R E S E N H A 1 Cantor: GILBERTO GIL CD: “GIL LUMINOSO” Gravadora: BISCOITO FINO Em 1999, o escritor e poeta Bené Fonteles lançou o livro “GILuminoso: a po.ética do ser” sobre o compositor e cantor Gilberto Gil. Pouco antes, em encontro com o próprio Gil, este revelou o desejo de fazer um disco intimista, onde se ouvisse apenas a sua voz acompanhada do preciso violão. A idéia de lançar o CD encartado ao livro surgiu e logo foi posta em prática, porém somente agora a gravadora Biscoito Fino lança-o de maneira independente, em circuito comercial. As quinze músicas que compõem o projeto foram gravadas em apenas três dias e a vontade de fazer com que as canções saíssem da forma mais natural possível transformaram o álbum em um disco ao mesmo tempo simples e belo. O repertório, que foi escolhido por Bené a pedido de Gil, tendeu quase que totalmente para o lado filosófico e espiritual. É o poeta Gilberto Gil em momentos ímpares, destilando sensibilidade por todos os poros. É o cantor Gilberto Gil cantando ainda de forma límpida e precisa, antes de ter sua voz enrouquecida. É o violonista Gilberto Gil magistral, fazendo deslizar os dedos por entre os acordes do instrumento que lhe serviu para concretizar harmonias encantadas. As canções foram compostas em diferentes épocas mas, mapeadas da forma com que se apresentam, terminam por mostrar um artista que, por muito tempo, conseguiu se conectar com a música de forma emocionada e emocionante. Há pérolas impagáveis como “Copo Vazio” (originalmente gravada por Chico Buarque), “O Seu Amor” (que fez parte do lendário álbum dos Doces Bárbaros) e “Tempo Rei” (que Gil deu de presente à cantora Amelinha). Mas como deixar de registrar a cada vez mais contemporânea “Cérebro Eletrônico” ou a pré-assumida “Super-Homem”? Isso sem falar na versão contemplativa de “Rebento”, canção de rara beleza que, antes, mereceu inesquecível registro visceral de Elis Regina. Para recordar os melhores tempos desse baiano que tanto contribuiu com o cancioneiro nacional, o recém-lançado CD não poderia ter chegado em melhor hora… R E S E N H A 2 Cantora: MARINA LIMA CD: “LÁ NOS PRIMÓRDIOS” Gravadora: EMI Marina Lima talvez tenha sido a mulher que mais se destacou no universo pop nacional durante a década de oitenta. Em uma área na qual os homens dominavam capitaneando as bandas de rock, a artista carioca soava como um oásis no deserto, um ponto vermelho no meio de um oceano azul. Freqüentou, assim, os primeiros lugares das paradas de sucesso com várias canções, tais como “Fullgás”, “À Francesa”, “Virgem”, “Gata Todo Dia” e “Acontecimentos”, dentre outras. O irmão e poeta Antônio Cícero era o parceiro mais constante. Naquela época, Marina chegou a ter suas composições disputadas por grandes intérpretes e não foi à toa que teve canções suas gravadas por nomes como Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso e Zizi Possi. Na década seguinte, iniciou-se um período confuso em sua vida pessoal, o que terminou refletindo na sua arte. A voz perdeu o viço e por anos a cantora tentou acertar de novo a mão, mas o fato é que nos últimos tempos terminou lançando discos opacos que passaram praticamente despercebidos. Nem a tentativa mais recente de reconquistar o público com o lançamento de um álbum gravado ao vivo, encampado pela MTV e no qual revisitava alguns de seus hits, deu certo. No início deste ano, Marina apresentou-se em São Paulo com o show “Primórdios” dirigido pela experiente e talentosa Monique Gardenberg. A apresentação, montada com requintes de um espetáculo teatral, conquistou de cara a crítica especializada. A idéia de gravar um disco tendo-o como base surgiu em seguida e resultou no CD que ora chega ao mercado através da gravadora EMI. Intitulado sugestivamente de “Lá nos Primórdios”, o trabalho recém-lançado tenta resgatar aquela Marina efervescente do início da carreira. De certo, o que se pode garantir é que se trata mesmo do melhor disco que ela lançou em pelo menos dez anos. Embora não tenha recuperado totalmente a força da voz de outrora, Marina já se mostra bem mais à vontade e seu canto, entre o sussurrado e o declamado, tem inexplicável beleza natural. E a presença de Otávio Ferraz nos vocais confere o reforço necessário. Os arranjos mostram, em sua maioria, uma pegada possante e ressaltam elementos da música eletrônica. Mas o que importa mesmo é que canções interessantes