MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantores: LEILA PINHEIRO e EDUARDO GUDIN

CD: “PRA ILUMINAR – Ao Vivo”

Selo: TACACÁ MUSIC

 

Considerada muito merecidamente como uma das melhores intérpretes nacionais de todos os tempos, a paraense Leila Pinheiro surgiu para o grande público quando participou, em 1985, do Festival dos Festivais realizado pela Rede Globo. Na oportunidade, a então pouco conhecida cantora (que anteriormente já tinha lançado um disco independente com a participação de Tom Jobim) conseguiu alcançar o terceiro lugar, chamando a atenção para a sua voz de cristal, sua irrepreensível afinação e sua divisão ímpar. A canção era “Verde” e serviu para que César Camargo Mariano, diretor musical do evento, apresentasse a cantora a Eduardo Gudin (autor da música ao lado de Costa Netto), transformando esse encontro numa profícua parceria musical que culmina agora, quase vinte e cinco anos depois, no lançamento do CD “Pra Iluminar”, nas lojas através da Tacacá Music (é o primeiro produto oficial do selo de propriedade da cantora).

Gravado ao vivo durante apresentação realizada no Teatro FECAP, em São Paulo, o disco é um verdadeiro e belíssimo mergulho na obra de Gudin. São dezessete faixas escolhidas a dedo por Leila que homenageia esse inspirado compositor, por muitos ainda não devidamente (re)conhecido.

Leila é uma artista mais que correta que põe o seu canto à disposição das canções que interpreta. Vem construindo uma carreira sólida, baseada numa qualidade que poucos conseguem manter. Eclética, ela já passeou com desenvoltura por autores tão díspares quanto Chico Buarque e Renato Russo, passando por Gonzaguinha, Ivan Lins e Guilherme Arantes. Mergulhou com maestria no cancioneiro da Bossa Nova e lançou pelo menos um álbum antológico (“Catavento e Girassol”, no qual se debruçou sobre as ricas parcerias de Guinga e Aldir Blanc).

Gudin é compositor que possui vários anos de estrada. Tem trabalhos realizados ao lado das cantoras Vânia Bastos (sua ex-mulher) e Fátima Guedes e músicas compostas ao lado de gente do porte de Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro, Paulo Vanzolini, Sérgio Natureza e Roberto Riberti, algumas delas presentes no repertório do trabalho ora resenhado.

Trata-se certamente de um dos melhores títulos da ótima discografia de Leila e, sem sombra de dúvida, um dos melhores lançamentos do ano. É daqueles raros discos em que se ouve faixa a faixa sem a menor vontade de pular qualquer delas. Recheado de deliciosos sambas, eles distanciam-se uns dos outros pelas temáticas abordadas nas letras, pelos andamentos escolhidos e pelas construções melódicas sempre criativas, adornadas aqui por arranjos executados com maestria por músicos extremamente entrosados. Alguns dos temas já haviam sido registrados anteriormente pela própria Leila, como “Ainda Mais”, “Luzes da Mesma Luz”, “O Amor e Eu”, “Paulista” e a faixa-título. Há ainda nova e refrescante leitura da já citada “Verde” e uma apropriada homenagem a Adoniran Barbosa na suave “Sempre Se Pode Sonhar”. Dos repertórios de Clara Nunes, MPB-4 e Márcia surgem as pérolas “Mente”, “Mordaça” e “Chorei”, respectivamente.

Também uma musicista experiente, Leila emociona os ouvintes quando, acompanhando-se somente ao piano, mastiga os versos da inédita “O Amor Veio Me Visitar” e da delicada “Obrigado”. Mas se o público quer alegria, ele a encontra, sim (mais para o final do disco), em momentos memoráveis tais como “Praça 14 Bis”, “Neo Brasil”, “Boa Maré” e “Vida Dá”. E Gudin aparece em participação especial, dividindo os vocais da emocionante “Velho Ateu”.

O fato é que, neste novo CD, há uma afetuosa troca: enquanto as canções de Gudin iluminam a intérprete, Leila joga novas luzes sobre as criações do grande compositor. Realmente imperdível!

