R E S E N H A 1
Cantor: JOÃO BOSCO
CD: “OBRIGADO, GENTE!”
Gravadora: UNIVERSAL
Não é qualquer artista que consegue chegar aos trinta anos de carreira sempre surpreendendo o seu público e com uma qualidade musical inabalável. São, de fato, bastante raros os que conseguem manter, durante três décadas, a integridade e a coerência artísticas.
Um deles é o mineiro João Bosco, exímio violonista, compositor inspiradíssimo e cantor de características vocais peculiares que acaba de lançar mais um CD, o qual vem se integrar à sua já vasta discografia.
Ainda não é o novo trabalho de inéditas prometido (que ficou para o final deste ano), mas se trata do registro ao vivo de caloroso show realizado em fevereiro próximo passado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. O projeto, que também se encontra disponível no formato DVD, chega às lojas através da gravadora Universal e denota (inclusive através do explícito título “Obrigado Gente!”) a vontade de João Bosco em se mostrar inteiro aos seus admiradores.
Ele, que nasceu em Minas Gerais em uma família de músicos e que começou a dedilhar o violão aos doze anos, teve com um de seus primeiros incentivadores e parceiros ninguém menos que Vinicius de Moraes. Assim, tornou-se, em seguida, um dos compositores prediletos de Elis Regina e viu músicas suas serem gravadas pelos melhores intérpretes nacionais: Maria Bethânia, Gal Costa, Milton Nascimento, Nana Caymmi e Simone são somente alguns desses nomes.
O letrista Aldir Blanc tornou-se parceiro de João Bosco em 1971 e com ele foram compostas várias canções memoráveis. Algumas delas são revistas no álbum recém-lançado como “O Ronco da Cuíca”, “Escadas da Penha”, “Corsário”, “Incompatibilidade de Gênios” e “O Bêbado e a Equilibrista”. Mas outros parceiros também se fazem presentes em faixas não menos belas. É o caso de Capinam (“Papel Machê”), Martinho da Vila (“Odilê, Odilá”), Abel Silva (“Desenho de Giz”), Wally Salomão (“Memória da Pele”) e do filho Francisco Bosco (“Benzetacil”).
Entre participações especiais (Djavan, Guinga, Hamilton de Holanda e Yamandu Costa), João Bosco mostra sua versatilidade e comprova que continua em plena forma. Seu som percussivo, marcado por um violão ágil e por um canto muitas vezes onomatopéico continua atualíssimo. E que venham mais trinta anos…
R E S E N H A 2
Cantora: LUHLI
CD: “LUHLI”
Gravadora: Atração
Uma coincidência fez com que chegassem às lojas os novos trabalhos solos de duas cantoras que atuaram como dupla durante vários anos. Enquanto Lucina lançou, há pouco tempo, o seu ótimo “A Música em Mim” (já resenhado por esta Coluna), a sua parceira Luhli (com nova grafia) acaba de fazer chegar às lojas, através da gravadora Atração, um trabalho homônimo que vem revestido por arranjos econômicos nos quais se destacam violões e tambores.
Com esses novos trabalhos claros, torna-se claro que, enquanto as duas trabalharam juntas, o sotaque mais regional da obra era mesmo calibrada por Luhli. É certo também que Lucina canta melhor, mas Luhli não faz feio, embora em algumas passagens soe excessiva (como na regravação de “O Vira”, parceria dela com João Ricardo, e hit do repertório dos Secos & Molhados). Com sua voz grave e rouca, ela se mostra mais adequada em canções mais delicadas, como é o caso de “Fala”, outro sucesso do grupo que catapultou Ney Matogrosso para o sucesso.
A produção musical do novo álbum ficou a cargo de Ney Marques e Luhli chegou a ganhar uma canção inédita de Itamar Assumpção (“Na Face da Terra”) que, inobstante trazer a grife musical do grande compositor, não está entre as suas criações mais inspiradas.
Entre a desnecessária versão de “Cry Me a River” (que se transformou esdruxulamente em “Chore-me um Rio”), há bons momentos como “Jeito Gris” e “Antiga” (parceria de Luhli com Danilo Lemos). Porém, os maiores destaques ficam por conta da belíssima valsa “E Se Você” (Luhli e Alexandre Lemos), da delicada “Quase Festa” e da regravação da sempre pulsante “Bandolero” (Luhli e Lucina). Um bom disco que poderia ter sido melhor.
