M U S I Q U A L I D A D E Iniciado o novo ano, faz-se necessário um resumo sobre o que de melhor aconteceu na música brasileira no ano passado. Este colaborador escolheu, dentre os CD’s lançados, os doze que me pareceram os melhores. É claro que esta é a minha opinião, o que significa que entra nela muito do meu gosto pessoal e intransferível e que, decerto, outros bons álbuns chegaram ao mercado, não sendo eles aqui inseridos até por absoluta falta de espaço. Pra começo de conversa, não dá para deixar de ressaltar que 2006 trouxe de volta ao mercado fonográfico grandes nomes da nossa MPB, os quais já há um certo tempo estavam sem lançar discos novos. Foi o caso de Chico Buarque (“Carioca”), Caetano Veloso (“Cê”) e Ivan Lins (“Acariocando”) que, embora tenham passado distante da inspiração de trabalhos anteriores, ainda assim mostraram porque estão, há décadas, na linha de frente da nossa música. Também merece ser ressaltada a bem-vinda volta de Ângela Ro Ro que, além de lançar dois discos (o bom CD de inéditas “Compasso” e um projeto ao vivo no qual revisitou alguns de seus maiores sucessos), ainda teve canções de sua autoria regravadas por nomes como Toni Platão, Cecília Spyer e Taryn Szpilman. Já o projeto “Forró pr’as Crianças”, produzido pelo cantor Zé Renato, também chamou a atenção pela originalidade e qualidade ímpar dos artistas participantes. Enquanto Ana Carolina, após o sucesso do disco ao vivo com Seu Jorge, pôs nas lojas um CD duplo, Marisa Monte e Maria Bethânia optaram por lançar, ao mesmo tempo, dois CD’s cada uma. Marisa derrapou em um deles (“Infinito Particular”), mas acertou em cheio no outro (“Universo Ao Meu Redor”). Já Bethânia mergulhou no universo das águas salgadas (“Mar de Sophia”) e doces (“Pirata”) e se não chegou a arrebentar como de costume, mostrou que continua a ser a nossa mais vigorosa intérprete. Merecem destaque também a cantora Ithamara Koorax que, mais uma vez, foi escolhida entre as dez melhores cantoras de jazz do mundo e Zeca Baleiro pela ousadia de lançar, de maneira independente, dois discos muito interessantes: um póstumo de Sérgio Sampaio (“Cruel”) e outro contendo poemas musicados de Hilda Hilst, os quais foram interpretados por doze grandes cantoras brasileiras. Em Sergipe, infelizmente muito pouca coisa aconteceu. Os destaques ficam por conta das bandas Naurêa (esta devido ao lançamento do segundo disco, realmente um trabalho muito bem elaborado e interessante) e Alapada (pelo fato de ter conseguido emplacar uma música na trilha sonora da novela teen “Alta Estação”, da Rede Record). Passando rápido para este ano, pode-se dizer que o mesmo já começa com uma grande surpresa! Trata-se da inclusão de “Caminho das Águas” (de Rodrigo Maranhão) na voz de Maria Rita como tema de abertura de nova minissérie global “Amazônia”, poucos dias após a filha de Elis Regina ter interpretado, pela primeira vez na vida, uma canção gravada originalmente por sua mãe (“Essa Mulher”, de Joyce e Ana Terra), no especial sobre a Pimentinha levado ao ar pela Rede Globo no dia 28 de dezembro próximo passado. Mas a maior expectativa vai ficar mesmo com relação ao seu terceiro disco que deverá chegar às lojas no começo do segundo semestre. Outras cantoras que também prometem novos trabalhos para este ano são Adriana Calcanhotto, Roberta Sá, Simone, Elba Ramalho e Vanessa da Mata. Pelo lado masculino, as expectativas ficam por conta dos próximos discos de Djavan, Erasmo Carlos e Ney Matogrosso. Mas vamos, então, aos doze títulos que mais se destacaram em 2006. Segue breve comentário sobre cada um deles, já que todos (nos meses em que chegaram ao mercado) foram devidamente resenhados por esta Coluna. 