Cantores: VÁRIOS
CD: “SAMBA NOVO”
Gravadora: SOM LIVRE
Existem boas novidades, sim, na música popular brasileira! E embora vários nomes ainda não sejam reconhecidos pelo grande público, a maioria está a produzir regularmente em muitos locais do Brasil, mostrando inclinações musicais diversas.
O Rio de Janeiro, vitrine-mor da nossa cultura, tem servido de celeiro para parte da nova geração. Com a revitalização do bairro da Lapa e sua agitada vida noturna, o velho e bom samba, por exemplo, ressurgiu com toda a força e trouxe a reboque talentos que, se a deusa mídia permitir, em breve estarão integrando as conversas (e as cedetecas) do público consumidor.
Atenta a essa espécie de “movimento”, a gravadora Som Livre põe no mercado o belo CD “Samba Novo” que leva a assinatura do competente Rodrigo Maranhão na produção musical. Rodrigo é o compositor do momento. Gravado por intérpretes que vão de Maria Rita a Fernanda Abreu, começa a ter o seu trabalho disputado pelos medalhões nacionais e se firma como um dos mais férteis autores da chamada nova geração (se bem que o cara já vem batalhando no meio há um certo tempo). Integrante da banda Bangalafumenga (que abre magistralmente o CD com a pulsante “Manifesto”, em melodia do próprio Rodrigo construída sobre poesia do irrequieto Chacal), ele tem trânsito livre entre essa galera nova e não teve maiores problemas para arregimentar as quinze faixas do álbum.
Embora intitulado “Samba Novo”, o repertório não se restringe apenas ao mundo do samba. Dentre suas várias ramificações, ele passeia por ritmos análogos, como o ijexá (em “O Canto da Raça”, com Hamilton de Souza), o coco (em “Parangolé”, com Flávia Bittencourt e seu tempero à la Carmen Miranda) e o jongo (em “Reza Forte”, com um surpreendente Serjão Loroza).
Dentre as melhores faixas estão as singelas “A Mais Bonita de Copacabana”, com Edu Krieger (emoldurada por belo arranjo construído apenas com violino e sanfona) e “Minha Noite É de Manhã”, com Thalma de Freitas, e a exótica “Fubá”, com Raphael Gemal. Todavia, há que se destacar também os grupos Monobloco (em “Cantiga”, adaptação de texto de Manuel Bandeira) e Sururu na Roda, cuja vocalista é Nilze Carvalho (em “História do Mar”) e as cantoras Roberta Sá (correta em “Afefé”, junto com o Trio Madeira Brasil) e Teresa Cristina (à vontade em “Se a Alegria Existe”).
Uma bela iniciativa que deve ser seguida e divulgada!
Cantora: LEILA MARIA
CD: “CANÇÃO DO AMOR DE IGUAIS”
Gravadora: DECKDISC
A idéia foi do jornalista Antônio Carlos Miguel que escreve uma coluna sobre música para o jornal “O Globo”: lançar um disco com canções que tivessem a peculiaridade de estar conectadas ao universo gay, fosse por suas letras, por terem sido adotadas por esse público ou pela opção de seus autores. Encampada de pronto pela gravadora DeckDisc, foi escolhida a cantora Leila Maria para dar voz ao projeto que resultou no CD intitulado “Canções do Amor de Iguais” que acaba de chegar às lojas.
Leila já foi modelo, telefonista e professora de inglês até adotar, de uma vez por todas, a música como mola mestra de sua vida. Dona de uma boa voz com um timbre que passeia naturalmente do grave ao agudo e que lembra, por vezes, os de Zezé Motta e Gal Costa (especialmente os vibratos desta), a cantora vem de um projeto anterior muito bem recebido pela crítica, o álbum “Off Key”, no qual se debruçou sobre interpretações jazzísticas para standarts da bossa-nova versados em inglês.
Leila é conhecida pelo chamado pessoal “GLS” desde o lançamento, em 1997, do CD “Da Cabeça aos Pés”, do qual consta a canção “Bom é Beijar”, a qual terminou se transformando em um dos hinos do movimento gay.
O trabalho recém-lançado é composto por treze faixas (cinco delas em inglês) e foi produzido pelo baixista Dunga, responsável pelo resultado final um pouco pasteurizado, o maior senão de um disco que deve se transformar em um divisor de águas na carreira da artista.
