R E S E N H A 1 CD: “IVAN LINS & THE METROPOLE ORCHESTRA” Um dos compositores brasileiros mais reverenciados no exterior, Ivan Lins já teve canções de sua autoria gravadas, lá fora, por nomes como Quincy Jones, George Benson, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Carmen MacRae e Barbra Streisand. Aqui no Brasil é difícil encontrar um grande intérprete que não o tenha incluído no repertório. Autodidata, ele começou a tocar piano aos dezoito anos, influenciado pelo jazz e pela bossa nova. Embora formado em engenharia, engendrou-se pelo mundo da música na época em que começou a participar de festivais, chegando a obter o segundo lugar, em 1970, no V Festival Internacional da Canção, com “O Amor É o Meu País” (parceria com Ronaldo Monteiro de Souza). Também foi ao lado de Ronaldo que compôs aquele que viria a ser o seu primeiro grande sucesso nacional: “Madalena”, na antológica gravação de Elis Regina. Em seguida, vieram muitos outros hits que até hoje são lembrados pelo público em geral, tais como “Bilhete”, “Começar de Novo”, “Desesperar Jamais”, “Abre Alas” e “Somos Todos Iguais Esta Noite”, por exemplo, quase todas compostas em parceria com o letrista Vitor Martins. Nos últimos anos, Ivan continua a lançar discos com frequência. Alguns têm trazido boas canções inéditas (recentemente ele vem abrindo seu leque de parceiros – Celso Viáfora e Chico Buarque estão entre eles), mostrando que seu lado criativo continua em forma (a voz é que vem definhando e aquelas notas agudas que antes alcançava com facilidade agora são mesmo coisa do passado). Outros trabalhos, no entanto, apresentam-se com cunho meramente revisionista, resgatando canções por ele próprio já registradas em discos anteriores. Acaba de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o CD “Ivan Lins & The Metropole Orchestra”, composto por onze faixas, dez delas assinadas pelo artista ao lado de parceiros (apenas “O Fado”, um dos destaques do seleto repertório, foi pinçada de obra alheia: é de autoria de Paulo de Carvalho e Dulce Pontes). Não obstante várias das canções serem conhecidas por demais, o fato de ganharem um acompanhamento de orquestra as ornam com novas cores, transformando o álbum recém-lançado num belíssimo cartão de visitas da obra do compositor (que deveria se tornar obrigatório, por exemplo, para as novas gerações). A regência da supracitada big-band (holandesa, composta por quase setenta figuras) ficou a cargo do renomado maestro Vince Mendoza. O disco traz gravações realizadas ao vivo durante concertos ocorridos em Harleen em maio de 2006 e (principalmente) em Amsterdam em julho de 2008 (com algumas inserções feitas em estúdio). E para apimentar o recheio, conta ainda com as participações de convidados ilustres: o guitarrista Leonardo Amuedo, o saxofonista italiano Stefano Di Battista, o cantor português Paulo de Carvalho e a cantora holandesa Trijntje Oosterhuis. As melodias sofisticadas e as harmonias complexas de Ivan amoldam-se com perfeição aos arranjos (ora grandiloquentes, ora suaves) levados a cabo pelos exímios músicos. As canções ganham cama nobre, com uma sonoridade única que, de forma rica e exótica, mantém o ritmo durante todo o tempo. Dentre os melhores momentos estão “Daquilo Que Eu Sei”, “Formigueiro” e “Lua Soberana”, todas grandes sucessos da carreira do artista. Mas entre as faixas surgem alguns lados B também interessantes: é o caso de “Arlequim Desconhecido” e de “É Ouro em Pó”. A música de Ivan Lins é de uma qualidade inatacável e o recém-lançado CD vem realçar nuances e confirmar um talento por nós já tão conhecido. Merece lugar cativo na prateleira! R E S E N H A 2 CD: “CHUTANDO O BALDE” Pode parecer sintomático, mas o sambista Nei Lopes abre