M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 Artistas: TOQUINHO e MPB-4
CD: “40 ANOS DE MÚSICA”
Gravadora: BISCOITO FINO
Celeiro atual da nata da música popular brasileira que vem, já há algum tempo, sendo esnobada pelas gravadoras multinacionais, a Biscoito Fino vem encampando alguns projetos revisionistas de gente que, num passado não muito distante, ditava a cartilha cultural.
É nestes moldes que acaba de chegar às lojas o CD “40 Anos de Música” que, sob o pretexto de comemorar a coincidência de quatro décadas de carreira, reúne os talentos de Toquinho e do grupo vocal MPB-4, este (sem sombra de dúvida), um dos mais afinados e duradouros do nosso cancioneiro. O projeto resultou do registro de show intimista realizado, em setembro do ano passado, no Teatro FECAP, em São Paulo, o qual teve a direção assinada pelo experiente Homero Ferreira.
Como bem é ressaltado na apresentação contida no encarte do disco, tanto Toquinho quanto MPB-4 surgiram no cenário musical quando do boom dos festivais de música na década de sessenta. E enquanto Toquinho se consolidou como um exímio violonista e um melodista inspirado, criando antológicas canções ao lado de Vinicius de Moraes, Jorge Ben Jor e Mutinho, entre outros, o MPB-4 se tornou efetivamente um quarteto em 1964 quando Magro veio se juntar a Ruy, Aquiles e Miltinho. Antes de se tornarem presença constante acompanhando trabalhos de Chico Buarque (um bom exemplo disso é a apresentação da canção “Roda Viva”, no Festival da TV Record em 1967), os quatro rapazes realizaram alguns shows ao lado das quatro moças Quarteto em Cy. E, como sempre apostaram na qualidade, gravaram, ao longo dos anos, os melhores compositores da nossa MPB. Foram desentendimentos de ordem artística, contudo, que fizeram com que, há poucos anos, Ruy cedesse seu lugar a Dalmo Medeiros.
Esperar novidade tanto de Toquinho quanto do MPB-4 a essa altura do campeonato seria querer muito? Talvez não, uma vez que alguns artistas da geração deles continuam compondo e gerando trabalhos inéditos. Mas o fato é que, em um projeto de caráter revisional como o recém-lançado, talvez não coubessem mesmo maiores arroubos. Assim, seja em intervenções coletivas ou não, o que se ouvem são canções já bastante conhecidas de todos, as quais têm também o nítido objetivo de homenagear nomes como os já citados Vinicius (“Tarde em Itapoã”, “Berimbau” e “Carta ao Tom”) e Chico Buarque (“Quem Te Viu, Quem Te Vê” e “Iolanda”), além de Dorival Caymmi (no medley que reúne “Das Rosas”, “Samba da Minha Terra”, “Marina” e “Saudade da Bahia”) e Tom Jobim (“Se Todos Fossem Iguais a Você” e “Modinha”).
De uma safra mais recente há poucos representantes no repertório escolhido: Cazuza (“Faz Parte do Meu Show”), Lobão (“Me Chama”) e Herbert Vianna (“Nada Por Mim”). E ainda há espaço para compositores costumeiramente presentes na obra do MPB-4, tais como: Noel Rosa (“Gago Apaixonado”), Gonzaguinha (“O Que É, O Que É?”), Edu Lobo (“Canto Triste”) e João Bosco (“De Frente Pro Crime”, famosa parceria com Aldir Blanc). Como não poderia deixar de ser, há a presença de algumas canções infantis, posto que o MPB-4 outrora participou de vários trabalhos voltados para a garotada. É o ponto alto do trabalho quando se ouvem, aninhadas, delícias como “A Casa”, “A Bicicleta”, “O Caderno” e “O Pato” (esta contando com a especialíssima participação vocal do ‘próprio’ – simulado por Miltinho -, o qual termina arrancando risos da platéia com uma insuspeita interpretação de “Ninguém Me Ama”, sofrido ícone de fossa composto por Fernando Lobo e Antônio Maria).
Enfim, um projeto digno que, se de novidade nada traz, corrobora a real impressão de que a nossa música é realmente a melhor do mundo…
R E S E N H A 2
Cantoras: RITA RIBEIRO, TERESA CRISTINA e JUSSARA SILVEIRA
CD: “TRÊS MENINAS DO BRASIL”
Gravadora / Selo: BISCOITO FINO / QUITANDA
País musicalmente feliz é o Brasil no que tange a vozes femininas! Muito embora não sejam as mais bonitas e competentes aquelas que povoam as paradas de sucesso e são recordistas em vendagens, é bastante alvissareiro constatar a garra de algumas ao perseverar no caminho da qualidade musical.
Três dessas vozes abençoadas reuniram-se em agosto do ano passado, no Teatro Municipal de Niterói, e realizaram uma apresentação memorável que acaba de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, via selo Quitanda, nos formatos CD e DVD. Trata-se da maranhense Rita Ribeiro, da carioca Teresa Cristina e da mineira (por muitos associada à sua baianidade intrínseca) Jussara Silveira, as quais reuniram os seus talentos no show “Três Meninas do Brasil”.
O registro em áudio não consegue captar todo o antagonismo entre força e delicadeza que o vídeo proporciona. Mas, mesmo assim, fica nítido o entrosamento entre elas e o amor das mesmas ao canto simples, sem rebuscamento, porém ao mesmo tempo recheado de emotividade. Nenhuma tenta brilhar mais que as outras. Elas estão ali para brincar. Uma brincadeira séria e de muito bom gosto que teve a produção musical assinada por Jaime Alem, maestro responsável, há anos, pelos álbuns de Maria Bethânia.