 

 

R E S E N H A     2

 

Grupo: BANGALAFUMENGA

CD: “BARRACO DOURADO”

Gravadora: MP,B / UNIVERSAL

 

Rodrigo Maranhão é compositor em franca ascensão no mercado fonográfico nacional e, depois que teve canções suas gravadas por Maria Rita e Roberta Sá, começou a ser disputado por vários intérpretes nacionais. Em 2007, lançou “Bordado”, seu primeiro CD solo no qual pode colocar sua voz pequena mas agradabilíssima a serviço de excelentes temas como “O Osso”, “Olho de Boi”, “Baião Digital”, “Recado” e “Caminho das Águas”. Mas além desse trabalho, o artista desenvolve paralelamente um outro, à frente do grupo Bangalafumenga. Assim como Pedro Luís capitaneia o Monobloco, banda que arrasa em praias cariocas mais especialmente durante os festejos momescos, Maranhão tem feito com que o Banga venha ganhando cada vez mais espaço, despertando real interesse nos antenados de plantão.

No dicionário, Bangalafumenga quer dizer um indivíduo sem importância, um “João Ninguém”. Já na tradição do samba, era o nome dado às casas do Rio Antigo que abrigavam as batucadas, numa época em que carregar um violão era caso de polícia. Partindo desse mote, surgiu a vontade em alguns descolados de se reunirem e ofereceram oficinas e workshops de percussão para quem se interessasse, fato que terminou resultando na formação do grupo. Seus integrantes fazem uma música alegre que não esquece, contudo, de trazer mensagens bastante interessantes em suas letras e de explorar toda a diversidade e riqueza dos ritmos brasileiros, como o samba, o coco, a ciranda, o maracatu e até o funk. O grupo lançou-se no mercado fonográfico com um álbum artesanalmente produzido em 2001, mas que já dava fortes sinais de que coisas muito boas adviriam dali (canções como “Rap do Real”, “Todo Dia” e “Ciranda do Mundo” estavam presentes no repertório). Em 2004, saiu o EP intitulado “Vira-Lata” que, com uma produção bem mais caprichada, trouxe, entre outras, as deliciosas faixas “Maracatu Embolado”, “Ciranda Nova” e “Perigo”.

Chegou recentemente às lojas, numa parceria entre as gravadoras MP,B e Universal, “Barraco Dourado”, o mais novo CD do Banga. Composto por dez faixas, a maioria delas assinada por Maranhão, o trabalho traz arranjos que combinam levadas percussivas com a pulsação dos metais e apresenta algumas surpresas. A maior delas para nós, sergipanos, é a inclusão de uma faixa que reúne, numa espécie de medley, duas canções assinadas por Márcio de Dona Litinha e que foram gravadas originalmente pelo grupo NaurÊa (as ótimas “Sexta-Feira” e “Bonfim”). Mas há também as apropriadas regravações de “Trilhos Urbanos” (de Caetano Veloso, em batida que evoca o jongo) e de “Lourinha Bombril” (hit dos Paralamas do Sucesso).

No campo autoral, Maranhão continua se mostrando bastante inspirado, tanto que faz do ponto afro “Mãe d’Água”, do sambão “Chapéu Mangueira” e da faixa-título três ótimos momentos do CD. Há ainda uma homenagem ao amigo Serjão Loroza através do envolvente soul “Brother” e uma canção inédita de Pedro Luís (“Quebra-Quilos”). Completam o set list uma faixa instrumental (“Especial de Agogô”) e uma ode à história do samba (“Baseado em Fatos Reais”).

O Bangalafumenga – é certo – veio com força total e é bom você não ficar fora dessa!

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Alex Sant’anna estará se apresentando nesta sexta-feira e sábado (dias 1° e 02 de maio) no espaço “Viva Ará”. Antes dele, o público presente poderá conferir o grupo teatral “Caixa Cênica” que vem realizando o projeto “Cenas de Bolso – Duas Histórias de Amor”, cuja trilha sonora, aliás, foi composta pelo artista. Uma excelente oportunidade para se deleitar com música e teatro da melhor qualidade!

