R E S E N H A 1
Cantores: VÁRIOS
CD: “FORRÓ PRAS CRIANÇAS”
Gravadora: BISCOITO FINO
A idéia de lançar canções conhecidas com arranjos voltados para o universo infantil já rondava a cabeça do cantor e compositor Zé Renato (ex-integrante do grupo vocal Boca Livre) há algum tempo. Em 2003, o projeto inicial foi apresentado à gravadora Biscoito Fino que, encampando-o, lançou o CD “Samba Pras Crianças”, o qual contou com as participações de, entre outros, Ney Matogrosso, D. Ivone Lara, Mart’nália, Dudu Nobre e Moska.
Em nova empreitada, acaba de chegar às lojas o álbum “Forró Pras Crianças”. Produzido pelo mesmo Zé Renato, canções nordestinas (entre baiões, cocos, xaxados e similares) são revestidas com arranjos apropriados visando à aceitação imediata da gurizada. O pulo do gato para que isso aconteça é a participação ativa, em todas as faixas, de um coro infantil, formado pelas vozes de crianças integrantes dos corais da Escola de Música Villa Lobos e do Conservatório Brasileiro de Música.
O repertório – selecionado de maneira eficiente – fugiu das escolhas mais óbvias, de forma que são evitadas, por exemplo, canções que integraram o repertório de Luiz Gonzaga, inegável representante máximo da música do Nordeste. As faixas, então, recaem sobre a obra de outros grandes nomes populares, como Jackson do Pandeiro, Rosil Cavalcanti, Gordurinha e João do Vale.
Intérpretes de peso aderiram ao projeto e o legal é que todos eles se mostram bem à vontade, alguns deles em universo bem diferente do que em geral abraçam em suas carreiras. Assim, se não é surpresa que Alceu Valença e Elba Ramalho façam bonito no terreno do forró (cantam “Quadro Negro” e “Forró em Campina”, respectivamente), dá gosto de ouvir Maria Rita muito serelepe em “Sina de Cigarra” e Chico Buarque bem pouco tímido em “Morena Bela”.
Por outra sorte, é muito interessante constatar a presença de artistas ascendentes da nossa música, como Roberta Sá (“Tum Tum Tum”), Renato Braz (“Canto da Ema”) e Silvério Pessoa (“Coco do Norte”), convivendo harmonicamente com outros já famosos há mais tempo, como é o caso de João Bosco (“Forró em Limoeiro”), Eduardo Dussek (“Sebastiana”) e Zélia Duncan (“Chiclete com Banana”).
Um lançamento super bacana e que não é apenas apropriado para a galera miúda, mas para todos da família que possuam gosto musical apurado.
R E S E N H A 2
Banda: SKANK
CD: “CARROSSEL”
Gravadora: SONY & BMG
As quinze canções inéditas que compõem o repertório de “Carrossel”, o novo CD da banda Skank que aportou recentemente nas lojas com as assinaturas dos experientes Chico Neves e Carlos Eduardo Miranda na produção, vêm comprovar que o grupo mineiro que explodiu em todo o Brasil com canções fincadas no reggae tem se afastado cada vez mais do caminho inicial e abraçado influências diversas.
A gravadora Sony & BMG apostava no sucesso imediato da faixa “Uma Canção é Pra Isso” (de Samuel Rosa e Chico Amaral), o que terminou não acontecendo na escala esperada. Outra canção assinada pela dupla já começou a ser trabalhada (“Até o Amor Virar Poeira”), mas também não há sinais de uma grande aceitação. A verdade é que inexiste no novo álbum qualquer música com o potencial radiofônico de “Dois Rios”, “Resposta” e “Balada do Amor Inabalável”, por exemplo, alguns dos grandes hits anteriores da banda.
Além do citado Chico Amaral, outros costumeiros parceiros se fazem presentes no recém-lançado CD (caso de Humberto Effe, César Maurício e Rodrigo Leão), mas há também a contribuição dos ex-titãs Nando Reis e Arnaldo Antunes que comparecem com “Mil Acasos” e “Trancoso”, respectivamente. Entre os melhores momentos do disco estão as faixas “Lugar”, “Garrafas” e “Antitelejornal”.
Inobstante os seus componentes se mostrarem cada vez mais entrosados, o Skank parece estar vivendo a sua primeira entressafra musical, o que não soa de todo estranho uma vez que a banda vem, ao longo dos últimos dez anos, engatando um sucesso após o outro.
