MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantor: ARNALDO ANTUNES

CD: “IÊ IÊ IÊ”

Selo: ROSA CELESTE

 

Desde que saiu da banda Titãs e enveredou pela carreira solo, Arnaldo Antunes vem lançando discos com regularidade. E se os iniciais se revestiam de caráter experimental-concretista, com as letras das canções dando as cartas em detrimento das melodias, a partir de sua participação no CD dos Tribalistas, ao lado de Carlinhos Brown e Marisa Monte, Arnaldo vem modelando suas músicas, tornando-as mais palatáveis ao ouvido médio.

No recém-lançado álbum, intitulado “Iê Iê Iê” e que acaba de chegar às lojas através do selo do próprio artista, Rosa Celeste, até as letras deram uma amaciada geral. Em alguns casos, até demais, o que se torna um pouco preocupante, pois, na tentativa de popularizar a sua obra, Arnaldo não deve se esquecer de que uma das características que o diferencia da média geral dos autores nacionais é exatamente o dom inato sempre demonstrado no fino trato com as palavras e ideias. Para contrabalançar essa constatação, no entanto, há que se fazer registrar uma outra: que ele agora está cantando. Sim! Não se espere um intérprete de grandes recursos vocais, mas o fato é que a voz petrificada de outrora continua gutural, mas já entoa as melodias de forma bem agradável, amoldando-se com certa facilidade aos acordes das mesmas. Grave ao extremo, o timbre de sua voz na verdade termina conferindo um charme a mais à sua personalidade artística.

O novo disco foi produzido por Fernando Catatau, guitarrista cearense integrante da banda Cidadão Instigado e em franca ascensão no mercado fonográfico brasileiro. Composto por doze faixas, todas elas de autoria do próprio Arnaldo, a maioria ao lado de vários parceiros (além dos já citados Brown e Marisa, aparecem nos créditos: Ortinho, Marcelo Jeneci, Betão Aguiar, Liminha, Paulo Miklos, Branco Mello, Marcelo Fromer, Sérgio Britto e Ciro Pessoa), o álbum traz uma sonoridade propositalmente calcada nos anos sessenta. É composto por canções que têm o rock daquela época como mote, daí várias referências sonoras, inclusive nos timbres dos instrumentos utilizados, à Jovem Guarda, ícone do iê iê iê nacional, conforme se explicita, por exemplo, em “O Que Você Quiser”, “Luz Acesa” e “Vem Cá”, esta uma canção de batida funkeada que retrata dois jovens à cata de um lugar tranquilo para namorar.

A faixa-título soa como a carta de intenções desse disco dançante e possui grandes chances radiofônicas, mas há outros momentos igualmente legais. É o que ocorre com a canção “A Casa é Sua” que soa romântica e graciosa nas proporções certas e gruda feito chiclete logo na primeira audição. E mais adiante a excelente “Sua Menina” se consolida como um dos pontos altos do CD, ao lado da direta “Sim ou Não”. A saturação com os tempos modernos misturada à vontade de aproveitar um pouco de solidão é o tema básico da mais calminha “Longe”. Já a faixa “Invejoso” vem acompanhada por uma melodia que beira o brega e sua letra, construída propositalmente em cima das chamadas rimas pobres, ressalta a podridão de espírito do tipo de pessoa a que os versos remetem. “Envelhecer”, por seu turno, traz uma visão consciente e bem-humorada dos percalços advindos com o passar dos anos.

Em resumo, não se trata de um CD com grandes pretensões, mas um trabalho de banda que, abusando da estética cartoon assumida no colorido projeto gráfico, serve para fazer aflorar, cada vez mais, a veia pop de Arnaldo Antunes.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantor: DIOGO POÇAS

CD: “TEMPO”

Gravadora: WEA

 

Em um país de tantas cantoras, quando aparece um novo intérprete masculino, os deuses da música até batem palmas. É o que parece agora acontecer com o surgimento de Diogo Poças. Na verdade, o rapaz surge no esteio da grande aceitação (mais por parte da mídia do que – ainda – por parte do público) de sua irmã, a cantora Céu. Grande aposta da gravadora WEA para este ano, o jovem alto de porte esguio tenta mostrar também (e talvez em primeiro plano) o seu trabalho enquanto compositor, mas se faz justo constatar que, não obstante a extensão limitada, sua voz grave possui um timbre bastante agradável, o que encontra guarida na forma suave que ele canta, sem esganiços desnecessários nem vícios americanóides de impostação tão comuns nos dias atuais.