 

·                     Depois de mergulhar em um insuspeitável universo pop em seu bom CD de estreia (“Luzes”, produzido por Valdo França), já que, desde o início, sua carreira se fez voltada para as pegadas nordestinas, Luiz Fontineli põe no mercado, de forma independente, o seu segundo disco (desta feita produzido por Palyto Bass). Intitulado “C’lariou” (canção de autoria de Jota Carvalho), o novo trabalho mostra o artista de volta às suas raízes. Entre xotes, baiões, galopes e até reggae, Fontineli construiu um álbum simples mas bastante agradável. Os melhores momentos ficam por conta das faixas “Cheiro do Mato” (de sua própria autoria), “Não Me Culpe” (dele em parceira com André Gusmão) e “Se o Trem Passar, Eu Vou” (de Reis Lima). Há ainda as regravações de dois sucessos de Missinho: “Olhos da Noite” e “O Mistério das Estrelas”. À venda na Casa do Artista.

 

·                     A cantora Ana Cañas participará como convidada especial do novo CD que Nando Reis já começou a gravar em estúdio do Rio de Janeiro e que chegará às lojas até o meio deste ano. Recheado de canções inéditas, o trabalho do ex-titã trará homenagens explícitas à sua mãe Cecília (na faixa “Conta”) e a uma de suas filhas, no caso, Sophia (em “Só pra So”).

 

·                     A irmã de Renato Russo, Carmen Manfredini, estará ainda este ano estreando no mercado fonográfico com um disco dividido com o quarteto carioca Tantra, formado por Carlos Trilha (teclados), Fred Nascimento (voz e guitarra), Gian Fabra (baixo) e Lourenço Monteiro (bateria).

 

·                     Em mais um trabalho sofisticado, Daniel Taubkin está lançando o CD “Sertão Negro”. São quinze faixas entre canções de sua própria autoria (destaques para “Das Cores de Rosa”, “Folia” e “Canta Bonito”), boas regravações (“Tem Mais Samba”, de Chico Buarque, e “O Dengo que a Nega Tem”, de Dorival Caymmi) e incursões pelo universo instrumental (“Altos & Baixos”, “Sambinha pro Tom” e “Tico-Tico no Fubá”, de Zequinha de Abreu).

 

·                     “Na Paleta do Pintor” é o título do primeiro CD que a cantora paulistana Tânia Grinberg põe no mercado de maneira independente. Intérprete de técnica vocal irrepreensível, ela possui um belo timbre agudo e baseia seu trabalho em canções de tons ruralistas. Não é, portanto, à toa que alguns dos bons momentos do álbum (produzido por Ricardo Zóhyo) ficam por conta de temas de domínio público (o melhor deles é “Riacho de Areia”). Também compositora, Tânia assina três das doze faixas do repertório, com destaque para “O Desejo”. Renato Braz é o convidado especial da bela regravação de “Mais Que a Paixão” (de Egberto Gismonti e João Carlos Pádua). A artista revisita também obras de Capiba (“A Mesma Rosa Amarela”, parceria com Carlos Pena Filho) e Billy Blanco (“Piston de Gafieira”).

 

·                     O quarteto instrumental Aquilo Del Nisso acabou de lançar “Piratininga”, sexto CD de uma carreira que está completando vinte anos, o qual, como o próprio título já entrega, homenageia São Paulo. Dentre as faixas, os destaques ficam por conta de “Praça da Sé” e “Forrobodó”.

 

·                     Quem se lembra de Marcelo, cantor que na década de oitenta pontuava as paradas de sucesso com canções como “Abre Coração” e “De Fogo, Luz e Paixão”? Pois é, o cara está de volta, adicionando o sobrenome Costa Santos ao seu nome artístico. O novo álbum deverá chegar às lojas ainda neste primeiro semestre e se intitulará “Ciclos”. A produção é de Dadi e o trabalho trará homenagens ao ex-beatle George Harrison e ao produtor musical Jim Capaldi. 

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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