MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: CAETANO VELOSO

CD: “CÊ”

Gravadora: UNIVERSAL

 

Esqueça tudo o que você leu sobre o novo CD de Caetano Veloso! A crítica geralmente é implacável com Caetano porque Caetano quase sempre é implacável com a crítica. O fato é que, se não está entre os melhores trabalhos do irrequieto baiano, o CD intitulado “Cê” (um lançamento da gravadora Universal que chegou recentemente às lojas) é um trabalho arrojado, com músicas em sua maioria inspiradas e características da verve desse grande artista.

É claro que a inspiração (fala-se aqui em quantidade) não é a mesma de vinte anos atrás. E nem poderia ser. Caetano (assim como Chico Buarque e somente mais uns dois ou três) está acima de qualquer falta de aceitação ocasional porque já cravou seu nome entre os maiores da nossa MPB. Só que o tempo é implacável com todos e eles (todos na faixa das seis décadas de vida) não fogem à regra, não se podendo, portanto, exigir que componham com a freqüência de outrora.

O maior problema do novo álbum de Caetano está justamente onde alguns vislumbram ser a maior virtude: na jovem banda base responsável pelos arranjos.

Caetano sempre esteve propenso a se influenciar pelas novidades mercadológicas, embora, em proporção direta, relute em assumir isso. Dessa maneira, no recém-laçado trabalho, cercou-se de três nomes da atual cena indie (Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado) para dar uma cara ao novo disco.

É claro que esse pessoal tem talento, mas é certo que possuem uma maneira “seca” de ver e sentir a música. Quando isso é feito na praia deles até que funciona porque, como as melodias são quase sempre simplistas e as letras obtusas, o resultado soa exótico. Mas quando pegam pela frente a obra de um Caetano Veloso, como é o caso, terminam enxugando o brilho de canções que, caso revestidas por outros arranjos, decerto se tornariam muito interessantes. Daí o estranhamento causado pelo novo CD à crítica dita especializada que, precipitada, preferiu pôr a culpa na qualidade das canções.

Mas não, não é. Mesmo. Com exceção da dispensável e enfadonha “O Herói” (da qual só se salvam os dois ótimos versos finais), há músicas bem interessantes dentre a nova dúzia das apresentadas pelo filho de Dona Canô. As melhores são a pungente balada “Minhas Lágrimas” (de tonalidade ibérica) e a confessional “Não Me Arrependo” (feita para a ex-mulher Paula Lavigne). Mas há outras de inegável potencial criativo como o modernoso “Rocks”, a descritiva “Deusa Urbana”, a psicodélica “Waly Salomão” (ode ao escritor falecido em 2003), o samba torto “Musa Híbrida” e a deliciosa “Odeio”.

Caetano continua a incomodar, mas que bom: continua a ser Caetano!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: DOMINGUINHOS

CD: “CONTERRÂNEOS”

Gravadora: ELDORADO

 

Considerado como o verdadeiro herdeiro musical de Luiz Gonzaga, o sanfoneiro Dominguinhos é um artista venerado pelo seu talento e simplicidade. Sempre propenso a participar, como convidado especial, de discos de artistas iniciantes, Dominguinhos tem sua vasta obra gravada por grandes intérpretes brasileiras, tais como Maria Bethânia, Zizi Possi e Elba Ramalho.

Parceiro de compositores top de linha, como Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan, o artista acaba de lançar, através da gravadora Eldorado, mais um CD que recebeu o título de “Conterrâneos”.

Trata-se de um trabalho no qual Dominguinhos deixa claro o seu amor ao legado do Mestre Lua. Permeiam as dezesseis faixas do recém-lançado disco forrós, baiões e xotes, em andamentos diversos, executados com a mestria de quem domina o seu instrumento como poucos.

Várias das faixas são de autoria de Dominguinhos com seus parceiros, mas ele abre espaço para outros compositores. É o caso de João Sereno e Kaká Bahia que abrem o disco com a delicada “Tempo Menino”, de Pinto do Forró com a arretada “Por Amor ao Forró” e de Bob Nelson com a contemplativa “Bença, Mãe”.

