M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 Quando surgiu em 2005, no cenário fonográfico nacional, com o disco “Aos Vivos”, o paraibano Chico César despertou, de norte a sul do país, a curiosidade entre os aficcionados pela MPB inteligente. Nesse primeiro trabalho, o artista conseguiu reunir várias canções memoráveis como “Béradêro”, “Mama África”, “Templo”, “A Prosa Impúrpura do Caicó” e “À Primeira Vista”. Viu, de imediato, suas canções serem disputadas pelas maiores intérpretes do nosso cancioneiro, a exemplo de Zizi Possi, Elba Ramalho, Daniela Mercury e Maria Bethânia e assinou, logo em seguida, contrato com a MZA, gravadora pertencente ao experiente produtor Marco Mazzola. Depois de lançar por ela alguns bons discos plurais, em 2005 Chico arriscou-se, através da gravadora Biscoito Fino, num álbum introspectivo em que, acompanhado pelo Quinteto da Paraíba, mergulhou de cabeça no universo erudito (“De Uns Tempos pra Cá”). Sucesso incontestável, nos últimos anos, em diversos países europeus e com vontade de voltar a ver seu nome merecidamente comentado em sua terra natal, Chico acaba de lançar, desta vez pela multinacional EMI, outro CD temático, o excelente “Francisco Forró Y Frevo”, desde já seguramente um dos melhores lançamentos deste ano. Produzido em parceria com BiD e com toda a liberdade artística possível, Chico apresenta quatorze faixas inéditas, o que, por si só, já justificaria a curiosidade em torno do novo trabalho. Mas o melhor de tudo é constatar que a safra atual do artista é de uma inspiração incomum. Mostrando agora o seu lado festivo, Chico ratifica ser um compositor bastante antenado com os acontecimentos atuais, misturando temas diversos em suas letras sempre muito criativas (há desde um bem-humorado protesto contra a carestia dos abadás que garantem o acesso às folias carnavalescas – em “Pelado” -, até uma abordagem matafórica aos crimes praticados contra homossexuais na Lagoa do Abaeté, ponto de encontros gays em Salvador – em “Abaeté, Abaiacu e Namorado”). Tanto os xotes e xaxados (agrupados sob o rótulo de forró) quanto os frevos (que tentam realçar influências pernambucanas e baianas) são muito bons (embora estes, no geral, resultem em um patamar um pouco inferior àqueles) e se apresentam revestidos por arranjos característicos que surgem bem dosados com recursos eletrônicos, os quais, neste caso, só vêm dar um brilho especial ao trabalho como um todo. Chico tem voz que se adapta perfeitamente nesse contexto, mas conta ainda com intervenções especiais de Seu Jorge e Dominguinhos (em “Dentro” e “Deus me Proteja”, respectivamente, dois dos melhores momentos do disco), além do cantor veterano de frevos Claudionor Germano (em “Marcha da Cueca”, unida em medley com “Marcha da Calcinha”). No repertório, há ainda duas homenagens explícitas: uma através da faixa “Armando” que ressalta a versatilidade do mestre da guitarra baiana Armandinho e outra através de “Zabé”, inspirada criação que, com imagens cordelísticas, enaltece o talento de Zabé da Loca, tocadora de pífano de 83 anos que durante 25 deles viveu numa caverna do sertão nordestino. Justos destaques também têm que ser dados às canções “Solto na Buraqueira”, “Comer na Mão” e “Ociosa” (estas duas últimas são xotes que flertam com o reggae). Palmas para Chico César que, com competência, construiu um CD acima da média e que deve fazer parte de toda cedeteca que se preze! R E S E N H A 2 Quem assistiu às apresentações de Mônica Salmaso, há cerca de um mês, no Teatro Atheneu, quando aqui esteve apresentando-se, ao lado dos poderosos músicos que constituem o grupo Pau Brasil, no show em homenagem a Chico Buarque, derivado de seu ótimo CD “Noites de Gala, Samba na Rua”, se deparou com uma cantora afinadíssima, de tímida porém cativante presença de palco, mas (acima de tudo) de uma extraordinária técnica vocal. A artista – é fato – vem construindo uma carreira sólida, à margem da grande mídia, e amparada por um repertório basicamente pinçado entre a nata de compositores da MPB. E se este pode lhe vir a ser um entrave a médio prazo (até para se reciclar, começa a se fazer o momento de Mônica dar