Cantora: VIRGÍNIA ROSA CD: “SAMBA A DOIS” Gravadora: ELDORADO Depois de se lançar no mercado fonográfico em 1997, com um ótimo CD de estréia intitulado “Batuque” (que trazia no repertório canções de Lenine, Itamar Assumpção, Chico Science, Zé Miguel Wisnik e Chico César), a paulista Virgínia Rosa derrapou feio em seu segundo disco (“A Voz do Coração”, de 2001), um apressado projeto ao vivo em que a precária qualidade técnica quase a levou à derrocada. Ressurgindo qual fênix, a cantora acabou de lançar, através da gravadora Eldorado e no apagar das luzes de 2006, o disco “Samba a Dois”, que vem novamente a credenciá-la como uma das melhores cantoras da atualidade. Dona de uma voz poderosa e melodiosa ao extremo, Virgínia encontra-se em seu auge vocal. Investindo tudo no lado de intérprete, conseguiu a rara proeza de fazer um álbum em que o ouvinte pode ouvir da primeira à última faixa sem ter que pular alguma(s) delas. Produzido e dirigido por Dino Barioni, o CD tem uma sonoridade moderna sem, contudo, descaracterizar o seu conceito. Apesar do título (“Samba a Dois”), vai além e flerta com fados, baladas e outras praias. Mas sempre com o sangue quente do bom samba e a cadência comprovada de Virgínia. As programações eletrônicas inseridas estão ali como coadjuvantes, nunca como protagonistas, e terminam dando um molho bastante especial. As canções escolhidas a dedo são a mola-mestra desse super bem-vindo trabalho, no qual Virgínia passeia saborosamente pelo cancioneiro nacional sem receio de unir autores novos (os estreantes Luísa Malta, autora das belas canções “Madrugada” e “Amado Samba”, e Tito Pinheiro, compositor da criativa “Sereno”) a nomes já consagrados como Cartola (na releitura do clássico “As Rosas Não Falam” transformada em um insuspeitado tango) e Candeia (que, ao lado de Wilson Moreira, faz-se presente com a deliciosa “Quero Estar Só”). A inspirada faixa-título (assinada por Marcelo Camelo, integrante da banda Los Hermanos) abre com chave de ouro um disco que ainda resgata deliciosa parceria de Marcos e Paulo Sérgio Valle (“Que Bandeira”), pinça duas pérolas do além-mar (“Fado Morno”, de Marta Dias e Carlos Barreto Xavier, e “Ao Crepúsculo”, de Pedro Ayres Magalhães) e traz como bônus a delicada “Sonho e Saudade” (de Tito Madi, contando com a participação de Nelson Ayres ao piano). Em meio a tanta coisa boa, não dá, contudo, para deixar de destacar os dois maiores momentos desse estupendo disco: “Vem Não Vem” (de Orlando Moraes, emoldurada definitivamente por violão e guitarra portuguesa) e “Voltei” (obra-prima assinada por Baden Powell e Paulo César Pinheiro). Imperdível! Cantor: ANTÔNIO VILLEROY CD: “SINAL DOS TEMPOS – AO VIVO” Gravadora: WEA Se você acha que nunca ouviu falar em Antônio Villeroy talvez na verdade não esteja ligando o nome à pessoa. Ele é o autor do maior sucesso da carreira da cantora Ana Carolina até hoje: a bombástica canção “Garganta”. Lembra agora? Áh, mas é que ele assinava antes Totonho Villeroy, não é isso? É, é isso mesmo! Adotando um novo nome artístico (na verdade trocando o apelido pelo seu nome de batismo), o compositor gaúcho vê, pela primeira, seu trabalho distribuído no mercado nacional através de uma grande gravadora, no caso a WEA. Anteriormente, ele já tinha lançado dois outros álbuns, mas feitos de forma independente terminaram restritos a um público pequeno. Agora, o caso é outro: Antônio vem emendando um sucesso após o outro, a maioria deles na voz de Ana Carolina (“Tô Saindo”, “Ela é Bamba”, “2 Bicudos” e a atual “Rosas”) e era natural que alguma multinacional se interessasse pelo seu passe. O disco recém-lançado foi gravado ao vivo, em abril de 2005, em Porto Alegre (RS) e nele o artista se fez acompanhado pela Orquestra de Câmara do Teatro São Pedro. A qualidade sonora é um primor e se Villeroy não é um cantor de voz fora do comum, safa-se com sensatez de todas as possíveis armadilhas, amoldando o seu canto às necessidades melódicas que se lhe surgem à frente. E isso não se torna difícil até porque dezesseis das dezoito canções que compõem o repertório do disco são de sua autoria e, sendo assim, ele sabe exatamente onde está pisando. Os arranjos camerísticos embelezam a obra de Villeroy, o que se denota ao ouvir as pungentes introduções de “Amores Possíveis” (gravada originalmente por Moska para a trilha do filme homônimo) e “Uma Loca Tempestad” (composta originalmente com letra em espanhol, mas gravada em português por Ana Carolina por imposição da gravadora dela). Ana, aliás, está presente em afetiva participação especial cantando o hit “Que Se Danem os Nós” e a belíssima “Da Laia do Lama”. Também comparecem a estreante Daniela