Em seu primeiro disco intitulado “Tempo”, o qual acaba de aportar nas lojas, Diogo se mostra um criador inspirado que sabe escrever boas letras e criar melodias definidas. Não tentou reinventar a roda nem tampouco soar moderninho. Fez a lição de casa com esmero e a verdade é que estreia no mercado fonográfico com o pé direito e trazendo um álbum em que a elegância é a palavra de ordem.

Produzido com competência pelo pianista Pepe Cisneros e rodeado por músicos de ponta a exemplo de Chico Pinheiro (violão), Laércio da Costa (percussão), Cuca Teixeira (bateria), Sizão Machado e Zeca Assumpção (baixo), Diogo apresenta-se em treze faixas escolhidas a dedo. Esperto mas talvez ciente de que ainda não possui uma obra autoral que viesse a dar conta de um trabalho inteiro, dividiu o repertório quase que meio a meio entre canções de sua própria autoria (são sete, assinadas ao lado dos parceiros Jessé Santos, André Caccia Bava e o maestro Edgard Poças, seu pai) e releituras de temas alheios (os seis restantes).

Como o próprio título já denota, a preocupação com o tempo, esse deus invisível e cruel que rege a humanidade, faz-se refletir em várias passagens, porém mais especificamente na delicada faixa “Etéreo” e na ótima canção “Tempo de Viver”. E embora o samba seja prioridade entre as músicas apresentadas (como a criativa “Carioquinha”, que brinca com os pontos turístico do Rio e de Sampa, e as medianas “Vizinha da Frente” e “Chumbo Quente”), há espaço para um reggae de primeira linha (“Pedacinho de Vida”), o qual soa saudosista na medida certa e se credencia como uma das canções com melhores chances radiofônicas. A já citada mana Céu aparece como convidada especial no sambalanço “Nada Que Te Diz Respeito”, recheado de scratches a cargo do DJ Marco.

No terreno das releituras, se a versão para “A Linha e o Linho” (de Gilberto Gil) termina perdendo muito de sua beleza harmônica com o arranjo equivocado que priorizou um andamento bem mais rápido que o antológico registro original do autor, a opção por matizar “O Astronauta” (de Baden Powell e Vinicius de Moraes) como uma bossa escancarada resultou bastante feliz. E se o clássico “Moonlight Serenade” perdeu em suntuosidade, “Saudades do Brasil em Portugal”, outro tema de Vinicius e composto originalmente como fado, ganhou em modernidade por ter sua tessitura-mãe amenizada. O CD termina com chave-de-ouro trazendo os bem-vindos resgates de duas pequenas obras-primas do cancioneiro nacional: “Maria Joana” (de Sidney Miller) e “Felicidade” (de Antônio Almeida e João de Barro, esta com o artista acompanhado apenas por piano).

Com o seu trabalho inaugural, Diogo Poças se mostra um nome promissor que pode, em breve, se transformar em um forte expoente da nossa MPB. É esperar para ver…

 

 

N O V I D A D E S

 

·                     O primeiro CD da banda Hori, capitaneada por Filipe Galvão (Fiuk), filho de Fábio Jr., já está nas lojas. O som é pop rock adolescente até porque o rapaz vai protagonizar, em breve, a nova temporada da novela teen “Malhação” da Rede Globo.

 

·                     Chegará às lojas brasileiras no próximo mês o CD “Bim Bom: The Complete João Gilberto Songbook”, o novo trabalho da cantora Ithamara Koorax, gravado ao lado do violonista, compositor e arranjador mineiro Juarez Moreira. Quem já ouviu, garante que está de arrepiar o álbum em que a intérprete carioca põe sua voz extraordinária a serviço do cancioneiro do maior representante da Bossa Nova. É ouro puro!

