M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 Grupo: GARGANTA PROFUNDA
CD: “QUANDO A ESQUINA BIFURCA”
Gravadora: ROB DIGITAL
O Garganta Profunda foi criado por Marcos Leite em 1985 e, àquela época, chegou a contar com vinte e três componentes cantores. O tempo foi passando, o seu fundador já não está mais entre nós, mas o grupo sobrevive, ainda que, atualmente, tenha se restringido a cinco integrantes: Kátia Lemos (mezzo-soprano), Regina Lucatto (contralto), Maurício Detoni (barítono), Marcelo Caldi (tenor) e Fabiano Salek (também tenor).
Esse agora quinteto acaba de lançar, através da Rob Digital, um novo trabalho, o CD intitulado “Quando a Esquina Bifurca”, composto por treze faixas, as quais priorizam canções inéditas, a maioria delas de compositores ainda não tão conhecidos pelo grande público. Alguns deles despontaram para o mercado nas esquinas da Lapa, boêmio bairro carioca que se tornou o celeiro moderno da renovação do samba, como é o caso, por exemplo de Nilze Carvalho (parceira de Fabiano Salek na ótima faixa “Motivo Pra Sorrir”) e Edu Kneip (presente no álbum com “O Contador de Estórias”).
Dando vozes a novas cabeças, o grupo construiu um trabalho sincero e que, se não traz nenhum arroubo de inventividade nem alguma música com ares de antológica, resulta bastante agradável. O conjunto da obra é bem harmonioso, como assim também o é o encontro de cinco vozes que tentam unir com competência o passado e o presente da nossa música popular brasileira.
O nosso cancioneiro, aliás, se ressente da falta de bons grupos vocais. Afora o MPB-4 e o Quarteto em Cy, somente o ótimo Arranco de Varsóvia merece lugar de destaque nesse panteão. Muito pouco para um país tão musical como o nosso. Assim, é bastante alvissareiro que o Garganta Profunda retorne à estrada, conduzindo as rédeas do seu destino.
Dos compositores que fazem parte do recém-lançado disco os mais presentes são Edu Krieger e Maurício Detoni, cada um comparecendo com três canções. Krieger, sempre inteligente e inspirado, transforma o animado sambaço “Bora” em um dos mais agradáveis momentos do CD, mas apresenta também a delicada “Seu Rosto” e a animada “Nem Parecia”, boa parceria com Marcelo Caldi, o qual também assina, sozinho, a nordestina “Xote”. Já Maurício é responsável por “A Hora dos Fogos” (parceria com Thiago Amud) e “Via Láctea” (ao lado de Leandro Braga), além de “Poente”, faixa a capella que encerra com chave de ouro o disco.
Outros destaques desse bem-vindo álbum são as faixas “Sonho”, de Rodrigo Maranhão, que conta em seu arranjo com flautas que evocam os pernambucanos Pífanos de Caruaru, e “Embarcação” (de Francisco Vervloet e Paloma Espíndola) com sua bela linha melódica. Completam o repertório as razoáveis “Sopro do Vento” (de Carmélia Dias e PC Castilho) e a suave faixa que dá título ao trabalho, outra de autoria de Thiago Amud.
O grupo Garganta Profunda volta à cena mostrando fôlego e com um trabalho que poderá lhe servir de passaporte para um novo e merecido reconhecimento. Vida longa à galera!
R E S E N H A 2
Cantora: REGINA SOUZA
CD: “OUTONOS”
Gravadora: INDEPENDENTE
Em 2001, a cantora Regina Spósito lançou o seu primeiro CD, um belo trabalho produzido por Flávio Henrique, o qual apresentou uma voz suave e afinada que soube impregnar os ouvintes com seu inquestionável talento. No repertório agradável preponderaram criações de seu marido, o inspirado compositor Vander Lee (tais como as ótimas “Eu Não Vejo Nada”, “Pra Ela Passar” e “Chazinho com Biscoito”), mas houve espaço também para criações de Tom Zé, Renato Motha, Zeca Baleiro, Sérgio Pererê e Affonsinho.
Oito anos se passaram até que a cantora, que agora assina Regina Souza, pudesse pôr nas lojas um novo álbum. Intitulado “Outonos”, o seu segundo trabalho solo leva a assinatura do competente Rodrigo Campello na produção e se trata de uma produção independente.
Regina é mineira de Belo Horizonte e sua vocação para as artes em geral aflorou desde cedo. Também atriz, ela é uma das fundadoras da Companhia Burlantins, que alia música a teatro de rua, tendo participado de diversos espetáculos, dentre os quais “O Homem da Gravata Florida”, a premiada opereta “O Homem que Sabia Português” e o musical infantil “A Zeropéia”.
O novo CD começou a ser maturado no final de 2005 e, se comparado ao primeiro, apresenta resultado díspar. É que se, a princípio, o álbum de estréia parece descer mais redondo, pegando de primeira, uma análise mais atenta denota para o fato de que se torna incontestável o amadurecimento artístico de Regina. No novo trabalho, ela ousa muito mais, não apenas no que tange ao repertório através do qual se lhe é aberta uma série de possibilidades, mas também porque agora ela se mostra uma ótima compositora, assinando, ao lado de parceiros, metade das doze faixas que compõem o set list.
