M U S I Q U A L I D A D E R E S E N H A 1 CD: “QUE BELO ESTRANHO DIA PRA SE TER ALEGRIA” Gravadora: MP,B / UNIVERSAL As três mil cópias inicialmente prensadas do novo CD de Roberta Sá já se esgotaram, tanto que as gravadoras MP,B e Universal mandaram fazer outras dez mil com urgência. Como, em terras brasileiras, boas vendas nem sempre são sinônimos de qualidade, torna-se reconfortante o fato de uma cantora jovem, que está a lançar comercialmente o seu segundo trabalho e não conta com a grande mídia, tenha conseguido tal proeza: cair tão rápido nas graças do público consumidor. Onde estaria, então, o segredo dessa bela potiguar que participou (e passou despercebida) da segunda edição do programinha “Fama”, levado ao ar pela Rede Globo? A princípio parece difícil explicar. Roberta – é incontestável – canta bem e tem forte presença cênica. Esses atributos, porém, não lhes são únicos. Há várias outras cantoras igualmente talentosas que não conseguem mostrar seus trabalhos além quarteirão. Talvez a resposta esteja na dosagem dos fatores inteligência e sorte. É nítido que Roberta, que possui um timbre claro e aveludado, sabe escolher com destreza o repertório de seus discos. Se o anterior (“Braseiro”) foi recebido de forma efusiva pela crítica especializada, o atual (que se intitula “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”), não ficou atrás e já se consolida como um dos melhores lançamentos deste ano. Mas além dessa capacidade de pinçar pérolas esquecidas, como “Alô, Fevereiro” (de Sidney Miller) e “Interessa?” (de Carvalhinho), a Roberta foi permitida a convivência com dois dos maiores artistas atualmente em fase criativa: Rodrigo Maranhão e Pedro Luís. O primeiro contribuiu com a deliciosa “Samba de Um Minuto” (que já fora anteriormente gravada por ela própria com o título de “Novidade”, em um disco lançado fora do circuito comercial) e o segundo, além de parceiro do ótimo chorinho “Janeiros”, divide com Carlos Rennó as autorias da inspirada “Samba de Amor e Ódio” e da possante “Fogo e Gasolina”, faixa que conta, nos vocais, com a participação de Lenine. Já com Sérgio Paes e Flávio Guimarães, Pedro compôs a contagiante “Girando a Renda” da qual participa cantando. O novo álbum, esplendidamente produzido por Rodrigo Campello, poderia ser inicialmente catalogado como um disco de samba. Mas não é. Vai além disso. Embora conte com canções assinadas por grandes representantes do gênero (“Cansei de Esperar Você”, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, e “Laranjeira”, de Roque Ferreira), trata-se, no geral, de um grande disco de MPB, o qual tem ainda o condão de apresentar excelentes compositores da nova safra, tais como Edu Krieger (“Novo Amor”) e Junio Barreto (“O pedido”, parceria com Jam da Silva). Há também Lula Queiroga com “Belo Estranho Dia de Amanhã”. Ainda comparada a Marisa Monte, Roberta tem personalidade própria, por isso não haveria necessidade de incluir “Mais Alguém” (de Moreno Veloso e Quito Ribeiro), faixa de forte influência marisiana, o que só vem reforçar comentários desnecessários. Nada, todavia, que embace o resultado desse excelente CD que merece fazer parte de toda cedeteca que se preze! R E S E N H A 2 CD: “A GENTE AINDA NÃO SONHOU” Gravadora: SOM LIVRE A primeira vez que a mídia resolveu efetivamente falar de Carlinhos Brown foi quando Caetano Veloso incluiu a canção “Meia Lua Inteira” em seu disco “Estrangeiro”. Escolhida para a trilha da novela global “Tieta”, a música alcançou os primeiros lugares das paradas e catapultou o autor, então percussionista da banda do filho de Dona Canô, para uma carreira solo que vem resultando no lançamento regular de CD’s. Aposta da multinacional EMI no início, o fato é que Brown nunca chegou a ter, como cantor, o destaque que inegavelmente alcançou como autor de hits diversos gravados por Daniela Mercury, Margareth Menezes, Elba Ramalho e Maria Bethânia, só para ficar em alguns exemplos. Fenômeno de vendas quando se