MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: DJAVAN

CD: “MATIZES”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

Alagoano, Djavan começou na música fazendo parte de um grupo que tocava covers dos Beatles, curiosamente denominado Luz, Som e Dimensão (LSD). Quando sentiu que precisava de um espaço maior para mostrar o seu trabalho, mudou-se para o Rio de Janeiro.

Três anos depois, em 1976, e após ter participado com êxito de alguns festivais, gravou o seu primeiro disco intitulado “A Voz, o Violão e a Arte da Djavan”, do qual consta a sincopada “Flor de Lis”, até hoje um dos grandes sucessos de sua vitoriosa carreira.

Participou de diversas trilhas sonoras de novela, algumas somente como intérprete. Como compositor, sempre primou pela criação de melodias elaboradas e divisões rítmicas sutis. Teve suas músicas gravadas pelos maiores intérpretes da nossa MPB, como Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Zizi Possi e Simone.

É esse artista peculiar que, de maneira independente, acaba de pôr no mercado mais um CD. Intitulado “Matizes”, esse novo trabalho é composto por uma dúzia de canções inéditas que, se não possuem o apelo nem a força de algumas obras-primas anteriores (como “Açaí”, “Samurai”, “Esquinas”, “Pétala”, “Álibi”, “Água” e “Faltando um Pedaço”), denotam a sua vontade em continuar na ativa e criando, ao contrário de outros colegas que optam por se acomodar em berço esplêndido.

Dono de um timbre característico e potente, Djavan continua em boa forma vocal. O álbum recém-lançado alterna bons momentos (a complexa “Joaninha”, a possante “Mea-Culpa” e a inspirada faixa-título) com outros medianos (a revoltada “Imposto” e a confusa “Azedo e Amargo” que, mesmo mudando de andamento, não empolga) e, embora a faixa de trabalho escolhida tenha sido a previsível “Pedra”, a primeira que de fato já sinaliza uma boa aceitação é o samba “Delírio dos Mortais”, muito por sua inclusão na trilha da telenovela global “Duas Caras”.

Cercado por músicos de alto quilate (dentre eles, seus filhos João e Max Viana, respectivamente na bateria e guitarra) que executam com maestria os arranjos em geral intrincados, Djavan faz com competência o que se propõe. Se não chega a surpreender, também não decepciona. Para quem tanto já contribuiu com pérolas para o baú do cancioneiro nacional, talvez isso esteja de bom tamanho. 

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: PAULINHO DA VIOLA

CD: “ACÚSTICO MTV”

Gravadora: SONY & BMG

 

Um dos poucos compositores brasileiros que beiram a unanimidade nacional, Paulinho da Viola nasceu cercado pela música. E das boas! Filho do violonista César Faria (recentemente falecido), um dos integrantes do lendário conjunto Época de Ouro, Paulinho cresceu vendo transitar por sua casa nomes como Pixinguinha e Jacob do Bandolim.

Tido como um criador requintado e músico hábil em seus instrumentos (violão e cavaquinho), Paulinho é amante da escola de samba Portela e aportou no meio artístico em 1965 com o espetáculo “Rosa de Ouro” através das mãos competentes de Hermínio Bello de Carvalho, o mesmo que, décadas depois, tornou-se seu parceiro em “Timoneiro”, delicioso samba que abre o seu novo trabalho que integra a série Acústico MTV ao vivo. Gravado durante shows realizados em julho deste ano em estúdio de São Paulo, o projeto quebra o jejum de exatos onze anos (em 1996, Paulinho lançou o belo “Bebadachama”) e mostra que o artista se encontra em plena forma.

A voz de timbre claro, grave e delicada ao mesmo tempo, lhe é credencial mais que satisfatória para um passeio musical de extremo bom gosto pelo melhor do nosso samba, gênero – aliás – tão em voga atualmente.

O CD (que também sai concomitantemente em DVD, este com nove faixas adicionais) é composto por quinze músicas que tentam mostrar as várias fases do trabalho do artista. Bem arquitetado, traz algumas canções inéditas. Dentre as pérolas pinçadas há, entre outras, as conhecidas “Coração Leviano”, “Pecado Capital”, “Coração Imprudente” e “Nervos de Aço” (esta, uma merecida homenagem a Lupicínio Rodrigues). Dois dos melhores momentos são, no entanto, os resgates de obras-primas menos conhecidas: as belíssimas “Para um Amor no Recife” e “Tudo se Transformou”.

Paulinho (que já teve suas canções gravadas por gente do porte de Simone, Leila Pinheiro, Marina Lima, Fafá de Belém, Izabel Padovani, Teresa Cristina e vários outros) também mostra às novas gerações a sua mais famosa incursão pelos festivais de música: a teatral “Sinal Fechado” (que ganhou, nos anos setenta, registro definitivo feito por Maria Bethânia e Chico Buarque).

