Nem Tovar, nem Biveta.

Na última eleição para presidente e governador fiz este texto, mas não publiquei. Vai agora, porque vivemos uma nova eleição e não perdeu a atualidade.

 

Nem Tovar, nem Biveta.

 

Eis que telefonam dizendo ser do IBOPE e que desejam pesquisar a preferência para a próxima eleição.

Alguém daqui de casa atendeu, e começou a responder a tal pesquisa eleitoral:

-O senhor já tem candidato a Deputado Estadual?

– Tenho.

-Vai votar em quem?

-Nulo.

– Para Deputado Federal?

-Nulo.

-Para Senador?

-Nulo.

– Para Governador de Sergipe?

-Toeta.

-Para Presidente da República?

-Bivar.

-O senhor é o dono da casa?

-Sou.

– Muito obrigado por ter participado da pesquisa. Até logo!

-De nada. Até logo!

E a coisa terminaria sem qualquer atenção, não fosse o fato de la em casa não ter um dono. Tem uma dona. Chama-se dona Tereza. E em casa que tem uma dona como a minha, eu só posso ser um mero habitante e pagar as contas sem reclamar.

 

E não reclamo. Acho que a melhor coisa do mundo é ser provedor. É a verdadeira responsabilidade do pai e educador, uma espécie de imagem de Deus, o provedor por excelência, sobretudo sem visar retornos.

 

Assim, sou o que paga as contas, é verdade, mas, jamais o dono, coisa que muita gente desconhece.

 

La em casa eu só sou dono de meu gabinete, uma espécie de Coréia, por distante, existente no fundo da casa, silencioso e tranqüilo, que Tereza diz ser meu exílio, onde fico lendo, estudando, escrevendo, pesquisando no computador, consertando e quebrando coisas elétricas, o que me der na vontade, menos dormir.

 

Para dormir basta a noite. E aí eu sou dono também de outra coisa; a minha banda da cama. Por esta banda eu brigo e faço cara feia. Bagunça e desarrumação do meu lado da cama eu não permito. A ninguém. Nem aos filhos, nem a Tereza, nem a Willie, o nosso Cocker Spaniel, a figura mais importante da casa, que está a completar dez anos de vida.

 

Mas não foi Willie nem Tereza quem respondeu ao telefonema do Ibope. Foi alguém que tivera a presença de espírito para tentar fazer alguma graça na entrevista requerida. E assim, eis o “dono da casa” emitindo um voto que não seria o meu, só para brincar com a enquete do Ibope, se é que foi mesmo o Ibope, ou um trote qualquer, querendo saber a minha posição específica.

 

Para início de conversa, soa estranho que o Ibope sem se identificar, de forma segura e respeitável, se utilize deste mecanismo telefônico para as suas sondagens. O que não enseja confiança, não suscita uma resposta verdadeira. Sobretudo quando há uma polarização política pré-eleitoral, como é o presente caso.

 

Por outro lado, receber consultas por telefone é uma coisa muito chata. Já não bastam os telefonemas chatíssimos de bancos, cartões de créditos, consórcios de automóveis, vendedores de colchões e o diabo a quatro?

 

Acho horrível ter que explicar que não quero mudar de banco, que não posso nem usar carteira de tanto cartão de crédito, da farmácia, dos mercadinhos, das livrarias, do Credicard, do Visa, do Unimed, e haja cartão.

 

Ter paciência pra dizer que nunca comprei carro em consórcio, que sempre paguei à vista, graças a Deus, desde 1974 quando fui na onda do lançamento da Crysler e comprei na Revaisa o pior carro da minha vida; um Dodge 1800, o famoso “Doginho 1800 defeitos”, que me deixou na rua com dois dias de uso, e que por isso recebi até a visita do proprietário da Revaisa, hoje todos mortos, firma e donos, só para me dizer que o problema não era do carro, mas do proprietário, eu, que não sabia dirigir um Dodge.

 

Coisa de vendedor e de comprador sem o amparo de um código de consumidor à época.

 

E hoje ainda, que não nos defende destas vendedoras com sussurros açucarados ocupando nosso tempo com ofertas de serviço da Telemar, do banco Itaú, que a gente tem vontade de mandar pro Tumucumaque, la na Serra do Navio.

 

E não nos desfia também dos vendedores de colchão magnético, de purificadores de água, tudo o que não preciso porque meu colchão tem o cheiro que eu gosto e água filtrada nunca me fez qualquer mal. Ou seja, telefonemas chatos, chatíssimos.

