Cada vez mais constatamos que os mais diferentes centros de pesquisa de potencial humano comprovam que o ato de pensar pode ser ensinado e melhorado no que se refere à sua qualidade. Portanto, a idéia de que o pensamento criativo faça parte do currículo educacional está se tornando mais popular e convincente.
O mecanicismo e o reducionismo deram origem à idéia de que a sociedade deveria ser separada entre os “inteligentes” ou os que pensam e, portanto podem mandar e os “não inteligentes” ou os que não pensam, ou seja, apenas executam ordens. Portanto, de acordo com essa filosofia os “inteligentes” são todos aqueles que são capazes de extrair o máximo das suas mentes; ao passo que os não inteligentes são considerados quase um caso perdido e, por esse motivo devem apenas ter a honrar de executar ordens (e não pensar, evidentemente!).
As pesquisas mais recentes desmontam essa teoria e mostram que o potencial humano além de ser ilimitado é possível também investirmos na qualidade do nosso pensamento; ou seja, podemos “educar” a qualidade do nosso pensar.
Um fato consideravelmente importante nesse campo é que quando se trata das relações entre pessoas, tudo aquilo em que realmente acreditamos tem forte tendência a se tornar realidade. Por exemplo, o “efeito pigmaleão”, bastante conhecido na área da educação, justamente pelo fato de que quando existem expectativas positivas de um professor em relação a um determinado aluno, via de regra, essas expectativas exercem um efeito direto no desempenho do aluno, melhorando a sua aprendizagem; por outro lado, quando são expectativas negativas a tendência é levar os alunos para o baixo desempenho.
Todas essas pesquisas estão fundamentadas na idéia de que o potencial humano é infinito; todavia, pela nossa própria formação e educação temos a tendência a acreditar que os limites existem e por esse motivo, via de regra, procuramos “encaixar” as pessoas em determinados limites como se elas fossem resultantes de uma linha de montagem. Logo, ao designarmos as pessoas para que executem trabalhos repetitivos, monótonos, que não as estimulam e nem desafiam e vamos fazendo com que, gradativamente, esses indivíduos percam o interesse, e pouco a pouco vão se desmotivando e, conseqüentemente, caindo em uma espécie de desânimo e torpor no trabalho.
Por outro lado, o sistema educacional vem contribuindo fortemente para que isso aconteça, uma vez que continuamos organizando a educação de acordo que o que é chamado necessidade ou áreas específicas e não nos preocupamos efetivamente em trabalhar para a sua reformulação em função das oportunidades.
Portanto, não resta a menor dúvida que precisamos educar o nosso pensamento com a finalidade de que possamos aprender a enxergar as novas oportunidades ou, simplesmente, possamos reformular os nossos modelos mentais muitas vezes bastante cristalizados. De uma maneira geral, todo o nosso ensino está fortemente alicerçado no desenvolvimento de habilidades que estão contidas no lado esquerdo do cérebro (lógica, matemática, escrita, planejamento etc), por esse motivo sempre se procura estabelecer uma fórmula ou uma “regra matemática” para entender as mais diferentes relações, muitas vezes mesmo relações entre pessoas. Um exemplo bastante simples são as pesquisas de clima organizacional, através das quais as organizações buscam saber/quantificar o quanto “felizes” (ou infelizes) estão os seus empregados. Essas pesquisas são tabuladas e representadas em porcentagens e divulgadas dois a três meses depois de aplicadas e a partir delas as organizações se prepararam para estabelecer medidas e planos que poderão melhor a satisfação dos empregados.
Como as pesquisas são fundamentadas em perguntas as quais vias de regra exprimem os sentimentos dos empregados (naquele momento da aplicação), muitas vezes quando são divulgadas as reais situações do clima organizacionais já pode ser outra, tanto para melhor como para pior.
Para desenvolvermos a qualidade do nosso pensamento precisamos aprender, entre outras coisas, a trabalhar também com as habilidades do lado direito do cérebro (emoção, imaginação, visão sistêmica, cooperação etc). Eis ai o impasse, pois maioria das escolas tem adotado modelos de ensino que estimulam muito pouco o desenvolvimento da imaginação e emoção dos seus alunos, a grande parte dos trabalhos é feita em livros/cadernos nos quais os alunos preenchem espaços vazios, marcam “x” em quadradinhos, copiam textos pela Internet e os colam formando fantásticos “trabalhos de pesquisa”, muitas vezes erroneamente estimulados pelos próprios pais e professores por acreditarem que na Internet estão todas as soluções atualizadas.
Logo, para que possamos realmente “aprender a pensar”, necessitamos de uma revisão acentuada nos currículos de escolas e faculdades, da educação doméstica, no reforço dos valores humanos pessoais e, na inserção de cadeiras como criatividade para que os alunos aprendem a ver o mundo de oportunidades que têm a sua frente e não apenas a um mundo de uma única resposta correta pela frente.
Pois, na verdade somos ensinados desde pequenos a buscarmos e encontrarmos apenas uma resposta certa para os problemas que defrontamos nas nossas vidas. Assim sendo, acreditamos piamente que na nossa existência só poderemos encontrar uma única resposta certa e esse é um modelo mental que muitos de nós carrega por toda a vida. No entanto a realidade do dia a dia não é assim, a vida é ambígua, e a medida que vivemos aprendemos que poderemos encontrar muitas outras respostas que também estão certas e que muitas vezes dependem apenas do que estamos realmente buscando. E por termos sido educados que na vida poderemos encontrar apenas uma única resposta correta, como nos problemas de matemática, muitas vezes deixamos de buscar alternativas também certas que poderão dar outro sentido completamente ao que buscamos ou às nossas vidas.
* Fernando Viana é diretor presidente da Fundação Brasil Criativo
presidente@fbcriativo.org.br