Cantor: LOBÃO
CD: “ACÚSTICO MTV”
Gravadora: SONY & BMG
Depois de um longo período afastado das grandes gravadoras durante o qual lançou discos independentes através do circuito alternativo, o debochado e desbocado Lobão volta ao mercado fonográfico através de uma das maiores multinacionais atualmente ativas, a SONY & BMG. E com um projeto abraçado pela MTV, o famoso “Acústico”, o qual ele nunca viu com bons olhos pelo fato de compilar canções antigas, embalando-as em formato comercialmente avalizado. Não se sabe por que cargas d’água (ou se sabe muito bem) Lobão resolveu aceitar o convite, mas o fato é que ele veio mesmo em muito boa hora…
Já há alguns anos Lobão tem aparecido mais na mídia pelas opiniões controvertidas e por empunhar bandeiras contra a prática do chamado “jabá” do que propriamente por sua obra musical. Compositor inquestionavelmente inspirado, o artista surgiu, nos anos oitenta, como baterista da banda de rock Blitz.
Catapultado ao sucesso instantâneo por conta de hits como “Me Chama” e “Noite e Dia” (ambas gravadas pela cantora Marina e presentes no recém-lançado trabalho), Lobão viu seus dias de glória sepultados quando mergulhou pesado nas drogas e se meteu em confusões diversas.
Indagado recentemente por que mudou de opinião de forma tão radical, as respostas surgem embaçadas e, na real, terminam por não convencer quem quer que seja. Talvez a maturidade tenha lhe feito rever alguns pontos de vista e, em assim sendo, o novo CD é uma chance bacana de fazê-lo conhecido pelas novas gerações. Produzido pelo competente Carlos Eduardo Miranda, o projeto sai nos formatos CD e DVD (neste há três faixas a mais: “Revanche”, “Chorando no Campo” e “Que Língua Eu Falo”), os quais comprovam que a voz do cantor já não possui o vigor de outrora.
Quanto às canções de Lobão, revestidas com arranjos acústicos, ganharam sonoridade diferente, mas não perderam a beleza, mostrando que sobreviveram bem aos anos. Se algumas faixas soam descartáveis (como, por exemplo, “Vou Te Levar”, “Quente” e “Pra Onde Você Vai”), os maiores sucessos estão todos lá (caso de “Essa Noite, Não”, “Décadence Avec Élégance”, “Canos Silenciosos”, “Por Tudo Que For” e “Corações Psicodélicos”).
Dentre os melhores momentos, dá para destacar a inspirada “El Desdichado II”, a contundente “A Queda” e a obra-prima “A Vida é Doce”. A banda gaúcha Cachorro Grande faz uma participação especial na boa balada “A Gente Vai Se Amar”. As curiosidades ficam por conta dos resgates de “Bambina”, faixa do álbum “Ronaldo Foi pra Guerra” (gravado em 1984 com o grupo Os Ronaldos) e de “O Mistério”, canção do repertório do Vímana, trio formado, nos anos setenta, por Lobão, Ritchie e Lulu Santos.
Cantor: MAX VIANA
CD: “COM MAIS COR”
Gravadora: JT RECORDS
Acaba de aportar nas lojas, através da pequena gravadora JT Records, o segundo CD de Max Viana, filho do cantor e compositor alagoano Djavan, este um dos expoentes máximos da nossa música brasileira.
Max vinha de um disco de estréia pouco inspirado (“No Calçadão”, lançado em 2003) e mostra que o aprendizado contribui (e muito) para fazer aflorar o talento inato. Isso fica bastante claro quando se ouve “Com Mais Cor”, o novo álbum que traz treze faixas, doze dela inéditas assinadas pelo próprio Max, a maioria com parceiros.
É fato que as canções assinadas somente pelo artista ainda ficam a dever se comparadas com as parcerias (a melhor delas é “Colo Pra Você”), mas é igualmente incontestável verificar o salto que ele deu em sua carreira. Exímio guitarrista, já se mostra um bom criador de melodias, daquelas construídas como manda o figurino: com partes estanques bem definidas e refrões contagiantes.
Assim se faz em canções suingadas como “Disque Sim” (insuspeita parceria com Guilherme Arantes) e “Sussurro” (dividida com o contemporâneo Jair Oliveira) que, se bem trabalhadas ou incluídas em alguma trilha de novela, têm todo o jeitão de emplacar. Também a mais calminha “Uma História Por Contar” (parceria com Linox) possui os predicados necessários para cair no gosto popular.
Mas é, sem sombra de dúvida, a canção “Mais Um” (parceria com Dudu Falcão) a melhor faixa desse bem-vindo trabalho. Letra esperta em melodia deliciosa, a canção pode muito bem fazer parte do repertório de qualquer fera da nossa MPB.