No que se refere às canções novas, sua característica verve criativa mostra-se presente tanto em “Vai Dizer ao Vento” quanto em “Bela Manhã”, mas a curiosidade maior repousa mesmo é sobre “Talismã”, muito pelo fato de ser a primeira parceria de Paulinho com Arnaldo Antunes e Marisa Monte (esta uma sua fã confessa).

O Príncipe do Samba continua com bala na agulha e, se o Brasil fosse um país sério, não permitiria que ele fizesse inserções fonográficas tão esporádicas. Entre um pé no passado (quando reverencia os mestres de outrora) e outro no presente (ao se permitir manter-se criando), Paulinho da Viola já garantiu, no futuro, o seu nome entre os maiores da nossa música.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               O cantor pernambucano Fênix começou recentemente, no Rio de Janeiro, a realizar uma série de shows com vistas ao lançamento oficial de seu terceiro CD que deverá se intitular “Má Profundo”. Rita Ribeiro participa do projeto que mescla sons contemporâneos com ritmos tradicionais, como o frevo e o maracatu.

 

·               Em seu último disco de estúdio, a cantora Leila Pinheiro gravou pela primeira vez uma canção de Jorge Vercilo (“Pela Ciclovia”, parceria com Marcos Valle). Foi o pontapé inicial para que os dois artistas começassem a desenvolver uma gostosa amizade, já anteriorizada por uma admiração recíproca, que terminou resultando num show em que os dois, juntos, mostram seus incontestáveis talentos e que estreou recentemente no Canecão, no Rio de Janeiro com grande sucesso. Leila e Vercilo já são também parceiros: a canção “ventos da Paz” mostra o perfeito entrosamento entre os artistas.

 

·               O grupo de samba Casuarina, projetado com o recente boom do bairro da Lapa, também no Rio de Janeiro, acaba de lançar, através da gravadora Biscoito Fino, o seu segundo CD. Intitulado “Certidão”, o novo trabalho traz essencialmente um repertório autoral, abrindo exceção somente para as faixas “Tarja Preta” (de Délcio Carvalho e Sérgio Fonseca), “Velho Bandido” (de Sérgio Sampaio), “Me Dá um Dó” (de Sidney Miller) e “Teima Quem Quer” (de Paulo Vanzolini).

 

·               Gravado ao vivo durante show realizado, em agosto do ano passado, no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), deverá chegar às lojas, através da gravadora EMI, no comecinho de novembro o CD (e DVD) em que Beth Carvalho canta o samba da Bahia. A sambista desfia belas canções ao lado de artistas mais que consagrados, como Maria Bethânia, Caetano Veloso e Daniela Mercury.

 

·               Um dos melhores artistas da nova geração, o compositor Edu Krieger lançou, no ano passado, de maneira totalmente independente, o seu primeiro e ótimo disco. A aceitação de suas composições, com gravações recentes de Maria Rita (“Maria do Socorro”) e Roberta Sá (“Novo Amor”) em seus novos álbuns, fez com que a gravadora Biscoito Fino se interessasse em relançar o aludido disco que conta com quatorze temas autorais, a maioria deles de incontestável qualidade. Vale a pena conhecer o trabalho desse jovem e talentoso rapaz!

 

·               No início de 2008, o irrequieto Ney Matogrosso estará lançando mais um CD ao vivo, o qual será o registro integral do show que o artista estreou recentemente em São Paulo. Intitulado “Inclassificáveis” (nome de uma canção assinada por Arnaldo Antunes), Ney mergulha de cabeça em um repertório pop que reúne muitas releituras e algumas poucas canções inéditas. Dentre estas, merecem registro “Leve” (de Iara Rennó e Alice Ruiz), “Fraterno” (de Pedro Luís), “Lema” (de Carlos Rennó e Lokua Kanza) e “Um Pouco de Calor” (de Dan Nakagawa). Ney resgata canções atemporais, como “Terra” (de Caetano Veloso) e “Divino Maravilhoso” (de Caetano e Gilberto Gil), multiplica Cazuza (“O Tempo Não Pára”, “Por Que a Gente É Assim?”, “Seda” e “Pro Dia Nascer Feliz”), pinça faixas obscuras de discos anteriores (“Mal Necessário”, de Mauro Kwitko, “Novamente”, de Fred Martins e Alexandre Lemos, e “Mente”, de Robinson Borba), aterrisa em compositores da safra atual (“Simples Desejo”, de Jair Oliveira e Daniel Carlomagno, e “Veja Bem, Meu Bem”, de Marcelo Camelo), ratifica sua admiração por Itamar Assumpção (“Ouça-me” e “Coisas da Vida”) e não se esquece dos eternos ídolos (“Ode aos Ratos”, de Chico Buarque e Edu Lobo).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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