M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 CD: “QUEBRA-CABEÇA ELÉTRICO” Oswaldo Montenegro oferece um trabalho eminentemente para fãs, mas que se encaixa perfeitamente na sua história musical. Vale a pena conferir! R E S E N H A 2 CD: “CERTA MANHÃ ACORDEI DE SONHOS INTRANQUILOS” Gravadora: ROB DIGITAL O pernambucano Otto iniciou sua carreira como integrante do grupo Nação Zumbi e, logo em seguida, transferiu-se para o Mundo Livre S/A onde se destacou como percussionista. A carreira solo como cantor teve início em 1998 com o álbum “Samba pra Burro” que, à época, foi superestimado pela crítica especializada. É verdade que ali já se vislumbravam lampejos de criatividade, principalmente em faixas como “Bob” e “TV a Cabo”, mas o fato é que a expectativa de um estouro a nível nacional não se concretizou com os dois trabalhos que vieram a seguir: o bom “Condom Black” (de 2001) e o mediano “Sem Gravidade” (de 2003). Na verdade, Otto nunca se mostrou um intérprete de peso. Sua voz não é das mais afinadas e sua emissão não chega a empolgar. Mas também é fato que essas limitações vêm sendo trabalhadas e no CD intitulado “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, o qual acaba de chegar ao mercado nacional (anteriormente, em setembro, foi lançado nos Estados Unidos) através da gravadora Rob Digital, já se pode constatar uma incontestável evolução nessa seara. Dono de um porte físico volumoso, ele cresce enquanto artista quando em apresentações ao vivo, posto que possui um inegável carisma, além de sabe falar diretamente a um público específico para o qual já soube se fazer cativar. É ainda no sentido de aprimoramento que fica claro que o período em que passou afastado do mercado fonográfico serviu-lhe para maturar o novo trabalho que, no geral, desce redondinho. Não é um disco que vai agradar a gregos e troianos (e, aliás, nem é esse o seu propósito) e requer certa dose de curiosidade do ouvinte para ir descobrindo, depois de reiteradas audições, alguns bons achados sonoros e de ideias. Já no título, reproduzido da frase inicial do livro “A Metamorfose” (de Kafka), Otto parece reconhecer ter passado por momentos complicados, mas que agora anseia por uma nova fase de vida, a qual, consequentemente, se reflete na carreira artística. Produzido por ele ao lado de Pupillo (baterista da já citada Nação Zumbi), o novo trabalho apresenta um repertório de dez faixas, oito delas inéditas. As duas regravações ficam por conta de “Lágrimas Negras” (de Jorge Mautner e Nelson Jacobina, que conta com a participação especial, nos vocais, da cantora Julieta Venegas, também presente na bilíngue “Saudade”) e de “Naquela Mesa” (antológico samba de autoria de Sérgio Bittencourt) e não destoam do restante pelo que trazem de mensagens intrínsecas nas letras recheadas de imagens de dor e saudade. É que, embora os arranjos, em sua maioria, se caracterizem por uma forte pegada onde se destaca vigorosa camada percussiva, o clima do CD é meio soturno, como que o artista estivesse, após considerações a respeito dele mesmo, permitindo-se mesmo buscar novas tentativas. Outros convidados presentes são a ascendente Céu (em “O Leite”, um dos bons momentos do álbum) e o visceral Lirinha, vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado (na contundente “Meu Mundo Dança” que conta ainda com a guitarra marcante de Fernando Catatau). E se em “Janaína”, Otto explicita o seu lado afro, em “Filha” ele ressalta o carinho paternal e em “Agora Sim” termina abrindo espaço para instante de respiração contemplativa. Os maiores destaques do álbum, no entanto, ficam por conta das faixas “Crua”, uma das canções mais bem resolvidas já criadas pelo artista e que chama a atenção não somente pela presença de palavrão na letra mas pela beleza melódica, e “Seis Minutos”, que alterna passagens mais contidas com outras de extrema liberdade interpretativa. Entre sons orgânicos e eletrônicos, Otto terminou por construir um CD que pode fazê-lo retornar à aura cult esboçada no início da carreira. Vale a pena conhecer! N O V I D A D E S · Anotem esse nome aí: André Caccia Bava. Cantor e compositor paulistano de fina estirpe, o jovem está lançando seu primeiro e ótimo CD. Intitulado “Vento Bom”, é composto por onze faixas autorais e chega