Cantor: ERASMO CARLOS
CD: “CONVIDA – VOLUME II”
Gravadora: INDIE RECORDS
Para os mais desavisados que não estão entendendo o porquê de constar “Volume II” no CD “Convida”, novo álbum que Erasmo Carlos acabou de lançar através da gravadora Indie Records, aí vai a explicação: é que em 1980 o artista gravou um disco nos mesmos moldes, ou seja, regravando sucessos anteriores ao lado de grandes medalhões da MPB.
Se no projeto inicial Erasmo conseguiu reunir um time de peso que contou com o eterno parceiro Roberto Carlos, além de Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Tim Maia, Rita Lee e outros, no disco que acaba de aportar nas lojas o Tremendão (apelido que ganhou na época da Jovem Guarda) não ficou atrás: estão presentes Lulu Santos, Chico Buarque, Marisa Monte, Zeca Pagodinho, Adriana Calcanhotto, Djavan, Simone, Milton Nascimento, o grupo Os Cariocas e as bandas Skank, Los Hermanos e Kid Abelha.
A fórmula não é nova, mas o resultado é garantido: boas vendagens e maciças execuções nas rádios. Inobstante a inexistência de canções inéditas, ao menos Erasmo deu-se ao trabalho de entrar em estúdio e registrar tudo direitinho em novas versões. Diferente do Rei que, em seu CD “Duetos”, lançado no final do ano passado, apenas reuniu alguns dos encontros que teve com convidados em seus especiais de final de ano veiculados pela Rede Globo.
O grande mérito do novo trabalho, que leva a assinatura de Mu Carvalho na produção, foi respeitar o universo musical dos convidados. Assim, em reverência pelo fato de eles estarem cantando músicas de sua autoria, Erasmo permitiu-lhes, na maioria, vesti-las com roupagens adequadas aos seus estilos característicos.
Logicamente o resultado soa melhor para alguns. É o caso de Simone e sua deliciosa interpretação em “Vou Ficar Nu Pra Chamar Sua Atenção”, Lulu Santos e seu pop balanço em “Coqueiro Verde” (cuja letra datada soa até como uma excentricidade) e a banda Skank e sua vigorosa releitura de “A Banda dos Contentes”.
Erasmo, que nunca foi exatamente um intérprete de grandes recursos vocais, até que se sai direitinho nesse quesito, ainda mais quando comparado com Chico e Milton, cujas vozes soam atualmente debilitadas – uma pena!
O repertório alia grandes sucessos gravados originalmente por Roberto Carlos (“Olha”, “Cama e Mesa” e “De Tanto Amor”, por exemplo) a lados B da obra do próprio Erasmo (“Sábado Morto” e “Pão de Açúcar” estão entre elas).
Vale a pena!
Cantor: PÉRICLES CAVALCANTI
CD: “O REI DA CULTURA”
Gravadora: INDEPENDENTE
Compositor assíduo nos trabalhos da gaúcha Adriana Calcanhotto, o carioca Péricles Cavalcanti também já teve canções de sua autoria gravadas por Caetano Veloso, Simone, Lulu Santos, Fafá de Belém e Cássia Eller.
Artista criativo, foi criado em São Paulo, mas chegou a morar um tempo considerável em Londres e Paris. Foi lá, no começo dos anos setenta, que começou a sua carreira de compositor, sendo inicialmente gravado pela baiana Gal Costa em 1973 (a canção era “Quem Nasceu?”). Somente em 1991 lançou o seu primeiro disco, ainda na era do vinil, porém a partir daí vem desenvolvendo uma discografia regular que se vê agora adicionada com o lançamento de “O Rei da Cultura”, álbum independente que acaba de chegar às lojas.
Péricles não é um bom cantor de grandes recursos. Tanto que suas canções costumam crescer consideravelmente nas vozes de outros intérpretes, como é o caso de “Sou Sua”, presente no repertório do CD recém-lançado, e já gravada anteriormente com elegância ímpar pela já citada Calcanhotto.
