Cantora: VANESSA DA MATA
CD: “SIM”
Gravadora: SONY & BMG
A matogrossense Vanessa da Mata acaba de lançar, através da SONY & BMG, o seu terceiro CD, depois de ter conseguido a façanha de ver a música “Ai, Ai, Ai…” (de sua autoria) como a mais executada do ano passado. Há de se ressaltar que a canção, que integrou o disco anterior (“Essa Boneca Tem Manual”), precisou ser incluída na trilha sonora da novela global “Belíssima” para emplacar junto ao grande público.
Depois de tamanho sucesso, era natural que o novo álbum, produzido a quatro mãos por Mário Caldato e Kassin e intitulado “Sim”, viesse cercado de expectativas, as quais resultam em agradável constatação.
Vanessa canta direitinho (embora pessoalmente me incomode a mistura de Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e Gal Costa que ela ainda utiliza), se bem que às vezes exagera num tatibitate que lembra em demasia trejeitos vocais de criança. Como compositora, geralmente trabalha sozinha, ou seja, assina as letras e as melodias sem parceiros (no disco recém-lançado, somente quatro das treze faixas foram compostas com o auxílio deles). E mesmo não costumando se utilizar de rimas, suas letras são, via de regra, inteligentes e suas melodias quase sempre contêm refrões facilmente assimiláveis.
O novo trabalho traz quatro reggaes, ritmo que até então não caracterizava a obra solo da artista. Mesmo contando com a participação dos festejados músicos Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo), dois deles soam rasteiros (“Absurdo” e “Ilegais”). Os outros até que são bem bacanas (“Vermelho” e “Boa Sorte”, este contando com a presença de Ben Harper nos vocais e que já toca exaustivamente nas rádios).
Entre nítida influência de um Jorge Ben de outrora (o samba “Quando um Homem Tem uma Mangueira no Quintal”) e um agradável passeio por ritmo nordestino (o baião “Fugiu com a Novela”), Vanessa cresce mesmo quando soa enternecida nos versos de “Amado” (parceria com Marcelo Jeneci) ou quando se arrisca no quase calipso “Pirraça” (inspirada parceria com Kassin). São bons momentos que só ficam atrás da possante “Você Vai Me Destruir” (parceria com o guitarrista Fernando Catatau – esta com grandes chances radiofônicas) e “Quem Irá Nos Proteger”, bela canção que cita incidentalmente “Sua Estupidez” (de Roberto e Erasmo Carlos).
A última faixa (“Minha Herança: Uma Flor”) traz a cantora acompanhando-se ao violão, ela que já assumiu compor sem fazer uso de qualquer instrumento, registrando as idéias que se lhe surgem em gravador portátil.
Por ser corajosamente constituído somente por canções inéditas, apresentando algumas inquestionavelmente interessantes, trata-se de um dos bons lançamentos do ano.
Cantor: DADI
CD: “DADI”
Gravadora: SOM LIVRE
Para quem não sabe, a canção “Leãozinho”, uma das mais conhecidas de Caetano Veloso, foi composta em homenagem a Dadi, músico que, à época em que a obra surgiu, integrava A Cor do Som, grupo responsável por diversos sucessos constantes das paradas musicais no final da década de setenta.
Quando cada um de seus componentes resolveu seguir caminho próprio, Dadi engrenou uma carreira de baixista e, durante anos, tocou com vários dos grandes nomes da nossa música popular brasileira, sempre vendo, no entanto, seu nome relegado a fichas técnicas de discos e shows alheios.
Com a explosão, em 2002, dos Tribalistas (reunião efêmera de Marisa Monte, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes), Dadi passou a ter o seu trabalho efetivamente reconhecido, passando a fazer parte do grupo como se dele fosse um quarto elemento.
Daí para concretizar a vontade antiga de lançar um CD solo foi um pulo e o resultado acaba de chegar às lojas através da gravadora Som Livre (a qual, felizmente acordando de um considerável período de estagnação, vem botando ultimamente no mercado muitas coisas boas).
