MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: BETH CARVALHO

CD: “BETH CARVALHO CANTA O SAMBA DA BAHIA – Ao Vivo”

Gravadora: EMI

 

Beth Carvalho é carioca da gema. Já gravou quase todos os bons compositores de samba do Rio de Janeiro, celeiro histórico do mais genuíno dos nossos ritmos. Mas, durante sua vitoriosa carreira, a artista também já mergulhou no samba de São Paulo, desconstruindo a máxima de Vinicius de Moraes que assegurou ser a terra da garoa o túmulo do samba. Agora, sob o pretexto de homenagear Dorival Caymmi, um dos pilares da nossa MPB, a cantora está lançando, através da gravadora EMI e nos formatos CD e DVD, o projeto “Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia”, uma empreitada grandiosa cujo registro ao vivo originou-se de shows realizados, em agosto do ano passado, no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA).

Beth, sem sombra de dúvida, tem credencial para tanto. Durante os anos setenta, ao lado de Alcione e Clara Nunes, fez parte do chamado “ABC do Samba” e se, nas duas décadas seguintes, viu decrescer o seu prestígio (o que se deu mais pela freqüência com que gêneros oportunistas aportavam nas paradas de sucesso do que pelos problemas enfrentados nas cordas vocais), a partir da virada do século voltou a ocupar o posto de primeira sambista que lhe é devido.

O álbum que ora chega às lojas apresenta um vasto painel que abarca obras criadas por compositores baianos de várias épocas. O repertório compila canções já bastante executadas (“Marinheiro Só”, “Maracangalha”, “Chiclete com Banana”, “Brasil Pandeiro” e “Verdade”, por exemplo) e outras pérolas pouco conhecidas (caso de “Raiz”, “Hora da Razão”, “O Ouro e a Madeira”, “De Manhã” e “Samba Pras Moças”).

Beth conseguiu reunir uma plêiade de convidados digna dos mais rasgados elogios. Estão lá: Maria Bethânia (elegante como sempre), Caetano Veloso, Gilberto Gil (em ótimo medley de sambas-de-roda), Ivete Sangalo, Daniela Mercury (magistral em “Chiclete com Banana”), Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Danilo Caymmi, Riachão, Roberto Mendes, Mariene de Castro, Nelson Rufino e Armandinho.

São tantos os momentos legais do disco que se torna bem complexo explicitar destaques, mas é fato que as faixas em que Beth se faz acompanhar pelo grupo Olodum terminam mostrando um molho especial por trazê-la, de fato, à moderna atmosfera baiana. Bacana!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: ANA CAÑAS

CD: “AMOR E CAOS”

Gravadora: SONY & BMG

 

De tempos em tempos, surge alguma cantora (dentre as tantas que aparecem cotidianamente) que merece da mídia um tratamento diferenciado. Às vezes, é só fogo de palha, mas outras vezes se trata do prenúncio de uma agradável surpresa.

Ainda sem dar motivo para a formação de um juízo definitivo, a paulistana Ana Cañas acaba de lançar, através da multinacional Sony & BMG, o seu primeiro CD intitulado “Amor e Caos”.

A artista cantou por muito tempo na noite, destacando-se especialmente nas temporadas que fez no bar Barretto do Hotel Fasano, onde trazia a lume sua capacidade inata para os improvisos do jazz. No recém-lançado álbum, tal aptidão ficou restrita a poucos momentos, mas pode ser constatada na abertura e na finalização da faixa “Devolve, Moço”, uma das melhores do trabalho que, no geral, pode ser considerado pop, embora de digestão mais difícil que a média.

São dez canções que receberam tratamento delicado e ao mesmo tempo moderno do produtor Alexandre Fontanetti, também co-autor de duas canções (as boas “Mandinga Não” e “A Ana”) ao lado da própria Ana que assina, com alguns parceiros como Fabá Jimenez e Flávio Rossi, a maioria do repertório.

Com uma voz suavemente rouca, que em alguns momentos lembra bastante o timbre e a empostação de Marina Lima, Ana mostra-se apta para vôos mais altos.

Ainda que esse disco de estréia não apresente, de fato, grandes possibilidades radiofônicas, a menos que a gravadora invista pesadamente em marketing, dá para notar que a cantora possui incontestável talento.

A canção “Para Todas as Coisas”, carro-chefe do CD, é calcada em “Diariamente” (de Nando Reis), sucesso do álbum “Mais” de Marisa Monte e, logicamente, à mesma dedicada. A única participação especial fica por conta do percussionista Naná Vasconcelos que, como sempre, mostra competência ímpar na faixa “Super Mulher”, de autoria de Jorge Mautner, outro bom momento. Há, ainda, as regravações de conhecidas canções de autoria de Bob Dylan (“Rainy Day Women”) e de Caetano Veloso (“Coração Vagabundo”, em versão bem cool), denotando que, se resolver explorar mais o seu lado de intérprete, Ana poderá ir longe.

