MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Artista: FLÁVIO HENRIQUE

CD: “PÁSSARO PÊNSIL”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Delicadeza. Esta é a palavra mais adequada para definir o novo CD do mineiro Flávio Henrique que acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino.

Flávio sabe-se muito mais compositor que cantor, daí porque das quatorze faixas do ótimo “Pássaro Pênsil” (duas delas os temas instrumentais “Iluminuras” e “Juliana”), somente se permite mostrar a voz em dois momentos: na faixa-título e em “Dentro de Mim Mora um Monstro”, assim mesmo dividindo os vocais com Lô Borges e Cecília Torres, respectivamente. As demais canções que compõem o repertório contam com as vozes de um invejável time de intérpretes da nossa MPB, o que termina por conferir um brilho todo especial ao álbum.

Alguns desses nomes são bastante conhecidos pelo público em geral. É o caso, por exemplo, de Leila Pinheiro (que, com sua voz poderosa, inebria os ouvintes ao mastigar os versos de “Só o Mar”), de Zeca Baleiro (que, como sempre, mostra competência ao desfiar o “Choro do Fim do Mundo”, bela parceria entre os dois artistas, que foi originalmente lançada por Regina Spósito em seu primeiro belo CD) e de Ná Ozzetti (irrepreensível na complexa melodia de “Vi”).

Outros se mostram alvissareiros talentos, parecendo ser somente uma questão de tempo para que venham a alcançar de fato um reconhecimento maior. Fazem parte desse grupo: Simone Guimarães (em “Sangue Seco”), Kadu Vianna (em “Azul de Passagem”) e Marina Machado, cantora com quem Flávio já havia dividido um disco inteiro anteriormente (em “Amor de Céu, Amor do Mar”, uma homenagem a Elis Regina).

Mas a boa surpresa fica por conta dos novos nomes presentes, três boas promessas da ala feminina da MPB. Com uma segurança incontestável, são apresentadas as belas vozes de Mariana Nunes (em “Primeiro Sol”), Tatiana Parra (em “Mãe”) e Verônica Ferriani (em “Gato de Armazém”), estas duas últimas atualmente em fase de gravação de seus discos solos de estréia.

O CD em tela, que vem acompanhado por uma rica embalagem, leva a assinatura do próprio Flávio ao lado de Otávio Bretas na produção e apresenta parcerias do artista com Guilherme Wisnik, Luiz Tatit, Márcio Borges, Carlos Rennó, Tonico Mercador, Murilo Antunes, Celso Viáfora, Antônio Loureiro, Estrela Lemynski e Milton Nascimento.

Trata-se de um CD bem legal que – é verdade – não chega a arrebatar na primeira audição, mas que cresce com o descobrir das sutilezas contidas e que mostra por inteiro Flávio Henrique, um compositor talentoso que, decerto, ainda irá contribuir em muito para com o nosso cancioneiro.

 

 

R E S E N H A     2

 

Bandas: PARALAMAS DO SUCESSO e TITÃS

CD: “JUNTOS E AO VIVO”

Gravadora: EMI

 

Bi Ribeiro, Branco Mello, Charles Gavin, Herbert Vianna, João Barone, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto. Sim, você acabou de ler, em ordem alfabética mas misturados, os nomes dos integrantes das bandas Paralamas do Sucesso e Titãs. E não se procede a essa mistura sem motivo, tratando os oito como se integrassem um único grupo. É que as bandas, duas das que mais se destacam no cenário musical brasileiro desde que surgiram nos anos oitenta quando do boom do rock nacional, reuniram-se recentemente para realizar uma turnê com o objetivo de comemorar vinte e cinco anos de música.

Durante esse tempo de existência, ambas passaram por grandes percalços. O líder dos Paralamas, o talentoso Herbert Vianna, sofreu uma queda de ultraleve que terminou vitimando sua esposa e o deixando até hoje numa cadeira de rodas. Os Titãs, inicialmente com oito componentes, atualmente se resumem a cinco: Marcelo Fromer faleceu após um atropelamento e Arnaldo Antunes e Nando Reis, após desentendimentos internos, optaram por carreiras solo.

Mas o fato é que a vida continua e que o show não pode parar. Assim, a idéia de reuni-los terminou por resultar no CD e DVD que acabam de chegar às lojas através da gravadora EMI.

Registrado em show realizado na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, o encontro resultou num entrosamento bem bacana entre os rapazes. O público presente, composto majoritariamente por admiradores de há muito, mostrou-se bastante empolgado, acompanhando em coro a maioria das músicas de um repertório que, logicamente, reúne alguns dos grandes sucessos colecionados ao longo dos anos.

