Molhados, Tom Zé e Waldir Azevedo.

 

·               Também de olho no filão dos apreciadores de coletâneas, a Universal lança a série “Axé Bahia”. Como o próprio título já o diz, a coleção compila os maiores sucessos de nomes expressivos da música baiana adeptos da chamada axé music. Estão lá, dentre outros, Margareth Menezes, Netinho, Banda Eva, Timbalada, Cheiro de Amor e Terra Samba.

 

·               A cantora Fátima Regina lança, de forma independente, o seu primeiro CD intitulado “Mãos de Afeto”. O álbum foi produzido pelo pianista Ricardo Leão e conta com algumas canções de autoria da própria Fátima, dentre elas a interessante “Espantalho”, parceria dividida com os irmãos Kleiton e Kledir Ramil. Outros bons momentos são as faixas “Deixe Aberta” (de Márcio Proença, Marcos Lima e Zé Yco), “Vendedor de Sonhos” (de Milton Nascimento e Fernando Brant) e a faixa-título (de Ivan Lins e Vítor Martins). Há, ainda, a participação especial de Oswaldo Montenegro no medley “Decisão / Cantigas”.

 

·               Chico Buarque estreará sua nova turnê no dia 30 de agosto, em São Paulo e, em seguida, pretende viajar pelo Brasil. O novo show terá o roteiro calcado no repertório do disco que o artista lançou há pouco (o mediano “Carioca”), mas a música de abertura será uma pouco conhecida canção de autoria de Lamartine Babo que possui o sugestivo título de “Voltei a Cantar”.

 

·               O cantor e compositor Sérgio Ricardo, conhecido por ter participado dos antológicos festivais de música realizados na década de sessenta, volta à carreira artística, depois de um hiato de vários anos, e em breve estará lançando um novo CD intitulado “Antologia”, um trabalho biográfico baseado em sua carreira.

 

·               Até o final do ano, Beth Carvalho terá nas lojas três novos trabalhos em DVD. O primeiro a ser lançado trata-se do vídeo que registra o show da cantora feita no Festival de Montreux em 2005. O segundo, também gravado ao vivo, diz respeito ao registro do espetáculo que reuniu no ano passado, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, vários nomes ligados ao samba. O terceiro (que será gravado nos dias 22 e 23 de agosto na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador) contará com a direção do cineasta Andrucha Waddington e contará com participações de diversos artistas baianos, dentre eles: Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Margareth Menezes e trará no repertório sambas de autoria dos também baianos Riachão e Dorival Caymmi.

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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