Um fôlego e tanto viria com a inclusão de alguma música na trilha sonora de uma das próximas novelas globais (“Pé na Jaca” e “Paraíso Tropical”), mas isso ainda depende de alguns acertos. É esperar para ver…
N O V I D A D E S
· O ator Daniel Del Sarto lança, através da gravadora Indie Records, o seu primeiro CD. Composto de onze faixas, “Desassossego” equilibra o caráter eminentemente pop com uma pegada roqueira bacana. Daniel não faz feio: tem jogo de cintura e canta legal. As letras das canções voltam-se para temas abusadamente jovens: beijos, amassos, encontros, separações, paixão, tesão e similares. Com exceção de “Você Quer?” e “Evaporou”, ambas de Paulo Gouvêa, todas as demais faixas são de autoria do próprio Daniel, algumas com parceiros. A agradável surpresa fica por conta da inclusão da canção “2.000 Km”, assinada por Daniel em parceria com a nossa Patrícia Polayne. Essa música, aliás, batizada com outro título (“Do Outro Lado”), já havia sido gravada anteriormente pela sergipana Célia Gil em seu segundo CD. Outros destaques são as faixas “Cambalhote”, “Prece” e “O Veto”.
· Catapultada ao topo da lista das mais executadas pelas rádios de todo o país devido à inclusão da canção “Se Quiser” na trilha sonora da telenovela “Páginas da Vida”, Tânia Mara conhece o sucesso aos vinte e três anos depois de tentar, no início da carreira, o caminho de cantora country. Belíssima morena de olhos claros, a moça, além de ser irmã do ator Rafael Almeida (que interpreta o pianista Luciano na mesma produção global), é a atual esposa do diretor Jayme Monjardim e isso certamente lhe ajudou a ter o trabalho aceito pela multinacional EMI, gravadora pela qual está lançando o novo CD, composto de doze faixas, cujo repertório é composto, em sua metade, por versões. Esse é talvez o maior senão do disco porque, inobstante o acima destacado, a artista canta bem, com voz trabalhada de timbre claro e elegante. O álbum foi produzido a seis mãos por Cláudio Rabello, Yahoo e Julinho Teixeira, todos eles bastante experientes no tipo de música que Tânia (infelizmente) optou por fazer, o pop romântico comercial. Daí, os arranjos grandiloqüentes, carregados de teclados, guitarras e viradas de bateria, além de vocais aos borbotões. Com algum esforço, dá para destacar as faixas “Limousine Grana Suja” (de Junia Lambert) e “Sua Estupidez” (de Roberto e Erasmo Carlos), regravada em versão calminha.
· A mineira Érika Machado faz chegar às lojas, através da gravadora Indie Records, o seu primeiro CD intitulado “No Cimento”. O álbum, que traz a assinatura de John Ulhoa (do grupo Pato Fu) na produção, traz composições assinadas pela própria Érika, algumas delas com parceiros. As canções são legais, com tiradas simples mas inteligentes nas letras, as quais, em sua maioria, terminam por dizer o que querem nas entrelinhas. A levada é basicamente pop (porém não é um pop descartável) e os arranjos seguem o estilo moderninho. Inobstante resulte claro que Érika não possui uma grande voz (nem precisaria para o tipo de trabalho a que se propõe), a garota termina se saindo bem em meio a efeitos sonoros e dobros de escala bem adequados. A nítida influência dos Mutantes não compromete o trabalho de uma artista que ainda tenta definir a sua cara, mas que já começou mostrando um bom serviço.
· Já está nas lojas o primeiro CD de Leandro Lopes, vencedor do programa “Ídolos”, levado ao ar no primeiro semestre deste ano pelo SBT. É lamentável que um rapaz com potencial tão grande seja jogado na vala comum por produtores gananciosos que tentam direcionar a carreira dele para o caminho do pop descartável. É claro que esse primeiro trabalho deverá vender bem, impulsionado pela receptividade que obteve o programa. Virá, decerto o segundo disco mas, se continuar nesse caminho, parará por aí. O investimento deveria ser feito em médio prazo, aplicando-lhe um repertório jovem, porém não tão imbecilóide. Essas receitas de sucesso rápido já se mostram ultrapassadas e é inaceitável que Leandro (que canta bem pra caramba e tem uma presença acima da média) seja obrigado a entrar em uma esparrela dessas. São nítidas as influências de Paulo Ricardo e Fábio Júnior no canto do artista, isso para não falar em Lulu Santos, este presente no repertório do álbum com a releitura de “O Último Romântico”, uma das poucas boas faixas desse trabalho inaugural. Outra canção que se sobressai é “A Bem da Verdade” (de Alexandre Lalas e Vinicius Rosa). Mas é uma pena que um programa que poderia direcionar seus vencedores para um caminho legal insista em formatá-los em tom tão popularesco…
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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