São cada vez mais constantes as matérias veiculadas nos meios de comunicação dos crimes cometidos por conta do uso do crack. Uma droga tão pesada que vicia em pouco tempo e faz com que o viciado esqueça tudo. Na semana passada uma mãe de classe média, em Porto Alegre (RS) cansada dos problemas causados pelo filho único, inclusive dos espancamentos a ela própria, matou o jovem para não morrer. Em Sergipe tem casos de jovens da periferia levando tudo de casa, para trocar pela droga. Nas grandes cidades o crack já é o responsável por cerca de 70% dos homicídios em locais de baixa renda. Neste final de semana o Jornal da Cidade publicou uma matéria mostrando que um advogado de classe média está perdeu a vida para o crack. O jovem, de 27 anos, com um futuro brilhante, um dos primeiros colocados no exame da OAB e aprovado em vários concursos começou a advogar para traficantes e de repente estava totalmente envolvido com o crack. Perdeu tudo e chegou a morar na praça da Catedral. Hoje está tentando a recuperação e toda a família o acompanha com sofrimento e dor. Sergipe tem todas as condições de dar o ponta pé inicial para uma ampla campanha de mobilização dos poderes constituídos no combate a esta droga. É preciso que uma entidade como a OAB ou o Ministério público chame os setores organizados da sociedade para que faça uma campanha de conscientização dos jovens e mostrar para a família a necessidade de ficar atenta aos primeiros sinais de uso do crack. Tem que levar essa discussão rapidamente para as escolas públicas e privadas. Não dá para fica esperando e cobrando apenas dos governos federal, estadual e municipal ações neste sentido. É preciso algo maior. É preciso que a campanha chegue a cada casa dos sergipanos. Não é difícil. Sergipe é um Estado pequeno e pode mostrar força para reduzir drasticamente o uso do crack. Anualmente são dezenas de jovens que perdem suas vidas ou perdem suas dignidades para esta droga. Este espaço faz um apelo para que o Ministério Público a OAB ou outra entidade organizada assuma esta campanha. A realidade está aí e muita gente só percebe quando entra em sua casa sem bater. Aí já é tarde. São mães e pais desesperados perdendo seus filhos. No mesmo JC do domingo tem uma matéria mostrando que um preso custa ao Estado R$ 1.581,00, enquanto que um aluno da rede pública R$ 173,00. É preciso que a classe política se some a campanha, deixando de lado os interesses eleitorais. A imprensa de Sergipe também pode fazer a sua parte disponibilizando um pequeno espaço para divulgação desta campanha de conscientização. Uma empresa de publicidade pode fazer as peças publicitárias sem custo nenhum. O apoio de todos os segmentos religiosos seria fundamental. Ou seja, cada um fazendo a sua parte através de sua profissão. Somente o engajamento de toda sociedade organizada poderá reduzir o número de mortos e os crimes cometidos pelos usuários de crack em Sergipe. Uma campanha contra a morte, pela dignidade e a honra de centenas de jovens. Um mutirão pela vida. O que é o crack? O crack é uma mistura de cloridrato de cocaína (cocaína em pó), bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada, que resulta em pequeninos grãos, fumados em cachimbos (improvisados ou não). É mais barato que a cocaína, mas como seu efeito dura muito pouco, acaba sendo usado em maiores quantidades, o que torna o vício muito caro, pois seu consumo passa a ser maior. Estimulante, seis vezes mais potente que a cocaína, o crack provoca dependência física e leva à morte por sua ação fulminante sobre o sistema nervoso central e cardíaco. Quais são as reacções do crack? O crack leva 15 segundos para chegar ao cérebro e já começa a produzir seus efeitos: forte aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, dilatação das pupilas, suor intenso, tremor muscular e excitação acentuada, sensações de aparente bem-estar, aumento da capacidade física e mental, indiferença à dor e ao cansaço. Mas, se os prazeres físicos e psíquicos chegam rápido com uma pedra de crack, os sintomas da síndrome de abstinência também não demoram a chegar. Em 15 minutos, surge de novo a necessidade de inalar a fumaça de outra pedra, caso contrário chegará inevitavelmente o desgaste físico, a prostração e a depressão profunda. Estudiosos como o farmacologista Dr. F. Varella de Carvalho asseguram que “todo usuário de crack é um candidato à morte”, porque ele pode provocar lesões cerebrais irreversíveis por causa de sua concentração no sistema nervoso central. O crack é uma droga mais forte que as outras? Sim, as pessoas que o experimentam sentem uma compulsão (desejo incontrolável) de usá-lo de novo, estabelecendo rapidamente uma dependência física, pois querem manter o organismo em ritmo acelerado. As estatísticas do Denarc (Departamento Estadual de Investigação sobre Narcóticos) indicam que em Janeiro de 1992, dos 41 usuários que procuraram ajuda no Denarc, 10% usavam crack e, em Fevereiro desse mesmo ano, dos 147 usuários, já eram 20%. Esses usuários, em sua maioria, têm entre 15 e 25 anos de idade e vêm tanto de bairros pobres da periferia como de ricas mansões de bairros nobres. Como o crack é uma das drogas de mais altos poderes viciantes, a pessoa, só de experimentar, pode tornar-se um viciado. Ele não é, porém, das primeiras drogas que alguém experimenta. De um modo geral, o seu usuário já usa outras, principalmente cocaína, e passa a utilizar o crack por curiosidade, para sentir efeitos mais fortes, ou ainda por falta de dinheiro, já que ele é bem mais barato por grama do que a cocaína. (Fonte: oficina Ciência Viva). Os sintomas O comportamento do usuário de crack, segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, especializado em drogas pela Universidade de Londres, muda rápido e intensamente. Ele vai mal na escola (ou a abandona), tem um sono altamente perturbado, emagrece muito, isola-se dos outros e começa a apresentar sintomas de paranóia. Acha que está sendo seguido ou que caiu alguma pedra de crack no chão. Também fica