MUSIQUALIDADE

R E S E N H A     1

 

Cantor: CARLOS NAVAS

CD: “QUANDO O SAMBA ACABOU”

Gravadora: LUA MUSIC

 

O cantor Carlos Navas chega ao seu sexto CD correndo por fora do circuito das grandes multinacionais, mas íntegro às suas convicções musicais. Lançado pela gravadora Lua Music, seu novo álbum (intitulado “Quando o Samba Acabou”) leva a assinatura de Ronaldo Rayol na direção musical e é dedicado a Mário Reis, este um artista à frente de seu tempo que, já na década de trinta do século passado, inaugurou um estilo de cantar diferente do que havia no Brasil até então. Ao contrário dos vozeirões da era do rádio, ele cantava de forma coloquial, com uma divisão rítmica mais ágil, dando uma interpretação própria às canções. Foi o primeiro a gravar uma composição de Ary Barroso (o samba “Vou a Penha”) e viu sua carreira se consolidar através de uma série de discos que gravou em dueto com Francisco Alves.

Navas, por sua vez, é um cantor irrequieto que já mergulhou no universo pop (“Sua Pessoa” e “Tanto Silêncio”), no poético (“Pássaro Passará”) e no infantil (“Algumas Canções da Arca”), mostrando grande capacidade de adaptação. Dono de uma das grandes vozes masculinas atualmente em atuação nestas terras brazilis (seu timbre é mais para o agudo, mas os seus graves são um assombro de belos!), o paulistano começou no mundo artístico como produtor de artistas como Alaíde Costa e Tetê Espíndola (esta, inclusive, participa afetivamente do novo trabalho na faixa “Joujoux e Balangandãs”), vindo a lançar o seu primeiro CD em 1997 (“Pouco Pra Mim”).

Como o pesquisador Hermínio Bello de Carvalho já antecipa no texto de apresentação do recém-lançado álbum, “Carlos Navas teve a inteligência de homenagear o grande Mário Reis sem tentar imitar o que é inimitável. Ao estilo quase minimalista do Mestre, contrapôs sua personalidade ora romântica, ora maliciosa, apoiado em arranjos de bom gosto”. Belo resumo para um grande trabalho, construído sobre elegantes arranjos!

Para compor o repertório, foram resgatadas dez pérolas da nossa MPB e não há mesmo como deixar de se emocionar ao ouvir, por exemplo, as felizes releituras de “Filosofia” (Noel Rosa e André Filho), “Sabiá” (Sinhô), “Se Você Jurar” (Francisco Alves, Ismael Silva e Nilton Bastos) e “Dorinha, Meu Amor” (de José Francisco de Freitas), grandes momentos de um disco que se consubstancia como o melhor da carreira de Navas e um dos mais bem resolvidos deste ano.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: ZECA BALEIRO

CD: “LADO Z”

Gravadora: MZA MUSIC

 

Como alguém já disse antes, Zeca Baleiro é um cara que não resiste a uma boa cantada. Não, não entendam mal! Quer-se dizer com isso que o artista costuma aceitar, com elogiável freqüência, convites feitos por colegas para fazer participações especiais em seus discos (nesse quesito, talvez só perca mesmo para a onipresente Zélia Duncan e para o xará Zeca Pagodinho). Foi desse mote que o produtor Mazzola se aproveitou para compilar grande parte das canções que integram o recém-lançado CD intitulado “Lado Z” que, além dos registros como convidado, traz o maranhense em algumas faixas tidas como raras. Não se trata, portanto, de um disco de inéditas, tampouco de carreira, mas que vale a pena como curiosidade, principalmente para os fãs.

Compositor antenado, Baleiro já conseguiu construir pelo menos dois trabalhos memoráveis: o primeiro e o segundo álbuns de sua carreira (“Por Onde Andará Stephen Fry?” e “Vô Imbolá”, respectivamente). Os seguintes não repetiram o sucesso, mas ratificaram o talento dele que também canta legal, com uma voz de timbre grave e bem colocada.

Nas quinze faixas que fazem parte do recém-lançado disco dá para constatar o ecletismo de Baleiro que passeia por canções tão díspares como o samba-de-breque “Na Subida do Morro” (de Moreira da Silva e Ribeiro da Cunha, o qual canta com Jards Macalé), o arrasta-pé “Forró no Malagueta” (dele mesmo, gravada com o grupo Forróçacana) e o pseudo-tango “Radiografia” (de Vanessa Bumagny, em dueto com ela própria). Do trabalho dividido com Fágner restou a pungente “Não Tenho Tempo” (de Baleiro) e do DVD relativo ao mais recente “Baladas do Asfalto” pinçou o áudio de “Meu Coração Está de Luto” (de Waldick Soriano). A maior curiosidade, no entanto, fica mesmo por conta de uma sobra de estúdio do CD “Pet Shop Mundo Cão”: a releitura de “Menina Jesus” (de Tom Zé).

