CD: “BALAIO DE AMOR” Quando, em 1979, Elba Ramalho estreou no mercado fonográfico com o grande disco “Ave de Prata”, o Brasil se deparou com uma intérprete única. Advinda do teatro, a artista mostrava no palco uma energia fora do comum, muito embora sua voz fosse alvo de críticas (exageradas, é verdade, fruto dos conceitos arraigados de muitos). O tempo foi passando, Elba mergulhou com afinco no estudo do canto, moldou seu instrumento de trabalho (que, desde logo, diga-se de passagem, sempre se mostrou potente e de timbre peculiaríssimo), engrenou um sucesso após o outro e conquistou um séquito de fãs. Antenada, soube dosar canções de pegadas fortes (ligadas a seu Nordeste natal) com músicas românticas, tendo várias delas incluídas em trilhas sonoras de novelas. Com uma discografia já razoavelmente extensa (embora nem toda ela seja irretocável, posto que, aqui e ali, terminou cometendo alguns pecadinhos no afã da pluralidade), Elba vem passando atualmente por uma fase musical muito boa. Há dois anos, pôs no mercado, de forma independente, o seu melhor álbum (“Qual o Assunto Que Mais lhe Interessa?”) e agora, aproveitando as proximidades dos festejos juninos, acaba de lançar, através da gravadora Biscoito Fino, um novo CD intitulado “Balaio de Amor”. Nele, Elba mergulha de vez em xotes e baiões. E, por incrível que pareça, depois de exatos trinta anos de carreira, é esse disco comemorativo o único em que ela realmente abraça por inteiro o forró (excetue-se, aqui, o trabalho que fez, em 2002, em homenagem à obra de Luiz Gonzaga). É claro que os temas das letras agora não são mais tão politizados quanto alguns que ela gravou no começo da carreira, tais como “Banquete dos Signos”, “Canção da Despedida” e “Caldeirão dos Mitos”, afinal os tempos são outros. As canções de hoje resvalam, em sua maioria, por temas apaixonados, mas nem por isso o resultado soa insosso. Pelo contrário, ancorada na boa produção de Cezinha, seu novo “namorido” e um ótimo acordeonista, Elba conseguiu fazer um CD muito legal que se sustenta em um conceito simples, porém eficiente: o de levar alegria ao público. Em ótima forma vocal, a artista (que planeja, em breve, lançar CD’s sobre as obras de Chico Buarque e Zé Ramalho, dois compositores que sempre gravou e que acreditaram nela desde o início) reuniu, no repertório, quatorze temas criados por compositores experientes no gênero, tais como Nando Cordel, Eliezer Setton, Jorge de Altinho, Maciel Melo, Petrúcio Amorim e, é claro, Dominguinhos, um de seus padrinhos musicais (o qual, aliás, faz-se presente, em participação especial, na faixa “Riso Cristalino”). Tudo parte da simplicidade, mas esta resulta emoldurada por arranjos caprichados e pela interpretação marcante da cantora. A canção “É Só Você Querer” (que conta com a intervenção vocal do citado Cezinha) já tem presença garantida nas programações das rádios porque faz parte da trilha sonora da telenovela global “Caras & Bocas”, mas há outros momentos também interessantes, a exemplo da deliciosa “Fuxico” (de Flávio Leandro), da contagiante “Não lhe Solto Mais” (de Antônio Barros e Cecéu), da eloquente “Me Dá Meu Coração” (de Accioly Neto) e da apaixonada “Se Tu Quiser” (de Xico Bezerra). Destaque ainda para o projeto gráfico, no qual imagens da cantora se misturam a desenhos coloridos, perdendo-se o limite do que é real ou não. Abrindo-se de volta ao sertão que conheceu desde menina, Elba Ramalho resgata suas raízes profundas e, de forma natural, apropria-se de sua própria história para seguir adiante. Inquieta por natureza, decerto que ainda irá aprontar e muito. Bendita seja, flor da Paraíba! CD: “PEIXES PÁSSAROS PESSOAS” Quando lançou seu primeiro CD (intitulado “Kavita 1”), em 2006, a cantora Mariana Aydar foi, de imediato, saudada como uma grata revelação. Nele, a jovem morena bonita se pautou em acertadas regravações, o que resultou em um trabalho que, de certa forma, lhe garantiu abertura para amplas possibilidades futuras. Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Universal, o seu esperado segundo álbum, o qual é composto por treze canções e foi produzido a quatro mãos pelo marido e músico Duani e pelo cultuado Kassin. Somente pelo fato de o recém-lançado trabalho vir recheado de canções inéditas já o credencia para que seja ouvido com atenção. Isso feito, depara-se com um CD pra lá de agradável, muito bem concebido, o que o faz um dos grandes lançamentos deste ano. Desde o disco inaugural que Mariana mostra uma tendência inata para o samba. Ritmo eminentemente brasileiro, este se desdobra em várias vertentes. O abraçado pela cantora segue a tendência que já transportou Roberta Sá para o patamar do primeiro time da nossa MPB: é de uma elegância fina e aborda, em suas letras geralmente bem criativas, temas diversos, dentre os quais predomina o referente ao amor, suas ilusões e desilusões correlatas. A maioria das músicas apresentadas é de autoria de Duani que se revela um compositor acima da média. Inspirado, ele consegue construir melodias simples e bonitas que conquistam de prima o ouvinte médio. Um bom exemplo disso surge logo na faixa de abertura, a bela “Florindo”, que lembra (de forma salutar) os áureos tempos de lirismo de Paulinho da Viola. Outros momentos deliciosos são o samba-enredo “Poderoso Rei” e a quase nordestina “Pras Bandas de Lá”. Mas nada supera “Manhã Azul” (pérola composta ao lado de Nuno Ramos) e a já antológica “Peixes” (de Nenung, integrante do grupo Os The Darma Lóvers), belíssima criação que se desdobra em várias partes melódicas e que vem revestida por um dos melhores arranjos surgidos nos últimos tempos (aqui, vale ressaltar também a interpretação precisa e em crescente intensidade emocional de Mariana). O fato, contudo, é que o trabalho dela se mostra plural, razão porque há espaço tanto para “Tá?” (de Carlos Rennó, Pedro Luís e Roberta Sá, um delicado xote que, se utilizando do achado de retirar a última sílaba de cada verso, critica, de forma inteligente, a ação daninha do homem sobre o meio ambiente), como para “Nada Disso é Pra Você” (de Rômulo Fróes e Clima), balada de tintas suaves que soa comovente. Mariana também se mostra compositora e, quando assume esse seu lado, o faz assinando Kavita. Embora a intérprete supere de maneira inquestionável o seu lado autoral, não se pode deixar de reconhecer os lampejos criativos existentes em “Palavras Não Falam” e em “Aqui em Casa” (esta, uma parceria com Duani). Mayra Andrade (uma cantora de Cabo Verde) é a convidada especial da faixa “Beleza” (parceria entre Luisa Maita e Rodrigo Campos), o onipresente Zeca Pagodinho comparece na premonitória “O Samba Me Persegue” (um contagiante partido alto) e o tropicalista Lanny Gordon faz a cama com a sua guitarra em “Tudo Que Eu Trago no Bolso”. Cantora de timbre claro (que, em várias passagens, lembra o de Joanna) e boa extensão vocal, Mariana Aydar deu um salto e tanto com esse novo CD, credenciando-se com um dos mais promissores nomes da seara feminina nacional. Se eu fosse você, correria para ouvi-la! N O V I D A D E S · Em mais um projeto voltado para o público infantil, acaba de ser lançado o CD intitulado “Pequeno Cidadão”, que traz canções assinadas e interpretadas por Arnaldo Antunes, Antonio Pinto, Edgard Scandurra e Taciana Barros. A criançada certamente irá se deleitar com os inspirados temas apresentados, os quais surgem emoldurados por arranjos concisos, mas bem apropriados às ideias