o seu novo CD (um lançamento da gravadora Fina Flor, já nas lojas) entoando os versos iniciais de “Chutando o Balde” (canção que dá título ao trabalho) em ritmo de rap. Mas o fato, logo constatável, é que se trata apenas de uma salutar excentricidade, diluída ao longo das quinze faixas restantes através das quais se comprova ser ele um dos mais inspirados compositores de samba de todos os tempos do cancioneiro nacional. Nei (que também é advogado e historiador) teve sua primeira composição gravada por Alcione (“Figa de Guiné”, parceria com Reginaldo Bessa) nos idos dos anos setenta. O reconhecimento viria logo a seguir quando, ao lado de Wilson Moreira, criou vários sambas que terminaram se tornando grandes sucessos de execução (dentre suas músicas mais conhecidas figuram “Gostoso Veneno”, “Senhora Liberdade”, “Coisa da Antiga” e “Goiabada Cascão”). Também militante do movimento negro, o artista é um nome dos mais respeitados no meio musical e quase todos os expoentes da nossa MPB já registraram alguma de suas composições. Produzido por Ruy Quaresma, o recém–lançado trabalho surge em muito boa hora e mostra o compositor, aos sessenta e sete anos, em plena efervescência criativa, como se pode constatar, por exemplo, através de “Samba de Fundamento” (parceria com Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira), no qual ele homenageia o samba de raiz. Outro alvo de uma apropriada constatação é o uso dos modismos nas palavras, que terminam por ganhar outros significados, como ressalta em “Dicionário” (criada ao lado de Everson Pessoa). A inspiração retirada de temas aparentemente simples é, aliás, uma de suas características. O que para muitos termina passando batido, para Nei serve de ponto de partida para mais uma canção que, via de regra, sempre resulta acima da média. Os seus sambas (crônicas do cotidiano) são contagiantes e – o melhor de tudo – parecem nunca se repetir. E se em “Saracuruna-Seropédica” (parceria com o já citado Ruy Quaresma) uma base calcada em rumba dá o toque diferenciado que confere tintas especiais à faixa, em “Confraria” (com Dauro do Salgueiro) é o partido alto que faz a festa. Já em “Recordando Seu Libório” (parceria com Cláudio Jorge), Nei resgata um apropriado chorinho, e descamba, ao fim, para o samba-enredo em “Samba Emprestado”. Alguns dos destaques do repertório ficam por conta da divertida “Pala Pra Trás” (outra com Magnu Sousá), da inteligente “Águia de Haia” (parceria com Luís Felipe de Lima, samba-de-breque em que o espírito de Ruy Barbosa baixa em Nei em pleno Campo de Santana) e da contagiante “Oló” (que ele assina sozinho). Há de se destacar ainda a corajosa interpretação da cantora Sanny Alves que empresta sua bonita e encorpada voz para o samba de gafieira “Deusas e Devassas” (outra com Everson Pessoa), prima-irmã de “Mulheres”, hit de Martinho da Vila. Nei Lopes tem voz e espírito talhados para o samba. É o verdadeiro encontro da boa arte com o talento inato. Num momento em que esse gênero musical vem sendo resgatado por novos nomes como Teresa Cristina, Roberta Sá e Moyséis Marques, entre outros, faz-se de muito bom alvitre conhecer o novo CD de um compositor que conhece (como poucos) do riscado e que indubitavelmente merece toda a nossa reverência. Sua bênção, mestre! N O V I D A D E S · Enquanto não chega às lojas o novo e esperado projeto da cantora Selma Reis que homenageará Paulo César Pinheiro, talvez o melhor letrista da história da nossa música popular brasileira, uma outra intérprete lança um trabalho sob esse mesmo viés. Trata-se de Gisele Meira que, de maneira independente, acaba de lançar o CD “E um Verso Vem Vindo”, composto por dez canções de fina inspiração. O legal é que cada uma delas vem