MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: ZÉ RAMALHO

CD: “ZÉ RAMALHO DA PARAÍBA”

Gravadora/Selo: INDEPENDENTE/DISCOBERTAS

 

No finalzinho dos anos setenta, em plena época da ditadura militar, eram poucas as pessoas que não tinham ainda ouvido falar de um artista cabeludo, vindo da Paraíba, que começava a engatar um sucesso atrás do outro, fosse na voz de sua então esposa Amelinha (“Frevo Mulher”), na de sua prima Elba Ramalho (“Ave de Prata”) ou na sua própria, de timbre grave e rascante (“Avôhai”, “Vila do Sossego”, “Chão de Giz”). Tratava-se de Zé Ramalho, parceiro de Geraldo Azevedo e Alceu Valença, nomes que também começavam a se destacar no mercado nacional.

Zé mostrou-se um compositor único. Voltando, em grande parte, sua obra para temas psicodélicos que iam de seres alienígenas a deuses do Olimpo, conseguiu sedimentar-se como compositor inspirado, embora os primeiros anos de música, iniciados em sua terra natal, não tenham sido nada fáceis.

É esse período que se faz presente no álbum duplo “Zé Ramalho da Paraíba” que acaba de chegar às lojas através de uma iniciativa inédita de Marcelo Fróes. Pesquisador musical, ele abriu o selo Discobertas pelo qual tenciona trazer a lume registros ao vivo de vários artistas quando em início de carreira (os próximos, depois de Zé, deverão ser Jackson do Pandeiro e Renato Russo). A iniciativa é excelente, principalmente para os aficcionados na boa música popular brasileira pois, além de mostrar diversas canções praticamente em seu estado nascedouro, ainda permite situar o ouvinte em ambientes pretéritos, importantes também para a história do nosso país.

É lógico que a qualidade sonora, enquanto produto fonográfico, não é das melhores. Mesmo tendo sido utilizada toda a tecnologia disponível atual, há que se levar em conta que os registros foram colhidos diretamente das mesas de sons e que permaneceram, durante anos, em fitas cassete tradicionais que passaram por gavetas das várias residências em que Zé ocupou de lá para cá.

No bojo, os CD’s contemplam, em seu repertório, canções que foram apresentadas em quatro shows realizados em João Pessoa (PB) entre 1973 e 1976. No disco 1, além de canções pouco conhecidas de sua autoria (“Jacarepaguá Blues”, “Brejo do Cruz”, “Luciela”, “Paraíba Hospitaleira” e “Terremotos”), constata-se que o artista gostava também (e muito) de cantar obras de outros compositores. Estão ali, entre outras, “Puxa-Puxa” (de Cleodato Porto e Carlos Aranha), “Falido Transatlântico” (de Marcus Vinicius) e “O Astronauta” (de Helena dos Santos). No disco 2, entre convincente declamação de poema de Carlos Drummond de Andrade (o premonitório “O Sobrevivente”), os melhores momentos ficam por conta dos discursos de um irreverente Zé Ramalho, inconformado com a receptividade de sua música junto à sociedade local e mais especificamente com um pseudo-crítico que teimava em desancar o seu trabalho. Mais de trinta anos depois, é lamentável contatar que essa mesma atmosfera ainda ronda alguns cenários musicais como, por exemplo, o sergipano. O tal crítico de lá ninguém sabe hoje por onde anda. Já Zé Ramalho… Bem, este continua aí na ativa e compondo muito, sempre com o talento que lhe é característico.

É, vale mesmo a pena viver! E fazer arte muito mais: esta a lição maior que a presente redescoberta nos mostra. Muito massa!   

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: ALEXIA BOMTEMPO

CD: “ASTROLÁBIO”

Gravadora: EMI

 

Não dá para deixar de ressaltar: quando se começa a ouvir os primeiros versos cantados de “Pra Dormir Até Mais Tarde”, faixa de abertura do CD “Astrolábio” que acaba de ser lançado pela gravadora EMI, a impressão que se tem é que se trata de alguma nova gravação de Paula Toller. Mas não é. A cantora de voz suave, bonita e afinada se chama Alexia Bomtempo.

Nascida nos Estados Unidos, filha da também cantora e compositora norte-americana Monica Nagle, Alexia morou lá até a adolescência, mas, como se pode depreender de seu trabalho inaugural, assimilou muito bem as influências musicais brasileiras, não obstante a presença, no repertório de treze faixas, de três canções em língua inglesa (“Roxanne”, de Sting, “My Cherie Amour”, de Stevie Wonder, e a autoral “Friday Song”).

