Artistas: NÁ OZZETTI e ANDRÉ MEHMARI
CD e DVD: “PIANO E VOZ”
Gravadora: MCD
Em 2005, a cantora Ná Ozzetti e o pianista André Mehmari se reuniram e lançaram o fabuloso CD “Piano e Voz”, um dos melhores daquele ano.
Em abril do ano passado, os dois artistas realizaram show no Teatro Santa Cruz em São Paulo. O espetáculo foi registrado e se transformou no DVD homônimo que chegou recentemente às lojas e comprova a impressionante qualidade técnica de ambos.
Ná está hoje entre as cinco melhores intérpretes nacionais. Voz límpida, sem vícios de empostação ou emissão, respiração segura, afinadíssima e dona de timbre peculiar, sabe como poucas passar das regiões mais graves para as agudas sem demonstrar o mínimo esforço. Canta com a mesma determinação canções de linha melódica simples (“Cuitelinho”, folclore recolhido por Paulo Vanzolini) e de arquitetura bastante complexa (“Os Povos”, de Milton Nascimento e Fernando Brant).
Mehmari moldou seu talento em anos de estudo dedicados ao piano clássico. Sabe dosar, na medida certa, o erudito com o popular e já se destaca entre os melhores músicos da atualidade.
O DVD compõe-se basicamente do mesmo repertório constante do álbum que lhe deu origem, mas junto com ele (no mesmo pacote) a gravadora MCD contempla os ouvintes com um outro CD da dupla, o qual soa como um volume dois do projeto. Composto de quinze faixas, a voz de Ná encontra no piano de Mehmari o seu melhor endereço. Há somente três faixas em que os dois se permitem visitar por outros instrumentos: o contrabaixo de Zé Alexandre Carvalho e a bateria de Sérgio Reze (“Eternamente”, de Mehmari e Rita Altério, “Sonho do Além”, de Mehmari e Luiz Tatit, e “Pra Dizer Adeus”, de Edu Lobo e Torquato Neto). Nas demais, piano e voz se bastam nesse memorável trabalho que tem como destaques as canções “Clube da Esquina 1” (de Milton Nascimento e Márcio Borges), “Sabiá” (de Tom Jobim e Chico Buarque), “Asturiana” e “Nana” (ambas de Manuel de Falla).
Artista: THIAGO DE MELLO
CD: “AMOR-MAIS-QUE-PERFEITO”
Gravadora: ETHOS BRASIL
O percussionista Thiago de Mello na verdade tem o prenome Gaudêncio e é irmão do poeta Thiago de Mello. Amazonense, ele mora nos Estados Unidos desde a década de sessenta, tendo se tornado um músico bastante respeitado no circuito do jazz. Trabalhando como compositor, arranjador e líder da banda Amazon, Thiago criou a percussão orgânica, utilizando instrumentos construídos com pedaços de madeira de sua terra. Sua música, que trafega entre o popular e o erudito, é eclética e seu talento é reconhecido além-fronteiras.
É este artista que acaba de lançar no mercado nacional, através do selo Ethos Brasil, o CD intitulado “Amor-Mais-Que-Perfeito”. Gravado com vistas ao mercado estrangeiro, no qual já se encontra muito bem colocado, o álbum é composto de quatorze faixas, sendo quatro delas com letras em inglês e duas versando sobre temas instrumentais.
Admirado por grandes intérpretes, Thiago convocou algumas delas para se responsabilizarem pelos vocais de suas canções que são, na sua maioria, bossas, sambas e baladas, sempre revestidas por belos improvisos jazzísticos.
Dentre as participações, todas elas especialíssimas, estão presentes no recém lançado CD as cantoras Ithamara Koorax, Cris Delanno, Fátima Guedes e Andréa Dutra (Ithamara e Cris chegam a cantar, cada uma, cinco faixas).
Os melhores momentos ficam por conta das canções “Samba de Isabella”, “Meu Último Bambu”, “A Vida Não Está Boa”, “Canto da Saudade” e “Saracura” (nesta, em particular, Ithamara está magnífica, mostrando porque é considerada uma das melhores cantoras do mundo na atualidade).
Um trabalho muito bem-vindo que tem a missão de mostrar o talento de Thiago de Mello, o percussionista, ao público brasileiro.
