Musiqualidade, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: CELSO FONSECA

CD: “AO VIVO”

Gravadora: EMI

 

Celso Fonseca

Celso Fonseca é um carioca que começou na música tocando violão, influenciado por Baden Powell. Sua real entrada como um nome respeitável na nossa música popular, todavia, deu-se quando integrou, como guitarrista, a banda de Gilberto Gil, tendo, em seguida, tocado também com diversos outros nomes de peso como, por exemplo, Djavan, Milton Nascimento, Chico Buarque, João Bosco e Elza Soares.

 

Como produtor, já trabalhou com o próprio Gil, além de Mart’nália, Daúde, Gal Costa, Virgínia Rodrigues e outros. Em 1983, iniciou a compor ao lado de Ronaldo Bastos (até hoje o seu parceiro mais constante) e possui canções de sua autoria gravadas por gente como Ney Matogrosso, Maria Bethânia, Zizi Possi e Nana Caymmi. O primeiro disco solo foi lançado em 1986 e, de lá para cá, Celso vem investindo em seu canto cujo timbre lembra bastante o de Caetano Veloso.

 

É esse artista que acaba de fazer chegar às lojas CD e DVD gravados ao vivo durante show realizado em agosto do ano passado no Canecão (RJ). Com o repertório calcado no seu álbum anterior de estúdio (“Feriado”, de 2007), o artista aproveita para mostrar também alguns de seus maiores sucessos, tais como “Slow Motion Bossa Nova”, “Sorte” e “Polaróides”. O DVD traz quatro números a mais que os quinze que compõem o disco (“Satélite Bar”, “Viajando na Viagem”, “Você Não Entende Nada” e “Ive Brussel”), se considerarmos que a instrumental “Maria Fumaça”, mesmo não creditada, está lá para ser ouvida também após a última faixa do CD.

Acompanhado por uma banda afiada da qual se destaca o belo naipe de metais, Celso se mostra à vontade. Seu canto vem, de fato, amadurecendo ao longo dos anos e se torna lugar comum destacar o quanto ele é versátil à guitarra.

 

O projeto conta com as participações especiais de Ana Carolina, Gilberto Gil e Roberta Sá. Dos três convidados, somente Roberta canta uma canção de autoria de Celso (a delicada “A Voz do Coração”). Uma pena e algo não muito bem explicável, uma vez que ele é compositor inspirado e haveria várias peças suas que cairiam como uma luva nas vozes de Ana e de Gil. No entanto, enquanto o ex-Ministro da Cultura canta o já clássico “Palco”, incursionando ainda pelo repertório de Bob Marley em “Is This Love”, a intérprete mineira interpreta, com o seu costumeiro vozeirão, a surrada e descartável “Um Dia de Domingo”.

Alternando momentos medianos (“Nunca Pensei” e a dançante “Beleza”) com outros de beleza inquestionável (“Samba É Tudo” e “Meu Samba Torto”), Celso ainda incursiona no repertório do MC Leozinho (“Ela Só Pensa Em Beijar”) e delicia os ouvintes com a excelente “Queda”, de autoria de Luciano Salvador Bahia.

Trata-se de um razoável cartão de visitas do trabalho de Celso Fonseca, mas a gente sabe que o cara é muitíssimo melhor e pode fazer muito mais que o ora apresentado. Que venha o próximo!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: JOYCE

CD: “AO VIVO”

Gravadora: EMI

 

Joyce
Ciente da importância da sua obra para a nossa música popular, Joyce acaba de lançar, através da gravadora EMI, CD e DVD através dos quais comemora quarenta anos de carreira.

Compositora e cantora do mais alto gabarito, ela também é uma exímia musicista, vez que toca como poucos o seu inseparável violão. Do restrito grupo de mulheres que compõem acima da média (as outras são Rita Lee, Ângela Ro Ro, Marina Lima, Fátima Guedes, Dona Ivone Lara e Adriana Calcanhotto), Joyce sempre esteve à frente de seu tempo. É dela a autoria de “Me Disseram”, música que assustou a sociedade da época (final da década de sessenta) quando, ao participar de um festival de música, trazia, em seus versos iniciais, a até então impensada expressão “meu homem”.

 

Mas foi, anos depois, através de um outro festival (o MPB 80, organizado pela Rede Globo), que Joyce conseguiu o passaporte para que seu nome viesse a ser conhecido de norte a sul do Brasil. A canção era “Clareana”, singelo acalanto composto em homenagem às suas filhas mais velhas.

Estas duas canções, como não poderia deixar de ser, estão presentes no repertório do álbum recém-lançado (gravado em abril do ano passado, no Teatro Fecap de São Paulo, durante realização de emocionada apresentação), ao lado de treze outras que, em maior ou menor grau, representam a trajetória dessa grande artista. Dona de uma voz afinadíssima e com um timbre belo e característico, Joyce sabe cercar-se de músicos excepcionais. No projeto ora em tela, ela é acompanhada pelo maridão Tutty Moreno (na bateria), por Lula Galvão (no violão) e por Rodolfo Stroeter (no baixo). Conhecedores do trabalho e do gosto da cantora, esses músicos permitem que ela mergulhe fundo em suas criações, fazendo de sua voz o instrumento primeiro da entrosada banda.