vez a voz a canções inéditas), não se pode negar que até agora essa opção vem servindo para sedimentar o seu nome dentre os formadores de opinião. Paulista, ela gravou o seu primeiro trabalho solo, o CD “Afro-Sambas”, ao lado do violonista Paulo Bellinati em 1995, lançando em seguida ótimos discos (“Trampolim”, “Voadeira” e “Iaiá”) e alcançando o primeiro lugar no Prêmio Visa de MPB – Edição Vocal, realizado em 1999. Através da gravadora Biscoito Fino, acaba de chegar às lojas o álbum “Nem 1 Ai”, originalmente gravado pela cantora em 2000, mas que nunca antes havia chegado no mercado. Acompanhada por músicos de primeira linha (Tutty Moreno, André Mehmari, Nailor Proveta, Toninho Ferragutti e Rodolfo Stroeter, este último o responsável pela produção), Mônica só faz confirmar o refinamento de sua arte. O disco, que nasceu de um convite de Toy Lima visando a que a artista montasse uma apresentação inédita para o Heineken Concerts (que aconteceu em São Paulo na virada do milênio), mostra que a voz de Mônica é um instrumento a mais junto aos outros instrumentos. Estes não somente a acompanham, mas dialogam com ela em todas as faixas. Esperta, no repertório do disco ora resenhado, registrado em apenas duas sessões de estúdio, Mônica sabe fazer conviver compositores de diferentes épocas, estilos e regiões, como Gilberto Gil (na afro “Kaô”), Villa-Lobos (na clássica “Cair da Tarde”) e Milton Nascimento (na épica “Saudades dos Aviões da Panair”). Dentre os melhores momentos está mais uma visita de Mônica à obra inatacável de Chico Buarque (“Joana Francesa”), além de apropriadas releituras para canções já antológicas como “Lenda do Abaeté” (de Dorival Caymmi), “Minha Palhoça” (de J. Cascata) e “Mora na Filosofia” (de Monsueto e Arnaldo Passos). Ótima pedida! N O V I D A D E S · Aos diversos leitores que encaminharam e-mail perguntando onde podem adquirir o novo CD de Eleonora Falcone, citado por esta Coluna em sua edição da semana passada, aí vai a dica: acessem o site da cantora (www.eleonorafalcone.com.br) e façam já o pedido. Vale super a pena! · O segundo álbum da cantora paulista Vanessa Bumagny será lançado ainda este ano e dará continuidade ao seu excelente disco de estréia, o “De Papel”. Produzido por Zeca Baleiro, o novo trabalho trará no repertório, além de parceria inédita entre os dois artistas (“Português e Inglês”), um poema de Sidônio Muralha musicado pela própria Vanessa (“Roteiro”) e uma versão para “So Far So Pleased”, do repertório de Prince. · Gilberto Gil é o convidado especial da faixa “Mulher de Coronel”, presente no repertório do novo CD que a baiana Margareth Menezes está terminando de gravar em estúdio carioca. O lançamento será no próximo mês de agosto. · Encontra-se nas melhores lojas o CD duplo “Chill: Brazil 5”. Editado pela gravadora Warner, trata-se de uma excelente compilação feita pelo titã Charles Gavin que reúne trinta e dois fonogramas de ótimas cantoras da recentíssima safra nacional. Embora voltado basicamente para o mercado externo, deve ser conhecido para que se possa ter uma boa dimensão das novas vozes femininas que povoam atualmente o nosso mercado. Há desde nomes mais conhecidos como Roberta Sá, Paula Lima, Mart’nália, Teresa Cristina e Fernanda Porto até outros que merecem toda a nossa atenção porque se antevêem como grandes talentos. É o caso de, entre outras, Mariana Baltar, Andréia Dias, Ana Costa, Déa Trancoso e Nina Becker. · Será lançado em setembro o sexto CD do Jota Quest. A produção está sendo feita a quatro mãos pelos antenados Mario Caldato Jr. e Kassin, o que faz entender que poderá acontecer uma virada na forma como os rapazes mineiros vêm conduzindo a carreira (leia-se: repertório) da banda. · Ainda em setembro chegará ao mercado mais um produto da série “MTV ao Vivo”. Trata-se de CD que o agora cultuado sambista Arlindo Cruz registrou em recente apresentação feita em São Paulo. Sairá também em DVD. RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Cantor: CHICO CÉSAR CD: “FRANCISCO FORRÓ Y FREVO”
Gravadora: EMI
Cantora: MÔNICA SALMASO CD: “NEM 1 AI”
Gravadora: BISCOITO FINO
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