Procópio em “Siamo Cosi” (com letra em italiano) e João Donato em “Música no Gravador”. Entre ótimas canções ainda desconhecidas do grande público (“É Onde o Seu Lugar”, “São Sebastião” e “Um Dia Pra Vadiar”) e duas boas inéditas (“Ela Não Sabe Dizer Adeus” e “Majestade”), Villeroy vai se firmando como um dos melhores compositores de sua geração. N O V I D A D E S · E o meio musical sergipano tem manifestado, desde semana passada, o seu imenso descontentamento com a retirada do programa “Nossa Música” da grade da Liberdade FM. Levado ao ar durante mais de dois anos, o projeto capitaneado pelo incansável batalhador, produtor, compositor e cantor Neu Fontes era o único no Estado voltado exclusivamente para a música sergipana e já tinha se tornado uma referência. A decisão inusitada ocorreu por conta da mudança na direção da rádio, mas se espera ainda que o quadro possa ser revertido porque quem mais perde com isso é o público em geral já que precisa conhecer o que os seus artistas estão produzindo a fim de poder valorizar a própria cultura. · Vai se chamar “Long Play” o próximo disco de inéditas de Lulu Santos que deverá chegar às lojas em fevereiro através da gravadora Som Livre. · O novo CD do mineiro Lô Borges já está à venda. Intitulado “Bhanda”, o álbum é composto por dez faixas assinadas pelo artista com parceiros tais como Chico Amaral (“Segundas Mornas Intenções”), Márcio Borges (“Gira”) e César Maurício (“Bicho de Plástico”). A única faixa que Lô assina sozinho é “O Som das Estrelas”. · Excelente é o adjetivo com o qual se pode qualificar o CD de estréia do cantor e compositor carioca Gabriel Moura. Trata-se de “Brasis”, um trabalho independente que foi formatado ao longo de dois anos e que vem mostrar um artista inteiro em sua arte. Gabriel é o autor das onze faixas do disco, sempre ao lado de parceiros como Jovi Joviniano, Seu Jorge e Valmir Ribeiro. Cantor que cumpre com destreza o seu papel e compositor inspirado, Gabriel finca o pé nas suas origens musicais passeando pelo samba (“Eu Canto Samba”), samba-funk (“Mini Saia”), frevo (a contagiante faixa-título) e bossa (a bela “Estrela do Céu”). Outros bons momentos são as faixas “Garota do Méier” (que lembra a pegada de Lulu Santos) e a bem-humorada “Tem Fila”. Se há a dispensável apologia ao ‘cigarrinho do diabo’ em “O Perfume da Nega”, o artista se redime logo em seguida ao pôr delicada letra (ao lado de Rogê) na bela melodia de “Lamento no Morro”, tema criado por Garoto. Para completar, o álbum conta ainda com as participações especiais de músicos ímpares, tais como Paulo Moura, Nicolas Krassik e Zé Paulo Becker. · Ney Matogrosso planeja lançar em 2007 o seu novo e aguardado CD de inéditas (o último nesse tipo, o elegante “Olhos de Farol”, saiu em 1999) e para tanto já pinça, entre vários novos compositores que lhes são apresentados, algumas canções que irão fazer parte do repertório. Um que já está certo é o paulista Dan Nakagawa que terá duas músicas suas incluídas no álbum (“Um Pouco de Calor” e “Um Cano de Revólver”). · A gravadora Universal vai reeditar em quatro caixas, sob a produção de Charles Gavin, toda a obra fonográfica de Caetano Veloso. A primeira delas, contendo dez discos, já está nas lojas e abrange a primeira década da carreira do baiano que está completando quarenta anos como integrante do cast da citada multinacional. · O próximo CD da incansável Maria Bethânia já começa a ser formatado: será um projeto dividido com a cantora cubana Omara Portuondo e chegará às lojas ainda neste primeiro semestre. · O ator Rafael Almeida, o intérprete do pianista Luciano de “Páginas da Vida”, lançará em breve um CD como cantor. O disco sairá pela gravadora EMI, a mesma que acabou de pôr no mercado o álbum da irmã do rapaz, a cantora Tânia Mara, intérprete da canção “Se Quiser”, tema (na mesma novela) da personagem de Viviane Pasmanter, a fotógrafa Isabel. · A gravadora Som Livre está lançando uma caixa intitulada “Os Primeiros Anos” que contempla os dois primeiros discos gravados por Elis Regina. No começo de sua carreira, por imposição da gravadora Continental, a maior de nossas intérpretes teve que investir em um repertório à la Celly Campelo, a grande vendedora de discos da época. Embora os discos “Viva a Brotolândia” (1961) e “Poema de Amor” (1962) sejam musicalmente inexpressivos, valem ser conhecidos pelo alto valor documental. · A cantora Marina Lima registrou recentemente, no Auditório Ibirapuera (SP), o seu elogiadíssimo show “Primórdios”, dirigido por Monique Gardenberg, o qual será lançado em DVD dentro em breve. RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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