Cantora: DANIELA MERCURY
CD: “BALÉ MULATO AO VIVO”
Gravadora: EMI
Das três divas do Carnaval baiano (Margareth Menezes, Ivete Sangalo e Daniela Mercury – todas verdadeiros furacões no palco), inquestionavelmente Daniela é a que demonstra um maior esmero para com o seu trabalho. Dá para constatar isso se atentando para a sonoridade de seus discos, para a qualidade dos arranjos das músicas que escolhe para cantar e para a beleza visual com que se apresenta, geralmente acompanhada por bailarinos e cenografia caprichada.
Essas características estão presentes no trabalho que, há pouco tempo, chegou ao mercado nos formatos DVD e CD.
Catapultada à fama quando do boom do chamado axé music, Daniela mostra-se também a mais corajosa das três, pois é a única que parece não se acomodar com o sucesso alcançado, ousando quando julga necessário (já flertou descaradamente com o pop eletrônico e com a MPB tradicional) e se reinventando sempre.
O novo projeto, gravado ao vivo no Farol da Barra, em Salvador (BA), foi baseado no último ótimo álbum gravado por Daniela (“Balé Mulato”).
O CD é composto por quatorze faixas, duas delas gravadas posteriormente em estúdio (“Quero a Felicidade”, parceria da própria Daniela com Manno Góes, e “Essa Ternura”, versão de César Lemos para “A Certain Softness”, de Paul McCartney), e já dá uma amostra da pulsação do espetáculo.
Mas é especialmente o DVD que, por motivos óbvios, encanta, trazendo toda a magia de cores e movimentos que hipnotizam a quem o assiste.
Daniela tem ritmo e fôlego excepcionais. Canta bem (embora traga um vício de enrolar a voz em determinados momentos, o que às vezes chega a irritar) e tem uma presença de cena contagiante. Sabedora disso, brinca com seu carisma do começo ao fim, dosando hits do Carnaval de sua terra (“Baianidade Nagô” e “Prefixo de Verão”) com canções mais calmas (“Dia Branco” e “Não Chores Mais”). Fazem-se presentes, como convidados especiais, a conterrânea Gil, o compositor Márcio Mello e a banda Jammil e Uma Noites. Os melhores momentos ficam por conta de “Amor de Ninguém” e de “Ilê Ayê (Que Bloco é Esse)”. Muito legal!
Cantor: RÔMULO FRÓES
CD: “CÃO”
Gravadora: TRATORE
O cantor e compositor Rômulo Fróes lança seu segundo CD intitulado “Cão” (com distribuição da Tratore) depois da boa recepção alcançada com seu disco de estréia (“Calado”).
Rômulo não é um compositor pronto, embora o novo trabalho já venha a demonstrar certo amadurecimento musical. Também não é um cantor que agrada de imediato pois possui voz pequena que, por vezes, termina dificultando o entendimento das linhas melódicas apresentadas. Mas é incontestável que constrói um trabalho diferente e exótico.
Chama-se de samba o que ele faz, mas não se trata do samba contagiante a que se está acostumado. É, antes, um samba dolente, contemplativo, quase triste mesmo. Os arranjos apóiam-se basicamente em instrumentos de cordas (como violão e cavaquinho) e em uma camada percussiva própria que ajuda a dar um ar soturno às músicas.
Rômulo divide a autoria das faixas do álbum com seus parceiros Nuno Ramos e Clima e a única canção que não é deles é de autoria de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito (a bonita “Mulher sem Alma”, praticamente desconstruída em sua primeira parte por uma bateria lisérgica).
No entanto, em meio a algumas faixas que soam como experimentos, surgem outras com estrutura definida de canção popular e que, por isso mesmo, terminam resultando nos melhores momentos do disco. Encontram-se nesse patamar: “Você Me Diz”, “Quem” (interpretada com galhardia por Dona Inah), “Tudo Que Pesa”, “Atrás Dessa Amizade” e especialmente “Marcha”.
Merece ser ouvido…
N O V I D A D E S
· Pegando carona no sucesso de vendas alcançado com o “RoupAcústico” lançado em 2004, o grupo Roupa Nova põe nas lojas, através da gravadora Universal, o volume 2 do projeto. Embalados por arranjos grandiloqüentes e interpretações passionais, surgem enfileirados alguns dos hits que os seis rapazes conseguiram emplacar ao longo da bem-sucedida carreira, como “De Volta Pro Futuro”, “Começo, Meio e Fim”, “Vício”, “Tímida” e “Chama”. As canções seguem o caminho exageradamente romântico, mas não se pode negar a invejável capacidade técnica dos músicos que compõem o grupo. Os vocais também são afinadíssimos e bem elaborados, como se pode constatar, por exemplo, na faixa “Lança Perfume”, o maior destaque do disco. O time de convidados especiais vai de Pedro Mariano em “É Cedo” a Marjorie Estiano em “Flagra”, passando por Toni Garrido em “Sensual” e Cláudia Leite em “Um Sonho a Dois”.