01 – UNIVERSO AO MEU REDOR – Marisa Monte Álbum voltado para o samba no qual Marisa reverencia o gênero musical à sua maneira, mas sem descaracterizá-lo. Depois do sucesso do disco alavancado pelo megahit “Amor I Love You” e da explosão nacional dos Tribalistas, a artista lançou, no ano passado dois álbuns. “Infinito Particular” patina na pretensão de soar pop com um repertório insosso composto por canções assinadas pela própria Marisa com alguns parceiros. Mas “Universo Ao Meu Redor” se mostra um trabalho de rara sensibilidade e, embora nenhuma das faixas até o momento tenha conquistado as rádios, é um disco que já nasceu antológico e que certamente verá o seu valor aumentado com o passar do tempo. 02 – SAMBA A DOIS – Virgínia Rosa Lançado no apagar das luzes de 2006, o terceiro trabalho da cantora paulista Virgínia Rosa surpreende por reunir um repertório eclético que condensa a beleza melódica como fio condutor. Além disso, alia compositores novos (Luísa Malta e Tito Pinheiro) a grandes nomes do samba (Baden Powell e Cartola, por exemplo) e mostra uma intérprete segura e que sabe onde quer chegar. Bela presença, dona de voz poderosa e com um suingue irrepreensível, Virgínia ainda conseguiu reinventar a canção “Vem Não Vem”, de Orlando Moraes, pincelando-a com tintas definitivas. 03 – NOSSAS CANÇÕES – Celso Viáfora Com composições gravadas por gente como Ney Matogrosso e Simone, o compositor Celso Viáfora vem pouco a pouco conseguindo consolidar o seu nome dentro do cenário da nossa MPB. Versátil, teve durante muito tempo como parceiro principal o pernambucano Vicente Barreto até que se uniu a Ivan Lins e com ele passou a compor com uma constância alvissareira. Nesse CD, Celso gravou basicamente essas parcerias, homenageando aquele que é até hoje, ao lado de Tom Jobim, o autor brasileiro mais conhecido no exterior. 04 – MENINO DO RIO – Mart’nália Embora se constate clara a mão poderosa de Maria Bethânia na produção, o que de certa forma restringiu a espontaneidade característica de Mart’nália, não se pode deixar de reconhecer que nesse novo trabalho a filha de Martinho da Vila deu um passo à frente na sua já vitoriosa carreira. E ao vestir os sambas do repertório com arranjos magnificamente concisos, o maestro Jaime Alem terminou marcando mais um tento. Mart’nália tem timbre vocal personalíssimo e uma presença muito boa no palco. No estúdio, rende menos. Mesmo assim, comprovou que já é um dos principais nomes da chamada nova geração. 05 – NOBREZA – Jussara Silveira e Luiz Brasil Jussara foi outra corajosa que lançou dois discos no ano passado e ambos muito legais. “Entre o Amor e o Mar” saiu no segundo semestre e trouxe pelo menos uma grande pérola musical, a canção “Só” (de Guilherme Wisnik e Vadim Nikitin). Mas o álbum que lançou no primeiro semestre (“Nobreza”), o qual foi dividido com Luiz Brasil, tem lugar especial porque, tomado de atmosfera lúdica, (re)conquista o ouvinte a cada nova audição. A voz suave e precisa da cantora acasalou-se como que por encanto com o único instrumento presente em todas as faixas, o violão do exímio músico, e fez comprovar que a beleza, por vezes, está mesmo no mais simples. A boa surpresa de 2006 ficou por conta de uma nova cantora chamada Anna Luísa. A carioca ainda é desconhecida do grande público, porém seu CD (que foi lançado de maneira independente) é ao mesmo tempo básico e moderno. Ao lado de Pedro Luís, o produtor musical, a artista conseguiu reunir um repertório primoroso (com destaque para as músicas assinadas por Rodrigo Maranhão) composto por canções que encantam ora pela singeleza, ora pelo balanço. Podem-se encontrar ciranda, baião, maracatu e reggae, tudo convivendo de forma harmônica e embalado pela voz melodiosa da bela morena. 07 – NAURÊA APRESENTA O SAMBAIÃO – Banda NaurÊa Sergipe tem muita cosa boa, sim! Se bem que é verdade também que, como em toda parte, tem muita gente se achando e que, de fato, tem mais pompa que talento. Mas isso definitivamente não é o caso dos rapazes que compõem a banda NaurÊA, a qual vem crescendo a cada apresentação e construindo a passos largos o seu nome dentro e fora do Estado. Com um estilo marcante (que não xerocopia nenhum outro grupo), o segundo CD da galera chegou mostrando grande amadurecimento com relação ao primeiro: o som está mais afinado, as letras mais trabalhadas e a postura bem mais profissional. 