Duas delas são regravações: “A Estrada”, hit propagado pela banda Cidade Negra que já vinha sendo testado por ela há um certo tempo em shows, e a pouco conhecida “Se Você Quiser, Mas Sem Bronquear” que traz a marca inconfundível de Jorge Ben Jor. Nessa seara, há também “Desde Que Te Perdi”, ótima versão feita por Moska para tema assinado por Kevin Johansen, um dos bons momentos do disco. Outro destaque do repertório é “Fado”, de Chico Amaral, canção emoldurada pelas brilhantes interseções de Nicolas Krassik ao violino.
Vander Lee faz uma participação especial dividindo os vocais da contagiante “Mais Samba e Menos Lágrimas” (de Sérgio Pererê) e, enquanto compositor, assina sozinho a sutil canção “Desfeito”, mas se faz presente em parceria com Regina em outros três momentos: no delicioso sambinha “O Atendente”, na criativa “Quem Sou Eu” (que conta com a participação afetiva da criança Clara, filha dos dois artistas) e na faixa-título (parceria dos dois também com Lokua Kanza, convidado especial da faixa). Completam o repertório boas composições de Regina feitas com Zeca Baleiro (a conclusiva “Afora a Flor”), Flávio Henrique (a sacudida “Eu e Você”) e Affonsinho (a monocórdia “À Toa”).
Não se pode deixar de registrar os bem elaborados arranjos, para os quais foram arregimentados músicos de ponta. Estão lá, entre outros: Jr. Tostoi (guitarras), Marcos Suzano (percussão), Marcos Nimrichter (bateria), Carlos Malta (flautas), Ricardo Fiúza (piano), Lincoln Cheib (baixo) e Lui Coimbra (cello e rabeca), o que garante, por si só, a qualidade do trabalho.
Regina Souza é intérprete de responsa e seu CD vem comprovar que realmente ela se encontra entre as melhores da nova geração. Corra e ouça!
N O V I D A D E S
· Através da gravadora Atração, a cantora portuguesa Eugénia Melo e Castro põe nas lojas o CD “Duetos X 16”. Trata-se de compilação de faixas que a artista, que sempre deixou clara sua admiração pela música brasileira, gravou para alguns de seus álbuns com participações de grandes nomes do nosso cancioneiro. São memoráveis, por exemplo, os encontros dela com Ney Matogrosso (em “A Dança da Lua”), Chico Buarque (em “Injuriado”) e Adriana Calcanhotto (no interessante medley que reúne “Bem Querer” e “Futuros Amantes”). Estão também presentes Milton Nascimento, Gonzaguinha, Simone, Gal Costa, Carlos Lyra, Caetano Veloso e Tom Jobim.
· Em julho de 2008, cinco cantoras se juntaram e realizaram o show “Elas Cantam Paulinho da Viola”. O encontro, enfim, vai virar disco que chegará em breve ao mercado através da gravadora Lua Music reunindo Alaíde Costa, Célia, Cida Moreira, Fabiana Cozza e Milena, as quais, dentre outras pérolas do compositor portelense, reviverão “Sinal Fechado”, “Coração Leviano” e “Coisas do Mundo, Minha Nega”.
· O novo e aguardado CD da cantora Luiza Possi deverá chegar às lojas no próximo mês e trará, além de canções inéditas assinadas por Samuel Rosa (do Skank), Chico César e Lula Queiroga, a regravação de “O Meu Amor”, pérola injustamente esquecida do cancioneiro de Gilberto Gil. Parceria da cantora Luiza Possi com Dudu Falcão, a inédita canção “Eu Espero” já se encontra disponível na página da cantora no site MySpace.
· “Pic Nic”, o mais recente show de Rita Lee, vai se transformar em DVD cujas imagens foram registradas durante apresentações recentemente realizadas no palco do Vivo Rio. No roteiro, dentre vários sucessos, a roqueira incluiu duas canções inéditas, parcerias suas com o maridão Roberto de Carvalho e com o filho Beto Lee (“Nóia” e “Insônia”).
· E a aclamada Roberta Sá planeja o lançamento de mais um álbum ainda para este ano. A ideia da cantora potiguar é dedicar um CD inteiro à obra autoral de Roque Ferreira, inspirado compositor baiano. Outra cantora que tenciona gravar um disco somente com canções de Roque é a sua conterrânea Mariene de Castro que, aliás, em breve, estará lançando o registro ao vivo de seu primeiro DVD, gravado em apresentação do show “Santo de Casa”, no Teatro Castro Alves (Salvador – BA).
· “As Outras Cores do Álbum Branco” é o título do CD lançado pelo selo Discobertas e que traz, em suas vinte e uma faixas, diversos artistas e bandas nacionais apresentando, em sua maioria, versões personalíssimas de canções que não entraram no repertório do antológico disco dos Beatles lançado em 1968, mas que surgiram, ao longo dos anos, dispersas na obra do famoso quarteto inglês. Dentre os destaques estão “Dehra Dun” (com Zé Ramalho), “Look At Me” (com Moska), “Across The Universe” (com Fágner) e “Step Inside Love” (com Zélia Duncan). Também presentes, entre outros, os grupos Biquíni Cavadão, A Bolha e Aerocirco.
RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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