MUSIQUALIDADE, por Rubens Lisboa

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: ADRIANA PARTIMPIM

CD: “PARTIMPIM DOIS”

Gravadora: SONY MUSIC

 

Quando lançou, em 2004, o seu primeiro disco voltado para o universo infantil (que teve DVD ao vivo editado no ano seguinte), a gaúcha Adriana Calcanhotto certamente não esperava a grande receptividade que obteve. Com o pseudônimo de Adriana Partimpim, viu os shows lotarem, a crítica tecer rasgados elogios e as vendagens subir às alturas. Cinco anos após, a cantora lançou há algumas semanas, através da gravadora Sony Music, o segundo volume do projeto, o qual já chegou às lojas com a expressiva tiragem inicial de cinquenta mil cópias.

Adriana é dessas artistas que programa milimetricamente sua carreira. Sabe o que quer e dá cada passo de uma vez, atenta a todos os detalhes. Talvez por isso venha conseguindo se manter no topo das nossas intérpretes mais respeitadas, ainda que seus lançamentos fonográficos sejam esporádicos e que, nos últimos tempos, não tenha conseguido, de fato, um grande sucesso radiofônico.

O recém-lançado CD foi produzido por ela e pelo baixista Dé Palmeira, nome integrante da formação inicial da banda Barão Vermelho, o qual vem se fazendo constante nos créditos dos discos de Adriana. Composto por onze faixas, o álbum traz, no repertório, várias músicas que não foram compostas originalmente para a criançada, mas que terminam se encaixando perfeitamente no conceito do trabalho muito pela felicidade dos arranjos que se mostram lúdicos sem cair na pieguice. Um dos exemplos mais bem acabados disso é a faixa “O Trenzinho do Caipira”, canção tão bonita quanto já revisitada por vários nomes do nosso cancioneiro. Envolvida por adequada programação eletrônica, a melodia envolvente de Heitor Villa-Lobos encontra na voz suave de Adriana um porto seguro, ainda mais que a cantora faz questão de realçar, com dicção irretocável, os inspirados versos criados pelo poeta Ferreira Gullar.

Dentre os três temas autorais apresentados, o melhor é “Baile Partimcundum” (composta com o citado Dé), envolvente canção carnavalesca valorizada pelos diversos instrumentos de sopro levados a cabo pelo experiente Dirceu Leite. E se “Ringtone de Amor” se mostra com pouca força, “Menino, Menina” denota que a sulista Adriana pode surpreender na seara nordestina.

Uma das virtudes – já comprovada anteriormente – da intérprete é redescobrir canções que passaram batidas quando de seus registros originais, conferindo-lhes cores insuspeitas. Aqui, faz-se o caso da deliciosa “Na Massa”, ótima parceria de Davi Moraes e Arnaldo Antunes, e de “Alexandre”, uma extensa construção poética de Caetano Veloso, gravada no CD “Livro” (de 1997). Ainda de universos outros, Adriana resgatou, aqui com resultado mediano, “O Homem Deu Nome a Todos Animais”, versão de Zé Ramalho para uma criação de Bob Dylan, e o hit da Jovem Guarda “Gatinha Manhosa” (de Roberto e Erasmo Carlos), momento em que se faz acompanhar apenas ao violão.

Dentre os melhores momentos, no entanto, figuram “Alface”, de Cid Campos e Edward Lear, traduzida por Augusto de Campos (em impagável registro sonoro) e o sambaião “Bim Bom”, de João Gilberto (que conta com base percussiva sampleada do Olodum). Completa o repertório a delicada “As Borboletas” (outra de Cid Campos, agora em parceria com Vinicius de Moraes), trazendo sons de insetos colhidos diretamente da floresta que rodeia a casa da cantora.

Adriana Partimpim conseguiu construir um CD quase à altura do primeiro volume e que, decerto, deverá cair no gosto tanto dos guris quanto dos adultos. Com habilidade e perspicácia, ela lança mais um produto de qualidade que lhe confirma a sensibilidade ímpar.

