MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: MOYSEIS MARQUES

CD: “FASES DO CORAÇÃO”

Gravadora: DECKDISC

 

Um dos nomes que mais vem se destacando junto ao boom atual do samba carioca é o de Moyseis Marques. Egresso das vozes que surgiram em circuitos de shows na Lapa, o bairro boêmio do centro do Rio de Janeiro, o artista realmente vem se mostrando um talento bastante promissor tanto como cantor quanto como compositor. A sua estreia no mercado fonográfico se deu em 2007 com um álbum homônimo no qual mesclou um repertório autoral com clássicos do gênero, revisitando canções assinadas por bambas como Elton Medeiros, Luis Carlos da Vila e Jackson do Pandeiro.

Não foi à toa que, apenas dois anos após o bom trabalho inaugural, esteja chegando às lojas, através da gravadora Deckdisc, “Fases do Coração”, o segundo CD de Moyseis, o qual, em suas treze faixas, faz comprovar se estar diante de um artista pronto. De fato, é nítida a evolução dele que, aliás, ratifica agora sua inspiração, especialmente como criador de canções (oito das faixas são de sua própria autoria, algumas delas feitas em parceria), o que deve se ressaltar por ser uma excelente notícia num mercado atual tão combalido de boas ideias.

Produzido por Paulão 7 Cordas, o CD traz uma sonoridade muito bacana e se torna bastante fácil contagiar-se com as batidas de uma percussão precisa que faz a cama para arranjos equilibrados, sempre calcados em violões muito bem executados. Já na faixa de abertura, a bela “Entre Girassóis” (parceria com o competente Edu Krieger), o ouvinte se depara com uma canção efetivamente resolvida, daquela que todo bom compositor gostaria de ter feito. Elegante e contagiante nas medidas certas, lembra os tempos áureos de Paulinho da Viola, o que – diga-se de passagem – não é para qualquer um. As outras duas parcerias com Krieger (a faixa-título e “Da Maneira Que Ficou”) são também momentos de extrema felicidade. E uma maciça execução nas rádios já se faz garantida com a inclusão da graciosa “Pretinha, Joia Rara” na trilha sonora da telenovela global “Caminho das Índias”.

Com voz de fraseado límpido e um timbre especialmente talhado para o samba, Moyseis ainda se revela um intérprete de primeira linha. Tanto que consegue realçar até um dos sambas menos inspirados do nosso maior baluarte Chico Buarque (“Subúrbio”), mostrando-se à vontade também quando mergulha em obra alheia. 

O quase maxixe “Panos e Planos” (parceria com Luiz Carlos Máximo) é um dos pontos altos de um repertório homogêneo em que se torna complicado explicitar destaques. O fato, contudo, é que as canções de autoria do próprio artista terminam por sobressair, como é o caso de “Agradeça”, “Cartas de Metrô” e “Tem Hora” (esta uma parceria com Zé Paulo Becker), não obstante a presença de bonitos temas alheios, a exemplo da melancólica “Sonho e Saudade” (de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho).
Moyseis Marques é nome que cresce e ganha espaço no nosso cancioneiro. Faz jus ao destaque entre a turma nova pelo muito de categoria que vem imprimindo ao seu trabalho. Se você ainda não o conhece, está mais do que na hora de fazê-lo!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: PEDRO MARIANO

CD: “INCONDICIONAL”

Gravadora: EMI

 

Filho primogênito do casal Elis Regina e César Camargo Mariano (do casamento anterior dela com Ronaldo Bôscoli já havia nascido o hoje produtor musical João Marcelo), Pedro Mariano vem tentando consolidar o seu nome entre os intérpretes masculinos da nossa música popular. Diferentemente, no entanto, da irmã Maria Rita que, desde o início, foi recebida de maneira bastante efusiva tanto pela crítica quanto pelo público, o artista vem enfrentando alguma dificuldade em fazer com que seu trabalho seja reconhecido por uma fatia considerável do mercado consumidor nacional. Muito desse problema parece se derivar do fato de Pedro ter escolhido fazer uma música pop dançante, a qual possui uma parcela fiel de adeptos, mas que, de fato, (pelo menos no Brasil) nunca chegou a empolgar a grande massa.