Mesmo não tendo sido um começo fonográfico avassalador, dá para esperar muita coisa boa dessa garota. Anotem o nome dela aí: Ana Cañas.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Compositor baiano já gravado pela ótima cantora Jussara Silveira, Quito Ribeiro está lançando, de maneira independente, o seu primeiro CD intitulado “Uma Coisa Só”, produzido por Chico Neves e Pedro Sá. São quatorze faixas de sua própria autoria revestidas com arranjos moderninhos. Algumas não dizem a que vieram, mas há méritos em faixas como “Nêga”, “Santinha”, “Braço de Mar”, “Bembé” e “Prato do Mundo”. Moreno Veloso é o convidado especial na canção “Morro da Viúva”.

 

·               Carmen Manfredini é irmã de Renato Russo, líder da banda Legião Urbana. Também cantora, ela promete para o começo do próximo ano o lançamento de seu primeiro CD que deverá contar com algumas releituras de autoria do mano famoso.

 

·               A banda Cidade Negra tenta resgatar fatia considerável no espaço pop nacional, depois de alguns lançamentos de pouco impacto, com o CD sugestivamente intitulado “Diversão”, o qual acaba de chegar às lojas através da gravadora EMI. Produzido por Nilo Romero, o álbum resultou de registro ao vivo de show realizado no Teatro Popular de Niterói (RJ) em agosto deste ano e traz, no repertório, quinze canções (que já foram bastante executadas em suas gravações originais por outros intérpretes) trazidas para o universo do reggae, com sopros e efeitos de dub. Embora algumas soem como forçação de barra (como é o caso de “Minha História”, hit do repertório de Chico Buarque, e “Clube da Esquina nº 2”, sucesso na voz de Milton Nascimento), o resultado geral é satisfatório. A banda mostra-se afiada e o vocalista Toni Garrido está cantando cada vez melhor, além de se mostrar perfeitamente à vontade nas divisões características do ritmo jamaicano. Dentre os melhores momentos estão: “Muito Romântico” (de Caetano Veloso), “Meu Coração” (de Pepeu Gomes e Gilberto Gil) e “Errare Humanun Est” (de Jorge Ben Jor).

 

·               O baiano Roberto Mendes assinou contrato com a gravadora Biscoito Fino para lançar o seu próximo CD que, ainda sem título definido, já tem como certa a participação do pernambucano Lenine na faixa “Tire Essa Mulher da Roda”.

 

·               O álbum “Erasmo Carlos Convida – Volume II”, o qual foi efetivamente lançado no começo deste ano, ganha reedição que acaba de chegar às lojas. Desta feita, o CD chega acompanhado de um DVD que agrega o making of das gravações de estúdio. Há as presenças de Chico Buarque, Simone, Zeca Pagodinho e Lulu Santos, entre outros.

 

·               Em seu novo CD intitulado “Reserva de Alegria” (que acaba de chegar às lojas através da Tratore), o cantor e compositor Edvaldo Santana mostra, através de doze músicas (apenas uma não é por ele assinada: a boa faixa “Luana de Maio”, de Arthur Shake), que a pluralidade pode ser revertida a favor de um trabalho que, a princípio, não reserva nenhuma grande surpresa, mas que apresenta alguns momentos agradáveis, como, por exemplo, a nordestina “Na Trilha do Tesouro”, a suave “Abelha e Pardal” e o samba-enredo “Jorge Amado no Reino de Oxalá”. A pegada brega se explicita em “Quem É Que Não Quer Ser Feliz?”, “Indulgência” e especialmente na faixa-título. Há as participações especiais de Chico César, Thaíde e Rappin’ Hood e ainda as belas vozes de Cris Aflalo e Ana Amélia nos vocais de algumas faixas. A produção é dividida entre o próprio artista e o competente Luiz Waak.

 

·               “Simulacro” é o título do novo CD de China que, tentando amarrar diversos elementos musicais, conta com a participação de músicos do grupo Mombojó. Pupilo assina a produção do álbum que tem, entre seus destaques, as faixas “Canção Que Não Morre no Ar”, “Colocando Sal nas Feridas” e “Sem Paz”.

 

·                A gravação ao vivo do show dos Paralamas do Sucesso na 1ª edição do festival “Rock in Rio”, em 16 de janeiro de 1985, está sendo lançada nos formatos CD e DVD através da gravadora EMI. No repertório, além dos maiores sucessos do grupo, há a inclusão de “Inútil”, hit do grupo Ultraje a Rigor.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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