assinada por Pinheiro com um parceiro diferente (somente a faixa “O Lamento do Samba” foi criada por ele sozinho), de forma que se encontram, nos créditos, nomes como Dori Caymmi, Baden Powell, Sueli Costa, Mauro Duarte, Maurício Carrilho e João Nogueira. Dentre os melhores momentos estão as obras-primas “Pesadelo” (com Maurício Tapajós), “Viagem” (com João de Aquino) e “Senhorinha” (com Guinga). A voz de Gisele é delicada e melodiosa, o que termina por valorizar esse disco muito bem-vindo! · A cantora Bebel Gilberto já começou a gravar as faixas que comporão o repertório de seu próximo CD. Uma delas é a regravação de “Acabou Chorare”, sucesso do grupo Novos Baianos. · Desde 1996 sem lançar um CD contendo canções inéditas, Beth Carvalho planeja quebrar este jejum ainda este ano. A carioca já seleciona o repertório do álbum que deverá confirmar o seu apurado talento para descobrir novos e bons compositores. · Segundo informações contidas no texto do encarte, a cantora Fernanda Cunha começou a se apresentar no Canadá em 2005 e, de lá para cá, motivada pela ótima receptividade encontrada, vem desenvolvendo uma relação de muito carinho com aquele país. Tanto que o mote para gravar o seu quarto e melhor CD (independente, já nas lojas, intitulado “Brasil-Canadá”) foi realçar afinidades entre as duas culturas. O resultado soa muito legal, permeado, em grande parte, por um clima jazzy. São apenas nove faixas (quatro em inglês e cinco em português) muito bem conduzidas pelo trio formado por Ricardo Rito, Mike Lent e Sandro Dominelli (respectivamente ao piano, baixo e bateria) que receberam, em algumas passagens, o auxílio luxuoso do violão de Zé Carlos. Dentre os melhores momentos estão “Candy” (de Mack David, Joan Whitney e Alex C. Kramer), “Pescador” (de Marcio Hallack), “Pacing the Cage” (de Bruce Cockbum) e a supimpa releitura de “O Primeiro Jornal” (parceria da tia Sueli Costa com Abel Silva, gravada originalmente por Elis Regina). Como intérprete, Fernanda é dona de voz segura e de bonito timbre. Como autora, ela mostra as (boas) inéditas “Quanto Tempo Faz” (composta com Mike Lent, também o produtor do álbum ao lado da artista) e “Amanheceu” (parceria com Ricardo Rito e Luiz Sérgio Henriques). · O mais novo contratado da gravadora EMI é Lulu Santos que lançará, ainda este ano, projeto ao vivo (CD e DVD) que será centrado no repertório do álbum “Long Play”, lançado em 2007. · Já se encontra disponível o primeiro DVD da Mantiqueira, banda que goza de enorme prestígio tanto no universo popular quanto no circuito erudito. No eclético repertório, canções assinadas por Dorival Caymmi, João Bosco e Luiz Gonzaga. · Uma boa pedida é conhecer o mais recente CD do pernambucano Geraldo Maia intitulado “Peso Leve”. Depois de alguns discos lançados apenas como intérprete, o artista aventurou-se, no ano passado, na arte de compor e mostrou, através das doze faixas, que se trata também de um criador inspirado. Algumas canções foram feitas em parceria com nomes como Lula Queiroga, João Falcão e Adriana Falcão. Geraldo canta muito bem, imprimindo a emoção certa a cada canção. Dentre os melhores momentos estão “Estrada”, “No Armazém”, “Tô Fora”, “De Onde Antônio Vem”, “De Todas as Graças” e “Palavra”. A conterrânea cantora Isaar é a convidada da faixa “Simplesmente”. · Uma das vocalistas da Orquestra Imperial, a também atriz Thalma de Freitas, já prepara seu novo CD, o qual chegará às lojas até o final deste ano através da gravadora Biscoito Fino e trará a dupla Berna Ceppas & Kassin assinado a produção. RUBENS LISBOA é compositor e cantorCantor: IVAN LINS
Gravadora: BISCOITO FINO
Cantor: NEI LOPES Gravadora: FINA FLOR
Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br
Comentários