 

·                     Acaba de aportar nas lojas, através da gravadora Lua Music, o terceiro CD de Moisés Santana. Intitulado “Verso Alegoria”, o novo trabalho traz treze canções, onze delas de autoria do próprio artista. As únicas regravações ficam por conta de “O Mistério do Samba” (de Fred 04 e Marcelo Pianinho) e “Juízo Final” (de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares). Bom compositor, Moisés mostra sua versatilidade em temas como “Rosas no Caminho”, “O Desejo” e “Mondo Cane”, alguns dos melhores momentos do bom álbum que conta com as participações especiais de Andreia Dias, Virgínia Rosa e Wanderléa.

 

·                     E por falar em Wanderléa, ela realizou recentemente apresentação especial de seu novo show “Nova Estação” no Teatro Fecap, em São Paulo, com o objetivo de registrá-lo em vídeo para o lançamento de um DVD que chegará às lojas até o final deste ano. Há as participações de Johnny Alf, de Arnaldo Antunes e do grupo Ó do Borogodó.

 

·                     Já se encontra em estúdio paulista o cantor Cauby Peixoto gravando as canções que farão parte de seu próximo CD, no qual o artista dará voz somente a temas compostos pela dupla Roberto e Erasmo Carlos, dentre os quais: “Olha”, “O Show Já Terminou”, “De Tanto Amor”, “A Distância” e “Proposta”.

 

·                     O compositor pernambucano J. Michiles, autor de diversos frevos gravados por Alceu Valença e Elba Ramalho, lançou recentemente o CD “Asas do Frevo”. Trata-se de um produto independente que conta, além dos dois artistas anteriormente citados, com a adesão de outros grandes nomes do nosso cancioneiro, a exemplo de Maria Bethânia, Geraldo Azevedo, Amelinha, Chico César, Daniela Mercury, Lula Queiroga e Fafá de Belém. É alegria na veia!

 

·                     O grupo Casuarina lança CD dentro da série MTV Apresenta. Com a produção assinada por Rodrigo Campello, o registro feito ao vivo na Fundição Progresso (RJ) também sai do formato DVD. O repertório é prioritariamente formado por clássicos do samba, mas há algumas músicas compostas pelos próprios componentes. Há as participações especiais de Frejat, Moska, Wilson Moreira, Roberto Silva e da banda Moinho.

 

·                     A gravadora Universal confirma a intenção de gravar o espetáculo “Zii e Zie” (com o qual Caetano Veloso vem atualmente viajando pelo Brasil) em CD e DVD. O registro do show anterior “Obra em Progresso” deverá ser aproveitado como extras.

 

·                     Tetê Espíndola lança um novo trabalho conceitual em que mostra músicas criadas a partir de fragmentos de línguas já mortas ou em processo de extinção. “Babel Eyes – Música das Línguas Virgens” foi gravado em Paris, com uma orquestra formada por músicos de várias partes do mundo e arranjos assinados pelos brasileiros Alexandre Mihanovich, Gil Reyes e Kadosch.

 

·                     Margareth Menezes lançou recentemente o CD e DVD “Movimento AfroPopBrasileiro”. De cunho documental, o projeto traz o vídeo “A Expressão da Cultura Afro-Baiana”, que conta as origens e a evolução do axé music. Mas a base é mesmo o registro de show realizado no Teatro Castro Alves em 2007 que contou com as participações de diversos nomes da música baiana, dentre os quais Daniela Mercury, Mariene de Castro, Roberto Mendes, Saul Barbosa, Virgínia Rodrigues, Gerônimo e Tonho Matéria, além da Banda Didá, do Ilê Aiyê, do Olodum e dos Filhos de Gandhy.

 

·                     O violonista Jaime Alem, maestro há anos da exigente Maria Bethânia, acaba de lançar “Dez Cordas do Brasil”, seu primeiro disco solo, mergulhando de cabeça nos sertões brasileiros e trazendo como personagens principais a viola caipira e os ritmos rurais. Vale conferir!

 

·                     Fã confessa de Renato Russo que estaria a completar, se vivo fosse, cinquenta anos em 2010, a cantora Leila Pinheiro tenciona gravar um álbum somente com canções criadas pelo líder da banda Legião Urbana. O já aguardado tributo deverá se chamar “Se Fosse Só Sentir Saudade”.

 

·                     Djavan está terminando de gravar no Rio de Janeiro (RJ) mais um CD, o 19º de sua discografia iniciada em 1976. Será lançado ainda em 2009 e virá recheado de canções inéditas.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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