N O V I D A D E S
· Saiu a relação contendo os nomes das vinte canções classificadas para o Prêmio Banese de Música (que este ano homenageia o compositor Ismar Barreto), o qual tem como coordenadora a cantora Amorosa e estará se realizando nos próximos dias 15 e 16 de setembro no Teatro Atheneu. Dentre os vinte compositores selecionados estão Neu Fontes, Paulo Lobo, Patrícia Polayne, Kleber Melo, João Alberto, Pantera, Gilton Lobo, Alice Nou, Ivan Reis e Pedrinho Mendonça. Boa sorte a todos e que vença realmente o melhor!
· Depois do grande sucesso nas apresentações que fez recentemente na Coréia, onde chegou a reunir um público de até cinco mil pessoas, a cantora Ithamara Koorax realizou, no final de semana passada, na casa de espetáculos Mistura Fina, no Rio de Janeiro, um show que beirou a perfeição. A artista (que está cada vez melhor) estará, em breve, lançando um novo trabalho.
· A gravadora Som Livre abraçou o projeto “Nova Guarda do Samba” que virará CD com lançamento programado para setembro próximo, o qual está sendo produzido por Rodrigo Maranhão e reunirá artistas da nova geração interpretando canções inéditas que serão gravadas em estúdio. Dentre os nomes já confirmados estão Teresa Cristina, Roberta Sá, Edu Krieger, Alfredo Del Penho, Thalma de Freitas, Marcelo Camelo, Rubinho Jacobina, Nina Becker e Fred Martins, além dos grupos Eletrosamba, Bangalafumenga e Casuarina. Um lançamento que promete ser um dos melhores deste ano!
· Uma das maiores intérpretes de todos os tempos da música popular brasileira, a cantora Marlene vê chegar às lojas o seu álbum “É a Maior! Com Marlene”, originalmente lançado nos anos setenta. A reedição vem em muito boa hora, pois resgata uma artista que sempre esteve à frente de seu tempo. Dentre as canções presentes, os destaques ficam com “Beco do Mota” (de Milton Nascimento) e “Coração Vagabundo” (de Caetano Veloso).
· Ainda sem gravadora definida para lançar o seu novo CD que leva a assinatura de Lenine na produção, a cantora Elba Ramalho já teve uma das faixas desse trabalho incluída na telenovela global “Páginas da Vida”: trata-se da canção “Amplidão” de autoria de Chico César.
· Marisa Monte gravou recentemente show realizado no Claro Hall no Rio de Janeiro. O registro dará origem a um novo DVD que chegará ao mercado até o final do ano.
· A gravadora Biscoito Fino já agendou como prioridade para este segundo semestre o lançamento de CD e DVD ao vivo de Leila Pinheiro. O trabalho contará com canções inéditas e regravações de algumas canções nunca antes gravadas pela cantora paraense, a exemplo de “Escravo da Alegria” (de Toquinho e Vinicius de Moraes), “Essa Mulher” (de Joyce e Ana Terra) e “Amor é Outra Liberdade” (de Sueli Costa e Abel Silva).
· O disco temático que Maria Bethânia lançará ainda este ano voltado para as águas começa a tomar forma. Já estão devidamente gravadas as faixas “Memórias do Mar” (de Vevé Calazans e Jorge Portugal), “Santo Amaro” (de Roque Ferreira) e “Eu Não Sei Nada do Mar” (de Jorge Vercilo e Ana Carolina).
· A coleção “Anotações com Arte”, um projeto criado pelo empresário e produtor artístico Fred Rossi já pôs no mercado criativos livros-agendas com trechos das obras de Vinicius de Moraes e Chico Buarque em anos anteriores. O escolhido para a edição que será comercializada em 2007 é Tom Jobim e marcará a comemoração dos 80 anos de nascimento do maestro soberano.
· O cantor baiano Netinho até que tentou deixar o axé e enveredar pelo pop. Como não conseguiu o sucesso esperado, volta à sua praia em seu primeiro DVD intitulado “Netinho por Inteiro” que reúne os maiores sucessos de sua carreira, além de algumas canções inéditas, e contará com as participações especiais de Ivete Sangalo e do grupo Ilê Aiyê.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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