MUSIQUALIDADE, por RUBENS LISBOA

M U S I Q U A L I D A D E

 

 

R E S E N H A     1

 

Cantora: MARIA RITA

CD: “SAMBA MEU”

Gravadora: WEA

 

Quando surgiu, Maria Rita veio como que endeusada, muito por ser filha da maior cantora brasileira de todos os tempos: Elis Regina. Isso certamente lhe deve ter pesado, já que as comparações pipocavam aqui e ali e, em todas, ela saía em desvantagem. Por outro lado, a curiosidade sobre a nova artista, tão comentada pela mídia, serviu para alavancar as vendas de seu primeiro e incensado CD, transformando-a, de imediato, em nome conhecido nacionalmente.

O segundo disco veio em seguida e – surpresa! – a crítica lhe foi implacável. O disco, realmente, não tinha a força do anterior, embora houvesse, incontestavelmente, canções muito boas como “Caminho das Águas” (de Rodrigo Maranhão) e “Muito Pouco” (de Moska).

Numa decisão no mínimo ousada, a cantora acaba de pôr nas lojas, através da gravadora WEA, o seu terceiro disco intitulado “Samba Meu”, o qual, como o próprio nome já entrega, tem o seu repertório de quatorze faixas totalmente voltado para o mais genuíno dos ritmos brasileiros. Sinceramente, não sei se era a hora de Maria Rita gravar um disco temático, mas como não me cabe aqui questionar por que resolveu fazê-lo e, sim, o seu resultado, tenho que reconhecer que, sob a produção de Leandro Sapucahy, a artista concebeu um disco muito bom.

Embora não esteja pisando em terreno desconhecido (ela já havia gravado anteriormente outros sambas: “Cara Valente”, de Marcelo Camelo, “Conta Outra”, de Edu Tedeschi, e “Recado”, outra assinada por Rodrigo Maranhão), é desta vez que Maria Rita se mostra perfeitamente à vontade em divisões sincopadas e complexas, como nas faixas “Num Corpo Só” e “Corpitcho”, por exemplo.

Grande parte das canções escolhidas resulta de material inédito, com exceção das regravações de “O Homem Falou” (pérola desconhecida de Gonzaguinha), “Mente ao Meu Coração” (de F. Malfitano, já gravada por Paulinho da Viola) e “Trajetória” (registrada originalmente por Elza Soares e de autoria de Arlindo Cruz). Aliás, Arlindo é o compositor mais presente no álbum: com parceiros, emplacou seis faixas (as melhores são “Maltratar Não É Direito” e “Tá Perdoado”, esta devidamente incluída na trilha sonora de telenovela “Duas Caras”). Outro sambista conhecido, Serginho Meriti, comparece com três músicas, cabendo destacar a poética “Cria”. Maria Rita ainda pinçou duas excelentes canções do compositor emergente Edu Krieger (de quem já havia gravado “Ciranda do Mundo”). São elas: a descolada “Maria do Socorro” e a inspiradíssima “Novo Amor” (também incluída no novo e recém-lançado CD de Roberta Sá, em versão mais suave).

Com um timbre que ainda lembra o de Elis, mas com uma extensão de voz notadamente menor, Maria Rita começa a se desvencilhar do estigma materno. Só o tempo dirá se sua escolha atual foi correta ou não, mas que ela fez o que se propôs de maneira muito bem feita, isso fez!

 

 

R E S E N H A     2

 

Cantora: TERESA CRISTINA e GRUPO SEMENTE

CD: “DELICADA”

Gravadora: EMI

 

Uma das grandes responsáveis pelo ressurgimento das concorridíssimas noites musicais no bairro da Lapa (Rio de Janeiro) e, quase por conseqüência, do atual boom por que passa o samba junto ao mercado fonográfico nacional, a carioca Teresa Cristina acaba de pôr nas lojas um novo CD. Intitulado “Delicada”, nome de sua mais bela faixa (uma parceria dela com Zé Renato), o disco marca a estréia da cantora na multinacional EMI, o que pode ajudá-la em muito no sentido de ver seu nome projetado Brasil afora.

Trata-se de um trabalho muito bem intencionado, o qual ressalta o talento de Teresa que, quando se dedica a compor, o faz de maneira criativa e inspirada, deixando na sola muitas de suas colegas que se arriscam na difícil arte de criar de forma insipiente. Produzido por Paulão 7 Cordas, Teresa divide o trabalho com o grupo Semente (Bernardo Dantas no violão de 7 cordas, Mestre Trambique no surdo, João Callado no cavaquinho e Pedro Miranda, seu marido, no pandeiro), o qual a acompanha desde que ela estreou com o CD duplo em que revisitava a bela e complexa obra de Paulinho da Viola.