Se os Titãs começaram fazendo um som mais pesado e depois foram domando o peso, os Paralamas sempre optaram por uma diversidade maior, chegando a gravar discos temáticos e aproximando-se, vez por outra, da MPB. Para mostrar esses estilos e fases, foram escolhidas, entre outras, músicas como “Marvin”, “Cabeça Dinossauro”, “Comida” e “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana” (dos Titãs) e “O Beco”, “Uma Brasileira”, “Lourinha Bombril” e “A Novidade” (dos Paralamas).

A falta de surpresa causada pela ausência de canções inéditas termina sendo amenizada pelo fato de os oito integrantes das duas bandas se misturarem em diferentes configurações: assim “Flores” surge na interpretação de Herbert Vianna, “Meu Erro” é cantada por Branco Mello, “Óculos” recebe versão na voz de Paulo Miklos e “Trac Trac” aparece em registro feito por Sérgio Britto.

Há que se registrar as participações especiais de Andreas Kisser (guitarrista da Sepultura, banda brasileira de metal criada pelos irmãos Max e Iggor Cavalera), de Samuel Rosa (vocalista do Skank) e do já citado Arnaldo Antunes.

Um trabalho que, além de soar como prestação de contas para os diversos fãs, pode representar um encerramento de ciclo. Se assim for, vamos esperar para ver o que essas duas bandas tão interessantes irão nos mostrar doravante…

 


N O V I D A D E S

 

·               Integrantes, ao lado de Juliana Fernandes e Breno Durães, do grupo Nós4, nova sensação da cena cultural recifense que tem como especialidade animar a galera através de covers de canções nacionais e internacionais famosas, os talentosos Piero Bianchi e Ricardo Chacon acabam de lançar o primeiro CD de inéditas. Trata-se de “Terra Papagali Coffee Shop”, um trabalho independente muito bem concebido que conta com dez boas faixas e as participações especiais das cantoras Isaar, Cynthia Chacon e Camille Baroiller. Recomendado para quem tem bom gosto musical!

 

·               Chegará às lojas em meados no próximo mês, através da gravadora Warner, o novo e aguardado CD do grupo O Rappa intitulado “Sete Vezes”. A faixa escolhida para puxar o trabalho é “Monstro Invisível” e já começa a ser ouvida em algumas rádios mais antenadas.

 

·               Mais uma voz feminina surge no cenário da MPB: trata-se da cantora Lua. Luxuosamente produzido por Alê Siqueira, que costuma trabalhar com Marisa Monte, o CD de estréia da cantora no mercado fonográfico soa um pouco confuso, recheado de regravações e com uma mistura no mínimo excêntrica no repertório, o que termina fazendo com que o ouvinte não saiba ao certo o que, de fato, a artista pretende. Entre boas faixas (“Se Tudo Pode Acontecer”, de Arnaldo Antunes, “Argila”, de Carlinhos Brown, e “Tambor”, de Chico César), há tropeços (“Brilho do Sol”, de Nelson Viana, “Jogo Bom”, de Viva Varjão, e “Dias de Paz”, de Ed Motta e Ronaldo Bastos), uma vez que soam deslocadas em meio às demais. Lua tem presença exoticamente bonita, conforme se pode constatar através das fotos contidas no encarte, mas uma análise real da competência de sua voz (um tanto quanto anasalada) termina por se fazer comprometida por conta dos inúmeros e desnecessários recursos utilizados na mixagem. São tantos os efeitos e distorções presentes que terminam por arrefecer ótimas canções como, por exemplo, “Não Deveria se Chamar Amor”, de Moska. A forma como a cantora vai resolver isso em apresentações ao vivo se transforma, então, em uma grande curiosidade. Arrematado pelo supracitado produtor, Lenine faz uma participação especial na faixa “Seres Tupy”, de Pedro Luís.

 

·               A gravadora Biscoito Fino traz novamente ao catálogo, em edição devidamente remasterizada, “Pau Brasil”, bom trabalho lançado por Francis Hime no distante 1982. À época, já começavam a rarear as parcerias dele com Chico Buarque, tanto que assinada pelos dois, no repertório composto por doze faixas, surge apenas a ótima “Embarcação”, mas a verdade é que, ao lado de outros parceiros, como Geraldinho Carneiro, Cacaso, Vinicius de Moraes, Paulo César Pinheiro e a esposa Olívia Hime, o artista lançou, naquele ano, grandes canções como a faixa-título, “Rio Vermelho”, “O Tempo da Flor”, “A Grande Ausente” e “Mente”

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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