MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: ARLINDO CRUZ

CD: “SAMBISTA PERFEITO”

Gravadora: DECKDISC

 

Artista já bastante conhecido no mundo do samba, tendo músicas gravadas pelos mais famosos nomes do gênero, Arlindo Cruz teve o seu passaporte carimbado para o primeiro time de compositores nacionais este ano quando Maria Rita, ao lançar o seu terceiro disco, gravou seis canções de sua autoria.

Avalizado por ela, Arlindo conseguiu ser contratado pela gravadora Deckdisc que apostou no seu reconhecido talento e acaba de pôr no mercado o CD “Sambista Perfeito”, o primeiro dele sozinho (antes, ele já havia lançado alguns discos ao lado de Sombrinha) e no qual Arlindo mostra que realmente entende do riscado.

Produzido pelo mesmo Leandro Sapucahy que assinou a produção do já citado disco de Maria Rita, Arlindo apresenta quinze canções, sendo doze delas de sua autoria com parceiros vários, em um trabalho memorável que desde já passa a fazer parte da relação dos grandes discos de samba lançados nos últimos anos.

Arlindo passeia com desenvoltura pelas mais diversas variações do samba e se sai bem em todas elas. A influência do mestre Jorge Aragão se mostra inquestionável em faixas como “Amor Com Certeza” e “Nos Braços da Batucada”, por exemplo, mas isso não quer dizer que Arlindo não possua a sua grife própria, caracterizada através de tiradas memoráveis sejam em termos melódicos, sejam nos temas abordados nas letras das canções.

O amor ao bairro de Madureira aparece explícito na faixa de abertura do CD, a auto-biográfica “Meu Lugar”, e os refrões contagiantes surgem por toda parte, como em “Pára de Paradinha”, em “Sujeito Enjoado” e na bela faixa- título, transformando-se em uma característica de seu trabalho.

Ao contrário do que a figura do negro forte e bonachão poderia prenunciar, a voz de Arlindo é doce e chega a emocionar. Muito bem colocada, é um charme à parte em um álbum que ainda conta com interessantes participações especiais. Se Zeca Pagodinho se mostra em plena forma na fina ironia de “Se Eu Encontrar Com Ela” (faixa que conta também com as afetivas participações das Velhas Guardas da Portela e do Império Serrano), Maria Rita revela-se bem à vontade ao dividir os vocais da deliciosa “O Que É o Amor”. Sereno (do grupo Fundo de Quintal) e Xande dos Pilares (do grupo Revelação) são outros amigos presentes. Até Marcelo D2 une sua experiência no terreno do rap à cadência de “O Brasil é Isso Aí”, ode à miscigenação nacional, denotando ser tênue a linha que separa os ritmos musicais.

Não por acaso as únicas três canções não assinadas por Arlindo são as mais fracas do disco. Isso deixa claro a força desse compositor de quem certamente, a partir de agora, o Brasil vai ouvir falar com muito mais freqüência. 

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: CLARA SANDRONI

CD: “CASSIOPÉIA”

Gravadora: INDEPENDENETE

 

Clara Sandroni é cantora que grava muito esporadicamente. Efetivamente lançada para o grande público por Milton Nascimento no disco “Encontros e Despedidas” (de 1985) como convidada especial da faixa “A Primeira Estrela”, a artista chega ao seu quarto álbum solo com o ótimo CD “Cassiopéia”, um trabalho que supre uma lacuna fonográfica de dezoito anos, apenas quebrada por discos divididos com Marcos Sacramento e Paulo Baiano.

Clara é dona de uma voz especial. Possui um timbre único que permite se adaptar com destreza a cada uma das treze faixas do novo CD. Com uma emissão segura, certamente fruto de uma carreira paralela de estudos ligados ao aperfeiçoamento da técnica vocal e ao conhecimento científico da voz humana, escolheu o repertório procurando mostrar-se eclética sem, contudo, perder o fio condutor de sua carreira: a qualidade.

O CD “Cassiopéia” começou a ser gravado em 2001, quando da vinda de Claudio Wilner, o baterista da banda “Impávido Colosso”, ao Brasil. Daí em diante as gravações prosseguiram em ritmo próprio e o desejo de revisitar algumas canções de grandes medalhões da MPB (como Chico Buarque com a pouco conhecida “Uma Palavra” e Milton Nascimento, em rara parceria com Caetano Veloso, na obra-prima “Paula e Bebeto”) foi se juntando à vontade de mostrar criações de gente muito boa, mas que ainda não caiu nas graças da mídia.

