MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

R E S E N H A     1

 

Cantor: CLAUDIO LINS

CD: “CARA”

Gravadora: BISCOITO FINO

 

Claudio Lins é filho de Ivan Lins. Claudio Lins é filho de Lucinha Lins. Neste país do nepotismo, isso assim ressaltado poderia querer restringir o filho ao talento dos pais famosos. Nada mais injusto. Claudio tem luz própria. Artista plural, mais conhecido como ator do que como cantor, ele lançou o seu primeiro disco há exatos dez anos atrás. Já ali, embora que de maneira esfumaçada, se pôde vislumbrar um compositor de boas ideias, fato que ora se comprova através do lançamento de “Cara”, seu ótimo segundo álbum que acaba de chegar às lojas através da gravadora Biscoito Fino e que traz a assinatura do pianista Rafael Vernet na produção musical.

 

Durante o hiato fonográfico de uma década, ele participou de diversos musicais no teatro, de algumas novelas na televisão e forneceu algumas de suas melhores canções para outros colegas gravarem: caso de “Impaciência” (por Luciana Mello), “Cupido” (por Maria Rita) e “Teatrinho” (por Pedro Mariano), todas elas incluídas no seleto grupo das onze faixas que compõem o repertório do novo trabalho e as quais resultam, sem sombra de dúvida, em três dos grandes momentos do álbum.

 

Todo ele autoral, o disco recém-lançado mostra um compositor inspirado, seja melodicamente falando, seja através dos petardos explicitados nas letras inteligentes. Também um bom instrumentista, ele se cercou de apetrechos mínimos para realizar um disco acima da média. Diferentemente do anterior (de textura mais elétrica), agora Claudio optou por uma trilha basicamente acústica. Tanto que, na maioria das canções, estão presentes, além do piano e do teclado rhodes (por ele mesmo executados), apenas o baixo de Zeca Assumpção e a bateria de Kiko Freitas, dois ícones da nossa música (ressalte-se aqui que as bases do disco foram todas gravadas ao vivo).

 

Mas há também uma ou outra luxuosa interseção, como as presenças do guitarrista Fernando Caneca e do percussionista Armando Marçal (na ótima “DDD”) e a inclusão de belas cordas levadas a cabo pelo Quarteto Bessler (regido pelo maestro Gilson Peranzzetta) em “Por Toda Vida”, criação dividida com o pai Ivan e Ronaldo Monteiro de Souza. Aliás, são poucas as parcerias constantes, vez que o comum é a assinatura sozinha de Claudio na maioria das canções apresentadas. As outras exceções ficam por conta de “Dois Voando” (feita com Márcio Guimarães) e “Lotação Esgotada” (composta ao lado de Carlos Careqa).

 

Como intérprete, Claudio possui bons recursos vocais e se mostra bastante afinado. Familiarizado com as mensagens de sua lavra, bem como com a arte de representar, termina por conseguir resultados fantásticos como, por exemplo, em “Ciúme”, na qual sua voz aparece acompanhada somente pelo piano.

 

Já as participações surgem de maneira afetiva. Assim, ao longo do trabalho, o ouvinte pode se deleitar ainda com as belas vozes da mamãe Lucinha Lins, de Pedro Mariano e de Luciana Mello. Outros destaques do disco ficam por conta de “Bala Meia-Volta” (contundente retrato da violência que permeia as grandes cidades), de “Cegueira” (balada inspirada em livro de José Saramago) e de “Cair e Chegar” (suingante funk de abertura).

Trata-se de um CD muito bem-vindo que vem ratificar o talento particular de Claudio Lins, credenciando-o para vôos cada vez mais altos. Quem viver, verá.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: ARLINDO CRUZ

CD: “MTV AO VIVO” em 2 VOLUMES

Gravadora: DECKDISC

 

Valorizado como se encontra atualmente no mercado fonográfico nacional, o samba tem como representantes maiores, no nosso cenário nacional, dois grandes artistas que dispensam comentários: Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz. O primeiro já de algum tempo vem obtendo o reconhecimento merecido (e isso se faz claro não somente pela expressiva vendagem de discos como também pela agenda lotada de shows e convites para participação em trabalhos de colegas).

 

O segundo, no entanto, mesmo contando com trinta anos de história (ele surgiu no Cacique de Ramos, já fez parte do grupo Samba de Quintal e gravou alguns bons discos em dupla com Sombrinha), precisou, para de fato arrebentar a boca do balão, do aval de Maria Rita que foi, de fato, a responsável pelo upgrade na carreira do artista quando, em seu mais recente álbum totalmente voltado para o samba, incluiu seis canções de autoria de Arlindo. É verdade que, antes disso, seu nome já vinha em ascendência. Diversos outros artistas já haviam, anteriormente, gravado criações do sambista, mas, por ironia do destino, foi necessário o credenciamento dado por uma típica representante da MPB para que ele virasse mania nacional.

 

Aproveitando a ótima maré, a gravadora Deckdisc pôs recentemente nas lojas um projeto que Arlindo gravou dentro do formato “MTV Ao Vivo”, o qual foi lançado em dois volumes de CD e também em DVD. Registrado durante show realizado no Citibank Hall, em São Paulo, em novembro do ano passado, e produzido por João Augusto, o trabalho mostra que realmente Arlindo é um compositor de inspiração farta. São tantas as músicas de qualidade por ele criadas que várias delas tiveram que ser engatilhadas em medleys para que, assim, pudesse ser mostrado um painel que abrangesse de forma considerável a sua obra autoral. O repertório de cada um dos volumes dos discos é próprio, com exceção das faixas “Vê Se Não Demora”, “Saudade Louca” e “Mão Fina” que estão presentes em ambos. É que elas receberam as participações especiais de Zeca Pagodinho, Beth Carvalho e Marcelo D2, respectivamente, nos vocais.

 

Há que se ressaltar a contagiante alegria de Arlindo. Ele está em casa, recebendo seus amigos, cantando suas canções (acompanhadas com ênfase pelo público presente: “O Que É o Amor”, “Ainda É Tempo Para ser Feliz” e “O Show Tem Que Continuar” são bons exemplos disso) e rodeado por músicos que realmente entendem do riscado (Julinho Santos ao violão, Dirceu Leite aos sopros e Ovídio Brito na percussão estão entre eles), todos capitaneados pelo maestro Ivan Paulo, responsável pela direção musical.

 

Com voz talhada para o samba, Arlindo passeia entre sucessos e boas músicas novas (“Não Dá” e “Bom Aprendiz” pertencem a este segundo grupo), mostrando um leque de diversos tipos de samba. Suas composições são legais de verdade. Contagiam o ouvinte, possuem ideias interessantes nas letras (que variam de temas ligados ao coração como em “Fora de Ocasião”, “A Pureza da Flor” e “Chegamos ao Fim” até críticas sociais como em “Amor à Favela” e “Numa Cidade Muito Longe Daqui”, esta um dos grandes momentos criativos do artista, já registrada anteriormente por Leandro Sapucahy e por Rogê) e as melodias são graciosas com refrões facilmente assimiláveis. No repertório selecionado, há, ainda, homenagens ao seu local de nascimento, o bairro carioca de Madureira (em “Meu Lugar”) e à escola de samba do coração (em “O Império do Divino”).

 

Ao resumir sua carreira, Arlindo Cruz ressalta a simplicidade dos gênios e celebra, em hora muito bem vinda, o seu talento incontestável. É festa das boas! 

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     Na sexta-feira, dia 21, quem é do bem não pode perder o show da dupla Chiko Queiroga & Antônio Rogério no Teatro Tobias Barreto, a partir das 21 horas. Na oportunidade, eles estarão lançando um novo CD e registrando imagens que servirão de base para um DVD a ser lançado em breve. Eu estarei por lá!

 

·                     Amanhã, dia 18 (terça-feira), a partir das 19 horas, o cantor e compositor J. Velloso (sobrinho de Maria Bethânia e Caetano Veloso) estará aqui em Aracaju divulgando o lançamento de seu novo CD. O coquetel com entrada franca será o recheio da coletiva com a imprensa local que servirá também como noite de autógrafos. Para os antenados de plantão, anotem aí o local: Restaurante Miller (quase em frente ao Shopping Jardins).

 

·                     Ao contrário do que sugere o título de seu novo trabalho, “Sem Nostalgia”, Lucas Santtana apresenta doze faixas nas quais os tons menores preponderam. A ambiência é soturna e o resultado soa experimental. Já nas lojas de maneira independente e produzido pelo próprio artista ao lado de companheiros de jornada, o CD traz quatro temas instrumentais e cinco músicas cantadas em inglês. No idioma pátrio surgem somente “Cá Pra Nós” (parceria com Ronei Jorge), “Cira, Regina e Nana” e a regravação de “Amor em Jacumã” (deliciosa canção de Dom Romão e Luiz Ramalho que recentemente mereceu impecável registro de Ithamara Koorax). Lucas canta com sinceridade e seu timbre lembra muito o de Caetano Veloso. Um bom disco, mas que certamente será apreciado por poucos…

 

·                     Ney Matogrosso já se encontra em estúdio gravando as canções que farão parte de seu próximo CD intitulado “Beijo Bandido”. No repertório, temas assinados por Geraldo Azevedo (“Bicho de Sete Cabeças”), Tom Jobim (“Tema de Amor para Gabriela”), Vinicius de Moraes (“Poema dos Olhos da Amada”), Luiz Bonfá (“De Cigarro em Cigarro”), Vitor Ramil (“Invento”), Cazuza (“Mulher sem Razão”, parceria com Dé e Bebel Gilberto) e Roberto e Erasmo Carlos (“A Distância”).