ao mercado de maneira independente. Com voz de timbre bastante agradável e dono de boa divisão e dicção perfeita, ele se mostra um autor bastante inspirado, como se pode constatar, por exemplo, através das faixas “A Voz do Morro”, “Pente Fino” e “Vizinha de Frente”, três grandes momentos do álbum. Há influências da musicalidade de Jair Oliveira e de Lenine em canções como “Samba Torto” e “Intocáveis” e, embora o samba tenha lugar de destaque no repertório, André também apresenta incursões pelas searas nordestina e latina (“Santo Antônio” e “Sem Tempero Não Dá”, respectivamente), por tema com pegada afro (“Tá Querendo”) e até pelo reggae (“Um”). · A cantora Ilessi é aluna de canto de Amélia Rabello na Escola Portátil (no Rio de Janeiro) e foi incentivada por ela a gravar, em 2007, o seu primeiro CD, intitulado “Brigador”, o qual somente agora está chegando ao mercado através da gravadora CPC Umes. Com voz afinada, a artista mergulha de cabeça em dez parcerias compostas por Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro, mostrando um fôlego raro para estreantes. Dentre os melhores momentos, além da faixa-título (um belo samba), estão a valsa-canção “Serena”, a toada “A Pena do Sabiá” e o tema afro “Linha de Caboclo”. Um álbum bem bacana! · Affonsinho, cantor e compositor mineiro ainda pouco conhecido do grande público, põe no mercado, através da gravadora Dubas, o seu quinto CD. Intitulado “Meu Plano”, o novo trabalho é composto por dezesseis faixas autorais e conta com as participações especiais dos conterrâneos Érika Machado, Regina Souza e Vander Lee. O destaque do repertório é o bom samba “Enfeitiçado”. · Já está nas lojas o CD e DVD referentes ao show “Tecnomacumba”, feito pela cantora Rita Ribeiro em julho na casa Vivo Rio (RJ). Maria Bethânia é a convidada especial da faixa “Iansã”. · Em mais um lançamento fruto de registro ao vivo, Zeca Pagodinho faz chegar às lojas o novo CD “Uma Prova de Amor – Ao Vivo”, que integra o projeto Especial MTV. Com a voz um tanto quanto enrolada em algumas passagens (fato que não ocorre quando ele grava em estúdio), o artista desfia alguns de seus maiores sucessos tais como “Verdade”, “Deixa a Vida Me Levar” e “Jura”. De inédita mesmo somente a faixa “Se Ela Não Gosta de Mim” (recente parceria dele com Arlindo Cruz). Há as participações especiais de Almir Guineto (em “Lama nas Ruas”), Jorge Ben Jor (em “Ogum”) e da Velha Guarda da Portela (em “Esta Melodia” e no pot-pourri final). É uma das grandes apostas da gravadora Universal no que diz respeito às vendas para este final de ano… · O novo projeto da cantora Marina Elali inclui kit contendo CD e DVD. Intitulado “Longe ou Perto”, chega às lojas através da gravadora Som Livre e traz, além de um dueto com o cantor cubano Jon Secada (em “Lost Inside your Heart”, que já toca na telenovela global “Viver a Vida”), releituras de canções das duplas Roberto & Erasmo Carlos (“Você”) e Chico Buarque & Francis Hime (“Atrás da Porta”). · Uma das vozes mais tradicionais do samba paulista, João Borba, está lançando seu primeiro CD. Gravado ao vivo em show realizado no teatro do Sesc Pompéia (SP), em julho de 2007, o trabalho reverencia a obra autoral do compositor alagoano Jorge Costa. Dois resgates bem apropriados! · Comenta-se nas rodas musicais que Marisa Monte já se encontra escolhendo repertório com vistas a um novo CD que chegará ao mercado em 2010. Quem viver, ouvirá! · Tranquila, a cantora carioca Anna Luisa (que lançou, em 2008, o ótimo CD “Girando”) informa que está mudando seu nome artístico, passando doravante a se chamar Anna Ratto. A alteração se deve a uma questão judicial: é que uma outra cantora de nome similar obteve, na Justiça, o direito de ter prioridade no uso desse nome artístico por conta de tê-lo registrado como marca em 2001. RUBENS LISBOA é compositor e cantor
Cantor: OSWALDO MONTENEGRO Gravadora: UNIVERSAL
O estouro nacional de Oswaldo Montenegro se deu em 1980, quando venceu um festival de músicas da TV Globo com a canção “Agonia”, composta por Mongol, seu irmão de criação. Mas antes disso ele já havia despertado o interesse dos aficcionados em música, pois freqüentava as paradas de sucesso da época com duas outras canções que até hoje são exigidas em seus shows: “Léo e Bia” e “Bandolins”.