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: SANNY ALVES

CD: “SAMBA E AMOR”

Gravadora: FINA FLOR

 

A cantora e também atriz carioca Sanny Alves acaba de lançar, através da gravadora Fina Flor, o seu primeiro CD. Com o título de “Samba e Amor” (retirado da canção homônima, pérola composta em 1969 por um Chico Buarque em início de carreira) e produzido com a competência de sempre pelo violonista Ruy Quaresma, o álbum é composto por doze faixas.

Trata-se de um disco onde o samba predomina (como tantos que vêm chegando ao mercado ultimamente). A diferença é que o samba que Sanny apresenta é, ao mesmo tempo, contagiante e elegante. Tanto que, no repertório, cabe até a inclusão de uma canção com clima de valsa da lavra de Tom Jobim em sua plenitude criativa (“Tema de Amor de Gabriela”), sem que com isso haja perda de homogeneidade do trabalho.

Ancorada por músicos de ponta (dentre os quase Fernando Merlino no piano, Jurim Moreira na bateria, Zé Luiz Maia no baixo e Andrea Ernest na flauta), Sanny, que é filha do contrabaixista Luiz Alves, construiu um CD bem bacana, fácil de se ouvir. Um pesado naipe de metais faz a festa logo na faixa de abertura, “Samba de Luanda” (parceria do citado Ruy com Nei Lopes), fazendo a ponte entre as culturas do Brasil e da África. Do injustamente esquecido Sidney Miller, a cantora resgata “Nós, os Foliões” que compara o tempo de um relacionamento amoroso com a fugacidade de um Carnaval. Há ainda outra boa lembrança: “Quebra Coco”, de autoria de Tia Léa, e temas relacionados ao poder de dar a volta por cima se fazem presentes em canções como, por exemplo, “O Lado Bom” (de Wilson das Neves e Délcio Carvalho).

Experiente, posto que já participou de várias gravações em coros, jingles e participações em CD’s gravados para o mercado japonês (onde é relativamente conhecida), Sanny se mostra segura com sua voz potente de timbre claro e definido. Afinada ao extremo, ela, que já participou de musicais elogiadíssimos pela crítica (tais como “Missa dos Quilombos”, “Havana Café” e “Divina Elizeth”, no qual interpretou o papel-título), bebe na escola das cantoras tradicionais sem, no entanto, se deixar levar pelo caminho fácil (e perigoso) das imitações. A artista, neste trabalho inaugural, já demonstra personalidade própria, ainda presenteando os ouvintes (um charme a mais!) com uma entonação por vezes meio bluesy.

Os melhores momentos desse bem-vindo disco ficam por conta da faixa-título, de “Samba do Tamborim” (de Rodrigo Penna Firme, com ares de gafieira), e de “Maracatu do Meu Avô” (outra afiada criação de Nei Lopes, desta feita ao lado de Leonardo Bruno). Nei, aliás, é um grande incentivador da cantora, tanto que no seu CD “Chutando o Balde”, lançado no primeiro semestre deste ano, o tarimbado sambista fez questão de tê-la ao seu lado, como convidada especial, dividindo os vocais da corajosa faixa “Deusas e Devassas”.

Sanny Alves é uma intérprete pronta e talhada para vôos cada vez mais altos. Que o reconhecimento lhe chegue rapidamente, pois o seu talento assim o exige!  

 

 

N O V I D A D E S

 

 

·                     O poeta e pesquisador musical Euclides Amaral acaba de lançar o livro “O Guitarrista Victor Biglione & a MPB”, o qual contém textos e imagens que perpassam a carreira do músico argentino naturalizado brasileiro. Através de artigos, entrevistas e matérias publicadas em jornais, revistas, livros e sites, o leitor poderá conhecer um pouco mais do que pensa o famoso músico, inclusive no que tange aos vários gêneros musicais que ele domina. O livro traz ainda um ensaio contendo informações sobre artistas estrangeiros que influenciaram a nossa música e diversas fotos de Biglione com alguns dos incontáveis artistas com os quais ele vem atuando desde a década de 1970. Já quanto ao autor, Euclides, faz-se mister ressaltar sua atuação como pesquisador musical da Biblioteca Nacional e do Instituto Cultural Cravo Albin, produzindo verbetes para o site dicionariompb.com.br, também utilizados no Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira. Imperdível!

