MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: GUINGA

CD: “CASA DE VILLA”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Compositor conhecido pelas harmonias refinadas e violonista exímio no executar de seu instrumento, o carioca Guinga já possui um tempo considerável de carreira. As primeiras cantoras a registrar canções de sua autoria foram Clara Nunes (“Punhal”) e Elis Regina (“Bolero de Satã”). Depois delas, várias outras intérpretes tiveram a honra de gravar suas músicas, a exemplo de Fátima Guedes, Ithamara Koorax e Leila Pinheiro (esta última, inclusive, chegou a gravar um CD inteiro – “Catavento e Girassol” – contendo obras de Guinga com Aldir Blanc, um de seus parceiros mais constantes).

Marcando a estréia de Guinga na gravadora Biscoito Fino, o CD recém-lançado leva o título de “Casa de Villa” (com dois ‘eles” mesmo, para remeter ao maestro Villa-Lobos, homenageado ainda através da sensível canção “Villalobiana”) e traz algumas novidades em relação aos anteriores. Uma delas é que o artista começa a se arriscar também como letrista. Acostumado a fazer parcerias com feras como Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, Guinga também mostra aptidão para os versos, conforme se pode constatar através da faixa “Maviosa”, um dos destaques do novo álbum.

Outra novidade é que ele solta a voz em oito das doze músicas do disco (as outras quatro são temas instrumentais) e, embora não seja possuidor de grande extensão, não faz feio. Com timbre rouco mas bem colocado, não chega a prejudicar as suas criações, como por vezes ocorre com outros compositores.

As costumeiras parcerias, contudo, não foram esquecidas e, além dos já citados Aldir e Paulo César, Guinga apresenta novas canções compostas com Edu Kneip (a bela “Mar de Maracanã” e “Via Crucis”, esta contando com a participação especial de Paula Santoro nos vocais), Simone Guimarães (“Capital”), Mauro Aguiar (a faixa-título) e Thiago Amud (a deliciosa “Contenda”). Outra canção de rara inspiração é “Porto de Araújo” (apropriadíssima, aliás, para os contornos vocais de Mônica Salmaso).

Enfim, um belo trabalho que consolida o nome de Guinga com um dos grandes artistas brasileiros da atualidade.  

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: MOSKA

CD: “+ NOVO DE NOVO”

Gravadora: SOM LIVRE

 

Com canções gravadas por diversos artistas (dentre os quais Marina Lima, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Daúde e Maria Rita), o cantor e compositor Moska (que já assinou Paulinho Moska no início da carreira) faz parte da geração que trouxe a lume os talentos de Zeca Baleiro, Chico César e Lenine, mas ao menos até o momento atual não conseguiu a popularidade alcançada por seus pares.

Não que lhe falte talento. Pelo contrário: criador inspirado, o artista possui pelo menos uma obra-prima que já faz parte da história da nossa música, a canção “O Último Dia” (parceria com o guitarrista Billy Brandão), não por acaso inserida no trabalho ao vivo que acaba de chegar às lojas nos formatos CD e DVD.

Como cantor, Moska destaca-se pela voz límpida, afinada e bem colocada, de extensão considerável e pronúncia impecável. Apoiado por uma banda de grandes músicos (Dunga no baixo, Chistiaan Oyens na bateria, Sacha Amback nos teclados, Nilo Romero na guitarra e Ramiro Musotto na percussão), Moska resgatou o show gravado ao vivo em 2004 no Teatro da Caixa, em Brasília (DF), cujo repertório se baseou no CD de estúdio lançado um ano antes (“Tudo Novo de Novo”) e o lança agora através da Som Livre, gravadora que ultimamente vem investindo em artistas talentosos que, por questões acima do racionalmente previsíveis, não estão na ordem do dia. Uma iniciativa louvável que, portanto, merece ser registrada!

Intitulado “+ Novo de Novo”, o repertório do projeto relembra canções mais antigas (“Trampolim”) e mostra criações recentes (a bela “Admiração”), mas não se esquece de pinçar músicas mais conhecidas como “A Seta e o Alvo”, “Pensando em Você” e “Admito que Perdi”.