Baleiro ainda participou de discos de Lobão (“Uma Delicada Forma de Calor”), Martinho da Vila (“Salve a Mulatada Brasileira”), Tião Carvalho (“De Teresina a São Luís”) e Rolando Boldrin (“Onde Anda Iolanda”) e integrou projetos especiais, como os dedicados às obras de Clara Nunes (“Tristeza Pé no Chão”), Odair José (“Eu, Você e a Praça”), João Bosco (“Das Dores de Oratório”), Sérgio Natureza (“Roda Morta”) e Sérgio Godinho (“Coro das Velhas”).

Em uma seleção desse tipo, é lógico que algumas preciosidades restaram de fora, como, por exemplo, “Bicho de Sete Cabeças” que Baleiro gravou para a trilha sonora do filme homônimo, “Até o Fim”, registrada para o songbook com a obra de Chico Buarque, e “Mother”, incluída em um tributo a John Lennon. Ficaram, quem sabe, para um volume II, nas lojas daqui a alguns anos…

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Daniel Gonzaga já finaliza o seu novo CD no qual vai revisitar a obra do pai famoso, o inesquecível Gonzaguinha. Talento da nova geração, Daniel já homenageou, anos atrás, o avô Luiz Gonzaga em disco de produção simples, porém sincera.

 

·               Selma Reis é cantora de voz grave e poderosa que, durante a carreira, lançou alguns bons discos e derrapou em outros. Aventurando-se, de uns tempos para cá, também na arte de representar, chegou ao horário nobre da Rede Globo através da telenovela “Páginas da Vida”, na qual a sua personagem, a freira Irmã Zenaide, cantava algumas músicas sacras, despertando nela a vontade de lançar um álbum com registros de canções eruditas. Foi assim que surgiu a idéia do CD intitulado “Sagrado”, que acaba de chegar às lojas através da gravadora DeckDisc, o qual é composto de dez músicas clássicas escolhidas a dedo pela artista. Pessoalmente, prefiro Selma no campo da canção popular. Acho que sua voz perde um pouco a força quando se coloca a serviço de registros mais agudos e vibratos mais alongados, mas não dá para deixar de lhe dar o merecido mérito, uma vez que é inquestionável o quanto é difícil um artista popular mergulhar em um universo tão diferente. A cantora termina mostrando serviço, ancorada pelo piano preciso de Regina Lacerda e de Ana Azevedo (esta somente na única faixa com letra em português: a obra-prima “Ave Maria no Morro”, de Herivelto Martins). O repertório, todo ele um primor, vai de Mozart (“Ave Verum”) a Handel (“Ombra Mai Fu”), passando por Stradella (“Pietà, Signore”) e Monteverdi (“Lasciatemi Morire”), sem esquecer de revisitar as duas “Ave Maria” mais famosas, a de Schubert e a Gounod.

 

·               O segundo CD solo de George Israel, integrante do grupo Kid Abelha, estará chegando ao mercado no próximo mês de agosto, mas a canção “Noite Perfeita”, parceria dele com Leoni, já está começando a tocar nas rádios. O novo disco promete…

 

·               Já o terceiro CD solo de Marcelo Bonfá (que era o baixista da banda Legião Urbana) está quase pronto e deverá ser lançado em breve. Produzido por André Rafael, o novo álbum contará com 11 canções inéditas em seu repertório.

 

·               Os registros de áudio e vídeo referentes ao show realizado por Tim Maia no Teatro do Hotel Nacional, no Rio de Janeiro, em 1989, foram encontrados, recuperados e remasterizados e acabam de chegar às lojas nos formatos CD e DVD. Com o título de “Tim Maia in Concert”, o projeto da gravadora Sony & BMG mostra o síndico da nossa música popular com o seu humor sarcástico de sempre. Precursor do funk e da soul music no Brasil, Tim, que também colecionou hits na seara das baladas românticas, começou sua carreira formando uma banda ao lado dos também iniciantes Roberto e Erasmo Carlos e viu, anos depois, sua arte influenciar vários artistas, dentre eles Sandra de Sá, Léo Jaime e Ed Motta. Acompanhado da famosa banda Vitória Régia, que executou com incomum energia os arranjos assinados por Lincoln Olivetti, Tim registrou, no repertório da apresentação, alguns de seus maiores sucessos, tais como: “A Festa do Santo Reis”, “Sossego”, “Gostava Tanto de Você”, “Me Dê Motivo” e “Vale Tudo”. A agradável surpresa ficou por conta da inclusão de “Baby”, conhecida canção de Caetano Veloso nunca antes gravada por Tim, a qual ganhou bela e personalíssima interpretação do polêmico cantor.

 

·               Chega às lojas esta semana o CD contendo a trilha sonora da telenovela global “Sete Pecados”. O disco traz canções interpretadas por Marisa Monte, Ivete Sangalo, Marina Elali, Fábio Jr., Roupa Nova, Ivo Pessoa, Lulu Santos, Maurício Mattar, Isabella Taviani, Lenine, Zélia Duncan, Zeca Pagodinho, Eduardo Dussek, Rodrigo Santos, Claudio Zoli, Deborah Blando e Luciana Mello.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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