Necessitamos de bons referenciais

Todos nós deveríamos ter referenciais em nossas vidas. Na verdade sempre os temos, queiramos ou não, pois obrigatoriamente somos forçados a seguir e a copiar conceitos, práticas e vivências. Ou seja, sempre imitamos os procedimentos uns dos outros.

Talvez a afirmação acima devesse ser: todos nós deveríamos ter boas referências para seguir; isto, sim, seria o ideal. Mas sabemos que não é bem assim. Miseravelmente somos mais atraídos pelas más influências e, sem grandes dificuldades, as adotamos.

Por quê? Devo acreditar que isso acontece pela escolha que fazemos em seguir aquilo que desperta mais emoção, mais conforto e sentido ao nosso existir. Em suma, porque é mais fácil e mais confortável. Como se diz por aí: “a estrada do errado é mais larga, mais bonita e mais pavimentada para se trilhar. Enquanto a vereda do correto é sempre a mais estreita, entremeada de obstáculos e sacrifícios: é bem mais cômodo brincar do que trabalhar; sem dúvida que é muito melhor não fazer nada do que estudar, por exemplo; é mais fácil viver às custas dos outros do que prover a sua própria subsistência; é melhor ficar vendo televisão do que assistir a uma aula ou a um ofício religioso; é muito mais agradável ficar num bar conversando “potoca”| e bebendo do que comparecer diariamente ao local de trabalho para fazer, quase sempre, a mesma coisa e ganhar o próprio salário…

E essa dificuldade reside também no valor que é dado aos bons e aos maus exemplos. Enquanto dos primeiros muito pouco se fala e, menos ainda se mostra; os segundos, no entanto, são alardeados às escancaras. O que é bom e adequado, as práticas saudáveis e ações afirmativas, as boas virtudes até existem, porém, são vistas sem o sentimento da aventura, sem a emoção que representa e, em alguns casos, chegam a serem demonstradas até como sendo certa “falta de inteligência”, coisa de gente boba, de CDF, de retrógado, de careta.

Enquanto o errado é mostrado com emoção e com a aparência de certo, o certo é mostrado como coisa de segunda, coisa de beato, de autoajuda, de otário. Para isso basta abrir as páginas dos jornais e revistas ou ligar a televisão ou o computador para comprovar, até com certa facilidade, esta verdade.

Fazer o bem, dizer a verdade, agir com simplicidade, ser útil, mostrar os bons caminhos, os bons exemplos, ter boas atitudes, ser honesto, tudo isso parece não representar, no nosso meio, o que realmente deverá ser seguido. Não chega a ser mais a melhor moeda de troca para o convencimento, sobretudo, daqueles que, por se encontrarem em formação, tanto necessitam da construção de um mundo melhor para viver.

As imoralidades, as bandalheiras, as corrupções, as mentiras, os particularismos, as negações da boa ética e das boas virtudes são atrativamente divulgadas e ostentadas como troféus, posto que impunes, enquanto que a prática dos bons atos são banalizadas, relegadas ao segundo plano nas mídias, pois não atraem, infelizmente, a atenção. Não chegam a ser, é claro, boas mercadorias, não dão “ibope”.

Esta maligna prática ultrapassa os simples meios de comunicação e penetra nos seios das famílias, das comunidades, da sociedade como um todo, fazendo com que as boas referências sejam vistas, como já afirmado, como coisas de tolos, de gente besta, “metida” a querer consertar o mundo com os seus exemplos e conselhos. Esta é uma história antiga, todos nós sabemos, nem Cristo conseguiu reverter esta triste prática da ignorância, mesmo porque nem a ignorância foi abolida.

São poucos os bons referenciais que se nos apresentam para que sigamos. A começar nas famílias e seus gestores, nem sempre os próprios pais são bons neste quesito. Por mais que pareçam se esforçar não conseguem transmitir, apenas com palavras, protestos e dramatizações, conceitos que não praticaram para os seus – é quase impossível um pai querer que o filho não beba, se ele mesmo é um alcoólatra; não fume se ele é um viciado em cigarro; que ele não traia, se ele mesmo, mantém uma ou várias amantes… Aquela história de faça o que eu digo, mas não faça o que eu faça, não cola. Se não der um bom exemplo, não há como cobrar deles que nos sigam fazendo melhor do que nós.

Se ampliarmos esta visão, isto é, se sairmos do molde familiar, o que encontramos? Mais antiexemplos… E se verificarmos que não vamos encontrar, infelizmente, melhores referências: a começar por uma fatia bem representativa dos gestores públicos ou privados, políticos e, lamentavelmente, pelos nossos iguais, o povo em geral? É um sem-fim de maus exemplos e ficamos à míngua de boas e saudáveis práticas, que, quase sempre, nos convencem de que somos os que querem ser bons e que estão errados.

Os bons, porém, existem. Acreditem. Talvez tenhamos de usar com muita fé e boa vontade a lanterna de Diógenes que, certamente, encontraremos entre tantos “lixos” do cotidiano, alguém em possamos confiar e seguir como nossos referenciais.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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