Intérprete de grandes recursos vocais (que até agora não se arriscou na arte de compor), ele vem salutarmente se livrando, nos últimos tempos, de alguns vícios americanóides comuns a vários dos nossos artistas, como uma empostação acima do aconselhável e um excesso de uso de vibratos nos finais das frases melódicas. Dono de um timbre encorpado e muito bonito, o artista acaba de lançar, através da gravadora EMI, o CD “Incondicional”.

Na verdade, não se trata de um trabalho gerado recentemente. O disco foi gravado em 2004 mas, recusado pela direção (à época) recém empossada da multinacional, teve que esperar por cinco anos para aportar nas prateleiras (durante esse período Pedro chegou, inclusive, a lançar outros dois álbuns, ambos pela gravadora Universal, um deles ao vivo do qual constaram algumas das canções presentes no disco que ora chega às lojas). Mas o grande mérito é que o produto não soa datado. Muito pelo contrário, trata-se de ótima amostra de um artista que vem evoluindo a olhos vistos e, se ainda não encontrou o caminho totalmente correto para expressar o seu talento, vem se aproximando dele cada vez mais.

O CD em tela é composto por quatorze faixas, dentre as quais “A Medida da Paixão”, a qual pode ser ouvida diariamente na reprise da telenovela global “Senhora do Destino” (a canção fez parte de sua trilha sonora). No repertório, encontram-se alguns temas assinados por autores recorrentes na discografia de Pedro, como Jair Oliveira (que assina “Memória Falha”, “A Casa da Dor”, esta contando com a participação especial de Luciana Mello, e uma de suas melhores composições, “Colorida e Bela”, de longe a mais bonita faixa do álbum) e Daniel Carlomagno (presente com duas músicas medianas: “Procura” e “Inverno”), mas ele abre o seu leque de intérprete para visitar ótimas criações de Frejat (o rock/funk “Três Moedas”, parceria com George Israel e Mauro Santa Cecília), Moska (“O Jardim do Silêncio”) e Cláudio Lins (o samba pop “Teatrinho”). Há ainda que se destacar a inédita parceria entre Lulu Santos e Marcos Valle (“Próxima Atração”) e uma interessante canção do emergente Edu Tedeschi (“Estrela de Papel”).

Os arranjos são de uma felicidade ímpar e a produção, caprichada, termina por valorizar passagens menos inspiradas de um trabalho que, ao final, soa acima da média. Entre pegadas dançantes de sabor black e baladas carregadas de tons passionais, o CD em tela se consolida como um dos melhores da discografia de Pedro Mariano.

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Desafiando a famosa suposta maldição do Índio Serigy, o grupo sergipano NaurÊa está de volta à terrinha, após vitoriosa excursão por alguns países europeus. Os talentosos rapazes trazem na bagagem muitas experiências e vários contatos novos. Em tempo: para quem gosta de música feita com alegria e qualidade, não pode deixar de conhecer o primeiro DVD da banda. Intitulado “Sambaião Vivo!”, foi gravado em março de 2007 aqui em Aracaju, na Rua da Cultura, e traz no repertório várias boas canções, tais como “Álcool ou Acetona”, “Dengo”, “Bomfim” e “Sexta-Feira”. Como mimo, há as participações especiais de Genival Lacerda, Isaar França, Silvério Pessoa e do DJ Dolores.

 

·                     De Recife, onde está formatando seu primeiro CD, nossa Patrícia Polayne informa que as bases do esperado trabalho já estão prontas. Esta semana ela entrará em estúdio para gravar as vozes. Até dezembro estará disponível nas melhores lojas!

 

·                     Zé Ramalho Canta Luiz Gonzaga” é o título da compilação que está chegando às lojas através do selo Discobertas (de propriedade do pesquisador musical Marcelo Fróes). Trata-se de uma homenagem do paraibano ao Rei do Baião que, assim, lembra os vinte anos de sua morte. “Amanhã Eu Vou” é a única faixa inédita, gravada especialmente para o projeto. As outras foram pinçadas de diversos trabalhos realizados pelo artista durante sua carreira. Gonzagão participa de “Fica Mal com Deus” (de Geraldo Vandré).