Oswaldo é carioca, mas durante sua vida, andarilho que sempre foi por natureza, residiu em várias cidades. São João Del Rey (MG), Brasília e até Aracaju são algumas delas. E foi durante essas viagens que ele formou várias trupes de teatro que o ajudaram a formatar os diversos musicais apresentados até há bem pouco tempo. Sua carreira é pontuada por momentos de grande aceitação, mas a verdade é que suas músicas, grande parte delas de inquestionável beleza melódica, por motivos difíceis de entender nunca foram fartamente gravadas pelos grandes nomes do nosso cancioneiro nacional, exceção feita unicamente no que tange a Ney Matogrosso.
Compositor inspirado (que, ao longo da carreira, emplacou diversos hits, tais como “Intuição”, “O Condor” e “Drops de Hortelã”, ganhando a alcunha de ‘menestrel’), Oswaldo também se destaca como um grande músico, posto que, ao piano, consegue criar belas harmonias, executando-as com destreza. Mas é como cantor que ele merece atenção especial: dono de fartos recursos vocais, é uma das grandes vozes masculinas brasileiras de todos os tempos, além de ser fato que continua com afinação, respiração e extensão intactas, o que lhe permite permanecer cantando em tons altíssimos.
Todas essas considerações podem ser constatadas através do projeto que acaba de chegar às lojas nos formatos CD e DVD intitulado “Quebra-Cabeça Elétrico”. Nele, o artista dá um tempo na fase acústica que o acompanhou até há pouco tempo e volta ao seu início roqueiro. Daí porque ele se escora na guitarra, ao invés de no violão e na viola (outros instrumentos que ele maneja com maestria) e os arranjos soam mais pesados que o costumeiro (registre-se a presença sempre constante da amiga-comadre Madalena Salles nas flautas e teclado). O trabalho, que chega às lojas através da gravadora Universal, resulta de áudio e imagens colhidas durante apresentações realizadas, em abril passado, na casa Citibank Hall (SP) e tem a direção assinada pelo experiente Roberto de Oliveira.
O CD apresenta quatorze faixas das quais apenas duas são inéditas: a bonita “Quebra-Cabeça” (de Paulinho Soares e Marcello Silva) e a mediana “Não Diga Num Blues” (de José Alexandre e Mongol). E com exceção das conhecidíssimas “A Lista” e “Bandolins”, ambas de autoria do próprio Oswaldo, o restante do repertório dá vazão ao seu lado intérprete, vez que mergulha em canções alheias, algumas delas, inclusive, já registradas por ele em discos anteriores. Fã assumido de Alceu Valença, Oswaldo reencontra o compositor pernambucano em três bons momentos: “Na Primeira Manhã”, “Agalopado” e “A Moça e o Povo”. Ainda da seara nordestina são resgatadas “A Palo Seco” (de Belchior) e “Pavão Mysteriozo” (de Ednardo). Dos chamados compositores “malditos”, Oswaldo escolheu “Canalha” (de Walter Franco) e “Vapor Barato” (de Jards Macalé e Wally Salomão) e o olimpo da MPB se faz muito bem representado por Chico Buarque (“Deus lhe Pague”), Caetano Veloso (“Muito Romântico”) e Paulinho da Viola (“Sinal Fechado”). Já o DVD traz seis números adicionais: “A Loucura Amarela”, “Na Hora Do Almoço”, “Geni e o Zepelim”, “Lua e Flor”, “Metade” e “Vamos Celebrar”.
Cantor: OTTO
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