MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: ADRIANA CALCANHOTTO

CD: “MARÉ”

Gravadora: SONY & BMG

 

Após mergulhar em 2005 (com grande sucesso) no universo infantil, adotando o heterônimo Adriana Partimpim, a gaúcha Adriana Calcanhotto volta ao mundo adulto através do lançamento do novo CD que chega às lojas através da gravadora Sony & BMG. Intitulado “Maré”, é apresentado pela artista como o segundo trabalho de uma trilogia iniciada com “Maritmo”, de 1998 (muito embora entre eles tenha havido o ao vivo “Público”, de 2000, e “Cantada”, de 2002) e é afetivamente dedicado ao saudoso Wally Salomão.

Adriana é artista que conduz sua carreira com pulso firme. A impressão doce e suave que traduz à primeira vista fica só na aparência, pois na verdade se trata de uma pessoa decidida que sabe muito bem o que quer. Por isso não se rende às fórmulas fáceis do mercado, por isso não anda lançando discos um após o outro, por isso calcula exatamente o passo que vai dar. Característica dos grandes, isso pode até resultar, algumas vezes, em algumas derrapadas, mas quando são acertos resultam em momentos de gênio.

Muito embora o recém-lançado álbum não possa ser considerado fora do comum, fica claro que é inquestionavelmente superior ao seu último disco de estúdio, no qual ela, enquanto compositora, parecia começar a dar os primeiros sinais de cansaço. Consciente ou não disso, o fato é que, neste novo CD, Adriana assina somente quatro das onze faixas, assim mesmo todas elas em parceria. Ela, que já criou grandes canções e que forneceu algumas outras bem inspiradas para que colegas seus as gravassem, agora deu maior vazão ao seu lado intérprete, o qual – diga-se de passagem – também é muito bom. Dona de voz não muito extensa, mas de espetacular limpidez e lindo timbre, ela confere visão própria a toda canção que se propõe a gravar. Isso se torna incontestável quando são ouvidas, por exemplo, as releituras de “Mulher Sem Razão” (de Dé Palmeira, Bebel Gilberto e Cazuza, que o exagerado lançou originalmente em 1989, no seu disco duplo “Burguesia”) e de “Sargaço Mar” (de Dorival Caymmi, com Gilberto Gil ao violão). A produção de Arto Lindsay sabe do que Adriana gosta e a deixa livre e solta para mostrar sua arte. Ao longo do disco, poucas surpresas surgem, como é o caso da ruralista “Um Dia Desses” (melodia de Kassin sobre versos de Torquato Neto) e do pseudo-calipso “Porto Alegre” (de Péricles Cavalcante), que conta com desnecessária intervenção vocal de Marisa Monte, irreconhecível para os menos avisados. Se algumas canções resultam frouxas (a faixa-título, parceria de Adriana com Moreno Veloso, e a regravação melosa de “Onde Andarás”, de Caetano Veloso e Ferreira Gullar), há excelentes momentos. Os melhores são “Teu Nome Mais Secreto” (um dos últimos escritos de Wally que Adriana musicou com maestria) e “Para Lá” (de Adriana e Arnaldo Antunes). Completam o repertório a melancólica “Sem Saída” (de Cid e Augusto de Campos), a razoável “Seu Pensamento” (de Adriana e Dé Palmeira) e uma ótima versão para “Três” (inspirada canção da safra mais recente de Marina Lima e Antônio Cícero).

No geral, trata-se de um CD bem legal, mas Adriana Calcanhotto pode mais, especialmente quando se abrir a uma ousadia que ela mantém intacta, mas que certamente possui.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: ROGÉRIA HOLTZ

CD: “NO PAÍS DE ALICE”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

O público sergipano já teve oportunidade de conhecer a cantora paranaense Rogéria Holtz. Foi quando da passagem por aqui da penúltima caravana do Projeto Pixinguinha, quando a mesma dividiu o palco do Teatro Tobias Barreto com os já famosos Celso Fonseca e Mart’nália. Aquela morena esguia e bonita, até então desconhecida, poderia passar despercebida em meio a duas feras de reconhecido talento, mas terminou por se transformar na mais grata revelação da noite.

Rogéria, à época, estava divulgando seu primeiro CD, o ótimo “Acorda”, através do qual já dava pistas do que viria a seguir. Com um repertório eclético que reunia canções de, entre outros, Rita Lee, Beto Guedes e Carlos Careqa, a artista mostrou-se pronta para vôos mais altos.

O prenúncio resulta agora em realidade com o lançamento de seu segundo álbum, o excelente “No País de Alice”, um trabalho independente que vem ratificar que a boa música feita atualmente no Brasil surge mesmo longe das grandes gravadoras e de maneira alternativa.

Rogéria possui uma voz de timbre belíssimo, aveludado e grave, e sabe revestir as canções escolhidas com a grandeza dos talentos verdadeiros. Produzido pelo já citado Celso Fonseca que construiu arranjos muito legais, trata-se de um álbum indispensável em toda e qualquer cedeteca que se preze. O repertório composto por treze faixas apóia-se, desta vez, somente em letras escritas pela poetisa Alice Ruiz (daí o sugestivo título do disco). Ela, que foi casada com o saudoso e não menos inspirado Paulo Leminski, vem consolidando o seu nome também como letrista de canções. Seus parceiros são gente de primeira linha, tais como Arnaldo Antunes, Zeca Baleiro, Paulo Tatit, Zé Miguel Wisnik, Iara Rennó, Waltel Branco, Alzira Espíndola e (é claro!) Itamar Assumpção, seu incentivador das horas primeiras.

Algumas poucas faixas são conhecidas do grande público, como “Socorro” (que já ganhou, anteriormente, versões de Cássia Eller e Gal Costa), “Milágrimas” (gravada por Zélia Duncan) e “Quase Nada” (registrada originalmente por Zeca Baleiro). Ressalte-se aqui que as releituras de Rogéria para todas elas são de uma felicidade incomum. Falando em Zeca, ele é um dos convidados especiais: está presente nos vocais de “Se Tudo Pode Acontecer”, um dos melhores momentos deste superbem-vindo trabalho. A outra participação especial é de Alzira Espíndola na bacana “Mergulho”. Dentre as outras faixas, fica até difícil explicitar destaques, mas de fato não dá para deixar passar em branco a pungência da abolerada “Virtual”, a delicadeza implícita de “Festa das Estrelas” e a beleza incontestável de “Sei dos Caminhos”.

Sem dúvida, o recém-lançado CD de Rogéria Holtz é um passo adiante na carreira dessa grande intérprete e já pode ser considerado um dos grandes lançamentos deste ano.  

 

 

N O V I D A D E S

 

·               E Salvador mostra que não sabe fazer somente Carnaval. É de lá que chega o grupo vocal “Banda de Boca”, composto por cinco integrantes (quatro homens e uma mulher) que lança, através da gravadora Atração, um excelente CD composto por quatorze faixas, cujo repertório condensa canções inéditas e regravações de pérolas de autoria de Tom Jobim (“Chovendo na Roseira”), Gilberto Gil (“Domingo no Parque”) e Chico Buarque (“Construção”). A maior bossa do disco, no entanto, reside no fato de que todos os sons produzidos foram feitos pelas próprias vozes dos seus componentes. É isso mesmo: sons de cuíca, sax, baixo e efeitos percussivos, por exemplo, saíram puramente das gargantas dos cantores. Um efeito surpreendente e muito legal!

 

·               Comemorando quatro décadas de carreira, a cantora e compositora Joyce acaba de gravar um DVD no teatro FECAP, em São Paulo, com direção de Roberto de Oliveira. O trabalho, que será lançado até o final do ano também em formato CD, contou com as participações especiais de Leila Pinheiro, Zé Renato, Zélia Duncan, Dori Caymmi e de suas filhas Clara Moreno e Ana Martins.

 

·               Já se encontra em fase de prensagem o quarto CD do grupo Pedro Luís e a Parede que estará chegando às lojas provavelmente ainda neste primeiro semestre. Produzido por Lenine, o disco conta com a participação especial do próprio na faixa “Quatro Horizontes”. Dentre as outras inéditas, há parcerias de Pedro Luís com Zé Renato (“Luz da Nobreza”), Rodrigo Maranhão (“Rosa que me Encanta”) e Roque Ferreira (“Mandinga”).

 

·               Depois de mais de três décadas sem lançar música inédita, o grupo Os Mutantes (em sua nova formação, após a saída de Zélia Duncan) acaba de disponibilizar para download, em seu site oficial, a canção “Mutantes Depois”.  Gravada com a participação do cantor americano Devendra Banhart, a faixa se inicia com uma levada folk, exibindo vocais que remetem à fase inicial da banda, mas à medida que a música avança, o arranjo envereda por trilhas psicodélicas de influência tropicalista. Os fãs irão adorar!

 

·               Zé Rodrix, autor de hits como “Casa no Campo”, volta ao mercado fonográfico após um hiato de vários anos, através de CD e DVD gravados ao vivo em show realizado recentemente no Sesc Santos, em São Paulo (SP). O roteiro incluiu alguns dos maiores sucessos de sua carreira, entre eles, “Quando Será” e “Soy Latino Americano”.

 

·               O excelente Chico César resolveu cair de cabeça nos ritmos nordestinos em seu novo CD intitulado “Francisco, Forró y Frevo”. Produzido por BiD e mixado por Mário Caldato Jr, o álbum está chegando às lojas no fim deste mês e será lançado pela multinacional EMI. O trabalho conta com as participações especiais de Arnaldo Antunes, Dominguinhos e Seu Jorge.

 

·               O trio 3 na Massa, formado por Pupillo, Dengue (baterista e baixista do grupo Nação Zumbi, respectivamente) e por Rica Amabis (da banda Instituto), acaba de pôr nas lojas, através da gravadora Deckdisc, o seu primeiro CD intitulado “Na Confraria das Sedutoras”. Entre parcerias com Junio Barreto, Rodrigo Amarante e Lirinha, o trabalho conta com as participações especiais das cantoras Céu, Pitty, Thalma de Freitas e Nina Becker e das atrizes Leandra Leal, Simone Spoladore e Alice Braga.

 

·               A gravadora MZA Music, de propriedade do produtor Marco Mazzola, acaba de pôr nas lojas a série “Vip Collection” que reúne compilações de Bebeto, Belchior, Chico César, Jorge Aragão, Martinho da Vila, Renata Arruda, Rita Ribeiro e Zeca Baleiro.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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