escolhidas. Dentre os destaques do repertório estão as faixas “Tchau Chupeta”, “Meu Anjinho” e “Bonequinha do Papai”. Ziraldo surge, ao final, na faixa-bônus “Pererê”. · Beto Furquim lança “Muito Prazer”, seu primeiro CD que aporta no mercado de maneira independente. Bom compositor, ele também canta muito legal com suingue próprio e delicadeza na voz. Os arranjos são assinados por Mário Manga e Leandro Bonfim. O disco é um trabalho autoral composto por doze faixas que fincam pé ora no samba (“À Beira-Mar” e “Resposta”, dois dos melhores momentos), ora no pop (“Sinuosa” e “Que Que Tu Tanto Quer?”, outros destaques). A cantora Mônica Salmaso comparece como convidada especial, interpretando “Estrela da Manhã”, canção por ela defendida no Festival da Música Brasileira, realizado pela Rede Globo em 2000. · Já chegou às lojas o novo CD dos Titãs. Produzido por Rick Bonadio, o novo álbum traz quatorze canções inéditas, todas elas compostas pelos próprios integrantes da banda. Os fãs mais aficcionados não devem esperar músicas virulentas como as que marcaram o estouro inicial do grupo. Agora cinqüentões, os cinco reminiscentes preferiram optar por temas mais amenos e por melodias de pegada menos pesada. A faixa “Antes de Você” (de Paulo Miklos) sai como o carro-chefe do recém-lançado trabalho, até porque foi incluída na trilha sonora da telenovela global “Caras & Bocas”, o que fatalmente a catapultará às paradas de sucesso. O repertório resulta homogêneo, mas dá para citar alguns destaques, dentre os quais “Problema” (de Paulo Miklos, Arnaldo Antunes e Liminha) e “Porque Eu Sei Que é Amor” (de Sérgio Britto e Paulo Miklos). O cultuado guitarrista Andreas Kisser é o convidado especial da faixa “Deixa Eu Entrar”. · Flávio Venturini é de geração posterior ao Clube da Esquina, mas inegável se torna a influência daquela trupe mineira no seu som. Egresso do grupo 14 Bis (que freqüentou as paradas de sucesso nos anos oitenta), ele acaba de lançar, nos formatos CD e DVD, “Não Se Apague Esta Noite”, projeto gravado ao vivo durante shows realizados em Belo Horizonte e Paris. O roteiro alinhava algumas canções inéditas (“Recomeçar”, boa parceria com Ronaldo Bastos) com visitas a várias canções já registradas por Flávio (a bonita “Minha Estrela” está entre elas). Milton Nascimento, companheiro de longas datas, é o convidado da faixa “Música”, mas há outras participações especiais, como Marina Machado (“Noites com Sol”), Cláudio Venturini (“Romance”), Mart’nália (“Pierrot”) e Luiza Possi (“Beija-Flor”). · Voltando de cabeça às programações eletrônicas, Fernanda Porto lança, através da gravadora EMI, seu mais novo CD intitulado “Auto-Retrato”. Ela canta bem, mas as canções (todas de sua autoria, algumas em parceria com Chistianne Neves) terminam se parecendo muito umas com as outras, conferindo um resultado monocórdio ao trabalho. Os destaques, além da faixa-título, ficam por conta de “Perdi o Tom”, “Parece Ser” e “Tem uma Vaga Aí?”. · Para quem gosta de novidades, uma excelente pedida é conhecer o trabalho de Daniel Lopes. Bom cantor e compositor inspirado, ele lançou (de maneira independente) o ótimo CD “Mais e Mais Refrões”. Há canções muito bem resolvidas e que pegam o ouvinte de prima, tais como “Laiá Laiá”, “Homem Verde” e “Ampulhetas”. Todas as onze faixas são assinadas pelo próprio artista, algumas delas em parceria com Mila Bartilotti. Há as participações especiais de Leoni e Paula Marchesini em “Interior” e “Invenções” respectivamente. Muito legal! RUBENS LISBOA é compositor e cantorCantora: ELBA RAMALHO
Gravadora: BISCOITO FINO
Cantora: MARIANA AYDAR
Gravadora: UNIVERSAL
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
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