 

·                     Em breve chegará às lojas a trilha sonora da nova telenovela global das dezoito horas, “Cama de Gato”, reunindo fonogramas gravados, entre outros, por Marisa Monte (“Pedindo Pra Voltar”), Seu Jorge (“Seu Olhar”), Jota Quest (“La Plata”), Fernanda Takai (“Odeon”), Vanessa da Mata (“Um Dia, Um Adeus”), Maria Gadú (“Linda Rosa”) e Titãs (“Pelo Avesso”, o tema de abertura).

 

·                     Profiterolis é uma banda de Recife (PE), formada por sete jovens (Tomaz Alves: voz, violão e guitarra; Lara Klaus: voz, violão e percussão; André Galamba: guitarra; Dídimo Jr.: teclado; Leonardo Guedes: bateria; Mateusi: baixo e Paulo Jr.: efeitos), cuja proposta musical se baseia em valorizar a canção, sem comprometimento com este ou aquele gênero. É essa galera que acaba de lançar, de maneira independente, o primeiro CD, contendo um repertório totalmente composto por músicas próprias. Intitulado “Pare e Siga”, o trabalho apresenta oito faixas, dentre as quais se destacam “Toma o Tempo Todo Pra Você” e “Linha Reta”.

 

·                     O compositor Madan terminou recentemente de gravar as canções que farão parte de seu novo álbum, em breve no mercado. Intitulado “Solidão ou a MPB Está Morta, mas Juro que Não Fui Eu”, o trabalho contará com as participações especiais de Zeca Baleiro e Carlos Navas.

 

·                     No trabalho de estreia em sua nova gravadora, a Sony Music, Xuxa contará com as participações dos amigos Lulu Santos, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo, Zeca Pagodinho e padre Marcelo Rossi.

 

·                     A cantora Rosana, conhecida pelo megasucesso “O Amor e o Poder” (aquela do “Como uma Deusa…”) retorna ao mercado fonográfico, agora com o nome artístico de Rosanah Fiengo e já emplaca uma canção (“Lovin’You”) na trilha sonora internacional da telenovela global “Caras & Bocas”.

 

·                     Além de ser um ícone dos trios elétricos, Armandinho sempre teve uma apreciação especial pelo chorinho. Nessa seara, acaba de chegar às lojas, através da gravadora Biscoito Fino, o CD “Pop Choro” que traz, no repertório, parcerias do músico com Pepeu Gomes e Sivuca, além de homenagens a Jacob do Bandolim e Ernesto Nazareth. Luiz Caldas é o convidado especial da faixa “Bonitinho e Gostoso”.

 

·                     Elymar Santos lança (em CD e DVD) novo registro ao vivo de show realizado no Canecão, no Rio de Janeiro. “Guerreiro Sonhador” aporta no mercado através da gravadora Som Livre e conta com as participações especiais das cantoras Elba Ramalho (em “De Volta pro Aconchego”, de Dominguinhos e Nando Cordel) e Cláudya (em “Apelo”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes).

 

·                     Jair Oliveira lança o CD-Livro “Grandes Pequeninos”, desenvolvido ao lado de sua mulher, a atriz Tânia Kalil. O projeto traz uma dúzia de canções inéditas que são interpretadas por vários artistas, como o paizão Jair Rodrigues e a mana Luciana Mello, além de Seu Jorge, Wilson Simoninha, Max de Castro e Pedro Mariano.

 

·                     O violonista Alexandre Gismonti, filho do famoso Egberto, lançará, até o final deste ano, seu primeiro CD. Produzido por Ruy Quaresma e intitulado “Baião de Domingo”, o disco trará, no repertório, inéditos temas autorais e revisitas a canções conhecidas como “Asa Branca”, “Feira de Mangaio” e “Saudade da Bahia”.

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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