MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: LUIZINHO LOPES

CD: “NOITECEU”

Gravadora: INDEPENDENTE

 

Luizinho Lopes é inspirado compositor mineiro que vem se destacando pela capacidade de criar letras com ótimos achados, emolduradas por melodias que se fixam facilmente no inconsciente dos ouvintes. E essa tarefa não é das mais fáceis: são poucos os que sabem e podem fazer isso a que (de modo bastante apropriado) se chama de dom.

À primeira vista, alguns poderiam catalogá-lo com um cantador regional. Outros, por sua vez, como um contador de “causos”. Uma terceira corrente, mais pluralista, caracterizá-lo-ia como um criador eclético. É claro que qualquer um desses invólucros, por si só, já lhe seria alvissareiro, mas a verdade é que Luizinho é muito maior que qualquer desses departamentos estanques, posto que do conjunto de um emaranhado de vivências, temas e estilos é que ele tece o seu trabalho, vigoroso como o seu Estado natal.

É esse artista que acaba de ser lançar, de maneira independente o seu terceiro trabalho, o CD intitulado “Noiteceu”. Produzido por ele próprio, ao lado de Roberto Lazzarini e Kain, o disco é composto por quinze faixas através das quais são ressaltadas versatilidade e sensibilidade à flor da pele.

De suave tessitura musical, a maioria dos arranjos privilegia belos violão e piano, sempre sustentados por delicada e eficiente camada percussiva. As letras, pontuadas por influências diversas que vão do conterrâneo Guimarães Rosa ao cineasta Federico Fellini, passando por Saramago e Jorge Luís Borges, ressaltam desde aspectos do sertão (“Anoiteceu”) a celeumas amorosas (“Expiação” e “Não se Deve Duvidar de uma Ilusão”), chegando a inquietudes inerentes ao ser humano (“A Sós” e “Em Mim”), como, em um exemplo mais direto, a danada da solidão (“Areia”).

Todas as canções são de autoria do próprio Luizinho, algumas ao lado de parceiros como Luhli, Zé Edu Camargo, Luiz Ruffato e Jacyr Anderson Freitas. Dono de voz com belo timbre grave, ele sabe exteriorizar as emoções que cada faixa exige sem exagerar nas tintas empregadas. Para rechear o trabalho, há várias e bem-vindas participações: o sempre correto Renato Braz dá o ar da graça em “Lume” e a excelente Tânia Bicalho ressalta a beleza de “Queda m’Água”. Há, ainda, a docilidade de Júlia Borges em “Dinastia dos Escombros” e a presença do Coral da UFJF, sob a regência de André Pires, na insólita “No Retrato”.

Não dá para deixar de conhecer! Luizinho Lopes é um artista pronto e cujo trabalho dá gosto de ouvir!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: BEATRIZ AZEVEDO

CD: “ALEGRIA”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Beatriz Azevedo é poetisa, cantora e compositora, e chegou a estudar por anos em Nova York e na Espanha. Em 1998, lançou-se no mercado fonográfico com o CD “Bumbum do Poeta”, produzido por Cid Campos, à época um trabalho muito bem recebido pela crítica e do qual constava a participação especial de Adriana Calcanhotto na faixa “Cena”. O segundo disco recebeu a assinatura de Alê Siqueira na produção e se intitulou “Mapa-Mundi (Samba and Poetry)” e já dava pistas do viés antropofágico que Beatriz queria dar a sua obra.

Antropofágico talvez seja o adjetivo que a artista encontrou para substituir o termo plural, posto que, deslocado do tempo, aquele movimento arrebatador hoje soa apenas como um quadro esmaecido nas paredes do passado. Mas Beatriz segue o caminho que acha interessante e acaba de lançar, através da gravadora Biscoito Fino, um novo CD. Intitulado “Alegria”, o disco conta, em seu repertório, com doze canções devidamente arregimentadas por Cristóvão Bastos, também o produtor musical do trabalho.

Como cantora, Beatriz mostra-se correta. Não possui uma voz avassaladora nem um timbre que a faça se destacar no universo feminino de intérpretes nacionais, mas não faz feio. Como compositora, apresenta momentos inspirados em meio a outros menores. Suas letras são, via de regra, bem costuradas. As melodias é que poderiam, de fato, ser melhor resolvidas. Há esboços bem interessantes, mas que, no final, infelizmente terminam não resultando tão redondas assim.

