R E S E N H A     1

Cantor: LULU SANTOS

CD: “LONG PLAY”

Gravadora: SOM LIVRE

De todos os artistas nacionais, certamente o que melhor se acomodou às novidades advindas com as modernidades eletrônicas foi mesmo Lulu Santos. Embora vários outros tenham tentado, a maioria termina se perdendo às tentações das programações, amoldando as músicas às parafernálias e patinando na criação de canções frouxas. Sempre esperto, Lulu, ao contrário, delas tem feito uso para modernizar as roupagens de suas canções, mas sempre colocando estas em primeiro plano.

Depois de consolidar o seu nome junto à nata do cancioneiro nacional e colecionar vários grandes sucessos, o artista poderia mergulhar em projetos revisionistas, como é a praxe atual do mercado. Preferiu, no entanto, continuar lançando trabalhos com canções inéditas e se, em alguns deles, o resultado não foi tão satisfatório, o mesmo não se pode dizer do recém-lançado “Long Play”, que chega às lojas através da gravadora Som Livre e vem confirmar a boa maré de inspiração pela qual Lulu vem passando desde o lançamento de “Letra & Música”, seu álbum anterior.

No novo CD, Lulu apresenta nove canções de sua safra recente, aliando-as a somente duas regravações alheias: “Deixa Isso Pra Lá”, de Alberto Paz e Edson Menezes (incluída na trilha sonora da novela global “Sete Pecados”), originalmente gravada por Jair Rodrigues e tida como sendo o primeiro rap nacional, e “Se Não Fosse o Funk”, já conhecida com o seu autor, o MC Marcinho.

Lulu sempre teve pegada roqueira e comprova a sua origem através das bem-resolvidas “Domingo Maldito”, “Ninguém Merece” e “Dopamina”. Porém, sempre se mostrou eclético e em sua discografia, vez ou outra, surge algum ritmo insuspeito. No trabalho em voga, dois bons momentos são surpreendentemente os inspirados sambas “Boa Vida” e “Propriedade Particular”.

Com timbre único e voz talhada para o universo pop, do qual sempre foi um dos maiores representantes nestas terras tupiniquins, ele lança mão, desta vez, de composições que, se fossem outros os tempos, certamente cairiam de imediato no gosto da galera. É o caso da deliciosa “Olhos de Jabuticaba” (com influência nordestina), da dançante “Seu Aniversário” e da auto-biográfica balada “Contatos”. Somente a psicodélica “Surreal” não soa à altura das demais, mas nada que prejudique um ótimo disco que confirma o quão em forma se encontra o Lulu Santos cinqüentão.

Cantora: ELIANA PRINTES

CD: “MAIS PERTO DE MIM”

Gravadora: INDIE RECORDS

Amazonense, a cantora Eliana Printes chegou ao Rio de Janeiro em 1994, gravando de cara e de maneira independente o seu primeiro CD, pelo qual recebeu a indicação ao Prêmio Sharp de Música. Dois anos depois passou a integrar o cast da Indie Records, onde permanece até hoje, já tendo lançado pela gravadora mais outros quatro discos.

Acaba de chegar às lojas o sexto álbum da artista, intitulado “Mais Perto de Mim”, composto por onze faixas (três delas ressurgindo, ao final, em versões remix como faixas bônus), através do qual se verifica porque ela se encontra presentemente na categoria de uma das mais belas vozes da música popular brasileira. Com um timbre único e potentes recursos vocais, Eliana é daquelas intérpretes que se destacam à primeira audição e que marcam, de imediato, lugar especial na cabeça do ouvinte.

Infelizmente, o recém-lançado CD não é o seu melhor trabalho. Fica aquém, por exemplo, de seus dois últimos ótimos álbuns (“Pra Lua Tocar” e “Pra Você Me Ouvir”). Mesmo assim, destaca-se da média de lançamentos atuais muito pela qualidade dos arranjos, a cargo do seu marido, o violonista Adonay Pereira, que com ela assina a autoria de seis faixas. Talvez esteja aí o maior senão do disco. A dupla, embora competente e responsável por alguns bons momentos, teria sido mais sensata se cedesse espaço para outros compositores, já que fica claro que Eliana é uma excelente intérprete, conforme se pode constatar através de suas leituras para “Por Onde?” (de Kléber Albuquerque e Tata Fernandes) e “Santa Padroeira” (de Antônio Villeroy, uma bela homenagem a Nossa Senhora Aparecida), dois dos melhores momentos do disco.