Todas as canções são assinadas pelo próprio Péricles e as parcerias resumem-se a três faixas: a interessante “Eva e Eu” (com Arnaldo Antunes), a sucinta “Trilha Sonora” (com Lincoln Antônio) e a declamativa “Posseidon” (com Léo Cavalcanti).
Os arranjos são econômicos, mas em nada prejudicam as canções que são, por si mesmas, bastante simples (o que não é demérito algum). Músicos de peso estão presentes, como o baterista Guilherme Kastrup, os guitarristas Pedro Sá e Edgard Scandurra e o baixista Swami Jr.
Dentre os destaques há a interessante “Mae West”, a delicada “Elinha” e a pseudo-anarquista faixa-título. Mas o legal é que o CD vai em um crescendo e as melhores surpresas ficam lá para o finzinho. É o caso da bonita “Minha Confissão”, da inspirada “Quem Parte, Quem Fica” e do contagiante “Samba do Eterno Retorno”, o qual traz a voz de Rodrigo Amarante (autor do ótimo projeto gráfico) no tema incidental “É pra Sambar”.
Péricles Cavalcanti pode não ser um compositor fácil de ser assimilado, mas não resta dúvida de que sua inquieta obra merece ser muito mais conhecida pelo grande público tupiniquim.
N O V I D A D E S
· O CD “Uma Porção de Marias” é o novo trabalho jazzístico da cantora Jane Duboc. Dividido com o violonista Arismar do Espírito Santo, o disco chegará ainda este mês ao mercado através da gravadora Biscoito Fino.
· Também será lançado agora em junho, através da gravadora EMI, o quarto trabalho de Jay Vaquer, filho de Jane Duboc, o qual se intitulará “Formidável Mundo Cão” e virá recheado de canções inéditas. O CD contará com a participação especial de Meg Stock, a vocalista da banda Luxúria, na faixa “Estrela de um Céu Nublado”.
· Mauro Duarte foi um compositor inspirado que, ao longo da vida, engatou vários sucessos, a maioria deles gravados por Clara Nunes (como “Portela na Avenida”, “O Canto das Três Raças” e “Lama”). O artista deixou várias canções inéditas, as quais serão a base para o CD duplo que marcará a estréia do grupo Samba de Fato no mercado fonográfico e que é composto por Alfredo Del-Penho, Paulinho Dias, Pedro Amorim e Pedro Miranda.
· “A Gente Ainda Não Sonhou” é o título do novo CD de Carlinhos Brown que já está nas lojas da Espanha. Com data de lançamento ainda incerta aqui no Brasil, o trabalho homenageia o conterrâneo baiano Dorival Caymmi na faixa “Marina dos Mares” e, entre reggaes e rumbas, trará parcerias de Brown com Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Ivete Sangalo.
· O novo álbum da excelente cantora Olívia Byington, que já foi lançado em Portugal no ano passado, chega ao Brasil agora em maio através da gravadora Biscoito Fino. O repertório é composto, em sua maioria, por canções assinadas pela própria artista com o poeta lusitano Tiago Torres da Silva, mas há parcerias também com Marcelo Pires, Geraldinho Carneiro e Cacaso. Os arranjos ficam a cargo de Pedro Jóia e Leandro Braga. O CD conta com as luxuosas participações especiais de Maria Bethânia e de Seu Jorge.
· Deverá estar aportando no mercado muito em breve o novo e esperado CD de Elba Ramalho. O disco, que leva assinatura do pernambucano Lula Queiroga na produção, tem sido alardeado pela cantora como sendo um dos melhores de sua vitoriosa carreira. Dentre os compositores gravados estão Chico César, Jorge Ben Jor, Pedro Luís, Alceu Valença, Zé Ramalho, Accioly Neto, Geraldo Azevedo e Lenine.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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