Aliás, Paulinho é um dos ídolos de Teresa, ao lado de Candeia, o que por si só já justificaria a inclusão, no repertório do recém-lançado álbum, das canções “A Gente Esquece” e “A Paz do Coração”, assinadas respectivamente pelos dois.

Teresa não é dona de uma grande voz, mas seu timbre gracioso adequa-se perfeitamente ao samba. E se, por vezes, ela soa um pouco deslocada, como, por exemplo, na faixa “Pé do Lageiro”, de João do Vale e José Cândido, na maioria delas o carisma inato vem à tona, como na bela faixa de abertura (“Cantar”, também de sua autoria) e na homenagem a Iemanjá (“Senhora das Águas”, parceria com o já citado João Callado). Callado é, aliás, o autor da única faixa instrumental presente, “João Teimoso”. Teresa também abre espaço para seu companheiro solar a canção “Quebranto” (de Alfredo Del-Penho e Zé Luís).

Tentando equilibrar-se entre músicas inéditas e regravações, a artista foi feliz ao incluir, quanto a estas, boas releituras para “Nem Ouro, Nem Prata” (sucesso antigo de Rui Maurity), “Gema” (pérola obscura de Caetano Veloso) e “Carrinho de Linha” (simples e contagiante composição de Walter Queiroz, gravada originalmente por Fafá de Belém).

Não é, ainda, o grande disco que (já dá para perceber) Teresa Cristina tem condições de fazer, mas se trata de um trabalho que vale a pena ser ouvido, principalmente por quem ainda não conhece o talento dessa nobre artista.

 

 

N O V I D A D E S

 

·               O Projeto “Prata da Casa” estará de volta na próxima quinta-feira, dia 18, às 21 horas no Teatro Atheneu. Os donos da noite serão a dupla Chiko Queiroga e Antônio Rogério e a banda Severina. Mais dois shows que certamente merecerão a sua presença!

 

·               Chico César acabou de lançar o áudiolivro “Cantáteis”. Estruturando os versos com o formato de cordel, o artista paraibano declama, no CD, a sua primeira obra literária. Acompanhando a leitura, foi criada uma base eletrônica inspirada na mistura das sonoridades do berimbau e da cítara nordestina. Muito legal!

 

·               O próximo álbum de Milton Nascimento chegará em breve ao mercado. Trata-se de um CD ao vivo de jazz que o artista gravou, em setembro passado, em Paris, o que ocorreu dentro da programação do festival “Jazz a la Villete”. Constam do repertório alguns de seus maiores sucessos como “Ponta de Areia”, “Nada Será Como Antes” e “Morro Velho”.

 

·               E como era de se esperar, ainda não será este ano que Roberto Carlos lançará o tão aguardado CD contendo canções inéditas. Acomodado em berço esplêndido, o Rei vai pôr no mercado, como de costume em dezembro, CD e DVD gravados ao vivo em Miami no mês de maio nos quais interpretará alguns de seus hits em castelhano.

 

·               Depois de alguns álbuns de cover, a cantora Danni Carlos lança, enfim, o seu sonhado CD de inéditas no idioma nacional. Intitulado “Música Nova”, o disco trará treze canções de sua própria autoria e chega ainda este mês às lojas através da gravadora Sony & BMG. A faixa “Coisa Que Eu Sei” promete alavancar as vendas do álbum até porque já foi incluída na trilha sonora da telenovela global “Duas Caras”.

 

·               A caixa “Da Sanfona à Sinfônica”, que embala quatro CD’s de Wagner Tiso, também estará disponível ainda este mês e traz mais de cinco dezenas de gravações originais orquestradas pelo artista. Na seleção de intérpretes, somente nomes de ponta da nossa MPB, tais como: Elis Regina, Djavan, Milton Nascimento, Gal Costa e Egberto Gismonti.

 

·               Desde 1994 que o ator Maurício Mattar insiste na carreira de cantor. E seu afinco é tamanho que o artista acaba de chegar ao sexto CD, o qual está sendo lançado pela gravadora Som Livre e se intitula “Diamantes”. A canção “Nossa História de Amor” já começa a ser conhecida, muito por fazer parte da trilha sonora da telenovela global “Sete Pecados”.

 

 

RUBENS LISBOA é compositor e cantor


Quaisquer críticas e/ou sugestões serão bem-vindas e poderão ser enviadas para o e-mail: rubens@infonet.com.br

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