 

·                    Além de várias parcerias de Sérgio Dias com Tom Zé, o aguardado álbum de canções inéditas dos Mutantes (que tem agora Bia Mendes como vocalista) trará a faixa “O Careca”, música presenteada à banda por Jorge Ben Jor. Intitulado “Haih… or Amortecedor”, o disco será lançado em setembro nos Estados Unidos para somente chegar ao Brasil no próximo ano. Dentre as treze faixas estão “Teclar”, “Bagdad Blues”, “Anagrama”, “Neurociência do Amor” e “Nada Mudou”.

 

·                     Chegará em breve ao mercado o segundo CD de Thiago Antunes, cantor e compositor campinense. A maioria do repertório é formada por canções inéditas, mas há a regravação de “Nervos de Aço”, um dos clássicos da obra de Lupicínio Rodrigues.

 

·                    Produzido por Thiago Marques Luiz, acaba de chegar às lojas, através da gravadora Lua Music, o CD “Elas Cantam Paulinho da Viola” em que as cantoras Cida Moreira, Milena, Fabiana Cozza, Alaíde Costa e Célia homenageiam o famoso compositor portelense. Trata-se do registro em estúdio de boa parte do repertório de show homônimo realizado pelas artistas em julho do ano passado em São Paulo. Embora os arranjos soem como mais do mesmo e o trabalho gráfico seja apenas razoável, pelo encontro dessas cinco vozes iluminadas já vale a pena conhecer o álbum. O repertório contempla canções menos conhecidas de Paulinho (a exemplo de “Ansiedade”, “Chuva”, “Não Quero Você Assim” e “Nada de Novo”), mas a maior fatia resgata mesmo músicas que já fazem parte do inconsciente coletivo nacional (como “Coração Leviano”, “Pecado Capital”, “Argumento”, “Sinal Fechado” e “Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida”).

 

·                     O cantor e compositor pernambucano André Rio acaba de lançar o CD “Rapsódia Nordestina”, que traz como destaque uma canção inédita que ganhou de presente de Moraes Moreira, a qual homenageia o forró nordestino. O trabalho conta ainda com as participações especiais de Elba Ramalho e Cezinha do Acordeon.

 

·                     A gravadora Biscoito Fino lança o CD “Afro Samba Jazz” que reúne o pianista Philippe Baden Powell (filho do compositor Baden Powell) e o violonista Mario Adnet. Como o título do trabalho já entrega, o repertório se concentra nos afro-sambas compostos por Baden ao lado de Vinicius de Moraes, desta feita com forte tonalidade jazzística. Embora basicamente instrumental, o álbum conta com a participação especial de Mônica Salmaso nas faixas “Canto de Yemanjá” e “Ladainha de Yansã”.

 

·                     Para comemorar seus setentas anos de vida, o produtor e gaitista Rildo Hora tenciona lançar, ainda este ano, dois discos. Um deles será gravado em dueto com a filha Patrícia Hora e conterá parcerias dele com Lysias Ênio, Humberto Teixeira e Luiz Carlos da Vila. O outro terá aura camerística e trará suas músicas embaladas por arranjos para gaita e quarteto de cordas.

 

·                     Roberta Sá lotou recentemente a casa Vivo Rio (RJ) em memorável apresentação que servirá de base para o lançamento, em breve, de seu primeiro DVD (que sairá também em CD). A cantora reviveu músicas de seus dois álbuns oficiais (“Braseiro” e “Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria”). As participações especiais ficaram por conta do talentoso maridão Pedro Luís (em “Girando na Renda”), Marcelo D2 (em “Samba do Balanço”) e Hamilton de Holanda (bandolim em “Novo Amor”). Como presente para os fãs, o projeto chegará às lojas com duas faixas-bônus gravadas em estúdio: “Peito Vazio” (de Cartola, que conta com a presença de Ney Matogrosso) e “Quando o Carnaval Chegar” (que surge com a participação vocal de seu autor, Chico Buarque).

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


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