Rita Ribeiro vem de um projeto muito bem aceito, “Tecnomacumba”, que lotou diversos palcos por onde passou e resultou em um CD temático bem diferente de seus registros anteriores, ótimos trabalhos que se caracterizaram por um salutar ecletismo. Dona de voz possante e com timbre limpo e característico, Rita é daquelas intérpretes que cresce substancialmente ao vivo. Teresa Cristina lançou-se no mercado fonográfico com um CD duplo dedicado ao cancioneiro de Paulinho da Viola e, depois disso, já lançou ótimos trabalhos nos quais se revelou também uma inspirada compositora. Das três, a mais técnica é Jussara Silveira, cantora que vem sedimentando sua carreira através de um repertório que pinça canções de autores não tão conhecidos. Juntas, puderam mostrar que são artistas prontas para o reconhecimento maior.
O DVD traz mais seis números que os constantes do CD. São eles: “Nu Com Minha Música” (de Caetano Veloso), “Ludo Real” (de Chico Buarque e Vinicius Cantuária), “Divino” (de Rita Ribeiro e Zeca Baleiro), “Impossível Acreditar Que Perdi Você” (de Márcio Greyck), “Lá Vem a Baiana” (de Dorival Caymmi) e “Pôxa” (de Gilson de Souza). Os números solo são poucos (Rita enriquece a contundente “Maiúsculo”, de Sérgio Sampaio, Teresa se mostra à vontade na sua “Cantar” e Jussara apropria-se com destreza de “Dama do Cassino”, de Caetano Veloso), até porque é quando interagem que as artistas mostram uma vivacidade maior, seja em dueto, seja em trio, como acontece em temas como: “Meninas do Brasil” (de Moraes Moreira e Fausto Nilo), “Menina Amanhã de Manhã” (de Tom Zé e Perna Fróes) e “Mulher Nova Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor” (de Zé Ramalho e Otacílio Batista).
Há momentos que resultam deliciosos, como o malicioso forró “Homem de Saia” (de Marcelo Reis e Enéas de Castro, colhido do repertório do Trio Nordestino), “Minha Tribo Sou Eu” (de Zeca Baleiro) e “Maria, Mariazinha” (de Aloísio Ventura), além do tributo prestado aos Tincoãs com a afro-brasileira “Deixa a Gira Girá”, tema de domínio público adaptado pelos três integrantes baianos do grupo (Mateus, Dadinho e Heraldo).
Um lançamento de fato muito legal e que merece ser conhecido por todos os ouvintes antenados!
N O V I D A D E S
· O disco que catapultou Ritchie para o topo das paradas de sucesso nos anos oitenta (“Vôo de Coração”) acaba de ser relançado, em edição comemorativa que traz quatro faixas bônus, dentre elas a canção-título em nova e bela versão que conta com o violão de Moska. Devidamente remasterizado, o álbum traz, no encarte, fotos inéditas e um texto escrito pelo letrista Bernardo Vilhena. Com esse relançamento, o artista sentiu-se impulsionado para voltar ao mercado fonográfico e o fará em dose dupla: prepara-se para lançar, em breve, o primeiro DVD de sua carreira e entrará em estúdio, no segundo semestre, para registrar várias canções inéditas, algumas compostas ao lado de Arnaldo Antunes e Fausto Nilo.
· Encontra-se em fase de prensagem o primeiro CD solo de Toni Garrido, ex-vocalista da banda Cidade Negra. O repertório, além de canções inéditas, contém algumas regravações, tais como: “Tudo que Você Podia Ser” (de Lô e Márcio Borges), “O Perfume da Nega (de Gabriel Moura) e “Me Libertei” (de Toni Tornado e Frankye).
· Já está disponível o mais novo CD do grupo instrumental Aquarela Carioca. Formado por músicos de excepcional versatilidade (Paulo Malaguti no piano, Ricardo Feijão no baixo, Paulo Muylaert na guitarra e flauta, Edu Szajnbrun na bateria e percussão e Mario Sève no sax), eles realmente cumprem o que o título do trabalho se propõe (“Volta ao Mundo”): fazer com que o ouvinte realize uma viagem musical que passa pelo Nordeste, pelo Oriente, pelos Estados Unidos, pela Europa e vários outros lugares. Dentre os destaques estão as faixas “Rua Japeri”, “Deus Xangô”, “O Cabra” e o medley que reúne “Top Ten” e “Baby”.
· Além de Ivete Sangalo e Margareth Menezes, também Carlinhos Brown lançou recentemente uma música especialmente gravada para tocar no Carnaval que bate à porta. Trata-se de “Nanã na Aldeia”, um gostoso baticum que já começa a tocar em diversas rádios.
· A cantora Alcione está em fase final de seleção de repertório para começar a gravar, pela gravadora Indie Records, o seu próximo CD. Se o cronograma inicialmente traçado for cumprido à risca, a Marrom entra em estúdio no próximo mês e o novo trabalho chegará às lojas no começo do segundo semestre.
· Além de ter sido o produtor do mais recente disco do Jota Quest, o experiente Liminha será também o responsável pelo CD de inéditas que Erasmo Carlos pretende lançar até o meio deste ano e que será totalmente dedicado ao rock, fazendo-o voltar às origens de sua carreira. Deve vir coisa boa por aí…
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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