N O V I D A D E S
· A baiana Rebeca Matta chega ao seu terceiro CD mostrando a inquietação de seu som. Intitulado “Rosa Sônica”, o disco é, com certeza, o seu trabalho mais difícil de ser assimilado. A garota canta direitinho, mas as canções possuem linhas melódicas pouco convincentes. Os arranjos resultam de um emaranhado de programações eletrônicas que muitas das vezes mais confundem do que contribuem. Doze das treze faixas são de autoria da própria artista em parceria com Boing e Gilberto Monte, merecendo ser destacadas as faixas “O Que Você Vê?”, “Caos” e “Foi um Delírio”. A única regravação fica por conta de “Vapor Barato”, obra-prima composta por Jards Macalé e Wally Salomão que, embora revestida com uma roupagem moderninha, não chegou a perder o seu brilho original.
· A cantora Rosemary, afastada há anos do mercado fonográfico nacional, estará lançando em abril próximo o CD intitulado “Mulheres de Mangueira”, título da canção especialmente composta para ela por Erasmo Carlos. O novo álbum contará com participações especiais de peso, a exemplos de Chico Buarque, Alcione, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho.
· Também em abril estará nas lojas o novo CD da banda Ira!, que leva a assinatura de Rick Bonadio na produção. Basicamente um trabalho de canções inéditas, o disco trará também uma releitura para a canção “Feito Gente”, de autoria do compositor Walter Franco.
· Mais novidades sobre o novo CD de Zé Ramalho: será um disco conceitual que girará em torno das novas parcerias do artista paraibano com compositores, músicos e cantores. Intitulado “Parceria de Viajantes”, o álbum contará com canções feitas por Zé com nomes como Zélia Duncan, Sandra de Sá, Marcelo Bonfá, Toti Cavalcanti, Zeca Baleiro e Chico César. Dentre as participações especiais já estão confirmadas as cantoras baianas Pitty e Daniela Mercury. Nas lojas ainda este mês!
· A EMI põe no mercado a coleção “Clássicos Odeon”, trazendo de volta ao catálogo grandes discos, devidamente remasterizados e em formato CD. Dentre eles está o álbum gravado em 1971 pela cantora Cláudia que traz, entre outras boas faixas, as canções “Jesus Cristo” (de Roberto e Erasmo Carlos) e “Com Mais de Trinta” (de Marcos e Paulo Sérgio Valle). Também fazem parte do pacote o disco “Canto Geral” de Geraldo Vandré (gravado em 1968, pouco antes de o mesmo ser exilado), dois trabalhos de Leny Andrade (um de 1972, dividido com Pery Ribeiro, e outro lançado em 1975) e dois de Marcos Valle (“O Compositor e o Cantor”, de 1965, e “Viola Enluarada”, de 1967). Discos raros de Sueli Costa, Sylvia Telles e Paulo Diniz completam o projeto.
· A cantora Olívia Byington já tem prontinho um novo CD cujo repertório é formado por parcerias suas com nomes como Cacaso, Marcelo Pires e Geraldo Carneiro. O lançamento, porém, ainda depende de acertos com alguma gravadora que venha a se interessar pelo trabalho.
· Nem bem concretizou o seu novo álbum de inéditas (que deverá chegar às lojas até o meio deste ano), João Bosco já mergulha de cabeça em um outro projeto. Trata-se do disco que o compositor mineiro gravará juntamente com Martinho da Vila, uma idéia antiga que foi apresentada a ambos pelo produtor Rildo Hora.
· E o irrequieto e talentoso Zeca Baleiro foi tema, este ano, de uma escola de samba em sua terra natal, o Maranhão. Com o enredo “Baladas de Alegrias nas Emboladas de Zeca Baleiro”, a Sociedade Recreativa Favela do Samba conquistou o bicampeonato do Carnaval de São Luís/MA. Inspirada na vida e obra do cantor e compositor, ela foi a última a desfilar na avenida rompendo a manhã na segunda-feira de Carnaval e, como não poderia deixar de ser, contou com a participação do artista que marcou presença no segundo carro alegórico, o qual representava a constelação de seu signo (Áries) e os planetas sob o domínio de Marte. Vestindo um terno de lamê azul metálico e com um adereço em forma de cabeça de carneiro, o homenageado, contagiado pela emoção, desceu do carro, desfilou pelas alas, saudou o público e até puxou o samba ao lado dos cantores da escola. Dá-lhe, Baleiro!
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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