No CD, há a participação especial do grupo de percussão Bate Lata (formado por crianças e adolescentes) que dá um vigor especial às inspiradas “Relampiano” e “O Mundo” (esta de autoria de André Abujamra). Outros excelentes momentos ficam por conta de “O Bilhete no Fim”, um insuspeitado samba de deliciosa cadência e criativo arranjo, e de “O Jardim do Silêncio”. No DVD, Moska revisita “Coração Vagabundo” (de Caetano Veloso) e conta com as participações afetivas da carioca Mart’nália (em “Acordando”) e do uruguaio Jorge Drexler (em “Dos Colores Blanco Y Negro”). Muito legal!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Ainda este mês será lançado, através da gravadora Som Livre, o novo CD de Nana Caymmi, o qual fecha a trilogia em homenagem à obra de seu pai, o compositor Dorival Caymmi. Com produção assinada por José Milton e intitulado “Quem Inventou o Amor”, o disco tem o repertório preenchido prioritariamente com sambas-canções, cujos destaques iniciais ficam por conta de “Nem Eu” e “Você Não Sabe Amar”, esta já incluída na trilha sonora da telenovela global “Paraíso Tropical”.

 

·               O novo álbum do cearense Raimundo Fágner também estará nas lojas agora em abril, igualmente através da gravadora Som Livre. Intitulado sugestivamente de “Fortaleza”, o trabalho vem recheado de canções inéditas.

 

·               O show que Ivete Sangalo realizou, em dezembro passado, no Maracanã (RJ), foi registrado pela gravadora Universal e acabou de aportar no mercado, nos formatos CD e DVD. A música “Completo” (faixa bônus gravada em estúdio), primeiro single escolhido, já começa a tocar nas rádios e promete ser mais um sucesso na carreira da incansável baiana.

 

·               Com o repertório voltado para músicas com temática homossexual, acaba de ser lançado, através da gravadora DeckDisc, o CD da cantora Leila Maria intitulado “Canções do Amor de Iguais”. São treze faixas cujas letras (algumas em inglês) permitem uma leitura gay, embora várias delas não façam referências explícitas ao tema. Dentre as nacionais estão: “Mar e Lua” (de Chico Buarque), “Se Você Voltar” (de Ângela Ro Ro e Antônio Adolfo), “Ilusão à Toa” (de Johnny Alf), “Seu Tipo” (de Eduardo Dussek), “Gatas Extraordinárias” (de Caetano Veloso), “Mapa-Múndi” (de Marina Lima e Antônio Cícero), “Um Certo Alguém” (de Lulu Santos e Ronaldo Bastos) e “Você Vai Ser o Meu Escândalo” (de Roberto e Erasmo Carlos, surpreendentemente liberada pelo Rei).

 

·               A ainda pouco conhecida (mas excelente) cantora Carmina Juarez está lançando seu primeiro DVD intitulado “Caruana”, depois de dois ótimos CD’s. No repertório estão canções de Chico César e Carlos Rennó (“Quando Eu Fecho os Olhos”), Carlinhos Brown (“Argila”), Gilberto Gil e João Donato (“Emoriô”), Edu Lobo e Chico Buarque (“A Moça do Sonho”), Nando Reis (“As Coisas Tão Mais Lindas”) e Guinga e Aldir Blanc (“Vô Alfredo”).

 

·               A Elo Music põe nas lojas o CD “Música Preta, Branca… e etc…”. Trata-se de um trabalho que une os talentos de Paulo Lepetit e Gigante Brasil. Lepetit é um dos grandes baixistas da atualidade. Casado com a cantora Vange Milliet, tem estado à frente da produção de trabalhos de vários artistas iniciantes. Gigante é baterista e percussionista que já trabalhou com diversos artistas, tendo se destacado quando dividiu com Marisa Monte os vocais da faixa “Ensaboa” (de Cartola), incluída no segundo disco da diva. Juntos, os dois artistas mostram estar em perfeita sintonia. Gigante abre a voz (grave ao extremo, embora pouco versátil) nas sete faixas do álbum, ora entoando composição própria (“Vento de Amor”), ora de autoria de Lepetit (“Indignação”), ora de compositores outros como Itamar Assumpção (“Luzia”), Milton Nascimento e Caetano Veloso (“Paula e Bebeto”) e Zeca Baleiro e André Bedurê (“Na Quitanda”). Um encontro exótico que vale a pena ser conhecido!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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