 

·                     A atriz Bia Sion lança, também através do selo Discobertas, o CD intitulado “A Levada do Jazz” que conta com a assinatura do baixista Dôdo Ferreira na direção musical. O repertório é todo cantado em inglês e traz canções criadas, entre outros, por Cole Porter, Irving Berlim e George & Ira Gershwin.

 

·                     Apesar do indesculpável atraso, acabou de chegar ao marcado o CD contendo a trilha sonora oficial da microssérie “Capitu” que a TV Globo exibiu em dezembro do ano passado. Trata-se de uma pequena obra-prima na qual belos temas instrumentais assinados por Chico Neves e Tim Rescala convivem pacificamente ao lado de canções interessantíssimas executadas pela banda Manacá (cuja vocalista é Letícia Persiles – excelente cantora – que no programa interpretou a personagem-título na fase juvenil). Há ainda temas já conhecidos nas vozes de Caetano Veloso (“Minhas Lágrimas”) e Nelson Cavaquinho (“Juízo Final”). Destaque para o folk-rock “Elephant Gun” com o grupo norte-americano Beirut.

 

·                     Fernanda Takai está lançando CD e DVD gravados ao vivo durante show realizado em maio deste ano no Teatro Municipal de Nova Lima (MG). O repertório é calcado do seu anterior CD de estúdio, o cultuado “Onde Brilhem os Olhos Seus”, no qual a mineira mergulhou na obra da cantora Nara Leão. Intitulado “Luz Negra”, o projeto chega às lojas através da gravadora Deckdisc e traz algumas canções inéditas na pequenina voz de Fernanda, a exemplo de “Você Já Me Esqueceu” (de Fred Jorge, sucesso da Jovem Guarda), “Ben” (de Walter Scharf e Don Black, um dos primeiros hits de Michael Jackson) e “Sinhá Pureza” (de Pinduca, música que catapultou Eliana Pittman às paradas de sucesso na década de setenta).

 

·                     O terceiro CD da cantora Pitty, que chega às lojas nos próximos dias, vai trazer clima psicodélico em algumas faixas. Intitulado “Chiaroscuro” e produzido por Rafael Ramos, o repertório será inteiramente autoral. A primeira faixa de trabalho (“Me Adora”) já começa a tocar nas rádios. O disco vai sair também no formato vinil.

 

·                     A assessoria da gravadora Biscoito Fino confirma que, até o final do ano, serão lançados dois novos CD’s de Maria Bethânia, ambos contando com repertórios primordialmente inéditos. Dentre as músicas confirmadas estão: “O Que Eu Não Conheço” (de Jorge Vercillo e J. Velloso), “Você pra Mim” (de Guilherme Arantes), “É o Amor Outra Vez” (de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro) e “Da Saudade” (de Moska e Chico César).

 

·                     Tânia Mara põe nas lojas CD e DVD intitulados “Falando de Amor Ao Vivo”. De tom eminentemente populista, o projeto conta com as participações especiais de Roberta Miranda, Alexandre Pires e Elba Ramalho.

 

·                      “Diamantes ao Vivo – 25 Anos” é o título do CD e DVD que servem para comemorar um quarto de século da carreira do cantor e compositor Claudio Zoli. Trata-se de um projeto retrospectivo, encampado pela gravadora Universal, no qual o artista rebobina sucessos próprios (“Felicidade Urgente” e “Livre pra Viver”) e alheios (“Linha do Equador”, de Djavan e Caetano Veloso, e “Que Maravilha”, de Jorge Ben Jor e Toquinho).

 

·                     O novo CD de Ana Carolina (“Nove”) chegará às lojas na próxima semana e trará duas participações especiais norte-americanas: John Legend (em “Entreolhares”) e Esperanza Spalding (em “Traição”, faixa que conta também com a presença do brasileiríssimo Daniel Jobim ao piano).

 

·                     A banda Vulgue Tostoi (formada pela dupla Jr Tostoi e Marcello H.) colocará brevemente no mercado o seu segundo álbum. Intitulado “Sistema Delirante Amplo e Defasado da Realidade”, o novo trabalho contará com as participações especiais de Lenine, Katia B e do músico Serginho Trombone.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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