Do repertório gonzaguiano, Dominguinhos pinçou duas grandes canções: “Como Tudo Começou” (de João Silva) e “Acácia Amarela” (parceria do Rei do Baião com Orlando Silveira), canção que faz parte, inclusive, do repertório do nosso Antônio Carlos du Aracaju.

Dentre as suas próprias criações, os destaques são a bela “Carece de Explicação” (parceria com Clodô Ferreira e gravada originalmente por Fafá de Belém), a animada “Gavião Peneirador” (com Marcos Mello) e a candidata a hit “Oi Que Balanço Bom” (com Nando Cordel). Há as participações especiais do colega Waldonys em “Eita Paraíba” (de Dominguinhos, Chico Anysio e Sarah Benchimol), da filha Liv Moraes em “Doidinha pra Dançar” (de Zezum) e da esposa Guadalupe da ótima faixa-título (de autoria de Clodô, Climério e Clésio).

Um CD arretado que mostra a arte sincera de um verdadeiro artista nordestino!  

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Marcelo Caldi é músico e compositor. Exímio em seus instrumentos (piano e sanfona) acaba de lançar através da Delira Música o seu primeiro CD. Trata-se de um trabalho instrumental de altíssimo nível, com canções bem concebidas e executadas que prendem o ouvinte logo na primeira audição. A única faixa cantada é a bonita “Sua Ceia, Sua Teia” que traz Zélia Duncan nos vocais como convidada especial. Um belo álbum!

 

·               O cantor carioca Augusto Martins chega ao terceiro CD com “No Meio da Banda”, um lançamento do selo Fina Flor. Depois de rever grandes músicas da MPB em seu trabalho de estréia e de apresentar boas releituras para várias canções de Djavan em seu trabalho seguinte, Augusto mostra o seu lado de compositor em quatro das treze faixas de seu novo álbum. Dono de uma bonita voz (cujo timbre lembra os de Emílio Santiago e Danilo Caymmi), Augusto mostra evolução com relação aos discos anteriores, embora o repertório ainda traga algumas faixas insossas. Transitando majoritariamente entre o samba e a seara romântica, os destaques do repertório ficam por conta da faixa-título (de autoria da poetisa e atriz Elisa Lucinda), “Ott’eutô” (de Mário Lago Filho, que conta com a participação especial do pernambucano Otto), “Música, Sim” (de Paulo Malaguti) e “Carta de Adeus” (parceria de Ivan Lins e Paulo César Pinheiro).

 

·               O segundo CD da cantora Eliana Printes, lançado originalmente em 1996, volta às lojas através em nova edição da gravadora Indie Records. Compositora pouco inspirada (ela assina metade das dez faixas do disco com o marido Adonay Pereira), a artista de timbre bonito e seguro mostra seu grande talento de intérprete ao revisitar canções como “Salve Linda” (de Luiz Melodia), “Meu Benzinho” (de Ângela Ro Ro) e “Pais e Filhos” (do repertório da banda Legião Urbana).

 

·               No novo CD ao vivo que Ivete Sangalo estará gravando em dezembro próximo no Maracanã, a artista baiana pretende contar com dois convidados nacionais e dois internacionais. Os dois primeiros a serem sondados não Buchecha e Bono Vox. A gravadora Universal já entrou no circuito para viabilizar os contatos e fechar as participações.

 

·               Dentre os planos confessados de Roberto Carlos, estão a gravação de dois CD’s de duetos. Um com artistas já falecidos de quem o Rei era fã como Nelson Gonçalves e Orlando Silva, por exemplo. O outro é com companheiros de ativa que já participaram dos especiais de fim de ano da Rede Globo. Alguns dos nomes cogitados são: Ivete Sangalo, Ângela Maria, Caetano Veloso e Maria Bethânia.

 

·               Uma compilação reunindo os melhores momentos da primeira década de carreira da cantora Belô Velloso estará chegando ao mercado no comecinho de outubro. Mas do CD irão constar também três canções inéditas na voz da artista baiana. São elas: “Lama”, “Não Tem Saída” e “Entre Nós” (a primeira fez grande sucesso na voz de Clara Nunes; as outras duas foram originalmente gravadas por Sandra de Sá).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

 

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