08 – COMPASSO – Ângela Ro Ro Depois de seis anos sem lançar disco, a compositora e cantora Ângela Ro Ro voltou em grande forma em 2006, posto que, além do CD ao vivo cantando seus hits (que contou com as participações de Alcione, Frejat e Luiz Melodia), pôs no mercado um bom CD de inéditas. Ro Ro surgiu em 1979 com um estupendo álbum de estréia e, depois de alguns anos pontuando um ou outro sucesso, terminou sumindo de cena, menos por vontade própria do que pela sucessiva quantidade de escândalos em que se envolvia freqüentemente. Atualmente em fase sadia (deixou de beber e fumar), comprovou estar em boa forma vocal e também que pode voltar a compor grandes canções. Um exemplo disso é a bela faixa-título do novo disco, a autobiográfica “Compasso”. 09 – ESCUTA – Luíza Possi Luíza merece entrar na lista dos melhores CD’s de 2006 e não somente porque realizou um belo trabalho, mas principalmente pela coragem em dar uma verdadeira guinada na sua carreira. Filha de Zizi Possi, uma das maiores vozes do Brasil, e do produtor Líber Gadelha, Luíza conseguiu relativo sucesso desde a sua estréia ao gravar canções adocicadas e de conteúdo discutível. O repertório que compõe os seus dois primeiros CD’s é quase todo descartável, mas eles venderam bem e quando se poderia esperar que ela repetisse a fórmula, a garota surpreendeu ao gravar belas canções de autoria de Ana Carolina, Chico César e Vander Lee. Que a loira continue nesse caminho! Consagrada como o maior destaque do Festival de Música realizado pela TV Cultura no qual conseguiu alcançar o segundo lugar, a cantora Ceumar uniu-se ao compositor Dante Ozzetti e lançou o seu terceiro trabalho, depois de dois ótimos discos que fizeram dela um dos nomes mais cultuados no cenário cult da música alternativa nacional. A artista, que começou sua carreira apadrinhada por Zeca Baleiro, realmente canta bem pra caramba e é bastante exigente no quesito repertório, o que se pode constatar através do novo trabalho. Nem todas as canções ali contidas são facilmente assimiláveis, mas estão lá a força indiscutível e o carisma inquestionável dessa grande intérprete. 11 – SIMPLES… – Jair Oliveira Depois de algumas tentativas um tanto frustradas de ver consolidado o seu trabalho, Jair Oliveira lançou aquele que é, sem dúvida, o seu melhor disco. Surgido quando do boom que trouxe ao mercado a gravadora Trama, Jairzinho possui no sangue o DNA da música: é filho de Jair Rodrigues e irmão da cantora Luciana Mello. Anteriormente, chegou até a produzir álbuns de gente de peso, como MPB-4 e Tom Zé, mas com sua obra própria ainda não tinha mostrado a que veio. Os discos anteriores patinavam na tentativa de equacionar poucas boas canções com muitas idéias insatisfatoriamente desenvolvidas. No novo CD, o primeiro que lança sob o próprio selo, o artista se encontrou: revestidas por agradáveis arranjos, surgem músicas bem interessantes e que o credenciam como um competente compositor. 12 – DESASSOSSEGO – Izabel Padovani Nome pouco conhecido pelo público brasileiro, uma vez que reside no exterior e é lá que vem desenvolvendo a sua carreira, Izabel Padovani lançou o seu primeiro disco em terras nacionais por tê-lo conquistado como prêmio ao alcançar o primeiro lugar no último Prêmio Visa – Edição Intérprete. Com uma voz que realça os anos devotados ao estudo do canto, Izabel construiu um disco elegante emoldurado por arranjos ao mesmo tempo complexos e delicados. O repertório, todo ele um primor, passeia por várias vertentes do nosso cancioneiro nacional e dá um sabor especial ao álbum.
10 – ACHOU! – Ceumar e Dante Ozzetti
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