O CD conta com um repertório inteiramente autoral. São onze faixas, quase todas assinadas com parceiros famosos. Dentre eles estão o já citado Arnaldo Antunes (que comparece como co-autor de seis músicas) e André Carvalho, além dos pesos-pesados Caetano Veloso, Rita Lee e Jorge Mautner. Caetano e Rita, inclusive, estão presentes como convidados especiais nas faixas “No Coração da Escuridão” e “Na Linha e Na Lei”, respectivamente, dois bons momentos do álbum. Outras participações afetivas ficam a cargo de Marisa Monte (sempre precisa em “Da Aurora até o Luar”) e Carlinhos Brown (em “70’s – Setentas”). Já o irmão tecladista Mu Carvalho marca presença na bonita “Alvo Certo”.
Dadi não é um cantor de grandes recursos vocais e ele sabe disso. Mas também sabe que, dentro de suas limitações, um autor tem a obrigação de mostrar suas criações sob a ótica própria. Cercado por músicos competentes, tanto da geração atual (Domenico, Kassin, Davi Moraes, Dé Palmeira) quanto dos já atemporais (Jaques Morelenbaum, Arto Lindsay, Vinícius Cantuária, Wilson das Neves), ele construiu um trabalho que mostra sua eterna juventude e seu incontestável talento. Merece ser conhecido!
N O V I D A D E S
· Depois de alguns anos sem criar canções novas, Gilberto Gil, atual Ministro da Cultura, acaba de compor “Banda Larga Cordel” que já pode ser conhecida acessando-se o YouTube através do link: http://www.youtube.com/watch?v=bdjQwrPW_zI. A produção é caseira (o vídeo foi filmado na cozinha da casa do baiano com o celular do cineasta Andrucha Waddington), mas dá para sentir que se trata de uma canção bem bacana.
· Aproveitando o lançamento, em DVD, da minissérie global “Riacho Doce”, a gravadora Som Livre relança, com tiragem limitada, a trilha sonora original que conta com fonogramas interpretados por, dentre outros, Maria Bethânia (em “Morena”), Danilo Caymmi (em “O Bem e o Mal”) e Bebel Gilberto (em “Flor da Idade”). Mas o grande mérito dessa trilha foi ter apresentado, à época de seu lançamento (1991), os talentos de duas grandes cantoras: Ithamara Koorax (que interpreta com maestria o tema “Iluminada”) e Selma Reis (responsável pela emoção impressa na canção “O Que É o Amor”).
· Estreou cercado a muita polêmica o novo show de Ana Carolina, dirigido por Monique Gardenberg e com cenários assinados por Gringo Cardia. É que a cantora mineira resolveu exibir em telões, enquanto interpreta as canções “Cantinho” e “Eu Comi a Madona”, alguns vídeos eróticos. Há gente que aprova a idéia, mas outros acham que se trata de apelação desnecessária. No repertório, além de seus maiores hits, ela ainda interpreta o samba “Cabide” (sucesso atual na voz de Mart’nália) e “Três”, bela canção da safra mais recente de Marina Lima.
· Katia B chega ao seu terceiro álbum que aporta nas lojas através da gravadora MCD. Intitulado “Espacial”, segue a fórmula adotada pela cantora para o seu trabalho: canções emolduradas por arranjos recheados de programações e efeitos sonoros. O resultado, por vezes, soa bacana (como nas faixas “Canto da Alegria”, um baião estilizado de autoria da própria artista, e “Dança do Ventre da Guerra”, esta de forte influência árabe, parceria com Fausto Fawcett, dois dos melhores momentos do disco), mas, presente em todo o CD, a ambiência eletrônica termina ressaltando um ar desnecessariamente monocórdio. Katia tem timbre sensual e parece saber o que quer. Há duas canções inéditas de Vitor Ramil (“Viajei” e “Destiny”) e regravações para obras conhecidas de Milton Nascimento com Ronaldo Bastos (“Cais”) e Tom Jobim com Vinicius de Moraes (“O Amor em Paz”).
· O CD “Sem Você” foi lançado no Japão em 1995 e só agora chega ao mercado nacional através da gravadora Biscoito Fino. Trata-se de um trabalho que reúne os talentos de Joyce e Toninho Horta em torno do cancioneiro de Tom Jobim. Dentre as canções que fazem parte do trabalho estão: “Ela é Carioca”, “Correnteza”, “Frevo de Orfeu”, “Dindi” e “Estrada do Sol”.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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