Assim, Clara pinçou músicas de companheiros de longa data (o já citado Marcos Sacramento e Carlos Fuchs na melancólica “Brinde à Solidão”, este último o produtor do CD) e do irmão Carlos Sandroni (autor da inventiva “Desanimado”). Já os criativos Luis Capucho e Mathilda Kovak contribuem, respectivamente, com dois dos melhores momentos do disco (a ousada “Amor É Sacanagem” e a deliciosa “Eu Quero Um Homem Pra Mim”). A delicada faixa-título é de autoria do cubano Silvio Rodrigues e Clara também se permitiu adentrar no universo francês com “Parlez Moi d’Amour” (de Jean Lenoir).

Outros destaques são a meso-sertaneja “Quase” (de Luiz Tatit) e o samba “Sempre Te Amei” (de Paulo Malaguti) que comprovam a característica de Clara em saber escolher boas canções pelas vias alternativas da música brasileira.

Ressaltando diversas formas de amar, o novo CD de Clara Sandroni merece ser conhecido por todos os que primam pelo bom gosto musical.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Não esqueçam! Quarta-feira no Teatro Tobias Barreto, Joésia Ramos lançará oficialmente seu novo e belo CD. Imperdível!

 

·               Na quinta, também no TTB, será a gravação do DVD do cantor Biafra com participações de Pepeu Gomes e Dalto. Nos backing vocais estarão as talentosíssimas sergipanas Adriana e Nurimar.

 

·               E no sábado, Paulo Lobo lança seu segundo CD “Loboratório”, às 17 horas, na Livraria Escariz do Shopping Jardins. Tô lá!

 

·               Chegou, enfim, às lojas o aguardado CD de Pedro Lima (cantor projetado no grupo vocal Garganta Profunda) que reúne onze músicas que têm como tema o esporte preferido dos brasileiros. “Futebol Musical Brasileiro Social Clube” traz canções de autoria de Chico Buarque, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, Gonzaguinha e Moraes Moreira. Dentre as convidadas especiais estão Carol Saboya, Nilze Carvalho e Zezé Motta.

 

·               A baiana Margareth Menezes acaba de assinar contrato com a gravadora MZA, dirigida por Marco Mazzola, e já escolhe repertório para o disco que lançará em 2008.

 

·               Fã assumido da obra de Sérgio Sampaio, o maranhense Zeca Baleiro vai reeditar dentro em breve, através do seu selo Saravá Discos, o disco “Sinceramente”, o último que o artista capixaba gravou. Baleiro vai pôr nas lojas também o álbum “Balançou no Congá”, tributo ao falecido compositor conterrâneo Lopes Bogéa, o qual contará com as participações de Alcione, Beth Carvalho, Genival Lacerda e Rita Ribeiro, entre outros.

 

·               Uma bela voz e um músico extraordinário. Foi desse feliz encontro que resultou o CD “O Amor De Uns Tempos Pra Cá” que a cantora Andréa Dutra e o violonista Marcus Nabuco acabam de lançar através do selo Sala de Som. Muito bem produzido por André Agra, o álbum reúne onze faixas que falam basicamente de amor e suas variações mais próximas como a paixão, o ciúme e a solidão. Andréa canta belissimamente bem com uma voz sensualmente rouca e de grande extensão. Marcus alterna-se com maestria entre violão, guitarra, viola e ebow. Os arranjos são simples mas de uma beleza surpreendente. Há as participações especiais do violinista Nicolas Krassik na faixa “Nascente” (de Flávio Venturini e Murilo Antunes) e do percussionista Marcelo Costa em “Leão Ferido” (de Biafra e Dalto) e “Não Deveria Se Chamar Amor” (de Moska). Entre canções mais batidas (“Paixão”, de Kledir Ramil, e “Um Dia, Um Adeus”, de Guilherme Arantes), a dupla pinça pérolas do cancioneiro mais recente, a exemplo das belas “Raro e Comum” (de Fred Martins e Marcelo Diniz), “A Medida da Paixão” (de Lenine e Dudu Falcão) e “Esperando Aviões” (de Vander Lee). Muito legal!

 

·               Um dos principais nomes do samba paulistano, o septuagenário Germano Mathias revê sua trajetória artística no DVD “Ginga no Asfalto”, o qual acabou de chegar às lojas através da gravadora Lua Music. Acompanhado pelo Quinteto em Branco e Preto e por músicos como Raul de Souza, Bocato, Guilherme Vergueiro e Alex Buck, o experiente Germano desfia grandes canções como “Doutor no Samba”, “Zé da Pinga”, “A Palhaçada”, “Nega Dina” e “Guarde a Sandália Dela”.

 

·               E como garantia de boas vendas, o grupo Roupa Nova põe nas lojas, através da gravadora Universal, o CD “Natal Todo Dia” com repertório totalmente voltado para os festejos de Noel.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais