MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: FÁBIO JÚNIOR

CD: “MINHAS CANÇÕES”

Gravadora: SONY & BMG

 

Fábio Júnior inicialmente ficou famoso por suas atuações em novelas da Rede Globo, tais como “Água Viva”, “Cabocla” e “Pedra Sobre Pedra”. Ultrapassando o preconceito existente em terras tupiniquins de que ator não pode enveredar no caminho da música, Fábio conseguiu emplacar sua carreira de cantor e durante a década de oitenta freqüentou com assiduidade as paradas de sucesso.

O artista hoje cinqüentão, não querendo ser conhecido pela galera mais jovem como o pai de Cléo Pires, resolveu lançar um novo disco, investindo em um repertório já testado, o qual recebeu o título de “Minhas Canções”. Nele, que chega ao mercado através da multinacional Sony & BMG, revisita hits do repertório de, entre outros, Titãs, Barão Vermelho, Skank, Ana Carolina e Ivete Sangalo.

Para o desespero de muitos críticos frustrados, Fábio é um bom intérprete. Tem voz límpida, sabe se utilizar com destreza dos vibratos (se, em alguns trabalhos anteriores, pecou pelo uso excessivo deles, no atual soube dosá-los na medida certa) e, como não poderia deixar de ser, sente o que está cantando. E, embora nem todas as faixas tenham obtido um resultado acima da média, o artista chega a surpreender em outras como, por exemplo, “Dois Rios” (de Nando Reis, Samuel Rosa e Lô Borges), “Sangrando” (de Gonzaguinha), “Tente Outra Vez” (de Raul Seixas e Paulo Coelho) e “Não Vou Ficar” (de Tim Maia). Até a enjoativa “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” ficou bem legal na versão que recebeu delicado arranjo de Lincoln Olivetti (somente com piano e cordas). Porém, a mais agradável surpresa é mesmo a inclusão de uma canção muito bonita de autoria do irreverente Juca Chaves (“A Cúmplice”).

Sendo decentemente trabalhado pela gravadora e se conseguir emplacar alguma das faixas em uma das próximas produções globais, é incontestável que o novo disco tem todos os ingredientes para trazer de volta Fábio Júnior à lista dos mais vendidos e executados. 

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: ÂNGELA RO RO

CD: “COMPASSO”

Gravadora: INDIE RECORDS

 

Desde 2000 sem lançar disco, a cantora e compositora Ângela Ro Ro retorna este ano com força total ao mercado fonográfico. Semana passada realizou um show gravado ao vivo que se transformará em CD e DVD disponíveis até dezembro. Nele, interpretou os seus maiores sucessos e contou com as participações de Alcione, Frejat e Luiz Melodia. Em outro front, acaba de chegar às lojas, através da gravadora Indie Records, o CD intitulado “Compasso” composto por treze canções inéditas de sua autoria.

Ro Ro, que sempre assumiu suas preferências sexuais, é autora de belíssimas músicas a exemplo de “Fogueira”, “Só nos Resta Viver”, “Amor, Meu Grande Amor”, “Gota de Sangue” “A Vida é Mesmo Assim”, e teve sua obra registrada por vários intérpretes do primeiro time da nossa MPB. No entanto, depois do estouro inicial, envolveu-se com a bebida e com alguns escândalos pessoais e teve sua carreira abalada. O Brasil, assim, foi privado de conviver, durante alguns anos, com uma de suas artistas mais completas.

O álbum recém-lançado vem suprir essa lacuna e o que é melhor: mostra uma Ro Ro em perfeita forma e rejuvenescida. Dona de um timbre personalíssimo (grave e bonito), a cantora ainda se mostra vigorosa e passeia pelo repertório como se fosse uma garota deslumbrada com o retorno ao parque de diversões. Já o lado compositora também está em dia e Ro Ro viaja inusitadamente por ritmos até então pouco freqüentes em seu repertório: há o samba gostoso “Menti Pra Você”, o reggae contagiante “Dá Pé!”, o rock incrementado “Contagem Regressiva” e o forró asertanejado “Não Adianta”.

O seu lado intimista faz-se presente na singela “Dorme, Sonha…”, assim como o seu característico humor crítico que surge na pop “Bater Não Dói”.

Sete das nove parcerias (as outras quatro canções Ro Ro assina sozinha) resultaram do encontro da artista com o seu tecladista Ricardo Mac Cord, responsável pelos arranjos. Mas há parcerias também com Ana Terra e Antônio Adolfo nas faixas “Paixão” e “Chance de Amor”, respectivamente, dois dos melhores momentos do disco. O maior destaque, contudo, fica por conta da bela e confessional faixa-título, uma pancada nos que não acreditavam em sua volta por cima.

Um dos melhores lançamentos do ano e um CD inquestionavelmente obrigatório!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               Já está nas lojas o CD “Transfiguração”, terceiro trabalho do incensado grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado. Preocupados em ter suas canções mais executadas nas rádios (o que até então não vinha acontecendo, embora seus shows sempre se realizem com platéias lotadas), os componentes da banda resolveram chamar o experiente Carlos Eduardo Miranda para produzir o novo álbum. Ao lado de Gustavo Lenza, Miranda realizou uma tarefa complexa. Muito embora a força percussiva do Cordel continue presente, dá para constatar as mãos competentes dos produtores amenizando o canto exagerado do vocalista Lirinha e dando um toque mais redondo aos arranjos. Ainda não é o disco que vai fazer a banda chegar ao sucesso popular (se é que é isso que ela realmente quer), mas não há como negar que o salto nesse sentido foi considerável. Algumas faixas se tornaram bem assimiláveis, caso de “Preta” (a melhor de todas), “O Sinal Ficou Verde” e “Morte e Vida Stanley”.

 

·               Agora é definitivo: a exemplo do que fez Marisa Monte, a baiana Maria Bethânia lançará dois CD’s temáticos no próximo mês de novembro e não um CD duplo como foi divulgado recentemente. Um deles, voltado para as águas salgadas, intitula-se “Mar de Sophia” e teve como inspiração os versos da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen. No repertório estão, dentre outras, as canções “Grão de Mar” (de Márcio Arantes e Chico César), “Memórias do Mar” (de Vevé Calazans e Jorge Portugal) e “Lágrima” (de Roque Ferreira). O outro, voltado para as águas doces, intitula-se “Pirata” e nele Bethânia entrelaça textos de João Cabral de Mello Neto, Fernando Pessoa e Guimarães Rosa com canções várias, a exemplo de “O Tempo e o Rio” (de Edu Lobo e Capinam), “Sereia de Água Doce” (de Vanessa da Mata) e “Eu Que Não Sei Quase Nada do Mar” (de Ana Carolina e Jorge Vercilo).

 

·               O terceiro trabalho solo do cantor Zé Renato, lançado originalmente em 1991, chega ao formato CD através de um relançamento da gravadora Eldorado. Entre parcerias com Ronaldo Bastos (“Chanson d’Amour”), Fausto Nilo (“A Janela”), Fausto Fawcett (“Corpo Capturado”) e Abel Silva (“Madrugada Estrangeira”), destacam-se as canções compostas com o teatrólogo Hamilton Vaz Pereira, em particular a belíssima “Benefício”.

 

·               Até o final deste mês estará nas lojas o novo CD de Tom Zé. Intitulado “Danç-Êh-Sá”, o trabalho trará diversas parcerias dele com Paulinho Lepetit e será distribuído pela Tratore.

 

·               A cantora Fernanda Cunha já se encontra em estúdio registrando as músicas que comporão o seu terceiro CD. O novo trabalho (que se intitulará “Zíngaro”) reunirá onze parcerias de Tom Jobim com Chico Buarque. A artista é sobrinha da compositora Sueli Costa e filha da cantora já falecida Telma Costa, a mesma que dividiu, nos anos oitenta, os vocais da gravação original da canção “Eu te Amo” com o próprio Chico Buarque.

 

·               O compositor Mongol é irmão de criação de Oswaldo Montenegro. Pouca gente sabe que a canção “Agonia”, vencedora do festival MPB-80 da Rede Globo e que até hoje toca bastante nas rádios, é de autoria de Mongol e não de Oswaldo que a defendeu belissimamente. Como também poucos sabem que algumas das músicas mais conhecidas gravadas por Oswaldo pertencem, na verdade, à verve criativa de Mongol como, por exemplo, “Aquela Coisa Toda”, “Estrela de Neon”, “Olhar de Tela” e “Sempre Não É Todo Dia” (estas duas em parceria com o próprio Oswaldo).  Pois é esse Mongol, também autor de duas pérolas do cancioneiro nacional que infelizmente nunca chegaram às paradas de sucesso (“Atalho” e “Meus Bons Amigos”), que acaba de lançar, de maneira independente, o CD intitulado “Histórias São Canções”. Além das músicas citadas acima, fazem parte do repertório do disco outras belas canções, a exemplo de “A Barra do Dia”, “Festim” e “Aonde Foi o Sol”, esta com forte sotaque pop. O trabalho vem revestido com arranjos totalmente acústicos e o gaitista Milton Guedes participa de várias faixas.

 

·               O novo CD de Jarbas Mariz já está nas lojas. Trata-se de um lançamento da gravadora Atração e se intitula “Do Cariri pro Japão”. Dentre as faixas, parcerias do artista com Lula Côrtes (“No Mundo dos Peixes”), Fúba (“Escancarei Você”) e Chico César (“Falutiado”).

 

·               Daniela Mercury acabou de registrar ao vivo o seu show “Balé Mulato” que se transformará em DVD e CD ao vivo, os quais deverão chegar ao mercado até o final deste ano. A surpresa fica por conta da música “Dia Branco”, de Geraldo Azevedo, que a baiana resolveu, de última hora, incluir no repertório.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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