apático, introvertido. A cocaína age ainda sobre as pupilas dos olhos, podendo dilatá-las. O tratamento Depende do estado de cada paciente. Vai do tratamento ambulatorial até a internação domiciliar ou em clínicas especializadas. A sua principal dificuldade, segundo o dr. Ronaldo Laranjeira, é a “fissura”, a vontade que o usuário sente de usar a droga. A fase inicial é a mais difícil, e dura, geralmente, uma semana. O jovem só é considerado totalmente reabilitado depois de dois anos de abstinência. O material utilizado para o consumo desta droga é o cachimbo, normalmente produzido artesanalmente com uma lata de refrigerante com um furo na lateral para inserção do canudo por onde a fumaça será aspirada, colocando-se a pedra de crack no orifício superior da lata por onde o refrigerante é bebido. Copos de água mineral com tampa de papel de alumínio também são muito utilizados. Crack a forma mais arrasadora do uso da cocaína Um artigo baseado nos dados e na experiência adquiridos em São Paulo durante o “Projeto Cocaína WHO”, quando foram entrevistados usuários ou ex-usuários de crack, de autoria dos pesquisadores do CEBRID (Centro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), Solange A. Nappo, José Carlos F. Galduróz e Ana R. Noto; intitulado “Uso do crack em São Paulo: fenômeno emergente?” traz a seguinte conclusão: “Este estudo aponta o crack como uma das formas mais arrasadoras do uso da cocaína.” “Jovens com menos de 20 anos pertencentes a diferentes classes sociais, com predominância da classe baixa, são os consumidores preferenciais. Entre eles, o crack é classificado como droga anti-social e egoísta que os leva a um isolamento social. A paranóia que se instala gera medo e suspeita das pessoas, o que contribui para esse isolamento e confinamento a locais fechados.” “O usuário rapidamente tem ruptura de caráter. A mentira passa a fazer parte de seu discurso, que associada à desconfiança pode gerar agressividade. (iped.com.br) Sem prevenção e repressão eficiente, crack avança em capitais Matéria da Agência Brasil, de março deste ano: Brasília – Na esteira do despreparo do poder público e da sociedade em relação à prevenção, à repressão e ao tratamento dos efeitos da droga, o consumo do crack avança com desenvoltura no Brasil e faz multiplicar relatos de sua gravidade nas grandes capitais e cidades do interior. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil apontam para uma possível epidemia deste subproduto da cocaína, que provoca dependência agressiva, exclusão social do usuário e desagregação familiar, além de estimular a criminalidade. Aumento do número de usuários em tratamento Estudo recente realizado em Salvador, São Paulo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro detectou um aumento do número de usuários de crack em tratamento ou internados em clínicas para atendimento a dependentes de álcool e drogas. Eles respondem por 40% a 50% dos indivíduos em tratamento, dependendo da clínica e de sua localização. A idade média dos usuários de crack (31 anos) é inferior à dos demais pacientes em tratamento (42 anos). Entre os dependentes desta droga, 52% são desempregados. O levantamento foi coordenado pelo psiquiatra Félix Kessler, vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Drogas (Abead). Índices elevados de homicídios entre jovens No cotidiano de atendimento a dependentes em Porto Alegre, Kessler ressalta a presença forte da droga no interior. “No Hospital São Pedro, o número de usuários de crack vindos do interior é muito grande. A cada dez pacientes que procuram a emergência psiquiátrica do hospital, cerca de sete são usuários de crack vindos do interior”, conta Kessler. Em Minas Gerais, municípios de médio porte, como Governador Valadares, Montes Claros, e Uberaba, apresentam há três anos índices elevados de homicídios entre jovens que coincidem com o aumento das apreensões de crack. Principal droga comercializada Segundo Luís Sapori, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), a droga também está presente há 10 anos em toda a região metropolitana de Belo Horizonte, com maior peso nas cidades de Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Ibirité. Na cidade histórica de Ouro Preto, jovens que frequentam as repúblicas estudantis admitem, em conversas reservadas, que o crack também passou a ser consumido nos últimos anos. “Podemos concluir de forma categórica que o crack chegou ao interior de Minas Gerais. E não deve demorar a atingir municípios com menos de 50 mil habitantes. Infelizmente o crack transformou-se na principal droga comercializada. Ele tem um elemento mercadológico que supera em muito a cocaína”, afirma Sapori, em alusão ao fato de o crack ter mercado consumidor mais amplo e provocar uma dependência mais agressiva, que leva o usuário a gastar mais com o vício. No sertão do São Francisco Caruaru, no agreste pernambucano, e Petrolina, no sertão próximo ao Rio São Francisco, são pólos que congregam cinturões de cidades de menor porte e já apresentam clara expansão no mercado de crack. “São regiões onde o crack entrou nos últimos anos, e o problema não é só da área metropolitana. O conceito de epidemia é uma metáfora instigante para pensarmos nesta explosão do crack em municípios de médio e grande porte no Brasil”, avalia José Luiz Ratton, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Criminalidade, Violência e Políticas Públicas de Segurança da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 80% da demanda Em meados da década de 1990, usuários de cocaína e crack eram responsáveis por menos de um quinto da procura em serviços ambulatoriais relacionados a drogas ilícitas. Hoje eles respondem por 50% a 80% da demanda. Nos últimos anos, o crack também começou a ganhar terreno entre grupos com rendimentos mais elevados, apesar de a droga ainda ser mais comum entre as classes de baixa renda. Participe ou indique este blog para um amigo:
Frase do Dia
“A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano”. João Paulo II.