 

E some-se a isso o fato de que uma das minhas linhas telefônicas, a que fica no gabinete se parece com o telefone da Rádio Xingó. E tem dia que esta linha me aporrinha o tempo todo. É gente pra pedir música, dar recado pra locutor, o diabo.

 

Quando estou paciente recebo o recado, digo que vou mandar tocar a música, etc. Quando estou impaciente digo que houve engano, que é da Delegacia de Polícia de Canindé. É o santo remédio. Desligam me pedindo mil desculpas.

 

Alguns são mais inconvenientes. Insistem que eu devia saber o telefone da “radia”. E eu la quero saber o número do telefone da Rádio Xingó! Outras vezes o telefonema é a cobrar. É uma insistência tão grande, que a solução é calar a secretária eletrônica, botar bloqueador, ou tirar o fone do gancho.

 

Falar em gancho, quando eu era criança, tinha uma história de mandar as pessoas pro gancho. Eu fui mandado muitas vezes e mandei outros tantos pro tal gancho, que não sei o que era, nem desejo mais saber, pois o que me interessa por agora é retornar ao gancho do assunto inicial; a pesquisa do Ibope que deram por mim, para tumultuar tudo, e rir um pouco.

 

Falando agora um pouco sério, devo dizer que o voto nulo é uma opção democrática para exercitar o direito de protesto diante da opção ofertada. Se o nosso eleitorado fosse realmente esclarecido e a legislação impusesse a nulidade da eleição por excedência de votos nulos, por certo muitas votações seriam repetidas. Sobreviria um aperfeiçoamento da própria democracia, o que não é o nosso caso.

 

No meu caso, a despeito de quem respondeu por mim ao Ibope, não vou votar nulo, nem vou querer mudar nada. Vou tentar reeleger todos, seja na presidência, no governo e no senado, seja nos deputados de nomes com “K”, um do lado vermelho e o outro do lado verde para equilibrar.

 

Quanto ao Bivar e ao Toeta, ficam as minhas sinceras desculpas. Tenho por eles o meu maior respeito, mas, na minha concepção, de minoria oprimida também, a presença destes nanicos tumultuando o bom debate só faz “bouleverser”, como diriam os franceses, inviabilizando a discussão de uma melhor escolha. E assim eu jamais lhes daria um voto.

 

Mas o legislador, pensando contrariamente a mim, entendeu que a escolha eleitoral verdadeira só se faria assegurando a verborragia plena das minorias eternamente inconformistas. E assim, num sonho utópico, mais anárquico que democrático, e de um preceito mais ingênuo que de gênio, surgiu o nanico, aquele candidato que irá para o 2° Turno embora as pesquisas não lhe confirmem.

 

E a presença dos nanicos que deveria ser uma coisa tão bonita por santidade, gerou candidatos não santos, nem bonitos, muito menos com discurso mais bonito. Assim eis uma brincadeira sem graça, uma tentativa de atrapalhar todo o debate.

 

Mas, independente do que eu penso na enquete do Ibope, os votos dados ao Bivar e ao Toeta estão la, falsamente elastecendo os seus percentuais. Que não se animem! Não são votos verdadeiros.

 

Na brincadeira dos candidatos nanicos desmoralizando a democracia que só se crê verdadeira pela imposição destas minorias bobas, os votos deveriam ter sido dados ao Tovar e ao Biveta, uma mistura trovar de pateta e de profeta, que um relincho muar de poeta tirou de um asceta de cabelão e de um atleta de sovacão, o perfume de pé-de-atleta, o seu cheiro e a comichão.

 

Nada parecidos com o Bivar e sua cara de bom moço, nem com o Toeta, e o seu colar.

 

E assim, deixemos sem colar outra graceta, o Tovar e o Biveta, e vamos à eleição. E viva o Brasil!

 

Como foi dito, este texto foi escrito na última eleição para presidente e governador. Agora, nem Willie, o meu cachorrinho, está vivo alegrando a nossa vida.

Mas, viva continua a astúcia em rala argúcia, agora com Tovar e Biveta, candidatos a vereador. Estão tentando ver se a esperteza e o destaque da eleição passada lhes darão agora alguns mirrados votos.

A democracia tem esta coisa boa; permite a excrescência de candidaturas com discursos tolos para rejeitá-los a ferro em brasa, daí a atualidade do texto.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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