· Um outro novo título da coleção “A Arte de…” (série de compilações da gravadora Universal) que chegou há pouco tempo nas lojas diz respeito ao grupo vocal Céu da Boca. Um dos melhores já surgidos no Brasil, seus onze componentes conheceram o sucesso no início da década de oitenta com o estouro da canção “Clarissa”. Começaram com repertório erudito, mas aos poucos foram passando para a música popular e chegaram a gravar com Chico Buarque, Edu Lobo e César Camargo Mariano, entre outros, sendo eleitos como o Melhor Conjunto Vocal de 1983 pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. Infelizmente, o grupo lançou apenas dois discos antes da dissolução causada pelo fato de que alguns de seus integrantes (como Verônica Sabino e Chico Adnet) resolveram investir na carreira solo. Do recém-lançado álbum-coletânea (item obrigatório em toda cedeteca que se preze) constam canções como: “Barato Total” e “Domingo no Parque” (ambas de Gilberto Gil), “Uva de Caminhão” (de Assis Valente), “Injuriado” (de Eduardo Dussek), “Cheiro do Povo” (de Lula Queiroga), “Bumba no Caneco” (de Getúlio Marinho e Orlando Barbosa) e “É Dose Pra Leão” (de Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho), além de “Um Canto de Afoxé para o Bloco de Ilê” (de Moreno Veloso) e “Telefone” (de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), estas duas contando com Caetano Veloso e Nara Leão nos vocais, respectivamente.
· E não foi só Mart’nália quem herdou o talento do pai, o sambista Martinho da Vila. Um outro filho garante a continuidade musical da família: trata-se de Tunico Ferreira que está lançando, de maneira independente, o seu primeiro CD. Todavia, diferentemente do trabalho da irmã que se baseia no samba mas flerta sem preconceito com o pop, Tunico centrou o seu álbum de estréia no mais genuíno dos sambas, aquele dito de raiz. O rapaz canta bem e possui um timbre que lembra (embora que de longe) o do pai. Entre boas criações próprias assinadas com parceiros (“Na Cadência do Partido Alto”, com Jorge Agrião, “O Meu Papel”, com Mombaça, e “No Dos Outro É Refresco”, com Osmar Santos), há as releituras de “Êta Mundo Grande” (de Martinho) e de “Alegre Menina” (de Dori Caymmi e Jorge Amado).
· O cantor e compositor Élio Camalle está lançando o seu quarto CD solo intitulado “Bicho Preto” que chega ao mercado de maneira independente. O artista vem se aprimorando a cada trabalho, mostrando ser um autor eclético (e isto é, sim, uma grande qualidade). São quatorze faixas que passeiam por ritmos e temas diversos e revelam as várias influências musicais de Élio, mas que comprovam também que ele já possui a sua própria marca. Os melhores momentos ficam com as faixas “Triste Figura”, “Vacas Magras” e “Preto no Branco”.
· Flávio Venturini faz chegar às lojas, através da Distribuidora Independente, mais um CD. Intitulado “Canção Sem Fim”, o trabalho não é um de seus melhores títulos, muito embora confirme a boa forma vocal em que se encontra atualmente. O ponto crucial reside no repertório (quase todo autoral, com exceção de três das doze faixas) que resulta monocórdio em demasia. Dentre as poucas canções que se destacam estão “Retiro da Pedra” e “Aqui no Rio” (esta contando com as participações especiais de Leila Pinheiro nos vocais e de Hamilton de Holanda no bandolim), além da regravação de “Fênix”, sucesso recente do parceiro Jorge Vercilo.
· Já se encontra disponível o CD em que Ângela Ro Ro revive ao vivo os seus maiores sucessos. Também lançado no formato DVD, o projeto é uma iniciativa da gravadora Indie Records e conta com as participações especiais de Luiz Melodia (em “Tola Foi Você”), Alcione (em “Joana Francesa”) e Frejat (em “A Mim e a Mais Ninguém”). Além de hits inesquecíveis como “Só Nos Resta Viver”, “Fogueira”, “Simples Carinho” e “Amor, Meu Grande Amor”, Ro Ro canta em inglês (“All of Me” e “Night and Day”), em francês (“Ne Me Quitte Pas”) e relembra episódio polêmico de sua vida amorosa através da canção “Escândalo”, composta especialmente para ela por Caetano Veloso.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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