juntou a Marisa Monte e Arnaldo Antunes (a partir daí seus parceiros mais constantes) e resultou nos Tribalistas, o baiano realmente parecia não acertar muito quando se tratava de seus próprios trabalhos. O novo álbum de Brown, que acaba de chegar às lojas através da gravadora Som Livre, vem soar como salutar exceção na sua discografia. Não é um disco de extravagâncias nem tampouco de experimentações. Produzido por ele mesmo, é talvez o seu trabalho mais redondo, uma vez que é o que mais se aproxima, na construção do repertório, do formato das canções populares. Brown está cantando melhor que antes e, ainda que amparado por vocais em quase todas as faixas, já se permite verificar considerável evolução. O CD é aberto e fechado por duas deliciosas canções: “Goodbye Hello”, com letra em inglês, e “Mande um E-mail Pra Mim”, parceria com Marisa e Arnaldo, respectivamente. Com a dupla amiga, Brown assina ainda a mediana “Everbodygente”. Novos parceiros também são apresentados, como Michael Sullivan (sim, ele mesmo, o da dupla com Paulo Massadas!) em “Te Amo Família” e Ivete Sangalo em “Guaraná Café”. Há a regravação, em estilo característico, de “Pedindo Pra Voltar” e “Garoa”, originalmente gravadas pela Timbalada e pela cantora Simone, dois dos melhores momentos do CD, ao lado de uma bela canção dedicada a Dorival Caymmi (“Marina dos Mares”), da contundente “Aroma da Vida” e da singela “Aos Teus Olhos”. Carlinhos Brown, enfim, começa a dar sinais de ter encontrado o caminho correto para passar a fazer sucesso também interpretando suas próprias canções… N O V I D A D E S · Na próxima quinta-feira (dia 11), no palco do Teatro Atheneu, estará se realizando a eliminatória do Festival de Música Sescanção que abarca as músicas pré-selecionadas com relação a Aracaju. Apresentar-se-ão vinte concorrentes, das quais somente dez se juntarão às já classificadas nas eliminatórias realizadas recentemente em Lagarto e em Canindé do São Francisco. Boa sorte pra galera! · Já na sexta-feira (dia 12), será a vez de o Teatro Tobias Barreto receber a banda Maria Scombona que estará lançando o CD “Mais de Um Nós”. Os rapazes prometem incendiar a platéia presente com um show que contará com a participação de Silvério Pessoa e de diversos artistas sergipanos. · Swami Jr. é um dos maiores violonistas brasileiros da atualidade. Já trabalhou com vários dos grandes nomes da nossa MPB, seara na qual acumulou prestígio e amizades. Alguns desses companheiros de estrada estão presentes no primeiro CD solo do artista intitulado “Outra Praia”, um trabalho muito bem-vindo. Arranjos elaborados servem de cama para o deleite das vozes de Zeca Baleiro (em “Duas Ilhas”, o melhor momento do disco), Chico César (a boa faixa-título), Luciana Alves (precisa em quatro das doze faixas), Vanessa da Mata (surpreendente na complexa “Livrai-me”), Zélia Duncan (sempre adequada na curiosa “Desamparinho”) e Marcelo Pretto (excepcional na gostosa “Bom Dia”, anteriormente já gravada por Zizi Possi). Swami também canta legal, de uma forma delicada que prende o ouvinte, conforme se pode constatar através de “Vou na Vida”, inusitada parceria com a cantora Virgínia Rosa. Ótima pedida! · A trilha sonora da recém-estreada telenovela global “Duas Caras” vem recheada de nomes famosos, dentre os quais se destacam Gonzaguinha (com a música-tema “E Vamos à Luta”), Maria Rita, Isabela Taviani, Seu Jorge, Caetano Veloso e Djavan. A surpresa fica por conta da inclusão de fonograma da cantora evangélica Aline Barros. · A excelente cantora de sambas Fabiana Cozza está lançando, através da gravadora Eldorado, o seu segundo CD intitulado “Quando o Céu Clarear”. Há a participação especialíssima de Dona Ivone Lara na faixa “Recordações” e do Quinteto em Branco e Preto em “Novo Viver”. No repertório, canções de Nélson Sargento, Jorge Aragão, Nei Lopes e João Bosco. É gente que sabe o que faz! RUBENS LISBOA é compositor e cantor
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