M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 CD: “DOLORES – A MÚSICA DE DOLORES DURAN” Gravadora: LUA MUSIC O produtor Thiago Marques Luiz vem contribuindo, e muito, para o resgate da boa música popular brasileira. Responsável pelo belo tributo feito em CD para a cantora Maysa e pelo ótimo último disco da cantora Célia, um dos melhores do ano passado, ele agora lança, através da gravadora Lua Music, o álbum “Dolores”, uma oportuna homenagem a Dolores Duran, uma das melhores compositoras já nascidas neste nosso país. Dolores nos abandonou cedo: aos vinte e nove anos partiu para o andar de cima, mas, a seu modo, sempre viveu à frente de seu tempo. Andava, em plenos anos cinqüenta, ladeada por boêmios cariocas, compunha canções cujos temas, à época, só eram permitidos aos homens e, embora ressaltasse as dores de amores, nunca resvalou para o sentimentalismo barato outrora dominante, sempre sabendo usar da sutileza como poucos e caracterizando-se por construir uma obra dotada de refinada beleza poética e melódica. Dedicado merecidamente à cantora Marisa Gata Mansa (falecida em 2003), a maior intérprete das músicas de Dolores, o recém-lançado CD leva a assinatura do competente Ronaldo Rayol na direção musical. É ele o responsável também pela maioria dos arranjos, os quais primam por beleza e elegância ímpares. E ao tempo em que remetem os diversos artistas escalados (frise-se: de vertentes várias) ao universo de Dolores, respeita a individualidade e a essência de cada um deles. São vinte e uma faixas (a única constante do repertório que não é de autoria de Dolores é “Canção da Volta”, de Antônio Maria e Ismael Neto, justificadamente incluída por ter sido lançada por ela, tendo sido também o seu primeiro sucesso como intérprete) que abarcam desde canções que marcaram sobremaneira a obra da artista até algumas bem pouco conhecidas. Grande parte das canções é assinada somente por Dolores, mas há algumas ao lado de parceiros famosos como Tom Jobim, J. Ribamar, Carlos Lyra e Edson Borges. Leila Pinheiro (emocionante) abre o disco com “A Noite do Meu Bem”, acompanhada pelo piano magistral de João Carlos Assis Brasil. Seguem-lhe, dentre outros, nomes como Fágner (no único arranjo descaracterizado) em “Castigo”, Fafá de Belém (linda e surpreendentemente cool) em “Por Causa de Você”, Zezé Motta (um pouco empostada) em “O Que É Que Eu Faço”, Moska (acompanhando-se bem ao violão) dando ares de tango a “Solidão”, Leny Andrade (corretíssima em “Se É Por Falta de Adeus”) e até Toni Platão (reverente em “Se Eu Tiver”). Há, ainda, a participação afetuosa de Denise Duran, irmã mais nova de Dolores, na ruralista “Minha Toada”. Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta de Tetê Espíndola (com suingante interpretação) em “Estrada do Sol”, Carlos Navas (mostrando estar no auge de sua forma vocal) em “Idéias Erradas”, Wanderléa (inspirada e sutil) em “Fim de Caso” e Vânia Bastos (afinadíssima e angelical) em “Noite de Paz”. Um álbum que não pode faltar em qualquer cedeteca que se preze! R E S E N H A 2 CD / DVD: “MEXE COM O CORPO / VANJA VAI, VANJA VEM” Gravadora: INDEPENDENTE Infelizmente, a cantora e atriz Vanja Orico é, hoje, pouco conhecida junto às gerações atuais. No entanto, sua importância no cenário cultural brasileiro faz-se incontestável. Como atriz, destacou-se no filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, que se tornou mundialmente conhecido por ganhar o Prêmio de Melhor Filme de Aventura no Festival de Cinema de Cannes em 1953. Nele, Vanja interpretava o tema “Mulher Rendeira” (de Zé do Norte) que a catapultou imediatamente ao sucesso. Trabalhou ainda em diversos filmes nacionais e estrangeiros e com cineastas como Federico Fellini e Alberto Lattuada. Como cantora, era dona de poderosa voz, aguda e afinada, que chegou a merecer elogios de Heitor Villa-Lobos e Antônio Houaiss. Gravou alguns poucos discos durante sua carreira, nos quais chegou a registrar canções de autoria de Dorival Caymmi, Zé Kéti, Jorge Ben Jor, Marcos e Paulo Sérgio Valle. É essa figura que também enfrentou de peito aberto a ditadura (é dela a célebre frase: “Não atirem! Somos todos brasileiros!”) que, após vários anos de injustificável lacuna, acaba de lançar, de maneira independente, CD e DVD que são vendidos juntos em um mesmo estojo. O DVD (dirigido por Luís Carlos Prestes Filho) apresenta vários depoimentos