A publicidade, fenômeno da comunicação social, tem estreita relação com os meios e escreve uma história própria, rica, que vale a pena ser referida, no contexto da evolução dos jornais. Em Sergipe, a imprensa data de 1832, e desde os primeiros tempos que se tornaram comuns os Avisos e os pequenos Anúncios, cada um cumprindo uma função pública. Comerciantes, políticos, pessoas destacadas dos núcleos sociais de São Cristóvão, de Aracaju, de Laranjeiras, de Estância, avisavam das suas viagens e na impossibilidade de uma despedida presencial, apresentavam saudações. Os aluguéis e venda de casas e de terrenos, os negócios com escravos, e o oferecimento de serviços em geral, também estão nas páginas dos pequenos órgãos da imprensa, muitos deles de vida efêmera, de tiragem limitada. A Notícia, jornal criado por uma Associação em 1896, editado como um diário da tarde, era gerenciado por Agápito Dantas e tinha entre seus redatores o professor Luiz Carlos da Silva Lisboa, do corpo docente da Escola Normal e autor da Corografia de Sergipe, editado em 1896 como livro texto para uso escolar. A página 4 de A Notícia era, invariavelmente, dedicada a publicidade, expondo uma variedade de anúncios, de todos os tipos, principalmente das lojas que faziam o pequeno comércio de Aracaju. Aracaju era então uma cidade em ritmo vertiginoso de crescimento e cumpria seu papel de cabeça do Estado, fazendo ecoar a vida econômica e social de Sergipe. Eram tempos agitados pela luta política e partidária. Silvio Romero tinha liderado, em 1894, a deposição do presidente do Estado, o então coronel José Calasans. Em 1896 foi o padre Olímpio Campos, com seus aliados, quem depôs o padre Leonardo Dantas, então na presidência do Estado. As querelas entre os grupos historicamente republicanos e os líderes e facções que aderiram À República, marcavam a vida sergipana na capital e no interior, com forte reflexo nos jornais existentes. A Notícia não fugia à regra e combatia, com ferrocidade, o padre Olímpio Campos e seu grupo, alcunhado de Cabaús, célebres adversários dos Pebas. O comércio, contudo, não tem partido e nem é pautado pela política. As casas comerciais estavam nas folhas, com seus produtos, enfrentando a concorrência dos caixeiros viajantes, mascates, vendedores de outras praças, todos ávidos pelo atendimento ao consumo, cada vez mais crescente, o que testemunhava o progresso do Estado e de sua principal cidade, e capital. Os anúncios, pela sua diversidade, dão bem a idéia de como a população requeria produtos para a vida familiar, essencialmente urbana. Os tecidos, que variavam do madrasto ao crepom, passando pela casimira, cretones franceses e pela sarja, vendidos aos côvados (medida antiga, equivalente, no Brasil, a 0,68 do metro); galões e outras miudezas que enfeitavam vestidos; as jóias e especialmente os relógios europeus, de bolso (ou algibeira), móveis, parede ou como pingentes, pendurados nos pescoços das jovens sergipanas, (o relógio de pulso ainda não tinha sido inventado pelo brasileiro Santos Dumont); os calçados; os materiais de construção – taboado de pinho de riga, telhas de ferro zincado, cimento de barrica, alvaiade inglês, dentre muitas outras coisas de consumo local. Havia um discurso publicitário, de certa forma laudatório, rigorosamente textual, apresentado em formas geométricas que, em certa medida, quebrava a linearidade das propagandas. Uma variação de tipos móveis, o uso farto do negrito, o destaque aos nomes das lojas ou dos seus proprietários, um conjunto estético, enfim, dirigido aos consumidores que eram, também, os leitores do jornal. As tiragens dos jornais aqueloe tempo variavam de 200 a 400 exemplares. O Correio Sergipense, primeiro jornal a circular em Aracaju, a partir de março de 1855, editava 300 exemplares, duas vezes por semana, como anotou em sua visita à Tipografia Provincial o Imperador Pedro II. A Notícia, embora não explicitasse com quantos exemplares saía todos os dias, no período da tarde, como era comum aos jornais, pela dificuldade de funcionamento noturno das tipografias, deveria ter uma edição média de 300 exemplares, podendo aumentar de acordo com os assuntos atraentes que surgissem e entrassem em pauta. Os jornais sergipanos sempre estiveram abertos ao noticiário artístico e cultural. Os avisos de conferências, as apresentações teatrais, tanto as das companhias nacionais que excursionavam por aqui, quanto as organizações locais, as festas populares, o calendário de eventos religiosos, tudo merecia o destaque da notícia e da propaganda. Graças a tal conduta é possível recuperar informações preciosas sobre a vida sergipana em Aracaju, fazendo dos jornais uma fonte inesgotável e de importância fundamental, para o conhecimento dos fatos produzidos pelo cotidiano. Lastimavelmente, Sergipe continua na idade do papel, e os seus jornais esfarelam nas pacotilhas, ou viram pó entre os dedos dos pesquisadores. Por mais que resistam ao tempo, na virada do século, os jornais pedem socorro nas entidades onde suas coleções são guardadas: Biblioteca e Arquivos públicos e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Há uma experiência que poderia ser universalizada, em favor dos jornais e de tudo o que eles contém. Em 1995 a Secretaria de Estado da Cultura criou, pioneiramente no País, o Sisdoc, um sistema digital em CDs, feito a partir de microfilmes com jornais do século XIX e com Falas e Relatórios dos presidentes da Província e do Estado, desde 1835, quando foi instalada a Assembléia Provincial, até 1930, quando a revolução liderada por Getulio Vargas entronizou nos Estados os Interventores Federais. Outra experiência, mais recente, foi encetada sob a liderança do professor José Ibarê Dantas, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, com apoio financeiro da Petrobras, e consiste em digitalizar jornais sergipanos, dentre eles A Notícia, salvando-os para a consulta dos pesquisadores, podendo ser copiados, a preço módico, para facilitar a vida dos estudantes e dos estudiosos. A operação de salvamento dos jornais salva a memória cotidiana, salva a história, pela generalização dos fatos que povoam as suas páginas, salva a publicidade, desde o seu tosco início, como documento das relações comerciais entre a cidade e a sua população, permitindo, no mínimo, que seja ampliado o conhecimento sobre a capital e a vida aracajuana.
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