 

E, embora de uns anos para cá Joyce venha sendo mais cultuada na Europa do que no Brasil, o fato é que algumas de suas músicas continuam cravadas no inconsciente nacional, muito por terem encontrado registros marcantes de intérpretes exigentes como Elis Regina (“Essa Mulher”, pérola que, no novo disco, ganha participação especial de Dori Caymmi) e Maria Bethânia (“Da Cor Brasileira”). Foi a musicalidade de Joyce que fez com que ela, nos anos noventa, estourasse na Inglaterra, desencadeando um ressurgimento da música brasileira no exterior, algo vagamente batizado de “new bossa” ou “drum’n’bossa”.

 

Além do citado Dori, outros artistas participam dessa comemoração, em participações pra lá de afetivas. Estão presentes: Leila Pinheiro (irretocável em “Revendo Amigos”), Mônica Salmaso (na esplêndida “Mistérios”) e João Donato (na mais recente “E Passa o Carrossel”).

Quanto a falar sobre a mulher, esse sempre foi um dos temas recorrentes no cancioneiro de Joyce, uma especialista no assunto. Tanto que não foi à toa que ela escolheu duas ótimas canções ligadas ao assunto para, respectivamente, abrir e fechar o álbum (“Samba de Mulher” e a famosa “Feminina”).

Enfim, um trabalho que resume de forma bem legal a trajetória de Joyce, talentosa guerreira da nossa MPB!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Neto de compositor (o também ex-produtor musical João Mello) e filho de artistas (o violonista João Alberto e a cantora Lenora Mello), o sergipano João Ventura arrisca-se em seu primeiro disco, reunindo onze canções de sua autoria, a maioria delas assinada ao lado de parceiros. “Foi Declarado Samba” é o título do trabalho que já se encontra disponível e mostra que o jovem traz a música no sangue. Dentre os destaques, além da faixa-título, estão as canções “Samba de Cacique” e “Olívia Sambou”.

 

·                     Mais um título da série “Letra e Música”, uma iniciativa do selo Discobertas, já se encontra nas lojas: trata-se do volume dedicado à obra de Paul McCartney. Dentre gravações antigas de Rita Lee (“And I Love Him”) e Cida Moreira (“She’s Leaving Home”) e faixas gravadas especialmente para o projeto (da qual se destaca “My Love”, em irretocável interpretação de Leila Pinheiro), os melhores momentos ficam por conta das versões feitas para os sucessos “The Fool In The Hill” e “Here, There and Everywhere” (que viraram “Tolo na Colina” e “Viver e Reviver”), nas vozes de Amelinha e Gal Costa.

 

·                     Gravado de forma independente e com a produção assinada pelo competente Chico Neves, acaba de ser lançado o CD de estreia do percussionista pernambucano Jam da Silva, nome que vem conquistando a curiosidade do mercado desde que teve composições suas gravadas por Roberta Sá e Elba Ramalho (“O Pedido” e “Gaiola da Saudade”, respectivamente). O álbum traz um arsenal de instrumentos percussivos urdidos com algumas programações eletrônicas. A maioria das faixas é instrumental, mas há as participações especiais de Junio Barreto e de Isaar nos vocais de duas faixas.

 

·                     A música “Surfin’ Safari” (do grupo norte-americano Beach Boys), transformada em português para “Sol, Som, Surf e Sal” e devidamente incluída na trilha sonora da insossa telenovela global “Três Irmãs” serviu de pontapé para a volta do grupo João Penca e seus Miquinhos Amestrados. No final do ano passado, foi registrado em vídeo show realizado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, o qual dará origem ao primeiro DVD dos animados rapazes. O produto sairá com as participações especiais de Léo Jaime e Eduardo Dussek.

 

·                     Sempre solícito quando se trata de participar de discos de artistas mineiros, Milton Nascimento mantém a tradição e se faz presente no CD de estréia de Heitor Branquinho, natural de Três Pontas, gravado ao vivo e que também está disponível no formato DVD. O trabalho, inteiramente autoral, conta com dezesseis canções e se intitula “Um Branquinho e um Violão”, mas, embora faça alusão, já no nome, à Bossa Nova, transita por vários ritmos como choro, samba e ijexá. Milton divide o vocal da faixa “O que Vale É o Nosso Amor” e toca sanfona de oito baixos, seu primeiro instrumento, em “Amigo”.

 

·                     E está mesmo virando moda a incursão de grandes nomes da nossa música no mercado da música infantil. Agora é a vez de Arnaldo Antunes que promete para o primeiro semestre de 2009 o lançamento do CD intitulado “Pequeno Cidadão”. Algumas cenas das gravações já estão na internet, no site oficial do artista, com trechos das músicas “Xis”, “Leitinho Bom” e “Sobe-Desce”.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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