O projeto gráfico do disco – muito legal – já dá a idéia da diversificação a que o trabalho se propõe. As cores sobressaem e o próprio título remete a um dos ícones de outro movimento, agora o Tropicalista, no caso a canção “Alegria, Alegria” (de Caetano Veloso).

É nesse universo eclético que o ouvinte encontra maxixe, coco, samba, polca, frevo, gafieira e várias outras referências, explicitadas como “devorações” nos textos que Beatriz faz acompanhar faixa a faixa. E se há acertos incontestáveis como “Sem Fronteiras” e “Relicário” (um poema de Oswald de Andrade – claro, ele tinha que está lá! – criativamente musicado por Beatriz), há alguns exageros pelo caminho, como uma introdução de berimbau com seguida base de maracatu para o clássico americano “Speak Low” (de Kurt Weill e Ogden Nash) e a tentativa nada feliz de transportar a canção “Rede” (constante do primeiro disco da cantora, ali em irretocável arranjo contendo apenas piano e baixo acústico) em um partido alto carioca. Melhor sorte tem a releitura de “Circo” que termina se tornando um dos melhores momentos do álbum ao lado da otimista “Abraçar o Sol”.

O CD conta com a participação especial de Vinicius Cantuária na razoável faixa-título, mas é de se lamentar a falta de sintonia entre os timbres dele e de Beatriz. Outro convidado é Tom Zé. Este, no entanto, obtém resultado bem mais satisfatório na dúbia canção “Pelo Buraco”. É seguir em frente, Beatriz!

 


N O V I D A D E S

 

·               O excelente primeiro CD solo de Rodrigo Maranhão, lançado no ano passado, acaba de voltar às lojas em nova edição, desta feita trazendo uma faixa bônus: trata-se de “Samba de um Minuto” que conta com a participação especial do cantor Zé Renato. A bela canção também consta do último CD de Roberta Sá, mas já havia feito parte do repertório do primeiro disco da cantora (lançado fora do circuito comercial), inicialmente com o título de “A Novidade”.

 

·               O injustamente esquecido Moraes Moreira, grande compositor de pérolas como “Bloco do Prazer”, “Pombo Correio” e “Pão e Poesia”, acabou de registrar em vídeo show recentemente realizado na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Tal vai se transformar em seu primeiro DVD, o qual estará chegando às lojas até o final deste ano. Com roteiro inspirado no livro-cordel “A História dos Novos Baianos e Outros Versos”, de sua própria autoria, o artista contou com a participação mais que especial de seu filho, o guitarrista Davi Moraes.

 

·               Outra que acabou de registrar show para, em breve, estrear em DVD é a cantora Wanderléa. Gravado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, o trabalho vai mostrar uma retrospectiva da carreira da cantora, iniciada na Jovem Guarda. A direção musical ficou a cargo de Lalo Califórnia, marido da artista, e o evento contou com Zeca Baleiro como convidado.

 

·               A voz de Marisa Monte poderá ser ouvida no filme “Era uma vez”, do cineasta Bruno Silveira, nas telas a partir de 25 de julho. A cantora gravou a canção “Cama” em trilha assinada por Berna Ceppas que trará ainda gravações inéditas feitas por Martinho da Vila e Mart’nália (na faixa “Vide Gal”, de Carlinhos Brown) e Luiz Melodia. Falando em Marisa: a estrela, atualmente grávida de seu segundo filho, finaliza a produção de um novo DVD no qual documentará a criação e a evolução de seu último show, o elogiado “Universo Particular”.

 

·               Francis Hime já contribuiu e muito com a nossa MPB através de grandes canções, algumas delas ao lado de Chico Buarque. Grande pianista, seu trabalho sempre teve um pé no erudito e isso justifica estar o artista atualmente terminando de criar, em parceira com a escritora Silvana Gontijo, a sua primeira ópera intitulada “Ópera do Futebol”. A intenção é que ela venha a ser encenada no próximo ano em comemoração às sete décadas de vida do artista.

 

·               O novo disco de Preta Gil ainda nem começou a ser formatado, mas a artista já ganhou uma canção inédita de autoria de Lulu Santos que se confessa um seu fã de carteirinha. Quem viver, ouvirá!

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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