Cantor: PEDRO MARIANO
CD: “PEDRO MARIANO”
Gravadora: UNIVERSAL
Passaram-se exatos dez anos desde que Pedro Mariano lançou o seu CD de estréia. Naquela oportunidade, o filho do meio da maior cantora brasileira de todos os tempos, Elis Regina, foi reverenciado como uma grande promessa da nossa MPB. O tempo foi passando, outras novidades foram surgindo (entre elas, nesse meio tempo, o furacão Maria Rita, sua própria irmã) e o rapaz viu seu nome ser relegado a um segundo plano.
Aqui, há dois aspectos a serem considerados. O primeiro deles é que o Brasil ainda é eminentemente um país de cantoras. Homem para se destacar no nosso mercado fonográfico (é claro que toda regra tem sua exceção) tem que também ser compositor. E não é o caso: Pedro não compõe. O segundo é que, inobstante ser incontestável que o artista canta bem pra caramba, com um timbre muito bonito e uma extensão de voz considerável (vem até domando com maestria os maneirismos vocais exibidos nos tempos primeiros), seu gosto musical (ou opção, sabe-se lá) recai sobre um tipo de canção que, em seu bojo, não tem muita força para emplacar. O repertório escolhido é, a rigor, composto por baladas pop sem sal e músicas com pitadas de soul e/ou black music que, de fato, não chegam a empolgar.
O CD homônimo recém-lançado, que chega às lojas através da gravadora Universal, também patina em canções desse tipo. Dirigido por Otávio de Moraes, o disco contém treze faixas e embora conte com uma banda pequena (Marcelo Elias nos teclados, Conrado Goys na guitarra e violão, Leandro Matsumoto no baixo, Junior Vargas na bateria e Laércio da Costa na percussão), termina por apresentar uma sonoridade redonda. O pai do cantor, o competente César Camargo Mariano, está presente como arranjador e pianista em seis faixas.
Dentre os momentos que se destacam estão “Poder” (inédita de Jorge Vercilo) e “Risos e Memórias” (de Diego Saldanha), além das apropriadas regravações de “Intacto” (de Jair Oliveira) e “Só Deus é Quem Sabe” (de Guilherme Arantes).
Pedro Mariano é um cantor que pode muito mais. Mas só mudando o rumo e abraçando a ousadia conseguirá o destaque que merece pela beleza de sua voz.
Cantora: CÉLIA
CD: “FAÇO NO TEMPO SOAR MINHA SÍLABA”
Gravadora: LUA MUSIC
É um disco simples. Simples e bonito. Apoiada basicamente no belíssimo violão de Dino Barioni (também o arranjador e diretor musical), a cantora Célia lança, através da pequena gravadora Lua Music, o seu novo CD intitulado sugestivamente de “Faço No Tempo Soar Minha Sílaba” (retirado da letra de “Muito Romântico”, música de Caetano Veloso que abre magistralmente o álbum).
A paulista Célia começou a se interessar por música ainda na adolescência, mas somente lançou-se efetivamente na carreira artística em 1970 quando participou do programa “Um Instante Maestro”, de Flávio Cavalcanti. No ano seguinte, gravou o seu primeiro disco, mas o grande sucesso só viria quatro anos depois: a canção “Onde Estão os Tamborins?” (de Pedro Caetano).
O novo CD (produzido por Thiago Marques Luiz) vem quebrar um jejum de sete anos (o último trabalho data de 2000 – o CD “Pra Fugir da Saudade”, gravado ao lado do cantor Zé Luiz Mazziotti, dedicado aos sambas de Paulinho da Viola) e mostra a artista em plena forma vocal.
Dona de um timbre claro, grave e potente, Célia conseguiu reunir quinze belas representantes do nosso cancioneiro nacional.
Já na apresentação que consta do encarte do álbum, o experiente Hermínio Bello de Carvalho ressalta, de forma bastante apropriada, o fato de que cantora e intérprete nem sempre andam juntas, o que não é o caso de Célia. Nela, a afinação e a emoção convivem lado a lado e os sentimentos se amoldam, ao longo do repertório, ao que cada canção lhe pede.
Há desde João Bosco e o clássico “Cabaré” (parceria com Aldir Blanc) até Gonzaguinha e sua pérola pouco conhecida “Geraldinos e Arquibaldos”, passando por Baden Powell e a preciosa “Última Forma” (parceria com Paulo César Pinheiro) e por Lamartine Babo e a nostálgica “Serra da Boa Esperança”.