voltaram a nascer da verve criativa da artista. É o caso do tango “Três” e da ciranda “Valeu”, ritmos até então insuspeitos no repertório de Marina. São as melhores faixas desse CD que conta também com outros destaques como a provocativa “Anna Bella” e a bonita “Meus Irmãos”. E tem ainda uma supercriativa releitura do samba “Dura na Queda” (de Chico Buarque) Um disco bem legal que Marina estava devendo aos seus admiradores! N O V I D A D E S · Sexta-feira (dia 15), a partir das 20:30 horas estará se realizando no Teatro Atheneu, com entrada franca, a eliminatória especial do Prêmio Banese de Música – edição Ismar Barreto. Das vinte canções selecionadas, dez serão classificadas para se apresentarem no dia seguinte quando se realizará a finalíssima, oportunidade em que serão escolhidos os três primeiros lugares. Só se você for muito bobo para perder essa! · A banda naurÊa estará lançando oficialmente o seu ótimo segundo CD hoje à noite (dia 11) na Rua da Cultura. E como os garotos gostam de dividir a glória com os companheiros de estrada, estarão recebendo duas outras bandas da nova safra sergipana. São elas: Ode ao Canalha e Almanaque of Emotions Band. Vamos lá! · E um novo grupo começa a despontar nas noites sergipanas. Trata-se da Banda dos Corações Partidos que nasceu da idéia de fazer uma releitura das composições das décadas de 40 e 50, músicas em tom menor com letras e interpretações melodramáticas. Fazem parte dela: Léo Airplane, Plástico Jr, Abraão Gonzaga, Aragão e Diane Veloso. A maioria das canções do repertório é de autoria de Alex Sant’anna. Para o fim do ano, a banda já está programando o lançamento de um EP com cinco canções que refletem as feridas mais escondidas do coração e as dores-de-cotovelo modernas. · A gravadora Universal aumenta o catálogo da coleção “A Arte de…”, a mais famosa compilação de sucessos de artistas da nossa música popular brasileira. Um dos novos títulos versa sobre o trabalho de Tetê Espíndola, uma das grandes vozes deste Brasil, mas infelizmente pouco conhecida pelas gerações mais jovens. Tetê conheceu o sucesso quando se consagrou em primeiro lugar no Festival dos Festivais, evento realizado pela Rede Globo em meados da década de oitenta, com a canção “Escrito nas Estrelas”, de Arnaldo Black e Carlos Rennó. Musical do dedão do pé à raiz do cabelo, a artista matogrossense também freqüentou as paradas com as canções “Gata Vadia” (do irmão Celito Espíndola), “Sertaneja” (de Renê Bittencourt) e “Na Chapada” (dela e Carlos Rennó), esta contando com a participação especial do conterrâneo Ney Matogrosso nos vocais. Além destas músicas, estão presentes na recém-lançada coletânea outras bastante interessantes como, por exemplo: “Ajoelha e Reza” (de Black e Rennó), “Bem-te-vi” (do também irmão Geraldo Espíndola) e “Londrina” (de Arrigo Barnabé). Há ainda interessantes releituras de obras-primas de Chico Buarque (“O Meu Amor”), Gilberto Gil (“Refazenda”) e Adoniran Barbosa (“Trem das Onze”). Fundamental. Corra e reserve o seu! · A cantora Carol Saboya vai lançar, até o final deste mês, mais um CD. O trabalho intitulado “Bossa Nova Forever” leva a assinatura do pai da artista, o exímio pianista Antônio Adolfo, na produção e foi gravado ao vivo. · Embalada pela boa receptividade do recém-lançado CD “A Música em Mim”, a cantora Lucina se prepara agora para lançar o primeiro DVD que irá contar com as participações de Zélia Duncan, Joyce e Ney Matogrosso. · O CD “Forró pra Crianças” chegará ao mercado no comecinho de outubro através da gravadora Biscoito Fino e trará sucessos de grandes artistas nordestinos com roupagem voltada para o universo infantil. Produzido pelo cantor Zé Renato, já aderiram ao projeto artistas de peso como João Bosco (“Forró em Limoeiro”), Maria Rita (“Sina de Cigarra”), Chico Buarque (“Morena Bela”), Elba Ramalho (“Forró em Campina”), Roberta Sá (“Tum Tum Tum”) e Alceu Valença (“Quadro Negro”). · Os dois episódios do programa “Do Tropicalismo aos Dias de Hoje” que falam sobre a carreira de Gal Costa e foram produzidos pelo canal DirecTV chegarão até o final do ano às lojas através da gravadora Trama. Também chegará em breve ao mercado o DVD que registrou integralmente o show “Hoje”, realizado pela cantora baiana no mês de maio passado em São Paulo. RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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