Cantora: PAULA TOLLER CD: “SÓ NÓS” Gravadora: WEA Com uma capa belíssima e um encarte de primeira, acaba de chegar às lojas o segundo CD solo da cantora Paula Toller, vocalista da banda Kid Abelha (seu disco de estréia foi lançado em 1998). Intitulado “Só Nós”, leva a assinatura do galês Raul Ralphes na produção e é um dos grandes investimentos da gravadora WEA para este ano. A quarentona Paula continua em plena forma física. Musicalmente falando, tem evoluído indiscutivelmente na arte de cantar. Se no começo da carreira era apontada como desafinada, hoje já sabe moldar sua voz com destreza, dela extraindo até vibratos muito bem colocados. Como compositora pode não surpreender com arroubos criativos, mas também não faz feio pois sabe transpor para seus versos dores de amores de forma moderna e fatos cotidianos de maneira eficiente. Recebido pela crítica especializada como um ótimo disco, na verdade ele fica aquém do primeiro álbum da cantora. O outro, de fato, era mais simples, porém soava mais sincero. O atual traz, no repertório, quatorze faixas, quatro delas cantadas em inglês e duas versões. Embora pessoalmente eu não ache interessante mistura de idiomas em um único trabalho e tenha um pé atrás com canções que não surgem na sua língua original, tenho que reconhecer o caráter de universalidade que Paula quis dar ao projeto. Tanto assim o é que firmou parceria com Donavon Frankenreiter, garantindo-o como convidado especial na faixa “All Over”. Outra participação internacional é a de Kevin Johansen na delicada canção “Glass”, de autoria do mesmo. E, como presente, a loira ganhou de Jesse Harris duas músicas inéditas: “If You Won’t” e “Long Way From Home”. Não obstante a constelação estelar presente, os melhores momentos do disco aparecem mesmo no idioma pátrio. É o caso de “Meu Amor Se Mudou Pra Lua” (de Nenung, do grupo gaúcho The Darma Lovers), com forte pegada pop, e de “O Que É Que Eu Sou”, que Erasmo Carlos compôs para a artista. Destacam-se ainda a inteligente sacada contida em “Um Primeiro Beijo” e a bela constatação explicitada em “Barcelona 16”, através da qual Paula compara a um segundo parto o momento em que a mãe vê o filho adolescente, cheio de vida e independência, seguir sua própria viagem existencial – no caso, o seu Gabriel, tema (enquanto criança) da bela faixa “Oito Anos”, de seu CD anterior. Conhecida pela timidez e pela forma discreta como conduz sua vida, a cantora surpreendentemente assume em “Eu Quero Ir Pra Rua”: “Já cansei de me trancar / Vou me atirar / Já cansei de me prender / Quero aparecer”. Com esse novo álbum (concebido exatamente para isso), ela deverá conseguir o seu objetivo… Cantora: CLAUDETTE SOARES CD: “FOI A NOITE” Gravadora: LUA MUSIC Claudette Soares é uma artista que confunde o seu nome com o da história da música popular brasileira. Ainda na ativa e com todo o gás, a intérprete loira começou sua carreira no rádio, na década de quarenta, notabilizando-se inicialmente como cantora de baiões. Trabalhou, em seguida, como crooner em diversas boates, o que lhe deu cancha para arriscar-se em caminhos os mais variados. O primeiro disco só foi lançado em 1964 e já veio totalmente voltado para a bossa-nova. Foi uma das primeiras a gravar compositores que, à época, estavam iniciando as suas carreiras, como Chico Buarque, Gilberto Gil e Roberto Carlos. Pois é a ela própria quem acaba de lançar, através da Lua Music, um belo CD totalmente dedicado à obra de Tom Jobim. Intitulado “Foi a Noite” e competentemente produzido por Tiago Marques Luiz, o novo trabalho destaca-se dos vários tributos já feitos a Tom por pinçar diversas canções pouco conhecidas do maestro soberano, mas nem por isso menos belas que suas obras-primas mais batidas. Claudette continua soando graciosa. É audível o peso dos anos em sua voz sempre bem colocada, mas nada que possa afetar o tamanho de seu talento. Acompanhada, nas quinze canções escolhidas, somente por trio de músicos (Giba Estebez, Ubaldo Versolato e Regina Vasconcelos), Claudette conseguiu construir um álbum de delicadeza ímpar, mas que em momento algum soa monocórdio. Algumas das gravações resultaram memoráveis, como, por exemplo, a sua versão para “Retrato em Branco e Preto” (parceria de Tom e Chico Buarque), na qual se faz acompanhar unicamente por um violoncello, e o encontro perfeito com Alaíde Costa, convidada especial na faixa “Sabiá” (outra de Tom e Chico), com citação emocionante de “Borzeguim” (canção da fase ecológica de Tom). Dick Farney também se faz presente, acompanhando Claudette nos vocais de “Solidão” (de Tom e Alcides de Souza) e há uma merecida homenagem a Sylvinha Telles no medley que une as canções “Discussão”, “Samba Torto” e “Eu Preciso de Você” (a primeira de Tom e Newton Mendonça; as outras duas parcerias com Aloysio de Oliveira). Outros bons momentos ficam por conta de “Sucedeu Assim” (de Tom e Marino Pinto) e “Esquecendo Você” (de Tom e Vinicius de Moraes). Como bem descreveu o irretocável letrista Aldir Blanc no texto de apresentação do CD, “Claudette é dessas cantoras raras, que unem à indispensável técnica intensa emoção interpretativa”. Está aí uma excelente oportunidade para as novas gerações conhecerem-na! N O V I D A D E S · Quando setembro chegar, o palco do Teatro Atheneu será o centro das atenções da música sergipana. É que lá estará se realizando, até o final do ano, a nova edição do “Prata da Casa”, um projeto que tem como objetivo realçar os talentos da terra. Entre nomes consagrados (Mingo Santana, Amorosa e Kleber Melo, por exemplo) e bandas da moda (Naurêa, Maria Scombona e Versão Brasileira, entre outras), quem sai ganhando é o público que poderá ficar por dentro daquilo que de melhor vem sendo feito atualmente neste Cajueiro dos Papagaios. · Mais ecológica do que nunca, Tetê Espíndola está lançando o CD intitulado “Evaporar”, registro de show realizado em novembro de 2004 em Campo Grande (MS). Com sua voz afinada, potente e surpreendentemente intacta, a artista apresenta doze temas, a maioria deles voltada para a reflexão do ser humano quanto à preservação do verde, da água e dos recursos naturais do planeta. Dentre os destaques estão as faixas: “Toada da Saudade” (dela e Jerry Espíndola), “Sertão” (dela e Arrigo Barnabé), “Semente de Som” (dela e Chico César) e “Amor de Graça” (dela e Humberto Espíndola). · Lourdes Ábido foi uma das semi-finalistas, em 2003, do Prêmio Visa – edição compositores – e, a partir daí, viu suas canções serem elogiadas, motivo pelo qual começou, logo em seguida, a gerar o CD “Golfinho Gaivota”, uma produção independente que somente agora chegou ao mercado. Lourdes é uma criadora talentosa que, entre valsas e sambinhas, revela grande sensibilidade. O repertório é composto por doze faixas, duas delas instrumentais (executadas pelo Trio Arcano) e parcerias assinadas com o poeta Reynaldo Jardim e com Simone Guimarães. A própria Lourdes interpreta algumas de suas criações e, muito embora não se possa afirmar ter uma voz exatamente talhada para o canto, mostra-se segura, especialmente nas faixas “Princípio da Incerteza” e “Recompondo o Sonho”. Mas são as cantoras convidadas que dão molho especial ao álbum, como Leila Pinheiro (magistral em “Fantasia”, acompanhado pelo piano mágico de Egberto Gismonti), Jane Duboc (precisa em “Calendário”) e Miúcha (à vontade em “Gotas de Poesia”). O grupo vocal “Nós Quatro”, por sua vez, faz de “Golfinhos” um dos melhores momentos desse disco muito bem-vindo. · Roberto Ribeiro, excelente sambista morto precocemente em 1996, é mais um dos títulos do programa “Ensaio” que está sendo lançado em DVD. No repertório, alguns de seus grandes sucessos (“Todo Menino É um Rei”, “Vazio” e “Meu Drama”), além de pérolas do cancioneiro nacional (“Bom Dia, Tristeza” e “Canção de Amor”). · Até o final do ano a gravadora Biscoito Fino vai pôr no mercado CD e DVD resultantes de registro do show apresentado, em 2006, pelas cantoras Simone e Zélia Duncan dentro do projeto “Tom Acústico”. Do repertório fazem parte canções que garantiram o sucesso da Cigarra nos anos setenta (“Jura Secreta”, “Medo de Amar nº 2”, “Petúnia Resedá”, “Vento Nordeste”, “Mar e Lua”), alguns sucessos de Zélia (“Não Vá Ainda”, “Mãos Atadas”, “Sentidos”) e músicas inéditas nas vozes das duas (“Ralador”, “Agito e Uso”, “Grávida”, “Gatas Extraordinárias”). É esperar para se deliciar… · De igual modo, será lançado até dezembro e também pela Biscoito Fino o primeiro DVD da grande cantora Elza Soares. O esperado trabalho é um registro do elogiado show “Beba-me”, no qual a artista prioriza o samba no repertório, e que tem lotado diversos palcos desde a sua estréia no final do ano passado. RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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