O Quinteto em Branco e Preto dá uma força em “Disritmia” (de Martinho da Vila, que ainda conta com a participação especial de Zélia Duncan) e em “Pressentimento” (histórica parceria de Elton Medeiros com o já citado Hermínio, cantada ao lado de Beth Carvalho). Outros convidados são Lucinha Lins e Dominguinhos que dão um brilho especial a “Vacilão” (de Zé Roberto) e “Dúvida” (valsa obscura de Luiz Gonzaga e José Ramos).
Um disco especial que merece toda a consideração!
N O V I D A D E S
· O próximo CD da cantora baiana Vânia Abreu (ainda mais conhecida como sendo a irmã de Daniela Mercury) já começa a ser formatado. No repertório, a artista vai incluir canções inéditas de Carlos Careqa, Péri, Zeca Baleiro e Marcelo Quintanilha.
· Um novo samba intitulado “Delicado”, a segunda parceria entre Teresa Cristina e Zé Renato, será um dos destaques do novo álbum que a cantora carioca já grava em estúdio do Rio de Janeiro e que chegará às lojas em julho próximo através da gravadora DeckDisc.
· Mais um lançamento do selo SESC Rio.Som, já se encontra disponível o CD relativo ao poeta Geraldo Carneiro, mineiro que se mudou para o Rio de Janeiro aos três anos de idade, onde publicou diversos livros de poesia, escreveu para teatro, TV, e traduziu peças como “A Tempestade”, de William Shakespeare. Intitulado “Gozos da Alma” e contendo doze faixas, o disco traz poemas do artista encaixados em melodias criadas por gente do quilate de Francis Hime, Wagner Tiso, Jacob do Bandolim, Egberto Gismonti, John Neschling e Astor Piazzolla. As canções são interpretadas por Danilo Caymmi, Lenine, Zezé Motta, Olívia Byington, Olívia Hime, Francis Hime e pelo grupo AfroReggae. Dentre os maiores destaques estão a sinfônica “Lundu”, a suingada “Rita Baiana”, a melodramática “Luz do Tango”, a delicada “A Flor e o Cais” e a sublime “Olha a Lua”. Vale a pena conhecer!
· Em fase de seleção do repertório, a cantora Isabella Taviani prepara o terceiro disco que já é esperado com grande expectativa. Destaque recente na trilha da minissérie global “Amazônia” com a música “Viramundo” (de Gilberto Gil), a carioca já dá como certa a inclusão no novo CD (que terá a produção assinada por Torcuato Mariano) da canção “Outro Mar” (de sua própria autoria), gravada originalmente por Luíza Possi.
· O próximo álbum da cantora mineira Paula Santoro será totalmente voltado para a obra musical de Guinga. O disco já está sendo esboçado e chegará ao mercado no segundo semestre através da gravadora Biscoito Fino.
· “Flores, Amores e Blábláblá” é o título do segundo CD da cantora e atriz Marjorie Estiano, um lançamento da gravadora Universal, através do qual se constata um considerável amadurecimento em comparação com o insosso disco de estréia. Marjorie é graciosa e canta bonitinho e afinado. Não dá ainda, entretanto, para saber se tem futuro como cantora até porque o seu lado de atriz já vem se consolidando de forma mais rápida (ela vai ser, inclusive, a protagonista da próxima novela das 21 horas da Rede Globo, de autoria de Aguinaldo Silva, provisoriamente intitulada de “Duas Caras”). O repertório do álbum sofre com a falta de pluralidade de compositores, mesmo assim dá para pinçar algumas canções engraçadinhas. A mais palatável (e que já toca nas rádios) é “Espirais”, embora a melhor seja mesmo “Tatuagem”, parceria inédita de Rita Lee e André Aquino. Mas há outros momentos razoáveis, a exemplo de “Branquela”, “Alucinados”, “Desenconto” e do blues “Ponto de Partida”, além da boa releitura de “Oh! Darling”, pérola do repertório dos Beatles.
· A trilha sonora da nova novela global das dezoito horas, a teatral “Eterna Magia”, já chegou às lojas e conta, no seu repertório, com nomes díspares tais como Sidney Magal, Gal Costa, Orlando Silva, Jair Rodrigues, Elis Regina, Dudu Nobre e Cláudia Leite.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br