O disco, cuja produção é assinada por Dadi (ex-integrante do grupo A Cor do Som e que atualmente faz parte da banda que acompanha Marisa Monte), segue a cartilha da moda: tem leve pegada pop e programações conferindo-lhe um clima cool pipocam aqui e ali.

Alexia se mostra uma intérprete segura e, se ainda não consegue mostrar uma identidade própria, certamente poderá vir a sedimentar seu estilo em trabalhos próximos, posto que, desde já, denota possuir incontestável talento. O seu lado compositora assina, em parceria com o próprio Dadi e Pierre Aderne, quatro boas canções (a melhor delas é a deliciosa “Cromologia”).

Caetano Veloso se faz presente através das regravações de “Farol da Barra” (parceria com Galvão), gravada originalmente pelos Novos Baianos, e do hit “O Leãozinho”, que, aliás, foi composta pelo famoso baiano em homenagem a Dadi, mas é este quem, de fato, se destaca no repertório do álbum, seja com a bonita “Mais” (parceria com Rodrigo Maranhão), seja com a tribalista “2 Perdidos” (parceria com Arnaldo Antunes) ou com a bossa-nova “Alvo Certo” (parceria com André Carvalho). Dentre os bons momentos, há que se destacar ainda, além da faixa-título, a inspirada “Nuvem d’Água”.

Alexia Bomtempo: uma bem-vinda estréia que vale a pena conhecer!

 

 

N O V I D A D E S

 

·               O sexto CD de Jair Oliveira já começa a ser formatado e deverá ser lançado ainda este ano. Tendo como mote a filha Isabella (que, em breve, completará um aninho de vida), Jair planeja um trabalho que trará, como convidados especiais, além da irmã Luciana Mello, os artistas (também papais recentes) Rogério Flausino (vocalista da banda Jota Quest), Seu Jorge, Max de Castro e Wilson Simoninha.

 

·               Devidamente confirmada a saída de Toni Garrido da banda Cidade Negra, após uma série de desentendimentos com os outros integrantes, já se sabe o nome de seu substituto como vocalista: será Alexandre Massau e este já começa a participar de shows anteriormente agendados. E enquanto a banda começa a escolher repertório para o seu próximo disco de reggae, Toni planeja iniciar sua carreira solo com um trabalho voltado para a MPB.

 

·               Em dezembro do ano passado, realizou-se uma apresentação na Casa Viva Rio (RJ), em homenagem ao grande compositor Noel Rosa. Intitulado “Acervo Noel Rosa”, o show foi devidamente registrado e será lançado em CD e DVD que chegarão às lojas no próximo mês de agosto através do selo MP,B. Dentre os artistas presentes, todos acompanhados pelo grupo de samba Anjos da Lua, estão Roberta Sá, Ney Matogrosso, João Bosco, Zé Renato, Moska e Rodrigo Maranhão.

 

·               Chegará em breve às lojas o sexto CD da excelente cantora paraibana Renata Arruda. Desta vez todas as canções apresentadas serão de autoria da própria artista ao lado de diversos parceiros, tais como: Chico César, Antônio Villeroy, Ana Terra, Zélia Duncan, Nando Cordel e Bebeto Alves, entre outros. Intitulado “Deixa”, o novo álbum tem a produção assinada por Robertinho de Recife e inaugura o selo Canela, aberto pela atriz Lúcia Veríssimo.

 

·               Depois de alguns anos sem lançar um CD de inéditas, o cantor Hyldon (autor de sucessos como “Na Rua, na Chuva, na Fazenda” e “As Dores do Mundo”) lançará, no comecinho do segundo semestre, “Soul Brasileiro”. O repertório traz doze faixas novinhas em folha, além de duas que ficaram guardadas no baú do artista. Há time estelar de convidados, só que alguns ficam restritos à parte da execução musical: Chico Buarque toca kalimba em “Medo da Solidão”, Zeca Baleiro toca violão em “A Moça e o Vagabundo” e Carlinhos Brown toca percussão e baixo em “Bahia do Agá”. Mas há também participações vocais, como Karla Sabah em “O Último Latino-Americano” e Carlos Dafé, Dalto, Jorge Vercillo, Tunai e Carlinhos Vergueiro (todos juntos) em “O Vento que Vem do Mar”.

 

·               Aproveitando as apresentações que realizou recentemente no Auditório Ibirapuera (SP), a cantora Fabiana Cozza fez registros que resultarão no seu primeiro DVD. A surpresa ficou por conta da participação mais-que-especial de Maria Rita que acompanhou Fabiana nos temas “Malandro Sou Eu” e “Trajetória”. O resultado estará disponível até o final de 2008.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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