No repertório, estão presentes desde uma das primeiras canções gays (“Nature Boy”, de Éden Ahbez) até outras de safra mais recente (como “Gatas Extraordinárias”, composta por Caetano Veloso para Cássia Eller). Dentre os compositores, há desde os que já saíram há tempos do armário (caso de Ângela Ro Ro presente com “Se Você Voltar”, parceria com Antônio Adolfo, Marina Lima e Antônio Cícero com “Mapa-Múndi” e George Michael com “Kissing a Fool”) até os assumidamente heterossexuais (a exemplo de Roberto e Erasmo Carlos com a apropriada “Você Vai Ser o Meu Escândalo”, sucesso antigo de Wanderléa, e Chico Buarque com a explícita “Mar e Lua”, gravada originalmente por Simone).
Dentre os melhores momentos estão “Ilusão à Toa”, declaração de amor velado composta por Johnny Alf (e que inspirou “Um Certo Alguém”, de Lulu Santos e Ronaldo Bastos, também presente no disco), e “Lush Life”, de Billy Strayhorn.
É para ouvir sem preconceitos!
N O V I D A D E S
· Acaba de chegar às lojas o CD “Yamandu + Dominguinhos” no qual esses dois músicos (ambos feras em seus instrumentos: violão e sanfona, respectivamente) apresentam quinze faixas repletas de beleza e criatividade. Produzido por José Milton, o repertório apresenta, dentre outras, as canções “Bonitinho”, “Xote Miudinho”, “Bagualito”, “Feira de Mangaio” e “Molambo”.
· A cantora italiana Mafalda Minnozzi lança novo CD intitulado “Controvento” que conta com as participações especiais dos brasileiríssimos Guinga e Paulo Moura.
· Artista admirada por gente do porte de Milton Nascimento e Maria Bethânia, a mineira Simone Guimarães chega ao seu sexto CD mostrando um canto mais suave e optando por abrir o seu leque de parceiros. Lançado recentemente pela gravadora Biscoito Fino e intitulado “Flor de Pão”, o novo álbum traz canções inéditas compostas pela cantora com Francis Hime (“Carta à Amiga Poeta”), Kiko Continentino (“Cem Anos para Amar”), Guinga (“Jongo de Compadre”) e Antônio Carlos Bigonha (a faixa-título, que conta com a participação especial de Toninho Horta). Outros convidados que se fazem presentes no trabalho são o já citado Milton (na épica “Baião de Câmara”), Aline Germani (na delicada “Novo Amigo”), Renato Braz (na ótima toada “Via-Crúcis”) e Dori Caymmi (na jobiniana “Confissão”) – estas duas últimas canções, inclusive, configuram-se como os melhores momentos do disco, ao lado de “Enquanto” (de Isaac Cândido e Marcus Dias). A curiosidade fica por conta da faixa “Minha Mangueira”, inusitado samba de autoria de Leila Pinheiro que também participa dos vocais.
· O grupo Los Hermanos anunciou que vai dar um tempo na carreira. Alegando que a decisão não foi motivada por qualquer briga entre seus integrantes, os músicos explicam que assim resolveram para que cada um deles possa se dedicar a atividades outras. O fato é que Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, dois dos componentes, já começam a despontar como compositores dos mais procurados, especialmente pelas intérpretes femininas da MPB.
· A gravadora Som Livre acaba de lançar uma coletânea de duetos póstumos feitos com a sambista Jovelina Pérola Negra. Intitulado “É Isso que Eu Mereço”, o álbum conta com as participações de Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Alcione, Marcelo D2, Seu Jorge, Jorge Aragão, Leci Brandão e Zélia Duncan (que está em todas).
· A grande cantora Marlene, precursora das grandes intérpretes da música brasileira, subiu recentemente ao palco do auditório da Rádio Nacional (emissora carioca que, através de concurso, a elegeu “Rainha do Rádio” em 1949) e cantou algumas das músicas que mais marcaram a sua vitoriosa carreira, como: “Lata d”Água”, “Mora na Filosofia”, “Zé Marmita”, “Galope”, “O Meu Guri”, “Geni e o Zeppelin” e “Como uma Onda”. Os registros serão inseridos no documentário que está sendo produzido sobre a vida e a obra da artista e que será lançado, brevemente, em CD e DVD. Intitulado “Marlene – A Rainha e os Artistas do Rádio”, o projeto contará com a participação de vários colegas dando depoimentos sobre a diva, a exemplo do ator Gracindo Jr. e das cantoras Ademilde Fonseca, Carmélia Alves e Ellen de Lima.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br