sobre a artista e conta com uma bela entrevista com a mesma. O CD (que leva assinatura de Lucina na produção musical) reúne quinze faixas através das quais se pode constatar que, embora turvada pelo passar dos anos e bem mais grave que outrora, sua voz continua possante e com um timbre bem bonito. O repertório passeia por canções que marcaram época (tais como “Forró do Chico Moço”, de Luís Vieira, “Lamento de um Homem Só”, de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes e “Meu Limão, Meu Limoeiro”, de Carlos Imperial), mostra momentos bastante alegres (“O Samba Nasceu no Morro”, de Xangô da Mangueira, “Repete Esse Coco”, de Mário Paris e “Mexe com o Corpo”, de Osvaldo Orico) e apresenta duas boas inéditas (“Mandou Maravilha” e “Maria Pode Crer”, ambas da já citada Lucina, a primeira parceria com Sonya Prazeres e a segunda com Alzira Espíndola). Um projeto muito bem-vindo que merece ser conhecido por todos! N O V I D A D E S · Já está disponível o CD “Opus Samba” do Fabio Fonseca Trio. Formado pelo próprio Fabio ao piano e programações e mais Pedro Leão no baixo e Mac William na bateria, trata-se de um belo trabalho instrumental. Feito, a princípio, para o mercado externo, tem obtido grande receptividade em terras nacionais. Lançado pelo selo JSR e tendo como produtor o experiente Arnaldo DeSouteiro, o álbum é composto por treze faixas (entre elas, a inspirada releitura de “Too High”, de Stevie Wonder) e traz como ponto alto a participação mais que especial da cantora Ithamara Koorax, perfeita (como sempre!) na ótima canção “A Mulher de 15 Metros”, parceria de Fabio com a criativa Mathilda Kóvak. Imperdível! · Chegará às lojas dentro em breve o CD “Música Popular Brasileira a Capella Volume 2” do excelente grupo vocal BR6. No repertório estarão canções de Jorge Ben Jor (“Mas Que Nada”), Tom Jobim (“Surfboard”) e Djavan (“Tanta Saudade”, parceria com Chico Buarque). · A cantora Sandy Müller está lançando, através do selo Zambo Discos, o seu primeiro CD intitulado “Linha”. Nele, ela faz o elo entre o Brasil e a Itália, já que algumas das treze faixas foram compostas e são cantadas em italiano. Quase todo o repertório é assinado pela artista em parceria com o músico Cláudio Pezzota (a exceção fica por conta de “A Novidade”, de Gilberto Gil e Herbert Vianna). Músicos de peso tocam no disco, a exemplo de Jorge Helder (baixo), Luís Brasil (violão), Mauro Diniz (cavaquinho), João Carlos Coutinho (piano) e Marcelo Costa (bateria), este também responsável pela produção. Sandy canta muito bem, mas a composição não é o seu forte. As faixas mais bem resolvidas são “Samba Lento”, “Já Vi” e “Tais e Quais”. · Matheus Von Krüger lança, de maneira independente, o seu primeiro CD intitulado “Outros Tempos”. Oriundo de família mineira, ele nasceu na Bahia, mas já morou no Pará e no Maranhão. Isso naturalmente se reflete na mistura de influências que resulta na sua música, quase sempre balançada. As quatorze faixas que compõem o álbum, produzido por Muri Costa, revelam um artista ainda em busca de uma identidade, porém com um talento que já se mostra incontestável. A melhor das canções apresentadas é “Frases ao Luar”, mas o disco apresenta alguns outros bons momentos, como: “Olho de Mar”, “Sonho Só”, “Véu” e “Beijo Negado”. · Lançado inicialmente de maneira independente, o CD “Quem Vai Comprar Nosso Barulho?” que marcou a estréia fonográfica do grupo feminino Chicas (formado por Amora Pêra, Fernanda Gonzaga, Isadora Medella e Paula Leal) acaba de ser relançado, em grande estilo, pela gravadora Som Livre. A iniciativa deu-se muito por conta da boa aceitação da faixa “Geraldinos e Arquibaldos” (samba de autoria de Gonzaguinha, pai de Amora e Fernanda) que integra a trilha sonora da telenovela global “Duas Caras”. · Autor do hit “Esquece e Vem”, além dos sucessos “Perigo” e “Noite” (gravadas por Zizi Possi), Nico Rezende dominou as paradas de sucesso no final dos anos oitenta. Tentando ressurgir após anos de ostracismo, o artista acaba de lançar o CD “Paraíso Invisível” (título da razoável canção que assina ao lado de Jorge Vercillo). No repertório canções inéditas como “Rio da Negra”, “Maliciosa Inocência” e “Ilusão da Ilusão” (estas duas em parceria com Paulinho Lima). RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Cantores: VÁRIOS
Cantora: VANJA ORICO
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