Entre canção de razoável pegada pop (“Venha Ser Meu Sol”) e outra com nítida influência da Jovem Guarda (“Um Antigo Amor”), as criações de Eliana e Adonay mais bem resolvidas são mesmo as duas músicas em que fazem participações especiais os cantores Chico César e Pedro Luís (a inspirada “Se Chovesse Você” e a suingada “Quando Você Passa Por Mim”, respectivamente).

Se é verdade que Eliana Printes pode mais, também o é que o Brasil precisa conhecer, desde já, muito melhor o seu trabalho, uma vez que lhe são incontestáveis o talento, a persistência e a vontade de acertar.

N O V I D A D E S

·               Gravado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), acaba de ser lançado, através da gravadora Albatroz, o DVD intitulado “Swingueira”, o qual traz o registro de memorável show realizado por Roberto Menescal e Wanda Sá. Dentre as canções constantes do repertório estão “Tem Dó”, “Eu Sei que Vou te Amar”, “A Morte de um Deus de Sal” e “Wave”.

·               Já lançado na Europa em 2000, somente agora chega ao Brasil, através da gravadora Lua Music, o primeiro CD solo de Mariana de Moraes, que vem a ser neta de Vinicius. Antes desse trabalho, a artista só havia lançado um outro álbum (em 1997), mas que foi dividido com Elton Medeiros e Zé Renato. Intitulado “Se é Pecado Sambar” (nome da bela faixa de autoria de Manoel Sant’Ana), o disco mostra uma cantora que vem evoluindo em sua arte, muito embora fique clara a pequena extensão de sua voz. Contando apenas com piano (a cargo de Guilherme Vergueiro, também responsável pela produção), violão, guitarra e percussão (estes executados por Carlos dos Santos) nos bem elaborados arranjos, o CD traz uma sonoridade limpa e refinada que deverá agradecer aos mais exigentes. Do repertório de treze faixas constam canções bastante conhecidas (“Fotografia”, de Tom Jobim, e “Agora é Cinza”, de Bide e Marçal), algumas pinçadas do infindável baú do cancioneiro nacional (“Pra Fugir da Saudade”, de Elton Medeiros e Paulinho da Viola, “Tenha Pena de Mim”, de Ciro de Sousa e Babau da Mangueira, e “Deus no Céu, Ela na Terra”, de Wilson Batista e Marino Pinto), além de três outras cantadas em inglês (a melhor delas é “I Fall In Love Too Easily”, de Kahn e Styne). Da lavra do avô famoso, Mariana incluiu a delicada “Medo de Amar”. O Poetinha ficaria orgulhoso…

·               O próximo CD de Orlando Morais deverá ser lançado em outubro e se intitulará “Chuva de Prata”, nome também de uma canção inédita de sua autoria que, na gravação, vai contar com a participação especial do cantor francês Patrick Bruel. Além dele, também estarão no novo trabalho do maridão da Glória Pires outros nomes estrangeiros tais como Sting e Peter Gabriel.

·               A gravadora Indie Records aposta todas as suas fichas no sucesso do novo CD da cantora Alcione que chegará ao mercado dentro em breve. A artista maranhense já está terminando de pôr sua voz nas faixas do trabalho que contará com as participações especiais de Gilberto Gil (em “Entre a Sola e o Salto”), Falcão (“Mangueira Mamãe”) e Mart’nália (“Laguidibá”).

·               A dupla de compositores Paulinho Lima e Guilherme Vergueiro está preparando um CD com suas parcerias e para isso já conta com a adesão de grandes nomes da nossa MPB. Dentre os já confirmados estão Emílio Santiago, Miltinho, Preta Gil, Leila Pinheiro e Ney Matogrosso.

·               Diogo Nogueira é filho do sambista João Nogueira e, seguindo os passos do falecido pai, mergulhou de cabeça no universo da música. Contratado pela gravadora EMI, o rapaz deverá lançar em setembro próximo CD e DVD que são frutos de registro de show realizado recentemente no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, o qual contou com as participações especiais do cantor Marcelo D2, do violonista Marcel Powell e de ritmistas da escola de samba Portela.

RUBENS LISBOA é compositor e cantor

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