Max canta direitinho, com uma voz de boa extensão e timbre próprio, sem imitar ninguém e assina a produção do seu álbum com competência.
O pai famoso está presente, ao lado de um deslocado Rappin’ Hood, na faixa “Vilarejo” (de autoria dos três), outra que tem grandes chances radiofônicas.
A única regravação fica por conta da mediana (e bem conhecida) “Hoje Eu Vou Sair Só” (de Lenine, Mu Chebabi e Caxa Aragão) que ganhou um arranjo funk setentista com ecos de “Good Times”, sucesso do Chic.
Em frente que atrás vem (muita) gente!
N O V I D A D E S
· O projeto MPB Petrobrás retorna, em sua edição 2007, ao palco no Teatro Tobias Barreto amanhã e depois (dias 22 e 23), a partir das 21 horas. A atração principal será o cantor e compositor Otto, nome cultuado na cena indie nacional. A abertura ficará por conta da prata da casa: o terceto Café Pequeno, composto por Guga Montalvão (violão), Júlio Rego (gaita) e Pedrinho Mendonça (percussão), dará uma pequena amostra do porquê de estarem fazendo tanto sucesso nas noites sergipanas.
· Uma vez decidido que o projeto do disco com João Bosco ficará para 2008, o arteiro Martinho da Vila põe nas lojas o seu novo CD de inéditas. Intitulado “Martinho da Vila, do Brasil, do Mundo”, o disco conta com as participações de Toni Garrido, Negra Li e Fito Paez.
· O terceiro CD de Bebel Gilberto, que já foi lançado no exterior, será lançado no Brasil através da gravadora Universal e chegará às lojas daqui ainda neste primeiro semestre.
· Lia Sophia é um dos nomes que já se destacam na nova geração de músicos do Pará e acaba de lançar, através da pequena gravadora Ná Records, o CD “Livre”. Dona de uma voz bastante agradável, a cantora escolheu a seara do pop para mostrar o seu trabalho que, em algumas faixas, também resvala para o lado de compositora. Dentre os momentos mais interessantes do disco estão as canções “Eu Só Quero Você”, “Sinfonia” (ambas assinadas por ela, a segunda em parceria com Eliane Moura) e “Velhos Sonhos” (de Nilson Chaves e Mapyu).
· Caetano Veloso realiza esta semana, no Canecão, apresentações especiais de seu show “Cê” com o objetivo de registrá-las para o lançamento, em breve, de CD e DVD ao vivo. E por falar no artista baiano, ele é o único brasileiro que vai estar presente no álbum “A Tribute To Joni Mitchell”, uma homenagem à compositora norte-americana. Caetano vai ficar responsável por dar uma nova roupagem à canção “Dreamland”. O projeto contará também com nomes como Prince, Elvis Costello, James Taylor e Björk.
· A gravadora Sony & BMG vai começar a testar, através do lançamento do terceiro CD da cantora Vanessa da Mata (“Sim”, que chega às lojas no final deste mês), um novo formato de disco para tentar combater a queda acentuada que o produto vem enfrentando nos últimos anos. Trata-se do CD denominado “zero” que vai contar com apenas cinco faixas, extraídas do álbum original. Desta forma, será vendido por um preço bem menor que um CD comum e deverá funcionar muito bem para aqueles ouvintes que se interessam somente pelas músicas mais trabalhadas pelas rádios, mas que não fazem questão de ter o disco inteiro. Na prática, a idéia revisita o conceito dos compactos duplos, tão em voga ne década de setenta, que, ao contrário dos vinis que vinham com (em média) doze faixas, traziam apenas quatro canções, duas de cada lado do famoso bolachão preto com um buraco no meio.
· Objetivando dar seguimento ao sucesso alcançado pelo CD “Timeless”, lançado no ano passado, Sérgio Mendes encontra-se atualmente em estúdio, no Rio de Janeiro, registrando as canções que farão parte de seu novo álbum. Dentre as participações já confirmadas estão o rapper will.i.am, do grupo Black Eyed Peas, ritmistas da escola de samba Mangueira e o compositor (e agora cantor) Guinga.
· O paulistano Carlos Navas reverencia um dos grandes estilistas da música brasileira em “Quando o Samba Acabou”. Dedicado a Mário Reis, o novo trabalho é o sexto álbum do cantor em onze anos de carreira e chega às lojas através da gravadora Lua Music. O repertório é composto por dez canções e conta com a participação especial de Tetê Espíndola na faixa “Joujoux e Balangandans”. Mario Reis foi um dos primeiros artistas da fase elétrica de gravação no Brasil. Considerado um inovador por sua dicção particular, aproximou o canto popular da fala espontânea e lançou obras-primas do nosso cancioneiro nacional.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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